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quinta-feira, 26 de março de 2015

OPINIÃO: PALAVRAS OCULTADAS DEBAIXO DA LÍNGUA.

NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!...

                                                            Filomeno Pina - " NÔ DJAGRA!"

Sem alternativas tentaram dormir um sono leve como sobreviventes mal-amados, mantendo viva uma esperança desgastada pela angústia persistente do luto. A realidade sem tempo previsto para acabar. Ela não mata, mas mói tudo por dentro, deixando silenciosamente descrita nos rostos a revolta silenciosa e o sentimento de abandono, só. 

As palavras abandonadas no fundo da alma vivem debaixo da língua, numa tensão constante, parecem canções de embalar tristes, que adormecem com um olho aberto, resistem vigilantes, mas com medo de represálias, manobras dum mundo mau com que têm de lidar como se fosse travesseiro destinado, um dia de cada vez, sua boca fechada, esperam por dias melhores. 
Palavras enlutadas, arrastam num impasse atravessadas na garganta como nó-cego, presas nas cordas vocais das suas vítimas, vivem no porão da consciência, com a cabeça pesada, inclinada sobre o peito na tentativa de esconder a sua tristeza. Tentam sono leve a cabecear num vaivém corcunda, notado por amigos e familiares, quando passam a caminho da solidão arrastadas por um luto que não conseguem fazer, com tranquilidade condigna e humanamente justa!

Custa-lhes a engolir este nó na garganta, misturado com o peso na consciência, toda a tristeza untada com fel, desde a boca até ao estômago, embora seja assim, as Famílias aparentam serenidade, mas com medo de morderem a própria língua, soltar gritos de acordar palavras velhas e ocultadas debaixo da língua, de viva voz. 
Falamos aqui de sofrimento que anda pelos cantos, disfarçado, parecendo não existir sofredor crónico, mas não é verdade! Há Guineenses preocupados com a solução de paz entre Famílias, mas querem ouvir a voz da Justiça, só depois haver partilha possível do - perdão - entre irmãos, assumido com a dignidade que um luto material e psicológico como este merece. 

Todo este sofrimento ocultado debaixo da língua vive na clandestinidade sob tensão, tempos infinitos, arquivado na memória do passado por denunciar. Enterrado vivo na massa cinzenta, continua sem poder vir à rua quebrar obstáculos, voar como lã de polõm para uso da liberdade. Um velho desejo para terapêutica das palavras reprimidas debaixo da língua, nunca pronunciadas em público, mas é hoje um desejo óbvio por realizar, acredite.  

Sair do silêncio sepulcral e arrepiante do buraco, ver o País renovado, com Democracia plena, Justiça, igualdade de  Direito e de circunstância para os cidadãos, é o maior desejo. Acabar com o clima de medo onde a inteligência adormeceu, parou, sem nunca vir à rua, desde que o crime de sangue é impune no País!
Hoje as vítimas querem assistir à devassa deste medo em Sede própria, enfrentar os monstros, cuspir a revolta e a tristeza interiores, isto sim, seria um final feliz, para a esmagadora maioria de Guineenses, acredite se quiser. 

Palavras coladas no fundo da consciência, sublimadas, permitem a vida avançar com aceitação social, mas, não é totalmente verdade, pensar que caíram definitivamente no esquecimento, porque continuam em estado de alerta subliminar, desconfiados como sempre… 

Aqui temos um luto difícil de ultrapassar pelas Famílias revoltadas à espera de justiça que não chega! Na verdade estão aguardando pelo dia "D". Quando o - Estado der a mão à palmatória - assumindo a sua cota parte de responsabilidade ou "conivência", pelo simples facto de, na altura devida não tomar a palavra de viva voz, para consolar os familiares das vítimas e punir os criminosos sem hesitar, paradoxalmente preferiu simplesmente adoptar o silêncio como resposta ideal, mas infeliz! 

Hoje o Estado ainda vai a tempo - como pessoa de bem -  para reparar e recuperar o seu Povo, no tocante a este passado menos bom da nossa história infeliz.

Sem ninguém saber quais as palavras ocultadas debaixo da língua, mas existem sem dúvida, à espera de ouvir o sino de rebate, mas, este "sino" pode, ainda, nunca tocar, será? 

Uma espera longa não faz sentido aqui, porque é possível tudo terminar bem, i. é, se todos contribuirmos para que haja Paz, na compreensão especial em relação ao luto nacional das Famílias vítimas de crimes de sangue, perpetuados no nosso País. 

Um facto político e histórico, são os Guineenses (civis, políticos e militares) que tombaram vítimas de crime de sangue, no período pós-independência na Guiné-Bissau. Uma memória triste que carregamos como luto nacional!

Penso que merece um – Monumento – erguido como símbolo da Paz e de solidariedade entre Guineenses. Seria ao mesmo tempo uma referência à memória do luto, que não queremos ver repetir nunca mais no País, pense nisto Camarada!

Há que enfrentar serenamente toda a situação ácida, seus conteúdos perigosos, inoportunos, que poderão provocar mudanças radicais no sistema político, mexer com a liberdade de personalidades públicas, mas, penso que valerá a pena por uma questão de justiça social, com o objectivo de unir o Povo Guineense. 

As palavras num determinado contexto têm um tempo activo ou de esperança de vida, sobretudo para o tribunal, i. é, também “morrem”.
A Justiça precisa ser célere e tem-se esforçado para tal, contudo, se continuar sobretudo a impunidade, sem mudar nada (que não será o caso), morrerá com certeza qualquer esperança em relação à verdade dos factos perante a Justiça e o Tribunal. O que é grave acontecer, porque poderá encorajar a perversão ou levar a que se tente fazer justiça pelas próprias mãos.

Neste mundo complexo, por vezes as - palavras e o silêncio - parecem iguais em pensamento. Há uma sensação de vazio enorme difícil de entender. Só quem as viveu, sabe o que é sensação de "gravidez mental" do género, com palavras  angustiadas, sem voz própria. Presas como um papagaio de papel, atado a quem segura a ponta do fio e o vigia. Mas, percebemos logo a tristeza vincada no semblante, quando passam as vítimas desta impunidade, carimbadas nos rostos de órfãos, de viúvas, familiares e amigos das vítimas, ninguém ignora.

Perante este sofrimento imaginemos então como estará uma família material e psicologicamente, sem respostas há anos, pense nisto.

As palavras de quem sofre na pele a perda de um familiar, quer queiramos quer não, fazem sempre sentido! Todas merecem atenção e reflexão – quem somos nós afinal - para ignorar ou ajuizar o luto dos outros!?

Tudo isto importa reflectir porque é raiz  deste sofrimento e luto das Famílias afectadas. Transporta uma revolta contra o Estado e pessoas, a angústia e medo de falar, de chorar livremente os seus mortos na devida altura, tudo isto aconteceu em silêncio, hoje querem falar e saber como é... 

Este sentimento é do pior e explica a injustiça, ressentimento  em relação ao Estado. Foram abandonados por todos à sua volta, e daí a projecção da culpa recair nos dirigentes, governantes, o poder político e castrense de então. Um medo factual, que levou familiares a refugiarem debaixo da própria língua, com a boca "calada" em silêncio profundo, mas, hoje parece vislumbrar um fim à vista! 

Não é difícil perceber o lado do mal de tudo isto, falando de crimes de sangue. Na verdade, deixaram sem voz toda a gente, na altura, com medo. Todos se acobardaram, nenhum de nós teve coragem de apoiar as vítimas publicamente. Ignoramos Famílias inteiras que nunca foram ouvidas, nunca sequer receberam os pêsames da parte do poder Institucional do Estado, nunca! 

Houve simplesmente silêncio quase absoluto sem contacto humano ou institucional, o que induziu à percepção dum Estado-conivente, porque fechou os olhos à Impunidade da justiça reinante, na devida altura não agiu como deveria (investigar, julgar e condenar os culpados), fechou-se como uma ostra!

Digo isto Camaradas, como reflexão até prova em contrário, sublinho tudo, o porquê de nunca ninguém ter feito nada! Passaram-se décadas e cada vez se torna mais difícil encontrar caminho justo e oportuno, para uma resolução definitiva.
Nesta fase de mudança no País, devemos corrigir os erros sem deixar para trás (mais uma vez) as Famílias, sem uma palavra definitiva sobre este assunto.

Acreditamos que a investigação prossiga no seu ritmo “lento”, embora até hoje o próprio Tribunal permaneça em silêncio, aparentemente, e talvez com "palavras" ocultadas debaixo da língua, na postura semelhante aos familiares das vitimas (ninguém fala, cada um tem seus motivos), porém o cidadão comum, está sem saber a quem pedir mais responsabilidades disto, penso. 

Tribunais e Família das vítimas estão ambos entalados com palavras ocultadas debaixo da língua (parece). Iguais num destino que se arrasta - acreditamos que mais vale tarde do que nunca - não deitem por favor a toalha ao chão, para o bem da Imagem da Justiça na Guiné-Bissau!

Até aqui cavou-se um subterrâneo, para ficar calado, mudo, no contexto social onde vivemos. Talvez sejamos todos  um pouco culpados disto (uns mais do que outros) do que está a acontecer até hoje, será. 
Todavia, já sentimos que há mulheres e homens a trabalhar para que a paz e as verdades ocultadas, sejam um dia tornadas transparentes ou públicas e, havemos de viver felizes uns com os outros, acredite.

Vale a pena estarmos atentos a outro nó-cego ainda pior, em vez de o ser na garganta, é-o na inteligência, em forma de impotência perpétua e fóbica, para lidarmos com este problema. Trocando os pés pelas mãos, fugir com o rabo à seringa num assunto sério e nacional, sem a consciência da repercussão continuada na ausência de sensibilidade necessária, decisões acertadas, para lidar com o problema cabalmente. 

Pior do que isto ainda, seria a tentativa de oferecer soluções fáceis, forjadas em cima do joelho, sem ouvir primeiro as Famílias, saber o que trazem debaixo da língua e anotar, racionalizar tudo, para compreendermos melhor as suas expectativas, o estado material dum trabalho a fazer, para minimizar este sofrimento, facilitando a reconciliação entre Guineenses nesta nova era da “Terra-Ramka”, com todos e para todos! 

Será que se deixarmos que o tempo resolva tudo, nós próprios vamos ter tempo de vida suficiente, para assistirmos e ver "tudo" resolvido?

Penso que não, Camaradas, será preferível fazer a pega frontal do "touro", assumir a Justiça expectante para quem sofreu danos morais e materiais.
Reparar quanto possível esta ferida, embora haja pouco a recuperar, porque o pior já foi feito, infelizmente. Todos assistimos calados. A dignidade do Estado esteve ausente e demitida da função superior esperada.  

Não se consegue reparar nada neste contexto da realidade, se fizermos as coisas à distância, friamente, clicando os media para falar ou escrever, porque não é a melhor solução, só.
Os recados chegam deturpados ou sentidos friamente do outro lado, sem emoção adequada do contexto de luto que se vive.
Não favorecendo a imagem que o Estado pretende, reconquistar as Famílias das vítimas de crimes de sangue, com base na Justiça material e consequente “reparo” e perdão dos danos.

Há que reaproximar do fenómeno de luto associado à impunidade da justiça, depois dum trabalho organizado para o efeito na sociedade civil, passar ao acto e fazer o que ainda for possível fazer na reparação dos erros cometidos do passado neste contexto (crime de sangue).

Esta geração actual de políticos deve nunca virar a cara ao facto histórico, mas, assumir responsabilidades do Estado na sua totalidade e não meia culpa (lavar as mãos e fazer de conta, que isto não é connosco).
Perante Deus, somos iguais antes e depois da morte, lembre-se disto!

É preciso reconquistar a empatia e o respeito do Povo pelo Estado neste aspecto e noutros, há que fazer valer a cultura do - ADN da Democracia - no nosso País!

Camaradas abracemo-nos uns aos outros na Partilha do Perdão, porque nunca é tarde para chorar os mortos (tóka-tchur) ou rezar por eles.

…que a natureza nos proteja, se DEUS quiser…


Djarama. Filomeno Pina.







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