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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

‘A concepção e organização do futebol de Angola está mal’.

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Como encarou a participação da selecção de Angola no CAN 2013, que ainda decorre na África do Sul?
Obrigado pela oportunidade. Eu tenho fugido nos últimos tempos a determinados tipo de entrevistas, principalmente aquelas que falam de futebol e quando nós sabemos que não fomos felizes, mais uma vez, numa competição a nível de África, como é a realização de um CAN. Mas, enfim, acho que chegou a hora de dizer alguma coisa e tanto quanto possível dar o meu contributo para que efectivamente as coisas possam vir a correr melhor, de acordo com a minha linha de pensamento. Porque Angola pela primeira vez, antes de uma competição deste tipo, teve uma preparação como nunca tinha tido, fez sete ou oito jogos, seis dos quais com selecções africanas. Por conseguinte, a preparação foi interessante e tudo fazia crer que iríamos para aquela competição em busca de resultados melhores ou que, pelo menos, passaríamos para a fase seguinte. Esse era o objectivo de todos e penso que foi também o da Federação Angolana de Futebol, dos técnicos, seus jogadores e vocês comunicação social, levados por tudo isso, fizeram uma cobertura sobre este CAN que também considero inigualável. Não me recordo tão cedo de ter visto e assistido a uma mobilização tão grande como foi a deste CAN.

Com tudo isso que menciona, o que terá faltado para que Angola conseguisse melhores resultados?
Faltou um bocado de sorte. Em primeiro lugar temos de respeitar em absoluto toda aquela gente que se deslocou oficialmente para a África do Sul, uns vestiram a camisola, outros deram o seu contributo como homens colaborantes com a equipa técnica e outros ainda foram acompanhá-la como responsáveis da mesma. Portanto, isso merece o nosso respeito e que a gente renda um tributo porque nenhum angolano daquela selecção queria perder da forma como perdeu. Mas o futebol é assim, é impensável que uma África do Sul, quando faltam 10 minutos para acabar e que está na contingência de não passar à fase seguinte, faça um volte-face de resultados perante um Marrocos. Marrocos fica pelo caminho e que, no jogo de Angola, quando tudo faz crer que ganha por um zero e até pode passar pela fase seguinte, acaba também por não passar. E vai Cabo-Verde com o seu mérito e a África do Sul, porque sem mérito não se vai lá, assim como também o factor sorte. Isto de futebol há coisas que são madrastas, tremendas. Ninguém gosta de perder. Tenho a impressão que a África do Sul, Marrocos e Cabo-Verde não fizeram uma preparação tão intensa e cuidadosa como fez Angola mas, no entanto, Angola ficou pelo caminho. Toda a gente fica revoltada, pensa mil e uma coisas, põe defeito no treinador e nas suas substituições, na direcção da federação, nos jogadores porque não rematam e não marcam golos, mas o grande defeito que Angola tem é que na sua conjectura de organização do futebol está mal. Angola não trabalha a juventude deste país, não tem uma metodologia única para todos os clubes, associações ou todas as federações.

Ontem o vice-ministro dos Despertos, Albino da Conceição, afirmou no Lubango que o desporto no país não tem um norte. O senhor também acredita que estamos desnorteados?
Risos. Eu não ouvi.

Disse que no sul não havia um norte. Em Cabinda também não há norte e que na Huíla muito menos. Em suma, estamos todos desnorteados. Qual é a sua opinião?
Eu acabei agora mesmo de dar a minha opinião e não ouvi o senhor Albino da Conceição, mas esta é a minha forma de estar. Cito-lhe um grande exemplo: quando fui o presidente da Federação Angolana de Futebol (FAF) nós ganhámos um campeonato de sub-20. Trabalhei numa equipa durante cinco, seis ou sete anos e que depois de eu sair da FAF, passados cinco meses foi campeã de África. Começou a disputar a competição ainda no meu mandato. Nunca mais se fez alguma coisa do género. Nós começámos a trabalhar garotos com 15 anos e aos 20, 21 foram campeões de África. Não se faz nada neste país com este tipo de objectivo. Antigamente, quando eu andava na escola, os meus professores diziam que se não tirasse positiva a português e matemática não passas de ano. Não sei se agora é a mesma coisa. Acho que também deve haver disciplinas prioritárias para que a pessoa tenha um bom resultado para poder vencer um ano lectivo. Porque não considerar o desporto também disciplina obrigatória? Começar pelas escolas. Quem não souber correr salta, quem não souber saltar joga com as mãos, quem não sabe com as mãos fá-lo com uma raquete, quem não sabe senta-se numa mesa e tem tabuleiros para saber dama, isto e aquilo. Considerar o desporto disciplina obrigatória, em todas as escolas obrigar as crianças a fazer desporto. E aí teremos depois de criar os institutos para fazer formação dessa juventude que a gente vai aproveitando, vai vendo e que se vai revelando como desportista de facto. Outros vão para o futebol, uns para o atletismo e à medida que vão revelando a pesquisa de valor é feita e são encaminhados para os institutos, onde podem fazer absolutamente tudo. Nós não temos nada disso, tínhamos um Instituto de Educação Física, mas até isso acabou. Penso que essa poderá ser uma forma para se dar o pontapé de saída. Penso que criar na criança deste país uma obrigação de estudo do desporto, ele é que escolhe a modalidade, pode ser o berlinde, matraquilhos, mas toda a gente acaba por praticar desporto. Não é só chegar lá e dizer abram os braços, um, dois, não sei quê, três quatro e cinco. Isso já não se usa, já acabou. Temos é que começar a tratar o desporto com D grande como ele merece, porque senão nunca mais vamos a lado nenhum.

O senhor disse em tempos que se levasse a selecção para um Campeonato Africano com 20 milhões de dólares cantava melhor que o Pavarotti. Com os nove milhões de dólares entregues ao actual elenco da FAF, encabeçado pelo general Pedro Neto, o que era possível fazer?
Não era possível fazer muito mais do que aquilo que eles fizeram, porque a própria federação é deficitária. A FAF há pouco tempo devia para cima de sete ou oito milhões de dólares norte-americanos. Quando tomou posse era uma devedora de primeira ordem e não nos podemos esquecer que o actual vice-presidente da República, senhor engenheiro Manuel Vicente, ainda andou a pagar algumas contas do elenco cessante.

Pagou dívidas do elenco do engenheiro Justino Fernandes?
Sim, sim, sim. Mas ainda ficou. Fizeram crer que só se devia aquilo, mas ainda se devia muito mais. Não fiquemos a pensar que os nove milhões de dólares davam para passar aos quarto-de final e ganhar. Quando referi que se me dessem 20 milhões de dólares cantava melhor que o Pavarotti ...eu sou muito prático nestas coisas. Na Federação Angolana de Futebol contei com dois grandes amigos – estou a falar do meu tempo -, um que já morreu e o outro que ainda é vivo, um que é o actual ministro dos Transportes, Augusto Tomás, e o outro, o senhor Alcântara Monteiro. Foram as pessoas que me ajudaram em tudo quanto fiz nos nove anos que estive na federação. Mas dinheiro assim nunca recebi, nunca tive. Quero dizer-lhe que quando me candidatei à Confederação Africana de Futebol, só perdi as eleições porque não havia dinheiro para pagarmos. Vamos ficar por aqui porque sabe que qualquer candidatura, quanto mais melindrosa, envolve efectivamente outros conteúdos.

Angola teve nove milhões e não conseguiu fazer absolutamente nada…
Não, não. Tinha a obrigação de pagar as contas porque envolvia muito dinheiro. Não pediram só este dinheiro para ir ao CAN e pagar as selecções que jogaram contra Angola e as suas deslocações ou ajudas de custo aos jogadores. Também vai ficar com saúde financeira, aquilo que ainda devia do anterior mandato.

Mas Cabo Verde é uma estreante selecção que teve um orçamento que podemos considerar exíguo em relação ao nosso, mas na verdade apresentou um futebol melhor que o praticado pela selecção de Angola, a quem venceu por duas bolas a uma. Trata-se apenas de uma questão de falta de sorte como frisou inicialmente nesta entrevista?
É uma questão de sorte, mas também não é só uma questão de sorte. É uma questão que acontece como aconteceu à Zâmbia quando foi campeã. A gente sabe perfeitamente que Cabo-Verde não tem as potencialidades que tem Angola, não entrega ao desenvolvimento do seu fiutebol aquilo que Angola recebe e todos nós temos consciência. Mas a maioria daqueles jogadores cabo-verdianos estão todos a jogar no exterior, criaram um espírito de equipa, uma coesão muito grande, com uma humildade e um trabalho tremendamente eficaz. E passaram aos quartos-de-final. E pode ir ainda muito mais longe e não nos admiremos. A Zâmbia começou da mesma forma no último campeonato e foi campeã. Portanto, o aspecto de estar e a forma de estar em campo de uma África do Sul é totalmente diferente da selecção de Angola, também acaba por ter sorte, mas ela acompanha as pessoas que arriscam.

Angola não arrisca?
Angola não arrisca. Os únicos dois pontapés que se fizeram para golo foram feitos pelo Yano quando entrou.        

O que pensa do técnico Gustavo Férrin?
Não posso falar sobre ele. Nunca falei com ele e não o conheço. O que sei é por outros membros da FAF que falam com ele, mas, portanto, não posso emitir uma opinião a respeito do Férrin. Estou plenamente convencido que ele é um bom técnico, mas não sei se conhece perfeitamente o nosso futebol como me parece conhecer. Há coisas sobre as quais não concordo. Ele dispensou o Mabiná e não concordo, mas ele levou outros para fazer aquilo que o Mabiná poderia ter feito.

Acha que levou os melhores jogadores para o CAN?
São as opções dele.

Um homem do futebol como Armando Machado considera como sendo as melhores opções para a nossa selecção?
Nenhum dirigente desportivo deve imiscuir-se no trabalho do treinador. Pelo contrário, deve respeitar. Se alguma coisa não concordar, a parte faz sentir ao treinador se existe esse grau de confiança, as suas linhas de pensamento. Não posso dizer que o técnico é o responsável de tudo. Eu vi inclusivamente os jogadores terem erros incríveis que não são normais nas suas formas de estar, como jogadores das equipas onde actuam. Pareciam que estavam todos nervosos.

Pode citar alguns nomes?
Não quero citar nomes, porque não quero efectivamente entrar nesta linha de pensamento. Penso efectivamente que nós temos que construir, edificar, criar formas e alargá-las o mais possível a todo o país. E isto não temos, não desenvolvemos o futebol jovem. É caricato o que aconteceu com o jogador que veio do Brasil.
Refere-se ao Geraldo?
E depois foi titular. Não há dúvidas que deu o litro, como se costuma dizer. Mas também não há dúvidas nenhumas que demonstrou muitas debilidades físicas. A gente começa a ver, faz um filme de tudo isso e pergunta-se: como é que é isso? Mas nós acompanhamos e vocês da comunicação social viram perfeitamente que houve muita discussão sobre este jogador, depois aparece como titular, homem do jogo, logo a seguir saiu do jogo e depois entrou e nem sequer se ouviu falar dele no último jogo.
Isto é tudo muito complexo, acho que temos de tratar do futebol deste país de uma forma mais respeitosa, mas condigna, para maior orientação e para isso é que temos o Ministério da Juventude e Desportos. O que é que fazem? Onde estão? Não é só acompanhar a aqui, ir lá e viva, não. É delinear internamente formas perfeitamente correctas para que o nosso futebol comece a trilhar caminhos novos, formas de estar novas, para que a gente consiga pesquisar e ver o desenvolvimento do atleta.

Pode-se falar na existência de uma equipa base angolana quando observamos que apenas quatro ou cinco jogadores apareceram como titulares e os restantes foram alternando num leque de 18 jogadores?
Claro que essa foi a opção do técnico. Que renovação é que se fez na selecção? Nem quero entrar por aí. Falou-se muito na renovação. Nos últimos 10 anos Angola teve seis técnicos, não é possível. Há que delinear, temos que desenvolver o futebol jovem, olhar para ele de mmodo diferente, com organização e uma definição daquilo que pretendemos colher concretamente. Enquanto não fizermos isso, o nosso futebol é sem rei nem roque. Não tenhamos dúvidas.
Acha que os problemas do nosso futebol estão plenamente identificados?
Sim, sim, sim. Perfeitamente identificados, mas não é só o futebol. Acaba por ser o futebol, basquetebol e tudo. O basquetebol não está a atravessar uma boa onda. Ou está? Atingiu, andou, andou, andou e depois caiu. Até as eleições na federação foram contestadas. Não pode acontecer isso no nosso país.

Se os problemas estão identificados, porque é que não são discutidos e resolvidos quando há sempre pessoas de vários sectores interessados em dirigir a Federação Angolana de Futebol? Porque é que não temos craques como anteriormente?          
O que é nós fazemos para a nossa juventude a nível do futebol consiga efectivamente começar com cabeça, tronco e membro? Nós temos a escola que está em Viana, os Flaminguinhos? Se quer uma equipa júnior boa de futebol está aí a do Petro de Luanda. Já a viu a jogar? Acompanhou o campeonato de Benguela? Ninguém fala dela, mas é uma boa equipa. Tenho impressão que o próprio Petro de Luanda não consegue aproveitar aqueles jovens e dar-lhes a condição que necessitam para virem a ser bons craques. É tudo uma questão de conjectura, formação, concepção e ordem no desporto no nosso país, senão não vamos a lado nenhum. Todos nós gostamos de ganhar, de ver a nossa selecção lá em cima. Fizemos o nosso primeiro jogo com o Marrocos, que até merecíamos ter ganho com um bocadinho de sorte, mas ela só vem se fazermos alguma coisa para que ela venha. Tenho impressão de que se a gente tem tentado ganhar rematando de toda forma possível, que é isso que não se vê na nossa selecção, teria melhor sorte e volto a repetir que o Yano quando entrou fez dois pontapés que ninguém tinha feito até aí. Pergunto: o Gilberto e o Djalma joga ou não na Turquia? Porque não jogou aqui? O que é que se passa? Qual é o tipo de lesão que tem que está sempre lesionado quando vem para a selecção? Desculpe falar assim com esta abertura, mas lá fora ele joga. O próprio Manucho tem sempre lesões. Não pode. O jogador que vem para a nossa selecção tem de estar sempre em condições, se não está não vem. Há outros que são sacrificados. Um deles e quando a mim enquanto jogou foi o Gilberto. Nós aos 40 minutos começamos a defender cedo o resultado de um zero e depois fizemos uma substituição em que não fomos felizes, tirando o Yano. o Geraldo quanto a mim nem sequer devia ter entrado. Eu não tirava o Mateus… Não queria ir aí, mas está é já uma apreciação directa do jogo em que não devíamos ter perdido e perdemos nos últimos minutos o que daria com certeza uma passagem à fase seguinte. E hoje não estaríamos aqui com esta entrevista. Estávamos a dar cobertura do jogo que devíamos ter. Pior a gente já aceitava de outra forma que iríamos passar de fase, só não aceitamos porque não passamos. Essa é a grande dor e estivemos tão próxima dela, a oito minutos dela. Todo o mundo previa que Angola até podia lá ir ou fica em pé de igualdade para o goal-average. Mas ninguém previa que Cabo-Verde passasse. Ninguém previa que a África do Sul passasse e é o país organizador. Durante todo jogo vimos que o Marrocos esteve pobre e ficou pelo caminho. Marrocos é uma selecção que nos merece todo o respeito, que atira homens e homens para o futebol mundial.

Hoje algumas pessoas já questionam a continuidade de Gustavo Férrin e outros até a do próprio presidente da FAF, Pedro Neto. Muitos pensam nisso por causa das condições que terão sido colocadas à disposição da selecção. Há algum exagero nisso?
Quando fui ao primeiro CAN tinha, sem dúvida nenhuma, a melhor solução de todos os tempos deste país. E sabe que não fomos mais longe porque desde os dirigentes, jogadores, não tínhamos vivência desportiva. Hoje, com os conhecimentos que temos, teríamos ido muito mais longe com aquela selecção. Nunca toda gente ficou maluca, como era a primeira vez que a gente lá ia e os resultados mostraram tudo isso. Naquela fase em que os Camarões eram os senhores absolutos estamos a ganhar por 3-0 e vieram depois a empatar. Depois no Burkina-Faso só não me cortaram a cabeça porque não calhou, até ouvi elementos da comunicação social que, nunca conferência de imprensa, quando chegámos à sede da FAF, tentaram intervir a partir do Burkina-Faso. Nunca vi isso. Se é uma conferência de imprensa é para os que estão presentes, não intervir a partir do Burkina-Faso. Tínhamos uma equipa, não fomos felizes e está minha pelo menos marcou golos, mas não há dúvidas nenhumas de que fomos altamente castigados. Não só pela comunicação social, como também a população que foi levada pela própria comunicação social que a arrastou. E eu perguntava a mim próprio se éramos merecedores daquilo, se não estávamos aí a representar o país com garra e luta. Não estou a ver porque é que um Pedro Neto deve pôr um lugar à disposição ou um outro elemento da federação. Quando eles foram eleitos agora há um mês e apenas trabalharam um ano. Mostraram alguma coisa, tiveram num CHAN e agora pronto. Também foram infelizes, não tiveram sorte do lado deles. Vamos é forçá-los para que eles juntos dos órgãos do país, que regem o desporto, definam de uma vez por todas como deve ser tratado o desporto no nosso país. Não é só o futebol, mas é tudo. Agora que o desporto briga com toda gente, sim briga. Toda a gente grita pelo país como nunca vi gritar e agora toda a gente diz mal do futebol, dos jogadores, treinadores e da FAF. Não pode ser assim. Vamos de uma vez por todas, uma vez que o elenco é novo, fresco e tem um mandato de quatro anos para cumprir, pedir a definição do futebol. Essa definição passa pelo Governo, na pessoa de sua excelência ministro da Juventude e Desportos. Não brinquemos mais com o futebol. Como atrás disse que vamos constituir isso disciplina obrigatória, talvez seja essa a forma de começarmos a ver quem é quem no desporto no nosso país.

Quanto ao técnico. Qual pensa que deve ser o seu futuro?
Do técnico a gente não pode dizer nada porque é prematuro julgá-lo como foi feito ao professor Necas. Temos que dar mais uma oportunidade, temos uma eliminatória para o Campeonato do Mundo agora.

Acredita que Angola se vá qualificar para o mundial, uma vez que vamos começar a defrontar uma selecção mais forte que as que tivemos no CAN?
Tudo é possível. A gente está a assistir esses jogos e a Nigéria ainda ontem foi uma miséria ao pé da Etiópia. Tudo bem que venceu o jogo, mas a Etiópia dominou. E quem é a Etiópia no contexto do futebol? A Nigéria tem um nome, um estatuto, tem jogadores lá fora nos mais diferentes países. Onde é que ficou o Congo? Alguém duvida que este Congo Democrático não tenha sido uma óptima equipa, que lá o TP Mazembe tem. E Angola, como é? O que fazer? Chegamos sempre ao mesmo, o desenvolvimento com conta, peso e medida do desporto no nosso país, não é só o futebol.
Sempre defendeu a criação de um centro de treinamento e estágio para a selecção nacional, à semelhança do que acontece noutros países, entre os quais o Brasil. Os seus sucessores nunca tentaram implementar este projecto?
A minha forma de ver o futebol era diferente. Quando cheguei à federação nem sequer uma sede tinha. Havia uma lá ao lado da escola de música que tinha ratos que, quando arrancavam, um gajo até levantava as pernas para não ser comido por eles. Enquanto não foi construída a sede da federação não descansava. Tinha montes de despesas cada vez que uma das equipas tinha de se alimentar ou hospedar, enquanto não construi o hotel não descansei. O centro de treinamento que tinha na minha visão, para o qual o senhor Dr. João Havelange, da FIFA dispensou-me um milhão de dólares que deixei na conta da Federação Angolana de Futebol, era precisamente para arrancar com a construção do centro de treinamento. Quero lhe dizer aqui que este centro de treinamento não ia só ter duas quadras de futebol, ia também ter uma pista de atletismo, duas quadras para andebol e duas para basquetebol. O hotel tinha um centro de recuperação física. Era isto que eu queria fazer, mas não pude fazê-lo porque não me recandidatei à federação por motivos que só a mim dizem respeito. Porque foi comigo que tudo isso foi tratado, foi comigo que vieram…enfim.

Está a dizer que foi obrigado a não se recandidatar?
Não fui obrigado. Resolvi não me candidatar em função das forças. E isso é que devia ser feito, porque íamos poupar dinheiro do Estado que sai para todo o lado, a nível das equipas, selecção para prepará-las porque haveria aí um centro de alto rendimento para tudo isso. Isso é o consenso que a gente tem. A malta foi buscar o professor Vesko, doutorado em futebol, já tinha dado provas aqui no ASA e junto de Oliveira Gonçalves que vinha da Paviterra, assim como o Kilamba que tinha acabado de se formar. E dissemos: vocês vêm trabalhar os miúdos. Como é? Não tinha nada a ver com o futebol de alta competição que era o Necas. Eles fizeram os sub-17 e com os sub-20 ganharam.

Porque é que desde o campeonato de sub-20 realizado em 2001, ganho por Angola, só conseguimos atingir uma fase final no Burkina-Faso ao longo destes 12 anos?
Estou absolutamente esperançado que este novo elenco vai também criar formas de desenvolvimento do trabalho jovem. Eu próprio apresentei à Federação uma proposta da vinda de um técnico superiormente capaz para começar a dirigir estes aspectos. Está entregue à federação, agora não sei vão ou não  ver. Mas é isto que tem de ser feito, muito embora a federação não seja um órgão para formar jogadores. É um órgão para orientar o futebol a nível do país de competição e mais nada. A federação não é criar jogadores, isto e aquilo, mas como ninguém cria nós na federação podemos fazer a tal pesquisa de valores e criar uma selecção jovem. Se toda a gente tivesse feito isso não teríamos perdido uma selecção jovem com tanta qualidade. Perdeu-se desde aquela primeira que foi campeã. Depois desfez-se, uns foram parar aí e outros acolá.

Acredita que hoje não se nota qualquer tipo de acção a nível das selecções de sub-17 e sub-20, com excepção dos jogos oficiais?
Absolutamente.

Já não se fala sequer na participação da nossa selecção de sub-20 nos torneios de Toulon, em França. Tem alguma informação?
Outro erro. Repare numa coisa: ainda há bocadinho lhe falei de equipa de júnior boa de encher os olhos a qualquer pessoa. Se for Catetão ter com o Queirós, ele vai-lhe mostrar aquela equipa, uma maravilha. Naquelas equipas todas que se deslocaram à província de Benguela a gente não consegue fazer uma captação de valores e juntar uns 30 ou 40 miúdos? Não é verdadeiramente o trabalho da federação, mas pode fazê-lo. Porque é que criei o hotel Palanca? Foi para lhes garantir o almoço, mas eles tinham de vir duas ou três vezes treinar aí. Na verdade foram os treinadores que escolheram, mas este ou aquele e conseguiram formar uma selecção de sub-20. Portanto, foi uma estrutura que oleei por minha conta e risco que surtiu os seus efeitos, toda a gente bateu palma e gostou porque Angola foi campeã de África. Só que agora não há nada neste sentido, fala-se aqui, fala-se acolá, mas não se vê nada. É dinheiro para isso, para aquilo, para não sei mais quanto, isto está tudo inflacionado, subvertido e há que dar um novo rumo, nova orientação, o que pode ser feito a nível das escolas.

Sabe as razões que levaram Angola a deixar de participar no torneio de Toulon?
Aquilo também foi iniciativa do professor Carlos Alhinho que já lá está… Ele que vinha de um outra competição chegou cá, olhou e fez uma proposta. Eu lhe disse vamos embora, nós apoiamos. A ideia que ele trouxe foi apoiada a nível da federação e a gente começou a ir lá fora competir. E os valores começar a surgir, a aparecer, mas é tudo uma questão de trabalho e de orientação. Só que neste país o clima é muito quente e trabalhar é difícil.

Comenta-se à boca pequena que a selecção de jovens de Angola tinha sempre muitos jogadores com idades superiores, como aconteceu recentemente no Brasil?
Repare que as pessoas podem dizer assim. Mas qual é a selecção que não tinha jogadores com idades superiores? Desde os Camarões a Nigéria todos fizeram isso, mas não concordo que se faça e admito que no nosso tempo também se tivesse feito. Mas na altura havia uma razão porque as pessoas queriam fugir da vida militar e adulteravam as idades. Esse era o principal motivo que depois subvertia para o futebol ou outras modalidades. Lembra-se que quando se tivesse idade para ir para a tropa, ia-se mesmo e ninguém queria ir.  Essa adulteração de idades efectivamente existiu e não foram só angolanos, mas em todos os países de África. Por isso agora é feito a todo elemento um exame que fica muito caro à federação e tinha-se de pensar em fazer isto de uma forma diferente a nível do Centro de Medicina Desportiva, em que o atleta chega aí e dão-lhe a idade certa com base nos ossos, crescimento, desenvolvimento e não há adulteramos possíveis.

Aconteceu algo semelhante no Brasil no ano passado e a selecção de Angola de sub-17 perdeu mais de metade da equipa. O que pensa?
Sim, aqui perdeu-se também quase uma selecção nos exames que foram feitos, porque eles são obrigatórios.
Po: Dani Cost
Fonte: OPAÌS.NET

Crianças-soldado, uma realidade em África ainda em 2013.

NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!...

No Chade, ex-crianças-soldado passam por reabilitação da ONG Care, com apoio da UNICEF


O Red Hand Day ou Dia da Mão Vermelha (12 de fevereiro) foi criado para alertar contra o recrutamento de crianças-soldado. Em África, muitos menores são vítimas desta violência. ONGs lutam pelo futuro dos afectados.
Sudão, Sudão do Sul, Somália, Chade - estes são alguns dos países em que, nos últimos anos, crianças tiveram de pegar em armas e combater em guerras civis. A actual guerra no Mali preocupa agora os activistas dos direitos humanos em particular.
A organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) acredita que grupos fundamentalistas islâmicos tenham até agora obrigado centenas de crianças a trabalhar e lutar nas suas fileiras. Corinne Dufka chefia o departamento para a África Ocidental da Human Rights Watch.
especialista conversou com habitantes do norte do Mali para ter uma ideia do que se passa no terreno e revela ter apurado que "muitas crianças foram aparentemente entregues a grupos islâmicos por membros mais velhos da família em troca de dinheiro".
Segundo Dufka, os islamistas parecem concentrar o recrutamento em determinadas aldeias "onde prevalece uma prática muçulmana mais conservadora".
Em alguns casos, os islamistas teriam levado as crianças de propósito para a linha de tiro, diz Corinne Dufka.
Testemunhas teriam visto crianças perto de campos das milícias na cidade de Gao, no nordeste do país– pouco antes das tropas francesas lançarem uma ofensiva aérea contra os campos.
De acordo com a especialista, até hoje, não se sabe o que aconteceu com elas.
Um soldado de 10 anos de idade, da milícia armada União dos Patriotas Congoleses, em treinamento no ano de 2003, nas proximidades de Bunia no CongoUm soldado de 10 anos de idade, da milícia armada União dos Patriotas Congoleses, em treinamento no ano de 2003, nas proximidades de Bunia no Congo
Trauma para toda a vida
Mesmo que as crianças-soldado tenham conseguido escapar da guerra, aquilo que viveram irá certamente afectá-las para o resto da vidaÉ, pelo menos, o que mostram conflitos anteriores, em que crianças foram recrutadas para combater.
Antigas crianças-soldado não são só afectadas a nível psicológico. Frequentemente, perdem também vários anos fora da escola.
Eric Mongo Malolo, da organização não-governamental Afya, acompanha crianças que participaram em confrontos. Constatou, com ospróprios olhos, os desenvolvimentos na República Democrática do Congo. Há uma década, a província de Ituri, no nordeste do país, foi palco de uma guerra civil sangrenta. O trabalho da organização vai além da ajuda directa às antigas crianças-soldado.
"A sociedade aqui olhava para nós como se estivéssemos a premiar os agressores. Ou seja, tivemos também de trabalhar com a sociedade para que as pessoas aceitassem as crianças e as ajudassem a integrar-se", sublinha o congolês.
Fundo do Tribunal Penal Internacional (TPI), disponibiliza 1,2 milhões de euros para compensar vítimas dos crimes de guerraFundo do Tribunal Penal Internacional (TPI), disponibiliza 1,2 milhões de euros para compensar vítimas dos crimes de guerra
Indemnizações com apoio do TPI
Até agora, a organização de Malolo já conseguiu acompanhar 520 crianças de forma intensiva, desde o início do projecto há três anos.
A organização pertence à rede "Justiça e Paz" (Haki na Amani) e é apoiada por um fundo do Tribunal Penal Internacional (TPI), dotado actualmente com 1,2 milhões de euros, para compensar as vítimas dos crimes de guerra. O fundo é distribuído por diferentes projectos em diferentes regiões.
Em Agosto do ano passado, o Tribunal Penal Internacional ordenou, pela primeira vez, o pagamento de indemnizações oficiais. A decisão estabelece que o fundo, chamado Fundo Mútuo para as Vítimas (Trust Fundo for Victims), ajude financeiramente as vítimas do ex-chefe da milícia congolesa Thomas Lubanga.
Entre elas, muitas crianças da província de Ituri, que lutaram na organização rebelde de Lubanga.Activistas dos direitos humanos aplaudem a decisão.
Também Eric Mongo Malolo, da ONG Afya, está satisfeito. Provavelmente, a sua organização vai receber pagamentos adicionais. Mas Malolo teme que a decisão possa gerar discórdia na região.
"Aqui, todos foram afectados, todos são vítimas de alguma forma", revela. "Quando se fala em indemnizações, as perguntas que se colocam so: quem recebe o dinheiro e quem fica de fora? E quemdecidirá quem são os destinatários do dinheiro?", interroga o ativista.
Autor: Philipp Sandner/Guilherme Correia da Silva
Edição: Cristiane Vieira Teixeira/António Rocha
fonte: DW

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