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quarta-feira, 22 de junho de 2011

Entrevista de Fernando Couto - O fim de um empério.

NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!...

Pegou no “momento da margem” entre o golpe de Estado e a independência para contar como morre um império [europeu] e surge uma nação [africana]. Fernando Couto não assume a carga de história, mas explica-nos por que é que só a Frelimo podia negociar a independência.
“Falar de acontecimentos recentes de Moçambique é extremamente temerário e arriscado, pois há sempre um tempo necessário para deixar sedimentar paixões, susceptibilidades e melindres, medos, entusiasmos, distorções, interferências indevidas, ou protagonismos excessivamente assumidos, que só o filtro do distanciamento temporal permite depurar”. Fernando Couto – filho – foi buscar a ideia de Rui Baltazar para o seu livro “Moçambique 1974: o fim do Império e nascimento da Nação”, que sai dia 23, com o selo da Ndjira.
Couto vê neste seu livro - que também se podia chamar de “os últimos anos de uma colónia” - o renascer de um país que pode, igualmente, servir para compreender a Beira de hoje. Mesmo negando que se trata de uma obra de história, ele apega-se em factos e deixa-se dominar pelo tempo. “Fui jornalista no período de transição”, defenderia-se Couto, se o perguntássemos, como quem nos lembra que “o jornalismo também é feito de factos”. Mas neste “Fim do Império” voltámos à história. Por mais que seja “história recente” e “com todos os riscos”, como sublinharia Rui Baltazar, estamos perante uma caminhada pela “história”.
Quando falamos do livro, esquecemos o seu lado empresarial e lembramo-nos que foi na Beira onde “o colono atacou o seu próprio exército antes do 25 de Abril”, mostrando que “o império já caminhava para o fim”. 
O que o levou a ir contra o “conselho” de Rui Baltazar em relação a escrever sobre acontecimentos recentes?
Eu não vou contra o princípio de  Rui Baltazar em não escrever histórias recentes, porque o que pretendo neste livro, mais do que fazer história, é dar um testemunho opinativo sobre uma realidade que teve bastante importância para a vida deste país. E mais, compreender como é que uma guerra que durou quase 10 anos, em cerca de seis, portanto em 90 dias, conseguiu chegar a um termo. Não me refiro apenas à conclusão dessa guerra, mas também às conclusões das bases para a independência de Moçambique. Foi algo muito inútil em relação aos outros países, em relação a realidades iguais. Este meu testemunho é baseado também no facto de nessa época eu ter sido acidentalmente jornalista. Caí de pára-quedas na redacção do jornal Notícias. Dessa forma participei nesses mesmos acontecimentos. Sou um relator desses acontecimentos, daí que o meu livro não seja de história nem de ficção, mas relato de uma experiência que foi vivida.
Fala de um período de transição entre o golpe de Estado de 25 de Abril até à proclamação da independência. Que país encontramos nesse período de margem?
O meu livro inicia com uma análise ligeira do que era a sociedade colonial baseada na situação da Beira. Foi na cidade da Beira que houve um contexto muito específico, chamado “especificidades beirenses”, que estavam e continuam a estar reunidas. Estas especificidades precipitaram uma série de acontecimentos que originaram o golpe do Estado em Portugal. Quando os colonos atacam o seu próprio exército, isto é sinal de que o fim está próximo, porque a razão da presença do exército colonial no país era a defesa dos próprios colonos. Portanto, isso é o anunciar de um fim. E depois, entre a transição do golpe que se vive no país, que foram três meses de pleno caos. Relato esse caos em termos de vivência. Não havia governo, vínhamos de um período em que tudo era proibido e tudo passou a ser permitido. Houve greves sobre greves, contestações sobre contestações, opiniões sobre opiniões... Esse período de caos termina quando se forma o governo de transição que leva à formação da República Popular de Moçambique no dia 25 de Junho de 1975.
Procura retratar a formação de uma sociedade pouco antes do golpe de estado em Portugal e a formação do governo de transição. Como podemos compreender as convulsões beirenses, partindo da formação da sua sociedade?
É muito difícil. Ela [a sociedade beirense] tinha e tem muitas especificidades. Primeiro, é preciso não esquecer o que é a cidade da Beira. Foi construída por cima de um pântano que nem sequer existia como um sítio em si. Foi conquistada da natureza e isso dá ao beirenses uma luta permanente contra alguma coisa, sobretudo contra este facto de a cidade estar construída num ambiente inóspito. É uma cidade de profundos contrastes, uma cidade que no tempo colonial era considerada a capital de racismo com ou sem razão. Foi na cidade da Beira onde houve confrontos entre etnias, que resultaram em mortos e feridos completamente desnecessários. Foi em 1972, que as etnias Sena e Ndau se juntaram e fizeram um massacre contra os cidadãos de origem chuabo. Foi o único sítio do país onde se verificou uma situação desta natureza. Foi na Beira onde houve sempre revoltas e confusões, até que acabou na confusão do início do golpe de estado português, e os militares português perceberam que não só estavam numa guerra perdida sem solução militar, como também perceberam que estavam numa guerra sem causa, porque a própria causa da guerra se rebelava contra eles próprios. Também procuro explicar um aspecto: como é que nesses três meses, de Maio até mais ou menos finais de Agosto de 1974, se abriu um espaço até aí muito  difícil na conjuntura internacional, sobretudo no momento em que se vivia a guerra fria. A política americana estava marcada pela demissão do seu presidente, [Richard] Nixon. Portanto, os americanos estavam ausentes da política internacional, porque tinham de enfrentar problemas domésticos. A sociedade sul-africana na altura do Apartheid, quem dominava era a linha dos que defendiam o não entendimento com os países africanos. A África do Sul não devia se entender com os países africanos, contra os falcões do regime Botha, Magnus Malan. Isto foi num curto espaço de tempo, porque se olharmos para o que vai acontecer meses depois na questão de Angola, o contexto estava completamente alterado. Os americanos já tinham uma política virada. Os falcões tomaram conta da África do Sul e invadiram Angola. O problema de Angola foi muito mais sério do que o de Moçambique, porque a conjuntura internacional ajudou, efectivamente, que essa conjugação de esforços fosse feita, quer da parte portuguesa quer da parte moçambicana, para que se chegasse a um entendimento rápido e se chegasse ao fim de processo que tinha outro desfecho, senão a independência.
Gostávamos que fizesse uma análise, ligando o passado ao presente. O movimento que se verificou na Beira colonial tem alguma relação com Beira de hoje, que se torna num dos maiores centros de ebulição política de Moçambique?
Acho que tem uma ligação intrínseca. E digo, não acho. Tem uma ligação. Portanto, não se pode dissociar o passado do presente. Há uma continuidade nesse sentido. E para se entender a cidade da Beira é preciso ter-se em conta essa mesma realidade e vicissitudes próprias. Não vamos estar a dizer que Beira é diferente de outras cidades, porque se conjugaram factores de diferenciação que a transformaram. Mas há uma cultura fortíssima. há na Beira uma presença fortíssima da igreja católica, uma permanente convulsão social.
Vai dando uma ideia de que se não fosse essa conjuntura internacional, Moçambique não teria sido independente no período em que foi. Pode se entender assim?
Pode se perceber que esta conjuntura se não tivesse se dado da forma como se deu, o processo pudesse talvez ser mais complicado como a questão angolana. Portanto, imaginemos que se daria uma invasão sul-africana ou rodesiana na altura de Iam Smith ao território moçambicano. As coisas tornar-se-iam mais complicadas e custosas como foi o processo angolano, que não só teve a invasão sul-africana. Seguiram-se depois as consequências que o povo angolano sofreu destas mesmas invasões, mortes, destruição, etc.
As pessoas hoje perguntam por que razão só se negociou com a Frelimo, será que não havia outras forças políticas? Bom, tento explicar do meu ponto de vista o que é que se passou para que essas negociações, com vista à independência, fossem com a Frelimo. Portanto, não se discutia a independência mas sim os mecanismos e os processos em si.
E por que é que não se envolveram outras forças políticas?
Basicamente, porque houve uma falta de compreensão dessas mesmas forças (...) digamos assim, e também, face ao tempo que foi tão curto. Em 90 dias, o mundo mudou em Moçambique.
Antes da Frelimo, a considerada terceira força já falava da independência. Jorge Jardim era também uma das vozes pró-independência. Falando de Jardim, podia também se falar exactamente de uma “independência nacional”? Quais eram os interesses dele e por que é que foi a Beira a adiantar nessa vontade?
Nunca se colocou a questão das chamadas terceiras forças, uma das vias de Jorge Jardim, Joana Simeão, como outra alternativa. De facto estavam centralizadas na Beira. Acho que foi a cidade do país, em termos de grandezas, em que a luta de libertação mais se aproximou e aí forçou a que o debate se fizesse com mais excesso. E essas mesmas forças viram-se perante uma situação em que ou davam passos para frente e conseguiam alcançar os seus objectivos ou estavam condenadas ao fracasso. O que aconteceu foi que o tempo correu com uma tal velocidade e a sua inserção não conseguiu passar a mensagem e os objectivos não conseguiram ser atingidos. A culpa principal foi da sua própria actuação nesse sentido. E é curioso notar que os próprios norte-americanos quando recompõem um pouco a sua política externa, dão instruções às suas embaixadas para que deixem todos os outros e passem só a falar com a Frente de Libertação de Moçambique. Percebeu-se que era a única saída para uma solução de independência e para uma estabilidade do país.
Para além da Beira, Zambézia surge em “Fim do Império” como um dos corredores da nossa história. Como é que podemos olhar para este espaço, onde o próprio governo colonial português tentou apostar?
A Zambézia tem condições muitos específicas. Podemos ver a questão dos prazos. É na Zambézia onde o sistema colonial penetrou com mais tempo e mais presença. Depois a Zambézia faz fronteira com Malawi e os malawianos sempre disseram que as fronteiras não foram escolhidas por eles, ficaram limitados no seu direito ao acesso ao mar. Os malawianos tiveram sempre a esperança e o seu sonho, no tempo de Kamuzu Banda, da reconstituição do chamado império Marávia, uma figura um pouco ficcional. O que digo em relação a Zambézia é que vários movimentos foram criados com o suporte do próprio Banda, para que considerassem uma independência da chamada Rombézia, que era apenas a parte do norte da Zambézia e o resto seria retalhado entre a Tanzania e Zâmbia, segundo a proposta de Banda. Portanto, teríamos Moçambique, não com o actual mapa, mas com um totalmente diferente. É evidente que essas questões são para registo histórico.
Nessa reconstrução que estamos a fazer parece-me que a história de Moçambique também é construída com base nos outros autores não nacionais. E como é que esses influenciaram aquilo que foi o percurso de Moçambique depois da independência?
Essa foi uma das razões que me levou a esta aventura de escrever um livro, com todas as minhas limitantes do tempo, na medida em que não sou escritor, sou empresário. O problema é que isto fica escrito para gerações vindouras. Então entendi que devia registar aquilo que foram as  minhas próprias experiências,  a minha própria leitura daquilo que foi esse mesmo processo em si, porque, de facto, estavam a escrever-se coisas que não iam de acordo com a realidade absoluta da história do país. E acho que tinha essa responsabilidade. recordo e interpreto as palavras do Dr. Baltazar de que não se deve escrever sobre este período histórico, passaram poucos anos. Não no sentido de não tomar posições ou conclusões apressadas sobre elas, mas que se deve sim registá-las, que se deve apresentá-las, mas que não sejam conclusões definitivas, porque essas são muito difíceis de fazê-las num curto espaço de tempo. Mas registá-las, isso para a memória, para a história, deve ser feito sob pena de se perder definitivamente. E acho que já se perderam, infelizmente, muitas informações devido à morte de várias grandes figuras que tinham memórias vivas deste país.
Como é que um empresário, apesar de ser de uma família de escritores (filho do poeta Fernando Couto e irmão de Mia Couto) entra numa aventura de escrever um livro? será por uma questão de memória ou de génese?
É uma questão de génese. Como eu bem disse, primeiro fui jornalista acidental, mas foi a profissão que eu exerci na vida que mais me deu adrenalina, sobretudo num jornal diário. Portanto, é uma questão de génese, é uma questão de gostar de livros, é uma questão de gostar de leitura e também de sair deste ambiente tão pesado que é o de negócios. Nós temos que ter outras actividades na vida, outros valores, sob pena de corrermos o risco de ficar reduzidos a “business man”. Eu quero ser cidadão de corpo inteiro.

Fonte: opais online

Entrevista de Severino Ngoenha: Governo deve rever mecanismo de distribuição da riqueza no país.

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Severino Ngoenha, em grande entrevista na Stv.
Para Severino Ngoenha, depois da guerra civil, surgiu  no país uma elite económica que se confunde com a política. Diz também que o desafio do Governo está na distribuição da riqueza, para evitar conflitos.
E esta semana, apresentamos a reflexão do académico e filósofo Severino Ngoenha sobre a actual governação do país e o debate da revisão da constituição da República.
O senhor defendeu, há dias, ser urgente um novo contrato político e social no país. Quais as razões de fundo que o levam a propor isso?
Estou lisonjeado, porque não é fácil exibir-se durante 60 minutos como se tivesse muito a dizer. De qualquer forma, agradeço o convite. Há alguns anos atrás, o seminário da Matola organizou uma espécie de conferência ou congresso em filosofia subordinado ao tema “O papel da filosofia na construção da democracia”. Comigo, estavam presentes Lourenço do Rosário e o actual reitor do Instituto Superior de Relações Internacionais. Nós tentámos, cada um com o seu background cultural e teórico, trazer uma resposta a esta questão. Eu não consegui responder imediatamente a questão, levei quatro a cinco anos a respondê-la, e isso deu origem àquele livro “Os Tempos de Filosofia”. O título “tempos de filosofia” queria dizer que os tempos de filosofia são tempos particulares. Significa que enquanto o senhor que é jornalista tem de responder imediatamente às solicitações, tem que dar informações imediatamente para que as pessoas saibam o que acontece no país e no mundo; enquanto o economista tem o dever de responder imediatamente às conjunturas socioeconómicas nacionais e internacionais; ou o sociólogo interpreta os factos como se apresentam imediatamente; a filosofia precisa de mais tempo. Quer dizer que nós praticamos uma ciência que pelos seus métodos, pelas suas teorias, precisa de muito mais tempo, muito mais vagar para elaborar as suas colaborações, para se chegar, digamos assim, a posições que podem ser mais ou menos fundadas. E nesse livro que saiu quatro ou cinco anos mais tarde - “Os Tempos de Filosofia” - eu dizia, e aqui começo a responder à sua questão, que as sociedades nas quais vivemos, as sociedades ditas modernas, as sociedades do estado de direito, são sociedades contratuais. Significa o quê? Significa que nós somos sujeitos, digamos, sob ponto de vista teórico, que decidem viver juntos e que passam a ser responsáveis ou co-responsáveis uns dos outros. É essencialmente o que se tem chamado contrato de sociedade ou contrato social. Quando numa sociedade o contrato social vem a falhar, nós entramos num prisma de conflito e de violências que podem ser graves. O que significa um contrato social falhado? Nós, em qualquer sociedade, temos elites. podem ser elites políticas, económicas, intelectuais ou mesmo académicas, às quais eu também posso pertencer. Mas nós temos uma responsabilidade moral, quer dizer que o pouco ou o muito que o país tem, de certa maneira, tem que ser em benefício de maior número.
Quando propõe um novo contrato social neste país, quer dizer que o nosso contrato político-social actual está a falhar?
O contrato social tem que ser sistematicamente reabilitado, sistematicamente revisto. Em todos os países, as disparidades entre as classes sociais correm o risco de se acentuar, e quando a discrepância em termos de distribuição entre as classes sociais falha no seu contrato social, isso pode trazer violência.
E como é que caracteriza o nosso contrato político-social?
O nosso país, na chamada primeira república, que é o período que vai desde a independência até ao fim da chamada guerra civil, foi caracterizado por uma política que se queria essencialmente distributiva. Isso é, por um lado, motivado pela conjuntura internacional. recorde-se que Moçambique se torna independente em 1975, quando existiam dois blocos, e os que nos ajudaram na guerra da independência pertenciam ao bloco da esquerda. E nós, quer pela adesão de alguns à ideologia do bloco da esquerda, quer pela ajuda que tínhamos recebido de aqueles que aceitaram lutar connosco para a independência, acabámos entrando no bloco da esquerda. Recorde-se que os africanos, os países do sul, sempre quiseram entrar no não-alinhamento, não quiseram essencialmente entrar no bloco da esquerda. Mas de 1975 até ao fim da guerra, a esquerda foi essencial, porque defendeu princípios de unidade, trabalho e vigilância, o sentido de pertença, o orgulho de ser moçambicano. Naquela altura, aquilo foi, em minha opinião, estritamente necessário. Ora, com o fim da guerra fria, com a derrota da União Soviética e seus aliados, nós não tínhamos alternativa, além de passarmos para a direita, o que aconteceu, aliás, com quase metade dos países do mundo. Os que não passaram, tiveram situações complicadas, basta pensar na Cuba ou na Coreia do Norte. Ora, o que acontece é que o contrato social estabelecido na primeira república tinha que ser revisto, para que, na segunda república, o facto de alguns começarem a emergir como elites económicas não fosse em discrepância com o maior número. O que aconteceu é que tivemos uma aceleração de um pequeno grupo de pessoas que foram tendo meios exorbitantes, através da cooperação internacional, através de uma confusão que se criou entre o político e económico, mas o maior número de pessoas não viu benefício naquilo que foi o crescimento do pouco. Ora, o contrato social significa reabilitar sistematicamente aquilo que é a divisão de bens, de recursos, da riqueza, do crescimento económico, entre as duas classes sociais.
Como isso seria feito?
Isto tem que ser repensado sistematicamente. o que não pode acontecer é que haja pessoas com milhões de dólares nas contas privadas, casas, carros, com benefícios extraordinários, quando a maior parte das pessoas não tem esses benefícios. Não quer dizer que o rico não tenha que ser rico. Nós precisamos de ricos, de elite e de uma burguesa. mas esta tem que ter a consciência da responsabilidade que tem pelo contrato social que estabeleceu com a outra parte da sociedade. Por isso, deve rever sistematicamente o sistema de distribuição de riqueza, de modo a favorecer o maior número de pessoas possível.
Na governação de Chissano havia mais abertura para o diálogo
Criticando a falta de abertura política no país.
Severino Ngoenha recomenda um debate político mais amplo. Diz ainda que o espírito da actual revisão da lei-mãe deve ser a inclusão de vários círculos de opinião na procura de resolução de problemas do país.
Portanto, quer dizer que a actual burguesia, a elite, olha apenas para si e não para a maioria?
Penso que temos uma elite económica emergente que às vezes se confunde com uma elite política, ou, se quisermos, é da elite política que surgiu a económica. Mas, como digo, para que uma elite seja como tal, não basta que seja política, económica ou intelectual, é preciso que tenha uma dimensão moral. e é esta conotação de moralidade que a elite tem que ter para ter a responsabilidade em relação às restantes pessoas. E penso que não posso, honestamente, dizer que o conjunto das pessoas que constituem a elite, hoje, não tem o sentido de responsabilidade para com todos, mas aquilo que aparece aos olhos nus é uma discrepância maior entre as elites e as massas.
O país está hoje a debater a revisão da Constituição da República, o que, se calhar, é uma oportunidade para repensar este contrato social. Que alterações é preciso fazer para responder aos desafios que se impõem ao país com esta revisão constitucional?
Há duas coisas que gostaria de dizer a este propósito. A primeira vai ainda na direcção da pergunta que fez antes. Nós falámos de contrato social, mas eu introduzi um conceito a que chamei contrato político. O que chamo contrato político? Contrato político significa para mim reinventar os mecanismos de debate de ideias ao nível nacional. Durante a presidência de Chissano, nós víamos com frequência encontrarem-se, conversarem, e debaterem ideias, e tornou-se uma prática constante. Até se chamavam “meu irmão Chissano, meu irmão Dhlakama”. Não digo que isso não aconteça agora. temos as chamadas presidências abertas, mas não são um diálogo aberto entre as partes que constituem a elite política ou os fazedores da política nacional. O que chamo contrato político é essa capacidade de fazermos da palavra e do diálogo o mecanismo necessário para continuarmos numa esfera de pacificação contínua de que o país e o continente têm necessidade. Quando se faz uma revisão da constituição, deixemos todo o resto com juristas, aquilo que me parece a falhar é esse contrato político, quer dizer, os pareceres dos partidos políticos, da sociedade civil, para evitar ruptura do diálogo, para evitar conflitos, situações do Zimbabwe, Guiné-Bissau, Madagáscar, Somália. O nosso continente está repleto de conflitos e nós mesmos conhecemos o conflito, sabemos o que sofremos e  ainda estamos a sofrer.
Olhando para a forma como este diálogo está a acontecer, fala de um diálogo franco e aberto. Até hoje, passado ano e meio, ninguém conhece as premissas dessa revisão. Será que temos a abertura para esse diálogo?
Também não sei o que se pretende rever na constituição. Mas o que me parece importante é que devia ser uma prática - num país como o nosso, que sai de uma situação de grandes dificuldades e continua a viver situações difíceis - que introduzíssemos como prática um diálogo, uma espécie de debate aberto, como acontecia na primeira república; que houvesse teses como a Frelimo vai fazer para o seu congresso; que as teses fosse debatidas ao nível dos vários círculos de opinião. Que fosse um debate contraditório, entre os partidos e fora dos partidos. Quanto mais aberto e quanto mais contraditório for o debate, de uma forma dialética, pode encontrar-se as respostas para as questões com que estamos a ser confrontados. É a isto que chamo contrato político, e parece-me que a constituição deve ser o fundamento desse contrato político, mas também deve pousar sob um substrato filosófico, que faz dele um instrumento de diálogo suplementar, para melhorar as condições da viabilidade política em Moçambique.
Falou da necessidade de um diálogo sério e honesto. Acha que actualmente, em Moçambique, o diálogo não é assim?
Aquilo que me parece é fazer do diálogo - quase podia dizer antropologicamente - palavra. Palavra, no sentido daquilo que os antropólogos pensam que é próprio do continente africano, desde a discussão em baixo de uma árvore, como fazem nas nossas povoações, uma prática de auscultação do outro, para saber qual é a sua percepção de um determinado tipo de problema. Digo mais: há muitos actores políticos, sociais, que não fazem parte do parlamento, não fazem parte dos partidos políticos ou outro tipo de activismo. E essas pessoas não são dignas de ideias? Não são dignas de pensamentos? Ou de contribuições importantes? A minha ideia é que se nós fizermos do contrato político um substrato jurídico sobre o qual pousa a nossa constituição, vamos criar espaço, independentemente daquilo que é a configuração jurídica, para que a palavra, a discussão, o diálogo, a troca de opiniões, possa constituir substrato fundamental da governação de Moçambique, e isto, uma vez mais, vai impedir que certos conflitos surjam. Os conflitos não precisam de ser como do Zimbabwe, do Madagáscar (…). violência real ou simbólica existe na nossa sociedade quando há crianças que não têm o que comer, quando nós gastamos num restaurante três mil a quarto mil meticais e pagamos aos nossos empregados mil a mil e quinhentos meticais; isto são situações de violência. Temos que encontrar sistematicamente um mecanismo que nos permita, através da discussão, sair disto, de modo a encontrar uma plataforma para que todos os moçambicanos possam participar.
Olhando o que está a acontecer e do diálogo que devia haver, não está a ser amputada esta possibilidade, quando não se divulga o conteúdo da revisão da constituição da República?
Acho que devíamos saber, mais do que saber o que se quer fazer, o espírito do que se pretende fazer. Aquilo que os filósofos fazem, enfim, aquilo que é o meu trabalho, não é tanto olhar a forma bruta, como os juristas, os constitucionalistas fazem, é pensar naquilo que Montesquieu chamava espírito das leis. O que quero dizer é que o espírito sobre o qual a constituição deve ser revista deve ser de diálogo.
Desde 1990, Moçambique é um país que permite a pluralidade de ideias, através da liberdade de imprensa, de pensamento e de expressão. Olhando “terra a terra”, existe essa pluralidade?
A pluralidade de ideias, nós até podemos dizer que existe, porque se manifesta pela existência de partidos políticos diferentes, que teoricamente deviam ter filosofias políticas diferentes. Quer dizer, um partido político não devia ser simplesmente um aglomerado de amigos ou de pessoas que se decidem meter juntas e criar uma partido. Deviam ter um substrato de pensamento, defender alguns princípios de base.

Fonte: opais online

Guiné-Bissau em perigo de ser um "estado falhado".

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Cabo Verde é o melhor dos PALOPs.

O índice anual toma em conta questões como pressões demográficas, refugiados, conflictos entre grupos, desenvolvimento urbano, declínio económico, serviços públicos, direitos humanos e intervenção externa, entre outros.

A lista de estados falhados engloba cinco posições gerais nomeadamente aqueles em estado "crítico", em "perigo",  na "fronteira", "estáveis" e "mais estáveis".

A Guiné Bissau aparece em  18º lugar na lista de estados em perigo sendo o seu maior perigo as forças de segurança com 9,3 pontos de um maximo de 10.

Angola aparece também entre os países considerados em "perigo" na posição 52 sendo o aspecto mais perigoso o desenvolvimento desigual com uma pontuação de 8,8 em 10 pontos máximos possíveis.

Já Moçambique aparece também entre os estados em "perigo" abaixo de  Angola na posição 57. O índice considera o maior perigo para Moçambique as pressões demograficas e a falta de serviços públicos.

Cabo Verde é o melhor país lusófono.

A salientar que em relação ao ano passado a situação da Guiné Bissau e Angola deteriorou. A Guiné Bissau passou de 22º lugar para 18º. Angola caíu de de 59º para 52º.

A Somália comanda a lista de estados falhados há sete anos seguidos. Entre os 10 primeiros sete são países africanos. Os outros três são o Haiti (5º),Afeganistã (7º) e Iraque (9º)

Fonte: voanews

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