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segunda-feira, 17 de agosto de 2015

PORTUGAL: Sonhos de imigrantes numa cozinha que está aberta 24 horas por dia. "Guineenses e cabo-verdianos envolvidos no relato.".

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Estes jovens chegaram a Portugal quando os números de imigração já estavam a baixar. Projecto do Serviço Jesuíta aos Refugiados ajuda a integração de “migrantes em situação de extrema vulnerabilidade”.

A cozinha industrial do Grupo Jerónimo Martins é um dos locais onde se dá formação ENRIV VIVES-RUBIO

Quer “fazer bolos de noiva”, daqueles grandes e bonitos. Também bolos de aniversário e “bolos para eventos”... mas, sobretudo, bolos de noiva. É o seu novo sonho, o seu novo objectivo. Quando chegou a esta cozinha industrial, em Odivelas, de onde saem refeições cozinhadas e embaladas para meio país, só tinha uma ideia na cabeça: estabilizar a sua vida para arranjar maneira de mandar vir da Guiné-Bissau a filha pequena que tinha lá deixado. 

Solita Nandingna, 22 anos, saiu da Guiné-Bissau há quase quatro anos, com a expectativa de arranjar emprego em Portugal. Acabou por perceber que era mais difícil do que esperava. As saudades começaram a apertar. Emprego, nada. 

Agora, aqui está ela, de touca e bata brancas, de calças de xadrez azul, a embalar crumble de pêra em caixas de plástico transparente que será vendido nos supermercados Pingo Doce. O seu percurso nos últimos meses — de estagiária nesta mega-cozinha que só fecha no dia de Natal e no primeiro dia de cada ano, e onde trabalham mais 150 pessoas, a recém-contratada — tem sido elogiado. “Ganhou o gosto pelos doces”, comenta-se. Da secção de sobremesas onde trabalha saem todos os dias centenas de doses de arroz-doce, de tiramisu, de baba de camelo... 

A guineense faz parte do grupo de 45 jovens que integram um projecto do Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS– Portugal), em parceria com o Grupo Jerónimo Martins (GJM) e o Agrupamento de Escolas Pintor Almada Negreiros, em Lisboa. O projecto chama-se Capacitação 4 Job. 

O objectivo é “formar 45 jovens migrantes que estão em situação de extrema vulnerabilidade” e integrá-los no mercado de trabalho, diz André Costa Jorge, director do JRS. 

O financiamento vem do Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu (EEA Grants), um programa da Noruega, Islândia e Liechtenstein destinado a reduzir as disparidades sociais e económicas na Europa, que é gerido, em Portugal, pela Fundação Calouste Gulbenkian. Os 45 jovens foram escolhidos entre “os mais vulneráveis” — têm em média 25 anos, “não têm meios para subsistir e, nalguns casos, não tinham formação nem académica nem profissional que possibilitasse uma integração social”, diz André Costa Jorge. 

“São jovens com alguma escolaridade que adquiriram nos seus países mas há um hiato enorme entre o que aprenderam e o que o mercado de trabalho precisa.” Muitos falam mal português. Têm, contudo, “muita vontade em aprender”. Este programa dá-lhes armas para estarem mais preparados para competir por um posto de trabalho. Pelo menos, é a ideia. 

Há jovens da Guiné-Bissau (11), Cabo Verde (8), São Tomé (13), um da Índia, outro da Costa do Marfim, uma jovem do Senegal... Chegaram a Portugal há um ano, dois, três, quatro... indiferentes à crise e à diminuição do emprego. Chegaram quando os números de imigração já estavam a baixar. E quando muitos outros procuravam outras paragens para melhorar a vida. 

“Portugal ainda é para muitos um país de atracção, no imaginário popular, social; ainda é um lugar onde há oportunidades”, nota André Costa Jorge. “Uma guineense, por exemplo, que chega tem muita dificuldade em chegar cá, mas vem. E é preciso apanhar um avião — e por isso quem chega nem é a população mais pobre, é quem pode” pagar o bilhete. 

Cada grupo do 4 Job tem 15 formandos, não mais. Nos primeiros três meses vão à Escola Básica da Alta de Lisboa para melhorar o português, adquirir “conhecimentos sobre os hábitos e a cultura do país”, perceber alguns códigos, entrar em contacto com os direitos e os deveres de quem está num contexto de trabalho — “A importância da pontualidade, por exemplo” —, mas também primeiros-socorros, técnicas de procura de emprego... 

“Nessa fase eles próprios dão uma espécie de formação aos alunos da escola”, conta André Jorge. Transformam-se em animadores. “Não estão ali só numa posição de receptáculo, desenvolvem uma série de actividades com os alunos da escola onde há possibilidade de transmitirem conhecimentos que já têm, através de jogos, por exemplo... é algo que permite que as pessoas se vejam como responsáveis por um conjunto de tarefas.” 

O segundo bloco de três meses é passado em formação em contexto de trabalho. Na cozinha industrial do GJM, mas também pode ser nas lojas propriamente ditas, com outras tarefas. “Não é certo que as pessoas fiquem a trabalhar, mas do primeiro grupo de 15, que começou a formação teórica em Novembro e a prática em Março, seis foram contratados” pela Jerónimo Martins, outros três foram trabalhar para outros locais, e outro transitou para o segundo grupo por questões de saúde.

#público.pt

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Samuel

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