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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Racismo no Brasil: mito ou tabu?

NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!...

Negros continuam em desvantagem no mercado de trabalho, mas cada vez mais ocupam papeis importantes na sociedade. Quanto desse cenário se deve às políticas de inclusão do governo federal?

Poucos nos dias atuais se referem ao Brasil como “uma democracia racial”. Como afirmou o sociólogo baiano Antônio Riserio em um recente livro: “Está claro que o racismo existe nos Estados Unidos. E Está claro que o racismo existe no Brasil. Mas são tipos diferentes de racismo”. No Brasil, diz ele, o racismo é velado. O país nunca teve algo semelhante ao Ku Klux Klan, ou uma proibição dos casamentos interraciais como a que vigorou em 17 estados norte-americanos até 1967.
A importação de ações afirmativas ao estilo das aplicadas nos Estados Unidos corre o risco de forçar os brasileiros a se posicionarem em rígidas categorias raciais, diz Peter Fry, um antropólogo britânico naturalizado brasileiro. Tendo trabalhado na África do Sul, ele diz que o fato do Brasil ter evitado a “cristalização étnica como uma definição da identidade” é uma grande vantagem na criação de uma sociedade democrática.
Mas para os defensores da ação afirmativa, o racismo velado dos brasileiros explica porque as definições raciais foram ignoradas por tanto tempo. “No Brasil temos um inimigo invisível. Ninguém é racista. Mas quando sua filha começa a sair com um rapaz negro, as coisas mudam”, diz Ivanir dos Santos, um ativista negro do Rio de Janeiro. Se um jovem branco e outro negro com as mesmas qualificações procurarem um emprego em um shopping center do Rio, o branco ficará com o emprego, afirma.
Os governos de Dilma Rousseff e seus dois antecessores, Lula e Fernando Henrique Cardoso, apoiaram as ações afirmativas, mas o fizeram de maneira cautelosa, concentrando-se nas universidades. Desde 2001, mais de 70 universidades públicas introduziram cotas raciais de admissão, e o ProUni, um grande programa federal, concede bolsas de estudos a estudantes negros e pardos nas universidades privadas.
Essas medidas estão começando a fazer a diferença. Embora apenas 6,3% dos negros entre 18 e 24 anos estivessem nas universidades em 2006, esse número representa o dobro da proporção registrada em 2001, de acordo com o IPEA. “Estamos muito felizes, porque nos últimos cinco anos colocamos mais negros nas universidades do que nos 500 anos anteriores”, diz Frei David Raimundo dos Santos, um frade franciscano que comanda a Educafro, uma instituição de caridade que leva educação universitária a comunidades carentes. “Atualmente vivemos uma revolução no Brasil”.
A batalha por empregos
Para os ativistas negros, o próximo alvo é o mercado de trabalho. “Os negros que procuram emprego já começam em desvantagem”, diz Mario Theodoro, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Ele afirma que os Estados Unidos, que têm uma população de apenas 12% de negros, têm um presidente, além de vários políticos e milionários negros. “No Brasil, não temos ninguém”. Isso não é exatamente verdade: além de jogadores de futebol e cantores, o Brasil tem um juiz negro no Supremo Tribunal Federal (indicado por Lula) e veteranos na polícia e nas Forças Armadas. Mas essas são exceções. Apenas um dos 38 ministros de Dilma Rousseff é negro (embora dez sejam mulheres). Passe pelos prédios da Petrobras e do BNDES no Rio de Janeiro na hora do almoço, e “você verá que todos os chefes são brancos e os faxineiros são negros”, diz frei David.
A sombra do passado
O que se destaca após uma década de debates sobre ações afirmativas é o fato de elas estarem sendo implementadas de forma bem brasileira. Cada universidade tomou suas próprias decisões. O governo federal tentou promover a política das cotas, mas não a impôs. O STF está lidando com três casos envolvendo cotas raciais. Alguns advogados suspeitam que o tribunal esteja deliberadamente se atrasando na esperança de que a sociedade cuide do caso sozinha.
Essa mesma sociedade está mudando de maneira bem mais rápida. Muitos dos 30 milhões de brasileiros que deixaram a pobreza na última década são negros. O mundo dos negócios já percebeu essa mudança: há muitos mais cosméticos para o público negro nos mercados. Nos voos, a combinação de passageiros agora se assemelha à população brasileira, não à de um país da Escandinávia. Até pouco tempo, os poucos atores que conseguiam papéis nas novelas brasileiras interpretavam empregados ou escravos. Agora eles são protagonistas. Boa parte disso pode ter acontecido independentemente das ações afirmativas.
A pergunta que não quer calar no Brasil é se a melhor maneira de reparar os danos causados pelo período da escravidão é dar direitos extras aos brasileiros de pele mais escura. Sim, respondem o governo e os ativistas negros. Considerando a persistência das desvantagens raciais no país, essa resposta é compreensível.
Mas a abordagem traz riscos evidentes. Até a chegada das ideias acadêmicas norte-americanas, a maioria dos brasileiros acreditava que o arco-íris racial de seu país era um de seus bens mais valiosos, e não estavam errados. Nelson do Valle Silva, um sociólogo da UFRJ, e especialista em mobilidade social, afirma que a etnia afeta as chances na vida dos brasileiros, mas não as determina. E se a discriminação positiva se tornar permanente, esse cenário pode gerar políticas raciais divisivas.
Certamente existem maneiras melhores de estabelecer a igualdade genuína de oportunidades e direitos. O Brasil tem leis antidiscriminação desde os anos 1950, e a Constituição de 1988 transformou o racismo em crime. A tarefa mais difícil é a mudança de atitudes. Muitos brasileiros simplesmente partem do princípio que os negros estão na escala social mais baixa, e os defensores das ações afirmativas têm razão ao reclamar que, com os programas de inclusão, o governo e o país viraram as costas para o problema do racismo. Mas políticas no estilo norte-americano podem não ser a melhor maneira de combater o racismo tão específico dos brasileiros. Uma combinação de ações legais mais fortes contra o racismo e cotas para jovens de classe sociais mais baixas nas universidades para compensar a fraqueza das escolas públicas pode funcionar melhor.


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