
Silvestre Alves - Líder de MDG
“O Primeiro-Ministro sabe muito bem que, em qualquer país europeu,
ele já não teria condições de permanecer no Governo pelas suspeitas à roda da
sua pessoa, quer relativas a negócios, quer relativas à proteção de pessoas
dadas como condenadas, quer pela situação em que a sua família esteve
envolvida”, afirmou segunda-feira em Bissau o líder do partido MDG.
No entender de Silvestre Alves “como homem inteligente e informado,
não precisa que lhe seja lembrado a hombridade de Nelson Mandela quando a Mãe
da Nação se viu envolvida em suspeitas. Nelson deixou o campo aberto à ação
judicial, livrou-se de qualquer suspeita de favorecimento.
Consta na imprensa que apresentou queixa-crime contra a associação,
mas não se lembrou que, politicamente, no mínimo, deve uma explicação ao
país, referiu o político para a seguir precisar que “o Primeiro-Ministro terá
que se lembrar que na Europa, todo o titular de cargo público que for tido
por suspeito apresenta a sua demissão. Ninguém se atreve a invocar a
presunção de inocência porque, por outro lado, caso se venha a comprovar, a
imagem da instituição ficaria irremediavelmente manchada.”
O estilo sensacionalista, senão demagógico de governação, tem muitos
aspetos críticos que podem deixar de assinalar, disse Alves que, antecipadamente,
pediu desculpas “se o calor da intervenção, de alguma maneira se sobrepuser
ao caráter pedagógico que se pretende...” com a conferência de imprensa.
São do domínio público vários casos de despesas consideráveis das
quais não se conhecem a origem dos fundos. Qual a proveniência dos fundos?
Como de Carnaval, de apoios pontuais como à escola de artes, os seis mil
sacos de açúcar, despesas da festa de aniversário, beneficiação da praça dos
Heróis Nacionais. Por tudo isso, o PAIGC e o Governo terão que aceitar
dialogar, discutir modelos e estratégias de desenvolvimento e negociar
compromissos e soluções que salvaguardem os direitos das novas gerações e os
interesses do país, sob pena de voltar a provocar uma crise
institucional.
O Governo tem sido autista e tem dado mostras de preferir o
panfletário e o fogo-de-artifício, disse o líder do Movimento Democrático
Guineense (MDG) exigiu a justificação das contas administrativas de um ano de
exercício.
Silvestre Alves considera que o Executivo parte do princípio que “a
Guiné-Bissau funciona” e que só falta imprimir uma certa dinâmica. “Como diz
Joseph ki-Zerbo, não existe nenhuma “olimpíadas do desenvolvimento”. Por
conseguinte, cada um terá que encontrar a sua própria medida e critério de
desenvolvimento.”
Para o líder do MDG “continuar nessa forma de encarar o
desenvolvimento é admitir que se pode construir a partir do telhado. Opções
são opções. Mas de certeza que não passará de uma falácia cuja factura será
bem pesada para as gerações vindouras.”
“Na verdade, se a Guiné fosse uma casa, depois de tantos anos em
estaleiro, o melhor seria deitar tudo a baixo e reiniciar. É aqui que o
Governo parece não ter consciência da gravidade da situação, da necessidade
de estruturar, reorganizar e reformar as suas instituições, de educar,
formar, projetar e implementar uma ideia realista desenvolvimento, com a
participação de todas as franjas da nossa sociedade”, criticou.
De acordo com o líder do MDG, todos os outros casos que deram lugar a
clivagens conhecidas ou não, destacam-se a dos ministérios dos Negócios
Estrangeiros, ministérios dos Recursos Naturais e do Secretário do Estado das
Comunidades. Pessoalmente, o Primeiro-Ministro deixa-nos alguns casos pessoais.
O Governo tem de ser digno porque nos representa, a todos. Não é espaço para
aprendizes, nem para gente de comportamento duvidoso.
A presunção de inocência que é um corolário dos direitos fundamentais
de liberdade e da honra e bom nome não pode contender com o direito da
comunidade política de se proteger e de assegurar uma representação idónea e
isenta, defende Alves.
Silvestre Alves disse que o MDG planeou a sua rentrée para finais do
mês de Agosto, data em que prevê realizar o seu Conselho Nacional para então
render visita de cortesia aos órgãos de soberania e retomar o seu
protagonismo. No entanto a evolução política obrigou a esta intervenção.
Segundo o líder do MDG, estão cientes de que a Guiné-Bissau precisa de
todos, por isso o exercício de uma oposição consciente que implica colaborar
com quem está no poder. Neste caso, defendeu que o MDG está consciente de
ajudar o partido no poder, PAIGC, a assumir as suas responsabilidades perante
os desígnios da nação, contra a corrupção, como caminho mais rápido para
aliviar o sofrimento do povo.
Para Silvestre Alves, “a melhor forma de ajudar com lealdade é falar
com clareza.” Para dissipar dúvidas esclareceu: “Falando com clareza,
corre-se o risco de parecer intenção de afrontar. Desde já, que fique claro
que não é intenção do MDG afrontar ninguém.”
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