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terça-feira, 17 de setembro de 2013

Jovens angolanos vão protestar apesar do não da polícia.

NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!...

Polícia de Luanda proibiu manifestação marcada para dia 19 de setembro contra José Eduardo dos Santos. Ainda assim, jovens garantem que vão sair à rua. Autoridades ameaçam "tomar medidas necessárias".

Uma manifestação em março de 2012, em Benguela, também contra o governo do MPLA

Numa inédita reunião, no início da noite de segunda-feira (16.09), a polícia de Luanda chamou o grupo de jovens que pretende sair à rua esta semana em protesto contra o presidente de Angola para anunciar o seguinte: “Já não há manifestação e, se houver, a polícia vai tomar as medidas necessárias”.

As palavras não convenceram os jovens que afirmaram à DW que, mesmo assim, com intimidações, vão levar a cabo a marcha. Entretanto, continua na cadeia um jovem manifestante de 17 anos anos acusado pela polícia de incitamento à guerra.
Jovens prometem: "Vamos elevar níveis de luta"

O comandante provincial da polícia nacional, Comissário António Maria Sita, disse a oito membros do Movimento Revolucionário que, por ordens superiores, a manifestação está cancelada. Os motivos são "a não legalização dos promotores, a hora e o local da sua realização".
Ação policial em manifestação em Benguela, em 2012, também contra José Eduardo dos Santos
No fim deste encontro, em que a imprensa foi convidada a retirar-se, um dos membros do movimento, Gaspar Luamba, disse à DW que a solução é enveredar por vias alternativas. Ou seja, manifestações constantes, durante este mês de setembro, mesmo sem autorização oficial. "O aspeto principal da nossa luta é a injustiça que há no nosso país", explica Luamba. "E vamos seguir por outras vias. De certeza que vamos elevar os níveis de luta", garante.

As reivindicações são as mesmas, mas alguns dos atores são diferentes. Segundo a organização, a manifestação será pacífica e muitos dos intervenientes pretendem levar inclusivé as suas crianças. Uma carta será publicada, cujo destinatário é o presidente José Eduardo dos Santos.
Os seus 34 anos no poder, a serem completados no próximo dia 21, a alegada corrupção, falta de apoio às vítimas da seca, a repressão policial e muito mais fazem parte do rol de preocupações.
Caça aos membros do Movimento Revolucionário

Numa conferência de imprensa, ainda antes da reunião com a polícia, os manifestantes afirmaram que há uma autêntica “caça às bruxas” nos bairros periféricos de Luanda. Alguns deles estão a ser vigiados por elementos à paisana e outros terão recebido algumas chamadas à Direcção Nacional de Investigação Criminal para prestarem declarações, num clima de autêntico medo em Luanda.

"O regime de José Eduardo dos Santos, com a cumplicidade do ministro do Interior, está a agilizar um plano macabro - que já começou, com a detenção do Nito Alves - de sequestrar alguns membros do Movimento Revolucionário, três dias antes da realização da manifestação", afirma Gaspar Luamba, acrescentando que "também se vai cadastrar, perseguir e criar obstáculos a jornalistas que fizerem a cobertura do protesto".

A manifestação prevista para o dia 19 de Setembro tem ainda como base o lançar de um alerta ao mundo, sobre as situações que Angola vive, nomeadamente a pobreza, numa altura em que milhões de dólares são gastos para a competição.
Tortura e negação de advogado no caso Nito Alves
Membros da Juventude Patriótica de Angola protestam contra irregularidades no processo eleitoral, em 2012
Num desenvolvimento paralelo, continua sob custódia policial o menor de 17 anos detido sexta-feira (13.09) por ter mandado imprimir duas camisolas que seriam utilizadas na manifestação do dia 19 de Setembro contra o presidente da Republica, José Eduardo dos Santos. Nas camisolas brancas podia ler-se “Quando a guerra é necessária e urgente” e “Ditador nojento”. A DW apurou que o rapaz, conhecido por NIto Alves, sofreu maus-tratos no fim-de-semana. Esta segunda-feira, foi-lhe negada qualquer visita de um advogado.

O porta-voz da polícia nacional, Comissário Aristófanes dos Santos, disse à imprensa pública que os dizeres são imperdoáveis, pois visam promover a guerra em Angola, considerando que "uma pessoa que utiliza estes dizeres que atentam contra o mais alto magistrado da nação, é uma pessoa que comete atos de delinquência".
fonte: DW


Senegal: O Presidente Macky Sall apresenta a bandeira aos "Leões" - "Vocês têm todas as qualidades para vencer o Afrobasket".

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Partindo para 23º Afrobasket feminino, a equipe nacional de basquete recebeu ontem, a bandeira nacional das mãos do presidente Macky Sall. Uma oportunidade para os " Leões " se comprometerem a defender dignamente as cores do Senegal em Maputo, Moçambique.

É o mesmo protocolo para cada campanha africana das equipes nacional de basquete do Senegal. Das mãos do Presidente da República, o " Liões" receberam ontem, a bandeira nacional para exibição em Maputo. O compromisso é o mesmo, isto é, "defender até a última energia a bandeira do Senegal ". Um compromisso solene com o capitão Aya Traore em nome de seus companheiros que também disseram que " é com grande orgulho e honra que recebem a bandeira nacional das mãos do Presidente da República. " Para esta campanha, a 27 ª edição do Afrobasket feminino em ( Maputo, Moçambique, de 20 a 29 de Setembro), o presidente Macky Sall pediu aos " Leões " para " prevalecer o rigor, disciplina e solidariedade que são virtudes cardeais de qualquer atleta de alto nível . " " Tenho certeza de que vocês tem todas as habilidades técnicas, táticas, mas também uma experiência vital que pode ajudá-los a conquistar o título continental. Exorto-vos a se concentrar em seu único objetivo que é ganhar o troféu continental outra vez ", disse o chefe de Estado. " No panteão da glória do desporto senegalês o basquete ocupa um lugar de destaque. Vossos antecessores, caros " Leões " estarão eles a jogar  sua bela competição nesta grande abertura. Essa geração tem a vantagem de manter a tocha deixada por seus anciãos. Vocês já nos habituaram a vitória. Portanto, a final perdida contra Angola em 2011 em Bamako é considerada um acidente. Nesta nobre missão, tenham a certeza que terão o meu total apoio, do governo e de todos os senegaleses ", referiu o presidente. Assim, além de colocar à vossa disposição o comandante da aeronave para o rali Maputo, o Presidente decidiu fornecer suporte para todos os custos associados a esta experiência. O Chefe de Estado disse sobretudo aos " Leões ", a sua  esperança de "receber de suas mãos o troféu simbolizando a nossa supremacia no basquete Africano".

ENCORAJAMENTO  AOS "LEÕES" DO BASQUETEBOL E DO FUTEBOL

Durante a cerimônia , o presidente Macky Sall encorajou os atletas senegaleses que dignamente defenderam as cores do nosso país através dos vários teatros de operações em África e em todo o mundo. Ele observou, em primeiro lugar, o desempenho do time de basquete nacional dos nossos homens no último Afrobasket em Abidjan, onde ele ficou em terceiro .

O presidente também expressou seu apoio e incentivo para a equipe nacional de futebol que se prepara a fase final das eliminatórias da Copa do Mundo de futebol e da praia, que começará a partir de amanhã, quinta-feira, a Copa do Mundo no Tahiti. Na melhoria do esporte, Macky Sall acredita que o seu compromisso a este nível não sofre nenhuma ambigüidade. "Acontece que eu sou a favor de um processo pensativo, consistente, planejado para mobilizar recursos para o esporte.

Nesta perspectiva, tenho instado o governo a levar a discussão e tomar todas as iniciativas que possam levar ao desenvolvimento e implementação de mecanismos adequados para o financiamento do desporto no nosso país ", disse ele. O presidente também ofereceu, como um apoio, 20 milhões de francos CFA aos " Leões ", e 10 milhões aos suportes de GAINDE 12.

RAMATA DAOU TEM SEU PASSEPORTE SENEGALÊS.

Ramata Daou, a origária do Mali, que queria jogar para a equipe do Senegal, conseguiu a luz verde de presidente da República. Ele assinou o decreto de naturalização, ontem, após a cerimônia da bandeira. Daou foi capaz de receber um passaporte e deve viajar com a equipe nacional. Agora Resta ao treinador Moussa Touré deslocar um jogador para que Ramata Daou de Slbc tenha um lugar no plantel.

Por: O. Ndiaye

fonte: lesoleil.sn

OPINIÃO: REDUNDÂNCIAS…

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II

NÓS, AFRICANOS, NÃO LUTAMOS PELA DEMOCRACIA

“A História está do lado dos bravos africanos - que lutam pela democracia - não dos que usam golpes ou mudam constituições para subir ao poder.
Barack Obama


O PODER DAS PALAVRAS

Não idolatro as palavras mas reverencio o seu valor real quando usadas no momento certo no lugar certo. As palavras podem matar, podem destruir, como também podem criar vida, mesmo no deserto mais árido. O poder da palavra é imenso no despoletar da esperança mesmo nos tempos de maior desespero.

É minha profunda convicção que nem a idolatria dos textos, nem a das frases é salutar. Mas há aforismos e pronunciamentos que de facto mudaram o mundo. Podemos interrogar-nos sobre o porquê de certas frases ou pronunciamentos, imateriais portanto, sem possuírem força de exércitos, terem o condão de mudar a realidade material de tal forma, que depois de terem sido pronunciadas, nada ficou como dantes num determinado país ou quiçá no mundo inteiro.

Não recuarei até a antiguidade, para lembrar frases famosas que provocaram verdadeiros milagres ou cataclismos. O famoso pronunciamento de Leónidas “almocem aqui, e jantem no inferno” que os motivou os Gregos a resistirem aos Persas até ao derradeiro soldado é um exemplo disso.

Decididamente as frases fazem milagres quando boas, ditas na hora certa pela pessoa certa. Há frases, ainda recentes e lembradas por homens (alguns ainda vivos que as escutaram um dia), até hoje, com admiração e veneração. Por exemplo o “Never Surrender” de Winston Churchil (se este discurso não foi o que fez a Inglaterra ganhar a Segunda Guerra Mundial, fez muito para isso). Creio que esta frase, também, fez com que a Rainha não abandonasse Londres (embora aconselhada por todos) mesmo quando as bombas caiam em cima do Palácio de Buckingham. Pois quem depois de ter ouvido o Winston Churchill fazendo o inigualável discurso na Câmara dos Comuns, proclamando “We shall never surrender”, poderia algum dia deixar de cumprir o seu dever frente ao inimigo, seja homem, mulher ou criança? Mesmo se para isso tivesse que dar a vida. Se os Londrinos não fugiram da sua cidade, em chamas, com medo dos bombardeamentos (como os Parisienses, que em pânico abandonaram Paris, até em caroças de buros), creio que este discurso, foi uma das coisas que os deteve, como um dique, para morrerem com honra, se preciso for, debaixo da metralha e das bombas. Pois entre outras razões não menos nobres, se esse extraordinário homem ficava em Londres para defender a honra da pátria e suas honras pessoais, eles também deviam ficar.
Nessa altura os Ingleses, isolados e sem aliados, depois da queda da Checoslováquia, Polonia, Bélgica e França, estavam na situação mais desesperada de toda a sua milenar História. O exército que tinham estacionado em França (A Força Expedicionária) foi derrotada em Dunquerque, e os sobreviventes fugiram atravessando o canal de Mancha em tal debandada que utilizaram todos o tipo de embarcações, jangadas, botes de recreio, coisas inimagináveis (até em banheiras de casa de banho, segundo os detractores). O “império onde o Sol nunca se põe”, corria o risco de derruir para sempre. Então Churchill percebeu que tinha que fazer um pronunciamento de tal magnitude que galvaniza-se o povo, o erguesse do desânimo e o pusesse de novo em pé. Assim pensou, assim resolveu, assim fez. E o disse mais calmamente que podia, talvez para não parecer pouco sério, dadas as circunstancias; para não parecer apenas um arrebatamento, fruto do desespero. Essas palavras durarão para sempre enquanto Inglaterra existir, com ou sem império:
“ (…) Nós iremos até o fim, nós lutaremos na França, Nós lutaremos nos mares e oceanos, nós lutaremos com crescente confiança e crescente força no ar, nós defenderemos nossa ilha, não importa a que custo, Nós lutaremos nas praias,
Nós lutaremos nas pistas de pouso, Nós lutaremos nos campos e ruas,
Nós lutaremos nas colinas, nós nunca vamos nos render!"

Essas palavras imateriais ajudaram a vencer a Guerra tanto, quanto, os navios, aviões e tanques, feitos de ferro e aço. Cada povo teve as suas palavras de ouro, no momento de maior desespero, no momento em que tudo parecia perdido e a própria nação e o povo corriam o risco de desaparecer. As vezes no momento em que o destino de todo um povo vai ser decidido, como na batalha de Moscovo, ou quando as incertezas são mais do que as certezas, quanto aos destinos da nação, como em Gettysburg, quando Lincoln deu a mais bela definição da democracia que conheço: “Resolvemos solenemente que estes mortos não caíram em vão; que esta nação, com a graça de Deus, terá nova aurora de liberdade; e que o governo do povo para o povo, não desaparecerá da Terra.”

O Brasil, nosso país irmão, teve as suas palavras de libertação que figuram no seu panteão de heroísmo com com o fortíssimo “independência ou morte” de D. Pedro, que motivou os Brasileiros para a luta pela Independência. Mas há um lindo momento da sua História, no episódio de Itororó: durante a Guerra do Paraguai, quando Luís Alves de Lima na hora de maior desespero gritou: “sigam-me os que forem Brasileiros”. Ao som dessas palavras ditas no momento certo, quando já nada havia para recorrer, os soldados transfiguraram-se e venceram o inimigo (perdeu 45 oficiais, ao todo 1864 homens mas venceu a batalha já quase perdida).

Em outro canto da Europa, na Segunda Guerra Mundial, defronte ao implacável inimigo Nazi, foi pronunciado a frase que aos nossos ouvidos soa estranho, mas era um cântico para outros: “Moskva za nami, ni chag nazad” (Moscovo está atrás de nós! Nem um passo atras!). Esta foi uma das frases famosas que fizeram com que milhões de pessoas, resistissem e morressem enfrentando o mais poderoso exército alguma vez lançado num ataque, na história da humanidade. Foi o folego de Deus, que susteve o exército Hitleriano, de milhares de tanques blindados, aviões e soldados imbuídos de uma ideologia dos infernos, jamais pensada pelo homem, nos arredores da grande cidade, quando lhes faltava escassos quilómetros para conquistar o Kremlin. “Moscovo está atrás de nós!” Foi o último grito, decisivo, que mudou a sorte de “um quarto da Humanidade”.
Esse grito veio no momento certo mais do que nunca; Os comunistas, no poder, já estavam desacreditados com todos os massacres cometidos, milhões de mortos nos “Gulags”, terror instituído em regime politico, e poucos estavam dispostos a lutar por esse regime que aprisionava toda uma nação, mas pela Pátria, pela sua Capital eterna, pela cidade com mil anos que os seus antepassados ergueram do nada para lhes legar, sim. Milhões morreram, mas essa certeza, de que “Moscovo está atrás de nós! Nem um passo atras!” e ninguém tem o direito de ficar vivo, sendo ela conquistada. Outros morreram a frente de Napoleão, eles morreriam a frente de Hitler, mas Moscovo, essa, viveria para sempre. A magia dessa frase providencial, saído da imaginação de alguém, mudou o curso da história.

II

FOMOS ESCRAVIZADOS, COLONIZADOS E ULTRAJADOS

Este passeio pela História foi para voltar ao presente com mais argumentos, para “enfrentar” a frase do Presidente Obama, naquele sentido que frisei: mesmo as verdades inegáveis não são indiscutíveis. A frase do Presidente Americano também foi dito no momento certo, no sítio certo e pelo homem certo. As frases emblemáticas, fortes, com magnitude suficiente para mudar a dura e desesperadora realidade, devem reunir estas três condições sine qua non. Basta uma não estar reunida para que o efeito, esperado ou não, não se realize.

Desta frase e suas repercussões possíveis, farei dois tipos de análise (ou uma única, em duas diferentes dimensões), a primeira lerá logo a seguir, e a segunda, no terceiro capítulo destas “Redundâncias”, assim esperando não ser redundante.

E esta frase do Obama, que quero analisar, sem emoção, mas com profundidade suficiente, tem a particularidade (como as outras de outros de que falei atrás) de nos apontar o caminho do heroísmo, do perigo para la chegar, e do dever que temos na sua realização. Além de implicitamente conter a nossa condenação moral se não agirmos em conformidade; mas uma condenação profundamente nossa, íntima, emitida pelo Tribunal da nossa consciência individual. Por isso muitos preferem morrer a vergonha de se olharem ao espelho, sabendo que não foram homens o suficiente, como a moral manda. É daqui que parto para dizer que contem certas noções que importa interpretar e esclarecer, para só depois falar de “realizações” a que nos impele.

No capítulo anterior (Redundâncias I) - dizia que “esta frase tem o seu quê de profundo e necessário (…) no seu sentido filosófico mais profundo” - teci algumas considerações e varias interrogações sobre como preservar a liberdade conquistada, lutar pela democracia e ao mesmo tempo construir instituições fortes em Africa.

A primeira parte da mesma, “A História está do lado dos bravos africanos (que lutam pela democracia), não dos que usam golpes ou mudam constituições para subir ao poder”, é algo de que vai a buscar legitimação para actos actuais na própria “História”; a História surge como alentadora e legitimadora de acções que se crêem necessárias. Diz-se muitas vezes que esta é uma noção marxista que advém da compreensão materialista (marxista) da História. Mas Obama, que nem de longe é Marxista, usa-o, creio, a partir da interpretação de Hegel feita por A. Kojève, como F. Fukuyama, no seu tempo, no seu famosíssimo “Fim da História e o Último Homem”.  

Quando diz, de forma metafórica, que a “História” esta do lado dos que lutam pela democracia, disso depreende-se que a justeza do acto é inatacável, (pois até a “Historia” legitima a democracia, por isso está do lado dos que a realizam. Aliás é uma legitimação dupla: aos Lutadores e ao objecto da sua luta). E a condenação dos outros (dos que a “História” desconsidera), que contrariamente, que em vez de lutarem para serem eleitos democraticamente, usam golpes (baixos?) para chegar ao poder. A condenação é implícita, mas de forma muito explícita. Pois, para quem leu Hegel, Marx, Fukuyama (a partir de Kojève) se a História não está do nosso lado, pressupõem-se que estamos errados a longo prazo, mesmo que momentaneamente estejamos certos.

Mas com a História do nosso lado ou não, é necessário dizer ao mundo (e ao Presidente Obama) que nós, os Africanos, não lutamos pela Democracia. Não lutamos pela democracia simplesmente porque qualquer Luta tem o seu momento histórico, e condições reais para o seu desencadeamento; nunca é antes ou depois, pois estaria condenado ao fracasso; seja a Luta libertação dos povos africanos, seja a Revolução Francesa ou de Outubro, sejam as actuais Revoluções Árabes. Se há algum determinismo na História, a única luta que escapa a ela, é a Luta pela Sobrevivência. É a única luta que não tem momento histórico; é de todos os dias, de toda a hora.

Infelizmente, nós, os Africanos, ainda não chegamos a fase de lutar “por” coisas, mas de lutar “contra” coisas. Contra a ditadura, contra a corrupção, contra as matanças, contra os golpes, contra o analfabetismo, contra o tribalismo, contra tudo que faz a vida do homem ser um inferno neste continente. E se no fim desta luta chegarmos a Democracia seria interessante. Depois de lutarmos “contra”, e vencermos, passaremos a lutar “pela”. Pela democracia, pelo desenvolvimento, hospitais, estradas, emprego, electricidade, saneamento básico… e por ai. Para já, a luta pela sobrevivência, pelo desenvolvimento, construção das nossas nações e futuro melhor para os nossos filhos. Primeiro o “programa mínimo”, depois o “maior”, fazendo analogia a doutrina filosófica do nosso Amílcar Cabral.

Mas se a “democracia” é a única estrada que nos leva para lá, obviamente vamos construi-la, para esse efeito. Mas nunca será uma estrada que percorreremos numa só via, e só depois de terminada. Será construída, ao mesmo tempo que a percorremos, mesmo que os engenheiros da democracia nos digam que tal é impossível. Mas nunca devemos tomar a causa pelo efeito; pois a “democracia” não significa fazer eleições de vez em quando. Estas são um dos pressupostos da outra; eu diria que as eleições são a “prova” de que a democracia existe num país, mas longe de serem a única prova. Mas que ninguém se engane, não são a realização periódica de eleições que fazem um país ser democrático. É o contrário, a democracia é que faz com que se realizem eleições nuns pais. Portanto antes de fazermos eleições, e para os fazermos, primeiro temos que ser democratas. Aquelas são consequências desta e não o contrario. Pois só em Democracias Constitucionais (países democráticas) que existem eleições. Mas não são as eleições que os fazem Democracias Constitucionais.

Infelizmente, a luta maior do Africano, ainda é esta da sobrevivência; que lhe deixa pouco tempo para as outras honrosas lutas. Esperemos que a História nos compreenda e que esteja do nosso lado. Marx (ainda Hegeliano?) já pressentia este momento Africano quando dizia na sua obra conjunta com Engels, a “Sagrada Família” que “ (…) Pela primeira vez erigia-se a história sobre sua verdadeira base; o fato palpável, mas totalmente despercebido até então, de que o homem precisa em primeiro lugar comer, beber, ter um tecto e vestir-se e, portanto, trabalhar antes de poder lutar pelo poder, de fazer política, religião, filosofia, etc.; esse fato palpável passava a ocupar, enfim, o lugar histórico que naturalmente lhe cabia. (…) ” Ele assim, por fim, compreendeu o mundo, do qual, ainda “Jovem Hegeliano de Esquerda”, nos dizia (na sua décima-primeira tese sobre Feuerbach), que “os filósofos limitaram-se até agora a interpretar o mundo de diferentes modos; do que se trata é de o transformar.”

Gosto mais da última frase, pois nos motiva para a luta, mas primeiro devemos compreender o mundo verdadeiramente, como Fukuyama, e não “limitar-se a interpretar o mundo de diferentes modos” como os filósofos nos tempos antes de Marx. Por isso quando o “último homem” de Fukuyama chegar ao fim da História, será da “sua História”; pois nós estamos apenas iniciando a nossa. E contrariamente a Marx, começamos com o seu pensamento adulto, e só depois realizaremos o que na juventude disse. Marx dizia que a dialéctica de Hegel estava “de cabeça para baixo e pés no ar” e ele teve o mérito de o assentar com os pés no chão. Nós achamos que o que ele disse na velhice devia ter dito na juventude, por isso na velhice, era mais jovem do que na juventude. Mas voltando ao Fukuyama, que conhece Marx mais do que eu algum dia conhecerei, o nosso primeiro homem, aquele que realizará a nossa História (não apenas escreve-la), estará nascendo das cinzas daquele último. O último homem de Fukuyama, o real, de carne e osso, fruto do “triunfo definitivo do liberalismo ocidental” em todo o Planeta, é o próprio Barack Hussein Obama II. Não há e não haverá, jamais, alguém que personifica o “último homem” da História de Fukuyama como ele. Mas paradoxalmente, o nosso primeiro homem, que nascerá das usas cinzas, - fruto de todas as nossas inquietações, divagações, guerras e lutas, escravidão e libertação, democracias e ditaduras, de tudo que ainda não somos, mas de que somos promessa - é Barack Hussein Obama II.

É esta a verdadeira quadratura do círculo. Por isso se ainda não lutamos pela democracia, não é porque isso não está na nossa génese, caracter ou formação, pois também amamos a liberdade como todos os outros povos do mundo; até mais, pois quinhentos anos fomos escravos, e só quem conheceu a escravatura pode dar justo valor a liberdade. Conheço a ditadura toda a nossa existência, antes e depois da escravatura; e só quem conhece a ditadura verdadeira pode dar verdadeiro valor a democracia. Depois da escravatura conhecemos o colonialismo, e depois da noite colonial que se estendeu por seculos, conhecemos a ditadura e o ultraje, depois da Independência, que durou meio seculo, e ainda hoje continua em muitos sítios da Africa. Por isso, se há gente, que potencialmente, tem condições anímicas e todas outras, para prezar a liberdade e adorar a democracia somos nós. Por termos razões acrescidas para dar mais valor a liberdade e a democracia, do que todos os bons samaritanos que há dezena de anos, periodicamente, vêm para este nosso Continente nos ensinar a ser democratas e amantes da liberdade. Não sabem o que sofremos e ainda sofremos física e intelectualmente, impotentes, sempre em perigo de morte, sendo governados pelos piores desgraçados que o Céu lembrou de trazer a este planeta.

III

MOHAMED BOUAZIZI

É necessário dizer que eleições livres e justas só podem ter lugar em sociedades democráticas. E estas não se constroem por força daquelas. Só assim não cairemos na contradição do Santo Anselmo de Cantuária, e nunca aceitar que “a essência é algo que precede a existência” ou por outro, como ele, aferir a existência de Deus pelo Seu necessitarismo. Deus é necessário portanto existe. E entender que a democracia é necessária por isso deve existir; mesmo que imperfeita, mesmo tribalizada, brutalizada, fundamentalizada ou mesmo fundamentalista, ou pura e simplesmente roubada. Mesmo sendo a forma perfeita de perpetuar dinossauros no poder, como Robert Mugabe e campainha. Pois todo o ditador que consegue manter o seu povo no obscurantismo, analfabetismo, apartado de toda a civilização e desenvolvimento, de todo o conhecimento científico, pode dormir tranquilo, pois a “democracia” será sempre o melhor instrumento que tem nas suas mãos. Será sempre eleito por esses mesmo brutalizado povo.

Sobre este particular, no caso particular da Guiné, há um teólogo Italiano que me escreveu (na sequência do meu texto “Aos Políticos Guineenses com todo o meu respeito e toda a minha indignação”) a dizer o seguinte: “Caro Fernando, como Guineense você tem direito de protestar, porque a Guiné é acusada de ser um Estado-traficante de drogas, porque os cidadãos não têm nada a ver com isso directamente. Mas, pelo menos indirectamente, eles tem, porque eles escolheram a classe dominante do povo.”

Mas como poderiam ter escolhido melhor? Se lhes mantêm na ignorância há quarenta anos? Que discernimentos poderão ter nas escolhas que fazem? A iniquidade das Governações pós Independências, originou nos nossos países uma espécie de “síndrome de Estocolmo” (aquele que faz a vítima gostar do seu raptor depois de muito tempo a viverem em conjunto) e assim caminhamos nesta nova fase de “democracia”.

Há uns anos atrás, houve um escritor que conseguiu demonstrar, de maneira irrefutável, que todos os países que tinham a palavra “democracia” no nome eram ditaduras; como na altura Republica Democrática do Congo, de São Tomé e Príncipe, de Laos, da Argélia, do Nepal, da Correia, (não havia ainda a República Democrática do Timor Leste ou República Árabe Saaráui Democrática Árabe não era reconhecido pelas N. U.) e outros que aqui não cabem ou que mudaram de denominação. Mas o que fazia os dirigentes desses estados porem a palavra “democracia” no nome desses países? Penso que era a ideia errada de que por ter esse nome transformar-se-iam automaticamente países democráticos; é a mesma preocupação que hoje move os dirigentes de muitos países africanos, que entendem que por realizarem eleições tornam-se por obra e graça de Deus, democráticos, de um dia para o outro.

Mas o mais caricato é que muitos países ocidentais (analistas e políticos) parecem acreditar nesse milagre também. E por força de seu acreditar, estes que faziam eleições apenas para cumprir uma “das modas actuais” (como um politico Africano disse) para se conseguir ajudas externas, acabam acreditando também que agora (depois do acto eleitoral) passaram a ser países democráticos.

Mas quando a realidade vem ao de cimo - como nos últimos tempos nos países árabes -, percebe-se que nunca houve democracias nesses países. Apenas “demonstrações” formais de democracia que eram elogiados pelo Ocidente nos seus relatórios que invariavelmente consideram as eleições “livres e justas”.
Estavam invariavelmente erradas, pois observavam e analisavam o fenómeno e não a essência das coisas; tomavam a forma pelo conteúdo, a causa pelo efeito, Por isso a explosão popular foi tão violenta que surpreendeu tudo e todos.

 Os dirigentes nacionais desses países, os Governos ocidentais, as elites corruptas penduradas num poder que julgavam eternos, e o próprio povo, votante imperturbável, durante anos, de democracia “faz de conta”. Digo que o próprio povo ficou surpreendido, porque ele não planeou nenhuma revolução e nem tinha um “Partido revolucionário” de massas a coordena-lo; o que aconteceu foi, em cada um desses países diferentemente, uma catarse colectiva em que o povo sofredor em revolta cega, sem método, direcção ou uma ideologia clara que sustasse o descontrolo, de modo a não prejudicar-se a si próprio enquanto povo e herdeiro da sua revolução e pátria, destruiu tudo. As instituições, os partidos, os governos, as montras, os carros (nas revoluções o difícil é salvar a porcelana, não é Georges Clemenceau?). No fim foi o povo, em cada um desses países, lutando por si finalmente, quem mais prejudicou a si próprio, e mais perdeu com a sua revolução.

Pergunto a Clemenceau porque assim também foi o Maio de 1968 em França; até porque muitos desses países árabes em revolta falavam francês. E não raro, quando os manifestantes eram entrevistados por mídias ocidentais, falavam em francês para explicar o inexplicável. O único que nunca falou foi aquele jovem Tunisino que despoletou tudo, ao morrer imolando-se pelo fogo, quando percebeu que não tinha o direito nem de ganhar a vida trabalhando honestamente na sua pátria. Escrevi algures, sobre ele o seguinte: As revoluções (e revoltas) que estamos a assistir um pouco por todo o lado, com maior incidência no mundo árabe (por agora), começaram quando um simples cidadão tunisino, vendedor ambulante, resolveu imolar-se pelo fogo, a 17 de Dezembro último. Este acto foi um desesperado protesto isolado, a catar-se, de um homem digno e corajoso, que ao perceber que o seu governo lhe negava o elementar direito a subsistência, que resolveu perpetrar. Morreu, infelizmente, sem assistir a queda desse governo (uma coisa excluía a outra - são assim as revoluções -, tinha que morrer para mudar o seu país. mas não a melhor morte que esta: morrer para o bem do povo), mas pode-se dizer com justiça, que este corajoso Mohamed Bouazizi, de apenas 26 anos, simples cidadão, um “Zé-ninguém” (…) , quase mudou o mundo sozinho. Pois a sua decisão foi tão forte que fez (o presidente fugir do país) despoletar a revolução Tunisina que por sua vez contagiou o Egipto.

Portanto a culpa não é só dos dirigentes corruptos desses países, como as médias internacionais nos dizem. O Ocidente, ao se embalar no canto de sereia, de actos eleitorais fictícios quase, ao sancionar, credibilizar e homologar essas eleições com todos os observadores da OCDC, União Europeia, e todas as ONGs internacionais que “observam” (as vezes fiscalizam) as eleições, acabam sendo também, de uma maneira ou de outra, causadores de problemas que acabam destruindo a vida de milhões de inocentes seres humanos inocentes, nesse gigantesco faz de conta mundial.

Quanto ao “canto de sereia” que permitiu este logro planetário, não sei bem quem é o flautista e quem é encantado. Se o Ocidente ou os N.P.D. (Novos Países Democráticos) como lhes chamo. Pois numa interacção de causa e efeito, tomando um pelo outro, creio que a flauta de Hamelin trocou de mãos várias vezes.

Já escrevi sobre os riscos enormes que pesam sobre as democracias africanas (vide o texto “Miseráveis mas Democratas”) e não quero repeti-las aqui. Mas o que faz Obama dizer que “A história está do lado dos bravos africanos - que lutam pela democracia (…) ” é uma certa compreensão anglo-saxónica da democracia. Quase platónica do mesmo, alicerçados em máximas e frases que vêm dos Gregos. Uma das mais badaladas é a famosa frase do incomparável Winston Churchill “:"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à excepção de todas as outras que foram experimentadas."

Termino aqui estas segundas “Redundâncias” dizendo que há ainda um ponto interessante na frase do presidente Obama que trataremos no nosso terceiro texto. Pois se atentarem na parte final da frase verão a questão constitucional, ou a questão da “mudança de constituições” para acesso ao poder: “A história está do lado dos bravos africanos - que lutam pela democracia - não dos que usam golpes ou mudam constituições para subir ao poder.

Aqui era necessário saber em que caso isso é condenável. Ou por outro, que tipo de Constituição que não deve ser mudado. Por exemplo, numa determinada altura, a constituição Guineense, feita ou aprovada por indivíduos, imbuídos de certos complexos, proibiam certos cidadãos de participarem na vida política do país. De serem elegíveis para certos cargos. Essa constituição proibia inclusive, se fosse vivo, a Amílcar Cabral, pai da nacionalidade, de ser Presidente da República por não ser “puro-sangue” (como certos cavalos). Mas não creio que constituições deste tipo que o Presidente Obama referia. Entendo que se a Americana permite uma pessoa, como ele, ser Presidente, todas as outras deveriam permitir o mesmo. Mas continuaremos para semana, esperando que a História esteja do nosso lado.

Fernando Teixeira


Bissau, 15 de Setembro de 2013

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