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NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!...
O presidente Macky Sall reagiu após um comunicado de imprensa da Associação de Estudantes Senegaleses na China, relata Igfm. Segundo o Chefe de Estado, o repatriamento de nossos compatriotas na China desde o aparecimento do Coronavírus não é para amanhã.
Segundo ele, o repatriamento de senegaleses da China exige muitas condições e logística completamente fora do alcance do Senegal.
"Estamos trabalhando com as autoridades chinesas para ver qualquer possibilidade de segui-las de maneira adequada. Por enquanto estamos lá. Até os grandes países que fizeram repatriações o fizeram com grande dificuldade. Isso requer logística totalmente fora do alcance do Senegal. Existem muitas condições ”, afirmou o Presidente da República.
No entanto, o chefe de Estado estava muito atento ao que está acontecendo na China e disse: "Conseguimos enviar apoio aos senegaleses", acrescentou o presidente.
Para a AESC, a única solução continua sendo o repatriamento dos senegaleses que vivem nesta região da China, porque a situação, como se apresenta em Wuhan, epicentro do Coronavírus, está se tornando cada vez mais preocupante.
fonte: seneweb.com
NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!...
A deputada Joacine Katar Moreira virou o seu próprio partido contra si
quando se absteve sobre a proposta do PCP de condenação da nova
intervenção israelita em Gaza. Comunicado após comunicado (o primeiro
publicado no Twitter), tweet após tweet o fosso entre a
direção do partido e a deputada do Livre aumentou, culminando no
fundador Rui Tavares a "insistir" (palavras do gabinete de Joacine Katar
Moreira) em levar o caso ao Conselho de Jurisdição. A rutura parecia
por um fio. Mas o filme teve uma prequela com ingredientes muito
parecidos: há oito anos, Rui Tavares estava do outro lado, era ele o
rebelde a virar as costas ao grupo do Bloco de Esquerda no Parlamento
Europeu - e tudo por causa de um post numa outra rede social, mais na moda na altura, o Facebook.
Num texto publicado no dia 18 de junho de 2011, intitulado "4 são mesmo
4", o então coordenador do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, acusou
Rui Tavares de levar um jornalista do diário i a "enganar-se e
escrever, com ligeireza" que Daniel Oliveira faria parte do quarteto
inicial da fundação do partido (Louçã, Fernando Rosas, Luís Fazenda e
Miguel Portas). "A tentativa de retirar o Fernando desta história e de a
refazer com novos protagonistas" era imputável a Rui Tavares, acusou na
altura o coordenador do Bloco de Esquerda.
NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!...
A activista sueca Greta Thunberg foi indicada para o Nobel da Paz de
2020 por dois deputados suecos, revela a Associated Press. Jens Holm e
Hakan Svenelling, ambos membros do Partido da Esquerda, nomearam
Thunberg, uma decisão que justificaram, ontem, com o “trabalho árduo” da
activista de 17 anos para “fazer com que os políticos abram os olhos
para a crise climática”.
“A acção para reduzir as nossas emissões e cumprir com o Acordo de Paris
também é um acto de paz”, salientaram os deputados suecos. Refira-se
que qualquer deputado de um país pode indicar uma pessoa para o prémio
Nobel da Paz. Já no ano passado, três deputados noruegueses nomearam a
jovem activista para o Nobel da Paz, que acabou por ser atribuído a Abiy
Ahmed Ali, o Primeiro-Ministro da Etiópia. A submissão de nomeações
para o prémio Nobel da Paz decorreu até ontem. O Comité do Nobel não comenta publicamente as nomeações. Greta
Thunberg criou o movimento das Sextas pelo Futuro, faltando às aulas
para exigir acção imediata para combater as alterações climáticas. Este
movimento tem inspirado milhares de jovens por todo o mundo e o protesto
de Thunberg transformou-a na principal figura da luta contra as
alterações climáticas.
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Diogo Paixão
Imagine um grupo de homens armados com catanas e paus enfrentando um
sistema bem armado. Na História da Humanidade não são muitos os
episódios semelhantes aos que marcaram o início da luta armada em
Angola.
Era sábado e o calendário assinalava 4 de Fevereiro de 1961. O dia
despertou com um movimento estranho. Um grupo de homens determinados,
liderados por Neves Bendinha, Paiva Domingos da Silva, Domingos Manuel
Mateus, Imperial Santana e Virgílio Sotto Mayor, num total de cerca de
duzentos, desencadeou um conjunto de acções em Luanda. O objectivo
era libertar os presos políticos que se encontravam nas cadeias,
acusados pelas autoridades coloniais de actividades subversivas. Diversas
fontes contam que um dos grupos emboscou uma patrulha da Polícia
Militar, neutralizando os quatro soldados que se encontravam na viatura e
retirando-lhes as armas e munições. Os ho-mens tentaram assaltar a Casa
da Reclusão Militar, mas não foram bem sucedidos. A cadeia da PIDE, no São Paulo, a 7ª Esquadra e a sede dos CTT - Correios, Telégrafos e Telefones foram também alvos de ataque. Testemunhos
referem que desta acção resultou na morte de 40 nacionalistas, seis
agentes da Polícia e um cabo do exército português, junto da Casa da
Reclusão Militar, mas o historiador Cornélio Calei evita falar de
números. “Houve mortes de ambos os lados. Aquilo foi um ataque às
estruturas do poder colonial e, obviamente, tinha que haver mortes”,
referiu, acrescentando que “os heróis foram ao encontro da morte para a
conquista da liberdade”. Cornélio Calei lembra que os atacantes
estavam vestidos de preto, o que na tradição angolana significa luto.
“Eles tinham consciência de que muitos não voltariam a casa, podiam
morrer. Alguns deixaram mulheres, filhos e empregos para libertar os que
se encontravam encarcerados”, enfatizou. Tendo em conta a resposta
brutal das forças policiais e militares, os revoltosos não conseguiram
libertar os presos. “Fisicamente não conseguiram libertá-los, mas
espiritualmente conseguiram. Sentiram que afinal não estavam sozinhos,
porque lá fora havia outros que lutavam por eles”, disse Cornélio Calei. Segundo
relatos, os preparativos teriam iniciado em Outubro de 1960. Os
atacantes foram treinados sobre questões práticas, como manejar os
instrumentos que seriam utilizados no assalto, principalmente catanas,
ou desarmar guardas. As informações disponíveis revelam que os
treinos decorriam à noite, na zona de Cacuaco, arredores de Lu-anda, e
quando começaram a recear infiltrações de indivíduos ligados à PIDE -
ex-tinta Polícia Política Portuguesa -mudou-se para o Cazenga, no local
em que está erguido o Marco Histórico do 4 de Fevereiro. “Aquilo era
um matagal. É lá onde à noitinha se reuniam. A cidade estava organizada
com as suas estruturas militares e no dia 4 de Fevereiro de lá partiram
para o levantamento”, lembra Cornélio Calei. O historiador afirma
que a escolha da data do ataque teve em atenção o facto de se
encontrarem em Luanda, na altura, jornalistas estrangeiros que
aguardavam a chegada do paquete “Santa Maria”, assaltado dias antes no
alto mar por um grupo liderado por Henrique Galvão, um oposicionista do
regime de Salazar, informação já revelada por outras fontes. Cornélio
Calei refere que quando se soube que o navio não viria para Luanda e os
jornalistas começaram a preparar-se para abandonar a capital angolana,
os nacionalistas decidiram lançar o ataque para chamar a atenção da
comunidade internacional sobre a repressão que se vivia no país. “Havia
muitos jornalistas em Luanda para cobrir o evento e os protagonistas da
acção acharam que aquela era a melhor altura para que o assalto tivesse
projecção mediática internacional”, referiu Cornélio Calei, sublinhando
que estavam todos vestidos de negro. Tudo o que se sabe, pelos
depoimentos de pessoas que estavam envolvidas no ataque, o cónego Manuel
das Neves foi o principal mentor. Sacerdote católico, as suas
actividades levaram-no em Março do 1961 à detenção pela PIDE , em
Luanda, de onde foi transportado para a prisão do Aljube, tendo, depois,
por imposição do regime colonial, ficado com residência fixa em
Portugal, onde viria a falecer em 1964. Em Novembro de 2018 cónego Manuel das Neves
foi condecorado, a título póstumo, pelo Presidente João Lourenço com a Ordem da Independência de Primeiro Grau. Reacção das autoridades portuguesas foi brutal
O historiador Cornélio Calei afirma que o levantamento de 4 de
Fevereiro de 1961 abriu caminho para a luta de libertação nacional, que
culminou com o derrube do colonialismo em Angola. “A partir daquela
altura começou a decadência do império colonial português”, refere
Cornélio Calei, sublinhando que nos palcos internacionais, como na ONU,
Portugal começou a ficar mais isolado por resistir à descolonização. As
primeiras críticas à resistência do Governo português de descolonizar
datam de 10 de Março de 1961, quando a questão foi apresentada nas
Nações Unidas. A delegação portuguesa abandonou a Assembleia-Geral. No
mês seguinte, a ONU anunciou posição favorável à auto-determinação de
Angola. No ano seguinte, a OUA -Organização de Unidade Africana,
substituta da União Africana - cortou as relações com Portugal. No
entanto, Portugal reforçou a presença militar em Angola. Milhares de
soldados fortemente armados foram perseguindo não só os participantes da
revolta, mas sobretudo as populações indefesas, que eram as principais
vítimas dessas barbáries que incluíam raptos e assassinatos, um pouco
por todo o país. Isso fez com que muitos fossem para as matas, aderindo
ao movimento de guerrilha acabado de nascer.
O 4 de Fevereiro foi antecedido de outros levantamentos, como a
revolta da Baixa de Cassanje, em Malanje. Milhares de trabalhadores dos
campos de algodão, da companhia luso-belga Cotonang, protestavam contra
as duras condições de trabalho e de vida e a constante repressão. Os
trabalhadores decidiram fazer greve e armaram-se de catanas e
canhangulos (espingardas artesanais). A resposta das forças
portuguesas foi dura e violenta. Companhias de caçadores especiais foram
destacadas para uma perseguição im-piedosa. Aviões da Força Aérea
Portuguesa lançaram bombas incendiárias , tendo provocado um número
bastante elevado de mortos. O historiador Cornélio Calei afirma que estes acontecimentos inspiraram os angolanos para a luta de libertação nacional. Quando os protagonistas decidem optar pelo silêncio
A menos de oitocentos me-tros do Marco Histórico 4 de Fevereiro está o
Comité com o mesmo nome. É a sede dos protagonistas dos levantamentos
que naquela madrugada sacudiram Luanda. Algumas casas precárias e uma
rua que vai terminar na linha férrea, lá para os lados da Precol,
separam os dois lugares simbólicos. De um lado está a Comissão do
Cazenga, do outro, o Bairro da Cuca. É aqui onde se situa o Comité 4 de
Fevereiro, num edifício que no passado pertenceu à Cooperativa “Alegria
pelo Trabalho”. Quando lá chegamos para colhermos depoimentos sobre a
efeméride que hoje se assinala, não encontramos nenhum responsável.
Apenas um funcionário e uma empregada de limpeza. Deixamos os contactos.
Logo que chegamos à Redacção, o telefone tocou. Ao manifestarmos o
interesse em enriquecer o nosso trabalho, com testemunhos de
sobreviventes do 4 de Fevereiro, fomos respondidos com um “não”
contundente. Um dos responsáveis disse que os integrantes do Comité
tinham decidido, em reunião, optar pelo silêncio, em protesto ao alegado
estado de abandono em que se encontram. De nada valeu a nossa
insistência. “Este ano decidimos não realizar palestras, nem dar
entrevistas. As pessoas só se lembram do 4 de Fevereiro nessa altura,
quando se podia falar sobre assunto noutras ocasiões”, comentou. De
fora, nada indica que aquele espaço é a sede do Comité 4 de Fevereiro.
Com a pintura das paredes vencida pelo tempo, e sem nenhuma bandeira ou
qualquer símbolo que o identifique, aquele espaço parece uma residência
comum a clamar por reabilitação. Dentro, o cenário não muda muito. O
mobiliário pede substituição.
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O
Presidente da República de Angola (não nominalmente eleito), igualmente
Presidente do MPLA (partido no Poder desde 1975) e Titular do Poder
Executivo, João Lourenço, admite que “fez parte do sistema” que
sustentou o seu antecessor, mas salientou que só os que conhecem o
regime por dentro estão preparados para fazer grandes mudanças. Foi
descoberta a pólvora. Ponto.
Assim,
porque as ideias de João Lourenço vão fazer escola, os próximos
dirigentes da Polícia serão recrutados entre os mais violentos
criminosos, pois só os que conhecem o assunto por dentro estão
preparados para fazer grandes mudanças.
Igualmente
os próximos dignitários (do MPLA) para combater a corrupção serão
recrutados entre os maiores corruptos, pois só os que conhecem o assunto
por dentro estão preparados para fazer grandes mudanças.
Em
entrevista à DW, João Lourenço, que foi ministro da Defesa do
ex-presidente José Eduardo dos Santos, secretário-geral e
vice-presidente do MPLA, partido do poder em Angola há 44 anos,
sublinhou que “ninguém pode dizer que não fazia parte do sistema”, mas é
também por conhecer o sistema por dentro que tem condições para
“corrigir o que está mal”.
Esquece
o Presidente de todos os angolanos (do MPLA), que existe uma
substancial diferença entre fazer parte do sistema e ser dirigente (por
exemplo ministro da Defesa) desse mesmo sistema; entre aplaudir quando o
sistema colocou na cadeia alimentar dos jacarés muitos angolanos; entre
defender o sistema quando muitos angolanos foram detidos por se
manifestarem a favor daquilo que João Lourenço diz agora defender.
Desde
que tomou posse, há mais de dois anos, João Lourenço tem dado (mais em
termos mediáticos e de propaganda) prioridade ao combate contra a
corrupção e pelo regresso dos capitais ao país, projectos que – para
além de levaram a justiça a mover um processo contra a filha do seu
antecessor, Isabel dos Santos, e uma ordem de arresto de bens no valor
de mil milhões de euros – são dignos de um Nobel da manipulação por
esconderem a catástrofe económica e social do país.
“Quem
fez as grandes mudanças não são pessoas de fora, são as que conhecem o
sistema”, afirmou o chefe de Estado, acrescentando: “Somos nós, do
partido que sempre governou o país, que estamos a fazer as reformas que
eram absolutamente necessárias que fossem feitas”.
Assim,
pela voz do próprio Presidente, todos ficamos a saber (é caso para
dizer: Obrigado Presidente) que o MPLA é “o partido que sempre governou o
país”. Ficam ainda dúvidas por esclarecer. Se é como João Lourenço diz,
na altura dos massacres de 27 de Maio de 1977 quem estava no Governo?
Na
entrevista, João Lourenço falou também, pela primeira vez, sobre a
investigação do “Luanda Leaks”, que expôs (de forma juridicamente
inválida) os esquemas financeiros por detrás do império de Isabel dos
Santos, realçando que não estão a decorrer quaisquer negociações com a
empresária e filha do antigo presidente angolano, actualmente arguida
num processo-crime em Angola.
“Não
se vai negociar, na medida em que houve tempo, houve oportunidade de o
fazer. Portanto, as pessoas envolvidas neste tipo de actos de corrupção
tiveram seis meses de período de graça para devolverem os recursos que
indevidamente retiraram do país. Quem não aproveitou esta oportunidade,
todas as consequências que puderem advir daí são apenas da sua inteira
responsabilidade”, declarou João Lourenço, pondo as mãos no fogo (as
mãos dos outros, é claro) pela independência do sistema judicial do
reino.
Questionado
sobre outras investigações judiciais, em particular sobre o Presidente
Emérito do MPLA, José Eduardo dos Santos, explicou que os antigos
presidentes gozam de imunidade durante pelo menos cinco anos e que
compete à justiça tomar essas decisões, rejeitando que existam processos
políticos.
“Quem
abre os processos-crime na Justiça não são os políticos. É a própria
Justiça quem vai atrás de possíveis crimes. Portanto, todos aqueles que
estão a contas com a Justiça que não pensem que é o poder político quem
os empurrou para a Justiça”, adiantou. Traduzindo: quem manda é poder
político, mas quem empurra são os… sipaios do poder político.
João
Lourenço garantiu que “Justiça tem as mãos livres para actuar” e que
ninguém pode dizer “’eu não posso ser ouvido’” ou “constituído arguido”.
José Eduardo dos Santos dizia o mesmo. Agostinho Neto também, embora na
prática não gostasse de “perder tempo com julgamentos”.
Quanto
ao caso do ex-vice-presidente Manuel Vicente, acusado de pagar quase um
milhão de euros de suborno a um procurador português, lembrou que este
goza também de imunidade e que o facto de ter sido pedido que o processo
fosse transferido para Angola, “não significa absolvição”. Claro que
não. Será certamente julgado quando for feita justiça sobre os mandantes
dos massacres de 27 de Maio de 1977.
João
Lourenço disse também que Manuel Vicente não é seu conselheiro, uma
“invenção” que atribui “aqueles que não queriam que o processo fosse
transferido de Portugal para Angola”. Aliás tudo leva a crer que João
Lourenço nem sequer conhece Manuel Vicente.
O
também chefe do executivo angolano frisou que o facto de ter assistido
ao longo dos anos à corrupção no país e “por não concordar que a
situação continuasse”, decidiu travar este combate. Só assistiu? Não foi
conivente, activo ou passivo, com esse crime? Não beneficiou dele? A
corrupção não financiou a sua campanha eleitoral? Se calhar João
Lourenço deveria ser (no mínimo) investigado. É que não basta ser sério.
“Hoje
temos a oportunidade de mudar esse estado das coisas, pensamos que é o
momento de fazê-lo. Sabemos que é preciso muita coragem. Encontramos
alguma resistência. Preferimos lutar contra ela do que nos acomodarmos e
deixar que as coisas continuem como antes”, reforçou.
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O
MPLA, partido que “só” está no poder em Angola desde 1975, assinala a
passagem de mais um aniversário do ataque de nacionalistas às cadeias de
Luanda defendendo aquilo que não fez durante quase 44 anos: “mais
disciplina” e “controlo” nos gastos nacionais, luta contra a corrupção
(o seu principal ADN) para acabar, é claro, com as “sequelas do
colonialismo”.
Por Orlando Castro
A
propósito do 4 de Fevereiro de 1961, data que o partido defende como o
início da luta armada pela independência, o MPLA advoga que a libertação
total do povo angolano e a liquidação de todas as sequelas do
colonialismo passam pelo “despertar de uma nova consciência para com o
trabalho, para o controlo nacional dos gastos, para mais disciplina e
melhores resultados, em todos os sectores”.
Pois
é. Digamos que, de facto e de jure, o MPLA (de Agostinho Neto a João
Lourenço, passando por José Eduardo dos Santos) personifica o apogeu
angolano dessas “sequelas do colonialismo”. Aliás, ele não só manteve
essas sequelas como as ampliou em claro benefício próprio e exclusivo.
Se, aliás, se escolhesse a figura que mais expressão dá ao colonialismo
que abalroou o nosso país, José Eduardo dos Santos deixaria a léguas
António de Oliveira Salazar.
Nesta
data teve lugar a primeira revolta organizada contra o regime colonial
português, com o ataque à Cadeia de São Paulo e à Casa de Reclusão, em
Luanda, onde se encontravam detidos vários independentistas.
Oficialmente,
a história – contada pelo MPLA – diz que a revolta popular, armada de
paus e catanas e mais de 200 nacionalistas, foi organizada por elementos
ligados ao MPLA como Neves Bendinha ou Imperial Santana, durante largos
meses, desde Outubro de 1960.
“Deve-se
assegurar o papel crucial do Estado, como agente regulador e
coordenador de todo o processo de desenvolvimento de Angola, devendo o
mesmo exercer uma função de liderança, com base numa visão estratégica,
concertada com a sociedade civil, com o sector empresarial e com toda a
nação”, lê-se numa das muitas notas do Bureau Político do Comité Central
do MPLA.
MPLA não é dono da verdade
A
4 de Fevereiro de 1961, cidadãos ligados ao MPLA, desencadearam um
ataque contra a Cadeia de São Paulo e a Casa de Reclusão, em Luanda,
dando início à luta armada que culminou com a proclamação da
independência de Angola, em 11 de Novembro de 1975.
Várias
fontes sustentam que deveriam participar no ataque cerca 2100 pessoas,
mas as detenções efectuadas pela polícia política portuguesa (PIDE) nos
dias anteriores à acção, na sequência de denúncias, fizeram reduzir o
número para pouco mais de 200 intervenientes.
Consta
que Paiva Domingos da Silva, Imperial Santana, Virgílio Sotto Mayor e
Neves Bendinha (já falecidos) terão sido alguns dos responsáveis pela
coordenação do assalto, cujos preparativos começaram em Outubro de 1960.
A
arrojada acção tinha como objectivo primário libertar os presos
políticos angolanos que se encontravam encarcerados nas cadeias visadas,
acusados pelas autoridades coloniais de actividades subversivas. Os
participantes no ataque foram treinados sobre questões mais práticas,
por exemplo como manejar os instrumentos que seriam utilizados,
principalmente catanas, ou desarmar um sentinela.
As
informações disponíveis revelam que os treinos decorriam à noite, na
zona de Cacuaco, arredores de Luanda, e quando se começou a recear
infiltrações de indivíduos ligados à polícia política portuguesa a
preparação mudou‐se para o Cazenga.
Neste
último local foi erguido um monumento denominado “Marco Histórico do 4
de Fevereiro”, inaugurado em 19 de Setembro de 2005, em homenagem aos
heróis tombados pela causa da independência.
A
escolha da data do ataque (4 de Fevereiro) teve em atenção o facto de se
encontrarem em Luanda, na altura, jornalistas estrangeiros que
aguardavam a chegada do paquete “Santa Maria”, assaltado alguns dias
antes no alto mar por um grupo liderado por Henrique Galvão, um
oposicionista do regime de Salazar.
Quando
ficou claro que o navio não viria para Luanda e os jornalistas
começaram a preparar‐se para abandonar a capital angolana, os
nacionalistas decidiram lançar o ataque antes que fossem todos embora
para chamar a atenção da comunidade internacional sobre a repressão que
se vivia no país.
A
presença dos jornalistas garantiu a projecção mediática internacional do
assalto dos nacionalistas angolanos que, vestidos de negro e armados
com paus e catanas, atacaram os guardas da Cadeia de São Paulo e da Casa
de Reclusão de Luanda.
“A
acção revolucionária protagonizada pelos bravos patriotas foi
determinante para o derrube do colonialismo em Angola e em outras
colónias portuguesas em África”, afirmou Américo José Gaspar, coronel
das Forças Armadas Angolanas na reserva e ex‐guerrilheiro do MPLA.
Este
responsável conta que, devido à brutalidade do regime fascista, em
1966, muitos jovens como ele, na altura com 16 anos de idade, não
hesitaram em juntar‐se voluntariamente aos combatentes da liberdade para
“travar” a fúria dos colonialistas que se espalhava pelo interior do
país.
Esta
acção levou as autoridades fiéis ao regime de Salazar a enviar para
Angola os primeiros contingentes militares destinados a reforçar os
reduzidos efectivos até então destacados na província ultramarina, como
era considerado o território angolano.
Na
sequência do ataque, a pressão da polícia política portuguesa aumentou e
cresceram também as detenções entre os nacionalistas, originando a fuga
de milhares de angolanos para as matas e países limítrofes, como a
Zâmbia e o então Congo Leopoldoville, onde prosseguiram a luta pela
independência do país.
Pouco tempo depois do assalto às cadeias em Luanda, o conflito alastrou‐se às restantes colónias portuguesa em África.
Conta
o escritor Emídio Fernando que “nas conversas clandestinas, nas
esplanadas e nos serões quentes de Luanda, nas matinés e noitadas de
merengues e rebitas dos musseques, nos almoços de funge, regados com
cervejas Cuca, corria um mistério, transportado por uma frase dita em
surdina: ‘Este ano vai haver dois Carnavais!’”.
A
frase sobressaltou a advogada Maria do Carmo Medina, já conhecedora e
defensora das actividades clandestinas, quando a ouviu da boca de João
Cardoso, um activista pela independência de Angola e que viria a morrer
uns anos depois na prisão de São Pedro da Barra.
A
expressão – “dois Carnavais” – funcionava quase como uma senha de
cumplicidade entre quem estava a preparar, há largos meses, um assalto
às cadeias de Luanda.
Na
primeira linha dos preparativos aparecia Manuel das Neves, um cónego
mestiço, dos raros não‐brancos de origem portuguesa a integrar a Igreja
Católica. Era ele que servia de elo de ligação entre os presos, os seus
familiares e dirigentes políticos. E, sobretudo, um instigador, a partir
do seu pequeno quarto numa paróquia de Luanda, da revolta armada, “com
sangue”, “contra o colonialismo”.
Como
director do jornal “O Apostolado”, Manuel das Neves conseguia fazer
passar algumas mensagens subtis para o exterior, ao mesmo tempo que ia
dando notícias sobre as movimentações de alguns nacionalistas que viviam
no estrangeiro. Servia‐se ainda do jornal e de contactos com os
paroquianos para manter ligações com activistas em Luanda, mas também
com gente que viajava frequentemente entre os bairros periféricos de
Luanda e o Congo, via Matadi. E era através desses viajantes, a maior
parte de origem congolesa ou nascidos no Norte de Angola, que Manuel das
Neves ia tendo conhecimento das movimentações de nacionalistas e do
nascimento, primeiro, da UPNA e, depois, da UPA.
Há
muito que o cónego, vigário‐geral da diocese de Luanda, vinha
defendendo a necessidade de Angola se tornar independente. Desde a
década de 50, sobretudo nos derradeiros anos, que Manuel das Neves
recebia, em sua casa, perto da Sé de Luanda, o também padre Joaquim
Pinto de Andrade que, tal como o irmão, Mário, começava a participar nos
movimentos que lutavam pela independência. As conversas, de acordo com a
memória de Pinto de Andrade, não variavam muito e eram em tudo
idênticas a tantas outras em que Manuel das Neves mantinha com outros
activistas e que serviam para espalhar ideias nacionalistas:
“Ele
dizia que era preciso quebrar este mito [que os angolanos não queriam a
independência e gostavam de ser portugueses] e isto só fazendo um acto
de força, um acto que tivesse repercussão internacional para que todo o
mundo visse que os angolanos queriam ser independentes. E planeava em
conversas em que dizia: ‘Não é preciso muita coisa, para se fazer uma
guerra e vencer. Não. É só para fazer um acto que dê brado lá fora e
quebre o mito’. Então, eu disse‐lhe: ‘Como, com que armas, senhor
cónego?’ E ele respondeu‐me: ‘Armas brancas, portanto, catanas, punhais…
assaltar cadeias onde haja presos políticos para os libertar e, no
mesmo dia, assaltar a rádio e as principais esquadras da Polícia e ir
pela Rua do Balão até à Fortaleza e hastear a bandeira nacional. Bom,
temos de fazer uma bandeira nacional, temos de inventar uma’”.
Na
procura de um acto espectacular, Manuel das Neves defendia que era
necessário espreitar uma oportunidade. Por exemplo, quando houvesse
jornalistas estrangeiros em Angola. O ensejo, tantas vezes desejado,
surgia proporcionado por Henrique Gal‐ vão, quando decidiu desviar o
navio “Santa Maria”. Demitido do exército, onde tinha o posto de
capitão, Henrique Galvão resolveu assaltar o paquete, com 970 turistas a
bordo, que se propunha atravessar o Atlântico com destino ao Brasil.
A
“Operação Dulcineia” começara no início de Janeiro. Henrique Galvão
encontrava‐se na Venezuela à espera do navio que deveria fazer escala em
Caracas a caminho do Rio de Janeiro.
Galvão
e mais 20 elementos – entre portugueses e espanhóis que combatiam as
duas ditaduras ibéricas – do autoproclamado DRIL (Directório
Revolucionário Ibérico de Libertação) tomavam de assalto o navio
anunciando que pretendiam atracar em Angola. Mal foi dada a notícia do
sequestro do navio, jornalistas de quase todo o Mundo aterravam em
Luanda. No entanto, a aventura de Henrique Galvão terminava no Brasil,
precisamente na noite de 3 de Fevereiro, poucas horas antes dos assaltos
às cadeias.
Luanda
estava “apinhada de jornalistas, cineastas e locutores de rádios”, de
acordo com um relatório da PIDE, elaborado dias depois.
Manuel
das Neves recebia a colaboração empenhada de Mariana Ana Paz, que tinha
a incumbência de levar comida para os presos da Casa de Reclusão
Militar, na Cadeia de São Paulo, quase todos eles, detidos por
participarem em actividades subversivas contra o regime. Mas não só.
Cada visita era acompanhada por mensagens, não apenas do cónego, mas de
outros activistas. E, no interior dos bairros, pontificava o
“mais‐velho” Cardoso Sebastião Gamboa, considerado, pela população, como
tendo poderes “mágicos”.
Ritos ditos mágicos
Há
várias semanas que Cardoso Gamboa obrigava os chefes de outros bairros a
uma rigorosa quarentena, com vigílias permanentes ao fim do dia, no
cemitério, e um jejum absoluto. Os chefes seguiam assim as práticas
tradicionais de feitiçaria importadas do Congo, em que até se usava uma
panela a ferver, a cozer uma carta, que se dirigia a Patrice Lumumba e
com o objectivo de o informar o que se preparava em Luanda. O “campo dos
brasileiros”, no Bairro Rangel, servia de palco para as reuniões
clandestinas e os preparativos em que se pedia a inspiração e ajuda dos
espíritos. As catanas e os cassetetes iam sendo benzidos por dois
curandeiros, em cerimónias praticadas na casa de Paiva Domingos da Silva
que, uns meses antes, viajara até ao Congo em busca de poderes mágicos.
Enquanto
decorriam estas movimentações pela cidade de Luanda, os presos
políticos viviam, praticamente em todas as cadeias, com uma espada sobre
a cabeça: a possibilidade de, a qualquer momento, serem transferidos
para o Tarrafal, na ilha cabo‐verdiana onde foi construída uma prisão de
alta segurança inspirada nos modelos dos campos de concentração nazis.
Além
do desejo de fuga, Manuel das Neves, Cardoso Gamboa e os presos
políticos não tiravam da cabeça os últimos acontecimentos em Angola.
Depois do “Processo dos 50”, o mês de Janeiro desse ano assistira aos
actos mais sangrentos dos últimos tempos provocados pelo regime e,
provavelmente, o maior banho de sangue da história colonial portuguesa.
Na
Baixa de Cassange, província de Malanje, milhares de agricultores das
fazendas de algodão – a maior parte deles vindos do Sul e obrigados a
trabalhar no Norte – revoltavam‐se com as condições de vida. Exigiam
apenas a abolição do trabalho forçado e o fim do pagamento de impostos,
fazendo greve nas plantações algodoeiras, num movimento liderado por
António Mariano. Os protestos não se limitavam à greve.
Durante
dois dias, foram queimadas sementes, algumas pontes sobre os rios
apareceram destruídas e as missões católicas, as lojas e casas de
colonos sofreram ataques. As tropas portuguesas reagiram, colocando em
acção as companhias de caçadores especiais e aviões que lançaram bombas
incendiárias. A investida das tropas coloniais, da polícia e de alguns
colonos, além de esmagar a rebelião, provocou a morte a milhares de
agricultores que trabalhavam para a Companhia de Algodão de Angola e
para a Cotonang, uma fazenda algodoeira de capitais mistos de
portugueses e belgas.
O
massacre de Cassange não passava despercebido pela imprensa em quase
todo o Mundo, ao mesmo tempo que os jornais em Portugal, subjugados pela
censura, nem sequer arriscavam a abordar o assunto.
No
entanto, ganhava outra dimensão no topo da polícia política. Por isso,
logo a seguir ao massacre de Cassange, nascia o SIGGA (Serviço de
Informações do Governo Geral de Angola) que reunia as informações
recolhidas pela PIDE e por militares e a meio do ano dava lugar ao SCCI
(Serviço de Centralização e Coordenação de Informações). Iniciava‐se
assim uma colaboração, entre a polícia política e as forças armadas,
que, no entanto, em 14 anos, iria passar por diversas dificuldades de
entendimento.
Os
acontecimentos de Cassange, que se repetiram, mas com resultados de
menores dimensões, nos dias imediatamente seguintes, deixavam fortes
marcas a muitos dos sobreviventes que encontraram refúgio nas periferias
das cidades mais importantes, como Benguela, Novo Redondo, Nova Lisboa e
Luanda.
O
dia 4 de Fevereiro ameaçava ser um dia igual aos outros vividos nos
últimos tempos em que os musseques da capital angolana ardiam de
ansiedade. Luanda preparava‐se para as noites de folia e matinés
dançantes que eram quase milimetricamente preparadas pela burguesia
portuguesa, já adaptada à alegria luandense e também pelos angolanos “de
segunda”.
Na
Casa de Reclusão Militar, o nacionalista Mendes de Carvalho, preso no
âmbito do “Processo dos 50”, com ligações estreitas aos grupos de
enfermeiros e alfaiates que entretanto se formaram em Luanda, tentava
entregar, há largos meses, um recurso ao Supremo Tribunal Militar,
escrito na cadeia e baseado num código de Justiça Militar, que ele
próprio consultara. Os argumentos do recurso foram delineados com a
ajuda de André Franco de Sousa, que já se vinha destacando por ter
participado nos primeiros passos do MPLA.
No
decorrer do julgamento, Mendes de Carvalho ficara sem o acompanhamento
do advogado, porque todos os juristas se recusavam a defendê‐lo a partir
do momento em que, em plena sala de tribunal, resolveu acusar os
portugueses de serem “um povo bárbaro”.
No
entanto, o recurso só poderia ser entregue em Lisboa, precisamente por
um causídico. Também por carta e por sugestão de André Franco de Sousa,
Mendes de Carvalho solicitara a ajuda do bastonário da Ordem dos
Advogados, Adelino da Palma Carlos, que, no entanto, recusara recorrendo
ao argumento de “falta de tempo”.
O
nacionalista angolano virava‐se então para o advogado Luís Saias, que,
ao aceitar, recomendava o envio de uma procuração, “com muita urgência”.
A resposta de Luís Saias chegava à Cadeia de São Paulo no final da
tarde de 3 de Fevereiro de 1961.
Mendes
de Carvalho decidia‐se por pedir o auxílio ao irmão, num telefonema, em
que lhe solicitava que fosse buscar, à cadeia, uns documentos para
serem “transferidos para Lisboa”.
“Transferidos” para onde?
As
palavras “transferidos” e “Lisboa” soavam, de imediato, como campainhas
que accionavam os sentidos e os permanentes receios dos presos. À
velocidade de um fósforo aceso, passava a informação na cadeia que todos
os detidos seriam transferidos, no dia a seguir, para a capital
portuguesa. O mesmo era dizer: para a ponte de passagem a caminho do
Tarrafal. Fizeram‐se malas, arrumaram‐se os parcos haveres, avisaram‐se
as famílias e o rumor depressa se propagou nos bairros dos arredores de
Luanda, onde há muito se aguardava um sinal para atacar os
estabelecimentos prisionais.
De
madrugada, na passagem de 3 para 4 de Fevereiro, precipitava‐se tudo.
Um foguete, accionado num bairro vizinho da Cadeia de São Paulo,
rebentava às quatro horas da manhã, dando sinal para que mais de 250
pessoas, divididas em 10 grupos, e vestidas de camisolas e calções
pretos e de catanas em punho, largassem os bairros a caminho das
cadeias. Destes, apenas quatro grupos entravam em confrontos directos
com as forças portuguesas e conseguiam atingir os alvos: a Cadeia de São
Paulo e outros estabelecimentos prisionais da cidade de Luanda.
Dentro
da prisão, os grupos de detidos que, há meses, preparavam a fuga,
resolveram avançar, pegando em todos objectos que fossem cortantes. Os
primeiros ataques provocavam a morte a um cabo, de apelido Silva, que
fora decapitado, sendo a primeira vítima da longa madrugada luandense.
Em poucas horas, morriam 40 assaltantes e sete guardas prisionais, de
acordo com dados oficiais divulgados pelo Governo Geral de Angola.
Na
preparação dos ataques, estiveram envolvidos 3.123 homens, todos
recrutados nos bairros periféricos, e comandados, no terreno, pelos
angolanos Paiva Domingos da Silva e Francisco Imperial Santana.
Ainda
na manhã de 4 de Fevereiro, Mendes de Carvalho era chamado ao gabinete
do director. Sobre ele recaía a suspeita de ter dado o sinal para os
ataques.
Escritor,
assinando com o seu pseudónimo em kimbundu, Uanhenga Xitu, Mendes de
Carvalho, haveria de recordar, num livro publicado depois de 1975, essas
horas em que ele próprio admite não saber como conseguiu sobreviver.
De
Conakry, mal souberam dos acontecimentos em Luanda, os dirigentes do
MPLA, a viver no exílio, resolviam reivindicar a autoria dos assaltos.
Coubera a Mário Pinto de Andrade, presidente do movimento, as primeiras
palavras de regozijo pelo que se passara na capital angolana. O
presidente do MPLA, acompanhado por outro dirigente, Lúcio Lara, emitia
um comunicado em nome do Comité Director do MPLA, intitulado “Os
incidentes de Luanda”.
O texto recordava os acontecimentos na capital angolana e voltava a falar na “acção directa”.
Mas
o “4 de Fevereiro” não iria acabar na manhã desse dia. Dias depois,
logo após os funerais das vítimas, grupos de civis brancos organizavam
autênticas batidas pelos musseques da periferia de Luanda e provocavam a
morte a centenas de pessoas. Uma semana depois, o “filme” era retomado,
mas em menor escala.
Novos
tumultos nas cadeias faziam sete mortos, todos presos, e mais 17
feridos. E novas incursões dos mesmos grupos de civis deixavam um lastro
de sangue e provocavam um número elevado de vítimas mortais que nunca
chegou a ser contabilizado.
No
intervalo dos dois ataques, o governador‐geral de Angola, Silva
Tavares, resolvia fazer uma incursão pelos musseques – ou “bairros
excêntricos”, como eram descritos pela imprensa em Lisboa – acompanhado
pela polícia e por jornalistas previamente escolhidos.
Silva
Tavares pretendia assim demonstrar que a situação se encontrava calma.
Logo a seguir à visita, o governador leu uma mensagem, na Emissora
Nacional, garantindo que reinava a calma em Luanda e recomendando às
pessoas para acatarem as ordens e recomendações da polícia.
A versão portuguesa (Silva Tavares)
“N
a madrugada de 3 para 4 de Fevereiro de 1961, sete agentes da
autoridade foram cobardemente assassinados, traiçoeiramente, sem poderem
esboçar um gesto de defesa, quando cumpriam o seu serviço de rotina.
Caíram numa cilada, acorrendo a um chamamento de socorro, a uma fictícia
desordem, em plena madrugada.
Mortos
com requintes de selvajaria, cortados à catanada, foram estes os
primeiros mártires da causa portuguesa, as primeiras vítimas da horda
assassina a soldo de potências estranhas de intenções conhecidas. Na
manhã do dia 4 a notícia espalhou‐se por toda a cidade como um
relâmpago.
A
surpresa foi tão grande que, a princípio, era difícil acreditar que
fosse verdade. Mas lá estavam os cadáveres, sete corpos que horas antes
ainda fervilhavam de vida, a atestar a notícia, tão cruel como
revoltante. Começavam então a conhecer‐se pormenores.
Houvera
ainda uma tentativa de assalto à Casa da Reclusão Militar, onde fora
morto um cabo do exército. Havia ainda alguns agentes da autoridade
hospitalizados, gravemente feridos. Houvera um soldado negro que fora um
verdadeiro herói. Debaixo do fogo e das catanas dos invasores,
conseguira meter‐se no ‘jeep’ e chegar, embora ferido, ao quartel onde
dera o alarme. De manhã, toda a zona das Barrocas estava a ser motivo de
aturada rusga por parte da Polícia. Luanda inteira já sabia dos
acontecimentos e assistia excitada e revoltada ao desenrolar das coisas.
Mas
ainda não passava pela cabeça de ninguém, naquela altura, que aquilo
seria o prenúncio de dias terríveis, dias que ficariam para sempre
marcados na história de um país, dias que deixariam a terra de Angola
regada com o sangue dos seus habitantes, colhidos de surpresa por um
bando de assassinos narcotizados e completamente enlouquecidos por
promessas enganosas e impossíveis.
Deus
sabe como nesta terra se vivia com absoluta e completa paz, lutando
lado a lado, pretos, brancos e mestiços para o mesmo fim: o
engrandecimento da sua Pátria – PORTUGAL!
O funeral destes malogrados portugueses realizou‐se no dia 5 de Fevereiro de 1961, da Igreja do Carmo para o Cemitério Novo.
Jamais
se vira um acompanhamento fúnebre como aquele! Ao longo de todo o
percurso, nas ruas, nas janelas, nas paredes, nas árvores, em toda a
parte onde houvesse um lugar para tal, lá estava uma pessoa, de lágrimas
nos olhos para dar o último adeus aos sete heróis. Milhares e milhares
de pessoas e carros acompanharam os sete ataúdes até ao cemitério. No
Cemitério Novo e no largo fronteiro, era impossível meter mais gente. O
governador‐geral e as mais altas individualidades civis e militares da
Província integraram‐se no cortejo, junto às urnas. Foi a maior
manifestação de pesar que jamais se viu na capital de Angola.
Rezavam‐se
as últimas preces e preparavam‐se as urnas para baixar à terra, sua
última morada, quando os milhares de pessoas que se encontravam dentro
do cemitério foram alertados por gritos e alguns tiros vindos de fora. A
confusão foi geral e o pânico apoderou‐se de todos. Mulheres gritavam
pelos filhos, filhos gritavam pelos pais, pessoas corriam de um lado
para o outro. Só visto. Soaram mais tiros. Homens muniam‐se de paus ou
de qualquer outro objecto que encontrassem e que lhes pudesse servir de
defesa. Corriam em todas as direcções. O pânico era geral.
Desconhecia‐se ainda, lá dentro dos muros, o que na realidade se estava a
passar cá fora. Mas pairou sobre todos a ideia de um ataque naquele
momento e naquele local, colhendo toda a gente de surpresa e
praticamente ‘enjaulada’ entre as quatro paredes do campo santo.
O
descontrolo era absoluto. Poucos conseguiram conservar a calma. Soaram
mais tiros. Pouco a pouco a situação foi‐se normalizando e chegou uma
força da Polícia e do Exército, armada, que tomou imediatamente posições
de defesa. A multidão era enorme e, por isso, impossível romper‐se lá
de dentro para saber o que realmente se passava. No entanto, cá fora, as
autoridades e alguns civis armados faziam fogo contra os terroristas
que tentaram assaltar o cemitério precisamente no momento mais solene da
cerimónia fúnebre. Com a calma mais ou menos restabelecida lá dentro,
as pessoas foram procurando a saída.
A
confusão tomara foros de envergadura e todos procuravam agora pôr‐se a
salvo saber exactamente o que se passara. Havia dois ou três terroristas
mortos no espaço vazio entre a entrada do cemitério e as casas do outro
lado da estrada de Catete. A tentativa de fuga dos terroristas lançou
as autoridades e os civis armados na sua peugada. Ouviram‐se ainda tiros
dispersos e gritos de desespero na confusão da fuga. Os carros
aglomeravam‐se na estrada, amontoados, se assim se lhe pode chamar, numa
tentativa desesperada de regressar à cidade, à segurança, fugindo assim
daquilo que podia ter sido uma carnificina horrível se a emboscada
traiçoeira não tivesse encontrado pela frente dois ou três corajosos
polícias. A polícia tentava ordenar o trânsito, o que era quase
impossível. Agora nova e terrível pergunta dominava aquela gente: teriam
as casas sido também assaltadas, aproveitando o facto de toda a gente
se encontrar ali? As crianças haviam lá ficado.
O
incidente do cemitério e a morte dos polícias caíram no olvido depressa
demais. Ou, pelo menos, não foram levados na conta que deviam ser no que
respeita a precaução. Não quero aqui condenar ninguém, porque o erro
foi de todos nós. Sim, todos nós voltámos à nossa vida normal, em
completa paz, esquecendo o perigo que aquilo poderia significar e que,
como mais tarde se viu, significava mesmo. E Deus sabe como deveríamos
ter imaginado que aqueles incidentes eram o prenúncio duma grande
tempestade! Mas, quem acreditaria que aquela paz de séculos iria ser
perturbada (e de que maneira!) dentro de pouco tempo? A calma voltou e,
com ela, a mesma confiança de sempre, a confiança de um povo que vivia
tranquilo no seu trabalho e no seu descanso. Os dias que se seguiram
foram a antecâmara da morte para milhares de portugueses”.
NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!...
Um juiz da África do Sul emitiu um mandado de prisão para o
ex-Presidente Jacob Zuma, depois de este não ter comparecido em tribunal
num caso de corrupção. No entanto, a medida só será aplicada a partir
de 6 de maio.
A South African Broadcasting Corporation informou hoje que o mandado foi emitido após a Procuradoria Nacional o ter solicitado. Jacob Zuma deveria ter comparecido perante o Tribunal Superior de Pietermaritzburg.
Os
advogados do antigo chefe de Estado alegaram razões médicas, tendo
alguns relatórios referido que se encontrava em Cuba a receber
tratamentos. Nenhum detalhe foi dado sobre o seu estado de saúde.
Os
advogados do antigo chefe de estado invocaram razões médicas na
terça-feira para justificar a ausência do seu cliente perante o Tribunal
Superior de Pietermaritzburg (leste). Mandado suspenso até 6 de maio
A
juíza Dhaya Pillay disse que havia uma falta de "provas fiáveis". "Um
mandado de prisão para o acusado é emitido, mas suspenso até 6 de maio
de 2020", afirmou.
No final do ano passado, um tribunal
indeferiu uma tentativa de Zuma recorrer de uma decisão que abriu o
caminho para que ele fosse processado.
O ex-chefe de Estado é acusado de receber subornos
do fabricante de armas francês Thales através do seu antigo conselheiro
financeiro Schabir Shaik, que foi condenado por fraude e corrupção em
2005.
Zuma nega as acusações de corrupção, lavagens de dinheiro e extorsão relacionadas com o controverso negócio de armas na África do Sul em 1999.
Jacob Zuma demitiu-se em 2018, por pressão do Congresso Nacional Africano, no poder.
NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!...
Em entrevista exclusiva à DW, o Presidente de Angola fala oficialmente
pela primeira vez sobre o "Luanda Leaks". João Lourenço assegura que não
se está nem se vai negociar processos nos quais Isabel dos Santos é
acusada.
João Lourenço quebra o
silêncio e fala à DW sobre Isabel dos Santos
O Governo de Angola não está e nem vai negociar com a empresária
Isabel dos Santos os alegados casos de corrupção dos quais é acusada no
país. A afirmação é do Presidente João Lourenço, que falou pela primeira
vez sobre o "Luanda Leaks" numa entrevista exclusiva ao enviado
especial da DW a Luanda, Adrian Kriesch.
João Lourenço lembrou
ainda a imunidade do ex-Presidente José Eduardo dos Santos e do
ex-vice-presidente Manuel Vicente para justificar o facto de ambos não
estarem a sentir o peso da Justiça angolana, mas garantiu a
imparcialidade e independência dos órgãos de Justiça em Angola.
Quanto
às reformas no Estado angolano, que incluem o combate à corrupção, o
Presidente João Lourenço afirmou: "Somos nós, do partido que sempre
governou o país, que estamos a fazer as reformas que eram absolutamente
necessárias que fossem feitas". DW África: Há algumas
semanas, uma investigação global revelou um esquema através do qual
centenas de milhões de dólares [de recursos do Governo] foram
canalizados para empresas privadas, possivelmente por causa de conexões.
Uma das principais suspeitas é Isabel dos Santos, filha do
ex-Presidente. Agora há rumores de que ela está a negociar um acordo
para devolver parte do dinheiro. Essas negociações estão a acontecer? João Lourenço (JLo):
Essas informações são infundadas. Nós gostaríamos de deixar aqui
garantias muito claras de que não se está a negociar. Mais do que isso,
não se vai negociar, na medida em que houve tempo, houve oportunidade de
o fazer. Portanto, as pessoas envolvidas neste tipo de atos de
corrupção tiveram seis meses de período de graça para devolverem os
recursos que indevidamente retiraram do país. Quem não aproveitou esta
oportunidade, todas as consequências que puderem advir daí são apenas da
sua inteira responsabilidade. Esse período de graça terminou em
dezembro de 2018. Estamos hoje em fevereiro de 2020. Portanto, pensamos
ser bastante extemporânea a possibilidade de negociação. Para além de
que, processos que estão em tribunal não são negociáveis fora do
tribunal.
NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!...
Palácio do Governo. Bissau. 6 de Novembro de 2019.AFP
O Conselho Superior de Defesa da Guiné-Bissau reuniu-se hoje na presença
de responsáveis políticos e militares. O encontro decorreu num altura
em que a Guiné-Bissau vive momentos de alguma tensão na sequência dos
resultados da segunda volta das eleições presidenciais. Segundo a imprensa guineense, a reunião de hoje estará relacionada
com as audiências do Tribunal militar e que envolvem o major Uié Camará,
director-geral adjunto da inteligência militar.
O major Uié
Camará está detido desde finais do mês de Janeiro no quartel do Estado
Maior do exército em Bissau. Em causa está uma alegada lista codificada
que o major teria recebido do secretário de Estado da Segurança e Ordem
Pública, Mário Saegh, e que identificava nomes de alguns militares fiéis
a Umaro Sissoco Embaló. Estes teriam mostrado disponibilidade, a
qualquer momento, em provocar tumultos em Bissau, caso do Supremo
Tribunal de Justiça anulasse a segunda volta das eleições presidenciais
de 29 de Dezembro.
A Lista que o major Uié Camará entregou ao
Chefe de Estado-maior da Força Aérea da Guiné-Bissau, Braima Camará,
mais conhecido "Papa Camará", terá sido entregue ao chefe de Estado
Maior-general das Forças Armadas, Biagué Na N'Tan, que terá ordenado a
detenção de Uié Camará.
Presente na reunião esteve o ministro do Interior guinneense que lembrou a utilidade do Conselho de Defesa Nacional, "é
um órgão de consulta do primeiro-ministro sobre assuntos relacionados
com segurança do país. É um órgão que está previsto na lei do nosso
país", descreveu o ministro do Interior. Juliano Fernandes lembrou ainda que se tratar de "uma reunião normal de análise à segurança interna". "É
uma reunião de consulta, nesta fase que o país está a atravessar,
criou-se esta oportunidade para que todos os integrantes reflictam sobre
o estado da segurança do país", afirmou Juliano Fernandes,
adiantando que, entre outras questões, a reunião discutiu a necessidade
de ser criado um regimento de funcionamento do conselho.
Questionado
sobre o facto de a reunião decorrer numa altura em que há rumores que
indicam detenções de militares, o ministro do Interior desmente as
informações, ressalvando que "o país está seguro".
Na
reunião do Conselho Superior de Defesa Nacional estiveram presentes; o
primeiro-ministro Aristides Gomes, os ministros Juliano Fernandes, do
Interior, Luís de Melo, da Defesa, Fatumata Baldé, da administração
Pública, Ruth Monteiro, da Justiça, Odete Semedo, da Administração
Territorial, e Geraldo Martins, das Finanças.
Estiveram ainda na
reunião, o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, Biaguê Nan
Tan, Procurador-Geral da República, Ladislau Embassa, os comandantes da
Polícia de Ordem Pública, Armando Nhaga, e da Guarda Nacional, Agostinho
Cordeiro, o diretor dos Serviços de Informação e Segurança (a ‘secreta'
guineense) Alfredo Vaz e a directora-geral da Polícia Judiciária,
Filomena Lopes.
A reunião ocorreu num altura em que a Guiné-Bissau
vive momentos de alguma tensão na sequência das eleições presidenciais,
contestadas pelo PAIGC e numa altura em que há rumores que indicam que
alguns militares estariam detidos, acusados de interferência no processo
eleitoral.