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NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!... A invasão e o massacre de Gaza, uma espécie de campo de concentração...

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Costa do Marfim: o que nós fizemos da família de Gbagbo?

NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!...

Depois da detenção e transferência para Haia do ex-presidente  Laurent Gbagbo multiplicam-se as perguntas sobre a situação da família do ex-presidente marfinense.

Amigos e partidários de Laurent Gbagbo, em 11 abril 2011, Hotel do Golfo, Abidjan. © REUTERS


Simone Gbagbo, presa em Odienné no noroeste da Costa do Marfim, por mais de 18 meses, será que ela, finalmente, será entregue pelo regime Ouattara para o Tribunal Penal Internacional, que tem sede em Haia, onde ela poderia se juntar ao seu esposo Laurent, que está preso há quase um ano?

Em qualquer caso, o único desafio imediato para ela é deixar uma prisão para outra, mesmo que o procedimento seria começar do zero, por isso será finalmente transferida para o TPI.

Aproveitando-se da retirada do selo do mandado de detenção emitido pelo ex-promotor Luís Moreno-Ocampo, foi lido alguns retratos de Simone Gbagbo Ehivet, de 63 anos, lingüista e mulher política, descrita como "Dama de Ferro "Não muito conveniente e" suspeita de assassinato"," estupro "e" violência sexual " pelo TPI.

O caso de Simone

Questionado por muitos anos, com base em acusações de que nunca até agora foram comprovadas no contexto de um adversário que pode pensar no desaparecimento não resolvido da jornalista franco- Canadense Guy-André Kieffer, "Simone" certamente nunca teve boa imprensa fora do seu país.

Mas uma evocação da perseguição sofrida pela família Gbagbo  é bastante grave desde a queda do ex-presidente, é necessário se se quer medir a governança desequilíbrios profundos de Alassane Ouattara, que continua a receber muitas complacências do Ocidente, pior ainda, a cada dia um pouco mais.

Políticas na alma, Laurent e Simone Gbagbo provavelmente se consideram ainda como que estão na "frente" em que vivem com um compromisso legítimo. E de qualquer maneira, livremente escolhido e assumido sem muita dificuldade.

Mas o que, em nome de "culpa por genes" membros das suas famílias têm que passar por várias formas de assédio e abuso no silêncio constrangedor da comunidade internacional?

Michael e Simon-Pierre, bodes expiatórios

O filho mais velho de Laurent Gbagbo, de um primeiro casamento com francesa Jacqueline Chamois, tão naturalmente cidadão francês Michel Gbagbo, de 43 anos,  está embastillé,encarcerado há 18 meses de prisão em Touba lugar muito perigoso, no noroeste do país, onde ele já sofreu humilhação, transmissão em plataformas de compartilhamento de vídeo e picadas de escorpião.

Sua saúde frágil, precisa de pelo menos uma descarga em Abidjan para cuidados médicos de emergência. França, seu país, cobrou o serviço mínimo a respeito de seu caso. Tem sido 18 meses desde que ele não vê nem a mãe dele, que mora em Lyon, França, nem seus filhos no exílio com sua mãe em um país da África Ocidental, como as outras crianças e netos. Crianças de Laurent Gbagbo, desde que foram "libertados" do Golf Hotel, sede da presidência provisória de Alassane Ouattara, em abril de 2011.

Mas isso não é tudo. Depois de ser citado pelo diário francês Liberation no final de outubro, como parte de uma história "na fortaleza de Simone Gbagbo", o irmão da ex-primeira dama, Ehivet Simon-Pierre, foi presa pela Direcção de Vigilância do Território (DST) na Costa do Marfim, as premissas de que ela ainda está definhanda, à espera de um cargo, provavelmente para "pôr em perigo a segurança do Estado", o cargo padrão.

A DST, Simon-Pierre, em qualquer caso, teve a oportunidade de encontrar seu irmão-Mady Bouabré, ex-membro do Conjunto Planalto de Administração, e marido de sua irmã Victoire Ehivet, que ficou por quatro longos meses antes de ser encaminhado para a Casa de Detenção e Correcção de Abidjan d'(MACA).

Preso na fronteira do Gana com a sua esposa e filha, que foi para Accra, para obter um visto para se estabelecer na Grã-Bretanha, foi considerado "suspeito". Necessariamente!

Netos agora expatriados

A maioria dos refugiados no vizinho Gana, muitos filhos e netos de Laurent Gbagbo e Simone são de fato privados da sua liberdade de movimento. E por uma boa razão: o governo de seu país permanece surdo aos seus pedidos, num total de aplicação-banal para a renovação de seus passaportes diferentes.

"Assim que tomamos o assunto em mãos, entramos em contato com as autoridades da Costa do Marfim, para que esta situação que é inaceitável e surpreendente ao conjunto, seja resolvido. De maio de 2012, escrevemos para às autoridades que nos disseram para esperar. Nosso estímulo pelos correios não tiveram resposta satisfatória. A situação permanece inalterada para os filhos e netos do Presidente Gbagbo, que permanecem sem passaporte marfinense, em seguida, eles são de fato os cidadãos da Costa do Marfim ", indignou-se um advogado da família de Gbagbo, Clédor Ly Cire .

Há algo de profundamente medieval nestes vexames repetidos e insuficientemente divulgados na fronteira com avidez.

Reforçada por uma narrativa longa e indulgente que fez dele uma espécie de "vítima estrutural" na crise da Costa do Marfim, Alassane Ouattara entenderá por esta razão que seus numerosos amigos no estrangeiro o indicariam, sobre esse terreno bem delicado, que a reconciliação nacional é uma prioridade para si e para seus, o caminho da sabedoria.

Em vez de simplesmente embelezar internamente, enquanto temendo que a soma das frustrações de ambos os lados podem mais uma vez mergulhar a Costa do Marfim no caos.

Por: Théophile Kouamouo

fonte: slateafrique





Nuno Fernandes: "Somos de uma geração que tem a noção exacta do custo de uma ideia” .

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Temos vinte anos de Executive Center, foi um caminho calmo, sempre a deslizar?
Não, isso é um caminho turbulento. O país também é turbulento. Nós dificilmente deslizaríamos. Temos momentos em que deslizamos, mas temos muitos momentos de turbulência. Quando iniciámos este projecto era muito gráfico, ligado à produção de livros, muito de carácter editorial, pensávamos muito em revistas, até porque este projecto foi pensado por jornalistas, com a visão que o jornalismo nos cria, aquele célebre conceito: jornalista uma vez, jornalista para toda a vida.
A derivação para a publicidade foi o resultado de uma abertura do mercado e a criação de um sector de oportunidade, visto que nós vivíamos num Estado que tinha sobretudo propaganda, mas que não tinha publicidade. E começámos a lidar… até por via da necessidade de sustentar os produtos editoriais com publicidade, começámos nós a trabalhar essa mesma publicidade porque os clientes não tinham essas ferramentas e não tinham quem as trabalhasse.

Passamos da fase da propaganda para a da publicidade, pode-se dizer que já temos, mesmo, publicidade em Angola?
Já. Nós já temos publicidade, claramente temo-la. E se olharmos para a publicidade que temos, temos publicidade com qualidade que é inerente ao valor que a produz, que a adquire. Temos indiscutivelmente publicidade. Também temos propaganda, mas que está, hoje, mais circunscrita à área política. As marcas, as instituições, etc., já usam a publicidade, claramente.

E a cultura empresarial quanto à necessidade de publicitar? Olho para as publicações e televisão e vejo que temos três ou quatro grandes anunciantes que se repetem…
Olhe, a área alimentar, a da distribuição, começa a ocupar um espaço que acompanha o crescimento do seu mercado. Há uns anos tínhamos apenas meia dúzia de distribuidores, tínhamos muito pouca oferta. Hoje temos uma oferta claramente superior e a publicidade, em termos de volume, começa a acompanhar esse esforço. Temos a banca, que é claramente competitiva, já, e também aí sentimos que ela cresceu. As telecomunicações… O grande problema é que o nosso mercado ainda não é um grande mercado, as coisas são à dimensão e são resultado do mercado que existe aqui.

São vinte anos, um tempo em que o mercado em que actua a Executive Center se foi moldando também e foram entrando outros actores. Estamos preenchidos neste particular?
Estamos a falar em termos de agências?

Exatamente. Como estamos?
Eu tenho muita pena que o mercado angolano tenha poucas agências angolanas a trabalhar a comunicação no país. Isto, naturalmente, é uma consequência de termos tido uma Lei Geral da Publicidade mas não termos tido o regulamento dessa mesma lei. O nosso mercado é um mercado muito aberto. E quando digo isso não quero ser entendido como um indivíduo que pretende ser restritivo e que pretende impedir a vinda de quem quer que seja. Eu sou apologista dos mercados abertos, mas sou apologista de um mercado com ordem. Não é justo, no mínimo, que você tenha uma organização que paga um volume considerável de impostos por ano, que seja um contribuinte claro para a Segurança Social, que seja um fomentador de emprego, que seja uma parte importante de sustentação de famílias… e nós sabemos da importância que o emprego tem para o sustento familiar em Angola, e em todo o mundo, mas aqui particularmente por outras carências que nós mais particularmente temos… Somos, claramente, um formador profissional, e essa é das partes que mais me orgulham neste projecto, e é muito pouco decente que o país autorize que empresas penetrem no nosso mercado sem estarem registadas no nosso mercado, sem serem contribuintes de qualquer espécie para o nosso mercado… mas porque já temos hotéis são fáceis de alojar, vêm, fazem o rastreio do mercado e trabalham a nossa comunicação lá fora, onde têm uma estrutura. Neste momento esta procura até se tem acentuado devido às dificuldades e estou a falar concretamente do mercado europeu… eles vêm à procura de outras oportunidades, mas o problema é que somos nós que facilitamos, no pior dos sentidos, essas oportunidades. E essas oportunidades que facilitamos contrariam completamente uma lógica de crescimento da indústria nacional. Se essas empresas querem estar aqui acho muito bem, mas que se registem aqui, que tragam o seu know how, e esta é uma área onde se investiu muito pouco, em formação, há poucos angolanos especialistas nesta área, mas então que venham os tais especialistas e que estas empresas, até respeitando a Lei Geral do Trabalho, no que diz respeito ao percentual de emprego de estrangeiros, permita fazer a formação de quadros nacionais. Até porque com um olhar atento, e isso aconteceu connosco, saber onde estão os nossos bons lá fora e dizer-lhes regressem ao vosso país porque têm estas oportunidades. Mas isto é muito pouco competitivo se tivermos como concorrente alguém que não paga impostos, um concorrente que vem custeado pelo cliente, um concorrente que está aqui numa boa...
E há agora nas redacções a discussão sobre o facto de se ter passado a receber, todos os dias, telefonemas, e-mails e outros tipos de comunicação de eventos de empresas e instituições angolanas, a acontecer em Angola, mas feitas a partir de fora. É terrível para quem trabalha cá?
Claro. É mesmo terrível, você diz bem. Eu há dias vi um despacho da Presidente do Brasil, de protecção à indústria brasileira, em que, por exemplo, eles determinaram uma taxação especial para todos os produtos publicitários não produzidos no Brasil. E consideram, inclusivamente, que pode ser dado como produto brasileiro aquele que, feito no exterior, tenha um envolvimento mínimo, estabelecido por lei, de pessoal brasileiro. Hoje temos clientes que são entidades angolanas, pelo menos assim se afirmam, mas que vão lá fora e contratam os serviços. Quando me vêm dizer que é uma questão de qualidade, eu hoje, com alguma autoridade, posso dizer que a qualidade que eles fazem nós fazêmo-la. Nós aqui nesta casa fazêmo-la. E tanto fazêmo-la que vamos lá fora, vamos aos mesmos concursos internacionais e ninguém está lá para dar prémios aos angolanos coitadinhos. Os prémios que temos conquistado para Angola são fruto da qualidade do trabalho e competência que se apresenta. Isso, para mim, tem um custo muito superior que o custo dessa gente (os estrangeiros) porque, inclusivamente, eles conseguem outra coisa, conseguem justificar a exportação do serviço para cá, isentando-se de impostos também lá, o que é optimo, é viver ‘free’.
Nós estamos a formar gente, temos que estar protegidos, até porque, quanto a mim, deve haver um sentido de Estado na protecção às indústrias emergentes. Todos nós gostamos de apresentar o Brasil como exemplo, mas o Brasil também se fez de algum proteccionismo. E ainda se faz. E a gente vê o cariz corporativista do mercado brasileiro mesmo quando está noutros mercados, nós sentimo-lo aqui. Mas nós não. Aqui temos uma coisa que herdámos de quem connosco viveu muitos anos… nós somos capazes de receber alguém e se esse alguém tiver uma língua muito difícil nós fazemos tudo por tudo para aprender essa língua muito difícil. Porque nos fica bem falar aquela língua. Não somos capazes de falar a nossa.
Nem exigimos que ele fale a nossa. Além desta deslocação, da produção lá fora, do produto publicitário, e do produtor estrangeiro, há também uma deslocação no mostruário, a vitrine, como vermos a Globo cheíssima de publicidade angolana e alguma dessa publicidade não a vemos na comunicação social angolana.
Estou de acordo com esta preocupação. E acho também que deve haver uma preocupação, da mídia local. Ao nível da imprensa escrita, por exemplo, não se vê muito disso, ao nível das televisões vê-se. Isso tem também a ver com a qualidade dos conteúdos. E depois tem também a ver com a tipificação do mercado a quem se dirige aquela comunicação específica. E os estudos de audiência revelarem aonde está a audiência daquele mercado específico. Aqui tem que haver um trabalho biunívoco, um esforço de ambos os lados. Das agências que querem apostar na mídia nacional, mas também a própria mídia nacional apostar numa qualidade que seja apelativa para que eu consiga ocupá-la com êxito. Porque posso estar a pôr publicidade, não estou a referir-me a nada específico, mas posso ter um determinado produto colocado num sítio, porque é angolano, que pode não ter a audiência para o produto ou mercado que se anuncia. Quando os estudos de audiência revelarem que canalizei uma verba importante do meu cliente pra nada, ele vai me pedir contas. Vai dizer você está a sugerir-me o desastre, você está a passar ao lado do canal correcto, o meu público não está alí. Acho que principalmente ao nível das nossas televisões tem que haver um olhar outra vez sobre os programas, nós não podemos só oferecer dança o dia inteiro, temos que ter programação que congregue. A Globo tem uma coisa que até caminhamos bem para lá, acho que neste aspecto estamos a fazer escola, que são as novelas, acho que estamos no caminho certo na parte da ficção, ainda não com a massificação, nem com a qualidade de história que eles têm, mas aí estamos a fazer caminho. Mas há muitos outros espaços da televisão que têm de ser observados de outra maneira para que possamos ter um maior leque de escolhas e eu saber que o meu público-alvo está lá.

Olhando outra vez para estes vinte anos, temos órgãos de comunicação social que alguns não serão boas janelas para quem se queira anunciar e, por outro lado, temos também um mercado pequeno de anunciantes, tal como é pequeno o mercado empresarial. Como é que se vive neste espaço, para não falar da concorrência que vem de fora?
Eu acho que há uma coisa que pode superar o lado mau. Nós sabemos que a concorrência está aí. Que a concorrência, estando na forma como vimos há bocado, nos é prejudicial. Nós temos duas formas de a combater, e as duas têm que ser feitas com competência: uma é fazer bem, tentar uma melhor integração dos nossos clientes com o mercado e, nós, como produtores de ideias, fazer consolidar os seus produtos e marcas. É ter competência, não há de haver lei nenhuma proteccionista que proteja a incompetência. Qualquer marca há-de discernir e distinguir o que é bom do que é mau. Tem que haver uma aposta clara das agências nacionais, por isso é que não gosto do discurso do coitadinho, porque acho que se deve passar a mensagem para dentro e dizer claramente nós temos que ser bons. Nós temos que analisar como podemos lá chegar. Não temos a preocupação de sermos maiores, temos é que ter a preocupação de sermos competentes. Acho que esse deve ser o esforço de todos os dias, olhar para a nossa organização e perceber onde é que temos que melhorar para darmos uma melhor resposta ao nosso cliente. Com esse esforço chega-se lá. Dou-lhe o exemplo do seu jornal, que é indiscutivelmente um bom jornal, que se lê. Há muitos jornais que tenho dificuldade em ler, pelo texto, pelo grafismo. O PAÍS, a única coisa com que tem de se preocupar é em ser uma publicação competente, porque é assim que é credível. Isto passa-se com as agências. Por outro lado, temos de fazer um esforço de levar as autoridades a olharem para a salvaguarda do mercado, de forma a que esteja defendida a competência, a independência, a fiscalidade. Isto obriga a que outros que aqui agora estão na qualidade de paraquedistas amanhã, se calhar, estejam já no efectivo devidamente incorporados e sejam socialmente úteis para o país. Socialmente úteis não é só fazerem campanhas para serem mostradas e ganhar dinheiro, é também serem parte contribuinte do bem-estar de todos nós. Acho que são estes dois combates.
Ao nível das agências de publicidade, nós, na Executive, entendemos que devemos levar muito a sério o projecto da reabilitação da Associação Angolana das Empresas de Publicidade e Marketing, como associação que olha de forma especializada para o mercado e que seja parceira das autoridades na proposta de atitudes, de pressupostos que defenda. Este é o papel da associação e este é o nosso papel como publicitários. Se cumprirmos estes dois desígnios, acho que nada temos a perder ou a temer com quem venha a bem, não devemos é abrir as portas a quem não esteja bem.

E neste mercado fala-se de crescimento, de empresas que nascem ou se instalam noutras províncias, fala-se do turismo que precisa de uma grande promoção, mas o que temos são uns poucos anunciantes de Luanda, normalmente institucionais, e nada mais. As agências de publicidade ainda não conseguiram mostrar aos empresários a importância de se fazerem anunciar?
Vamos imaginar que vende um produto de abrangência nacional, se estamos a falar de um sabonete, por exemplo, ele tem abrangência nacional. Se estamos a falar de uma empresa que produz chapa ondulada e distribui só no Lubango, o que vamos ver é que essas empresas fazem publicidade mas fazem ao nível local, utilizam os meios locais. Tem outro custo, o seu mercado é local e também não tem grande interesse em vir vender esse produto ao nível nacional porque isso vai ter outro custo. Há outra componente: hoje, cada vez mais, o cliente faz contas a vida e ele tem que perceber se a sua promessa tem um âmbito nacional ou não. Se é local apenas não vale a pena ir para um custo que se sobredimensiona. Vou muito às províncias e apercebo-me de muita publicidade nas rádios locais, mas realizo que se trata de publicidade local…

Nada tem a ver com o preço da publicidade?
Não. Hoje cada vez mais está menos. Porque, por exemplo a produção, eu vejo preços nas províncias, de produção de publicidade, absolutamente subvalorizados. E se formos ver à Huila, que já tem alguma produção publicitária e com um nível já interessante, não estamos a falar do top, mas já interessante, mas que tem um custo de realização que não pode diferir muito daquele que é o custo inerente à qualidade que tem. Mas eles subvalorizam-se. E se formos ver os meios, nós hoje temos preços de publicidade, de exposição, por exemplo, na mesma província, absolutamente baixos, quase uma oferta. O que também não é muito bom a prazo, porque amanhã esses preços têm que ser alterados e o anunciante está habituado a ter a sua publicidade quase gratuita. Até porque alguns dos veículos que publicitam vivem de dotações governamentais, mas tudo na vida muda. Estamos atentos ao que se está a passar em alguns países, os meios hoje vivem mais por si. Tem de haver uma melhor correlação do preço com o que se produz. Mas vemos que Benguela, Huambo, Huíla têm uma oferta limitada. É um Ngola que agora até já ultrapassou a fronteira da província, mas que não tinha produção para ultrapassar os limites da província da Huíla. E a publicidade se circunscrevia aí, e chegávamos ao Lubango e levávamos com a Ngola o dia inteiro. Tinha que ser assim. Outras cervejas, com distribuição no país inteiro, claro, utilizam outros meios, outros orçamentos, já usam a televisão, etc. porque se justifica e rentabiliza o esforço.
Vinte anos com muitos prémios?
Alguns

Como é que se consegue ser competitivo lá fora ao ponto de ganhar prémios, estando num país com problemas de electricidade, quadros, meios, e até com o problema da importância que o empresário dá à publicidade?
Somos uma casa que trabalha com marcas multinacionais, também trabalhamos com empresas do Estado, com causas nacionais, que nos dão imenso orgulho mas, em determinado momento, fomos confrontados com a necessidade de trabalhar marcas, marcas muito exigentes, que têm padrões mínimos de trabalho e que têm uma prática de trabalho multinacional. Nós somos obrigados, se as quisermos ter, a estar conformados com os padrões. Este foi um passo arrojado mas foi, do ponto de vista estratégico muito importante na nossa vida, porque nos levou a optar por um investimento para a qualidade. Em determinado momento rodeámo-nos de pessoas, estrangeiras, de grande qualidade, por esta casa passaram vários prémios de Cannes, publicitários que ganharam grandes prémios de Cannes.
E essa gente veio obrigada a dar formação. E tivemos também a preocupação de ter sempre uma fornada grande de quadros angolanos a trabalhar com essas pessoas. Tivemos sempre a preocupação de tentar saber onde é que estavam os nossos quadros angolanos, nós temos hoje, com imenso orgulho o nosso director criativo, o Cláudio Rafael, que é indiscutivelmente um dos melhores criativos que eu conheço, e não estou a falar só de Angola… e lembro-me que quando ele entrou encontrou uma equipa que tinha vindo fazer um trabalho para uma grande empresa angolana para o qual sentimos que não tínhamos ainda total competência, e o Cláudio foi imediatamente introduzido nessa equipa. Hoje, qualquer bom profissional que venha de fora é aluno desse indivíduo. É um orgulho para nós termos um angolano que é responsável por parte considerável das nossas premiações. A sua equipa tem competência. E essas competências foram sendo ganhas pela exigência do produto que tínhamos que apresentar. Hoje não temos receio nenhum em abraçar qualquer conta multinacional, temos várias. E somos auditados. Nós tínhamos que nos preparar para isso. Foi este o desafio a que nos lançámos, por isso é que é bom que as empresas angolanas aspirem uma determinada protecção, até porque foi fazendo bem que nós fomos tendo estes trabalhos , o que propiciou ter grandes equipas aqui, ter grandes formadores e hoje podermos olhar para a estação que temos ao nível da gestão de clientes, da gestão de tráfego, da gestão criativa e percebermos que não temos nada que seja menos do que aquilo que é bom lá fora. Os festivais são quase que um percurso normal quando se faz bom trabalho. Evidentemente, do bom trabalho que fazemos, olhamos para alguns e melhoramos para levar aos festivais, mas eles já são bons. Se não forem bons o cliente não os quer.
Estamos a comemorar, muito contentes, os vinte anos que temos, mas estamos também a fazer um exercício para os próximos dez. Estamos a ver onde é que somos menos bons, onde estamos menos bem, esta prática é feita de forma saudável, não derrubamos ninguém, aqui não rolam cabeças. Somos todos importantes, desde a senhora que mantém a limpeza até ao presidente do grupo. Todos nós nos estimamos muito e talvez aí esteja o segredo.
Também temos uma cultura de respeito pelo país, porque temos de respeitar o país que nos proporciona emprego, que nos proporciona trabalho, que nos dá mercado. E essa responsabilidade é incutida e absorvida tanto pelos quadros nacionais como pelos estrangeiros que aqui vêm. Os estrangeiros que vêm aqui são tratados muito bem, mas são completamente angolanizados, porque eles têm que compreender que se querem trabalhar numa agência angolana têm que perceber e abraçar o país que os acolheu.

Qual foi a primeira conta de grande cliente que recebeu e como a recebeu?
O primeiro cliente grande que entrou nesta casa foi a Toyota. Mas há um cliente muito especial que iniciou a Executive Center, foi uma história gira. Quando o Papa João Paulo II veio a Angola, e porque estávamos muito virados para as publicações, a ideia era fazer um livro sobre o Papa e sobre essa viagem, livro esse que ainda está nos meus projectos. Consegui fazer muita coisa menos aquilo que era a primeira que eu queria fazer. Tivemos um fotógrafo muito bom, do Namibe, infelizmente já falecido, que nos propiciou fotografia de imensa qualidade, algumas das quais publicadas na revista Austral da TAAG, e conseguimos convencer, na altura, a CEAST, a encomendar um conjunto de doze postais para cerca de trinta mil carteiras. Cada carteira continha doze postais da visita do Papa, devidamente seleccionados, com uma legenda atrás. Lembro-me que isso rendeu-nos qualquer coisa como sessenta mil dólares. Na altura era muito bom. E foi com esses sessenta mil dólares que comprámos o primeiro edifício da Executive. Esse foi o nosso primeiro trabalho.

Nasceram abençoados pelo Papa, ocorre dizer…
Acabou por ser. Depois vieram outros trabalhos, tivemos muitos livros, desde literatura infantil, os quarenta anos do MPLA, a série Kawika, os livros do Henrique Abranches, os do José Patrício, editamos o Rui Duarte de Carvalho… editamos uma série de livros e esses foram os nossos primeiros projectos.

Que é feito agora desta parte editorial?
A parte editorial agora está à parte. Resolvemos especializá-la, com a criação da Edicenter, uma empresa para produtos editoriais que está no seu início, que vai bem, tem a Economia e Mercados, faz a revista Austral, faz livros e monografias de províncias, tem projectos sazonais muito concretos, mas está a dar um salto muito grande.
O que de mais desagradável encontra na publicidade, nomeadamente na visual?
Há duas coisas que não gosto. Acho que a comunicação tem que ter a verdade do seu lado, desagrada-me quando vejo comunicação que não é verdadeira. Também me desagrada quando vejo poluição visual, quando não vejo ordenamento nas coisas. Uma coisa é mercado, outra coisa é ter ordem no mercado. Mas lá está a questão da regulamentação. Porque se não regulamentamos, não há de ser um governador, por muito interessante que seja, que põe ordem nas coisas, porque a seguir a ele vem um outro e depois outro. Temos que começar a pensar que temos que nos ordenar nos papeis. É como chegar a uma empresa e a empresa não ter os seus regulamentos, as pessoas podem fazer tudo porque nada as baliza. É como não haver legislação num país. Isso custa-me um pouco, até porque há um perigo claro que é tornar-se cultura. Nós temos esta experiência no nosso país em vários campos, e depois não conseguimos repor as coisas, porque é cultural. Depois é uma conversa de avô antigo com os netos que depois até questionam os princípios do avô, ele é que está errado porque a maioria tem outra prática. O velho não está bom da cabeça…

Como reage à linguagem, ao casamento entre a língua, a criatividade e a cultura? Há anúncios que nos levam ao dicionário e compêndios…
Até nós, publicitários, muitas vezes temos estes problemas. Hoje há um enquadramento na língua de expressões, algumas perfeitamente temporárias, mas que em determinado momento são adquiridas como quase verdades. Usando-as passa-se a mensagem, muitas vezes até mais facilmente. Os publicitários têm o condão de usar essa vertente. Mas não deixa de ser, para mim, uma preocupação, o bom uso da língua e a preservação desse bom uso. Mas digo-lhe que isso começa na escola, nós temos que ter uma escola primária que padronize e que forme no melhor dos sentidos. Quando temos uma ausência de qualidade na escola primária, este fenómeno que está a referir, também naquilo que ele tem de negativo, tende a aumentar.

E nos casos em que cria um bom anúncio, ou uma boa campanha para determinado produto e depois se descobre que o produto não é o que o cliente disse e não tem o que se anuncia?
Isso deve ser uma frustração enorme. Eu acho que as agências não podem trabalhar pelo custe o que custar. Tem que haver um sentido ético e verdadeiro nas coisas. Nós na Executive temos este cuidado. O dinheiro é importante, mas o dinheiro não pode comprar tudo. O dinheiro não nos pode levar a tudo na vida, nós temos valores, e no nosso DNA estes valores estão lá, claramente. Se nós sentimos que há uma tentativa de vender um gato por lebre é dever da agência posicionar-se. Essa história de dizer que a culpa é do cliente porque apenas sou o arquitecto de ideias para fazer vender o produto é o mesmo que aceitar ir vender um crime. Mas isso mora em cada uma das casas, deve morar em cada uma das direcções, cada casa tem as suas regras. Acho que deve haver autorregulação no mercado, temos de criar mecanismos que reajam. Voltamos ao exemplo do Brasil, que tem um órgão que se chama CONAR. Grande parte das agências, quando estão a trabalhar material sensível, normalmente sujeitam primeiro ao CONAR as suas campanhas antes de as pôr na rua. Porque eles já sabem que o parecer do CONAR, que não é vinculativo, é, normalmente, um parecer fundamental. Quando se tenta fugir muito ao CONAR, e houve N exemplos, há, depois, azares. É preferível não os ter, pois o custo é muito maior. Para a marca e para a agência.
Temos que formatar o nosso mercado de forma a que aceite, e as agências devem trabalhar para isso, mas não só elas, para termos regulamentação e procedimentos que levem a que o nosso mercado publicitário seja cada vez mais um mercado sério, porque estamos a veicular ideias, apelos, estamos a induzir pessoas a comportamentos e a consumos. Isso tem de ser feito com responsabilidade.

No plano político, quando temos eleições, ou mesmo na gestão da imagem de políticos e de partidos, vai tudo ao Brasil ou aos Estados Unidos da América…
Temos de ser honestos. Temos no país agências com complexo interior absolutamente adequado às necessidades de uma campanha política? Se calhar não. Vamos ser honestos. Mas temos que um dia as ter. e a forma de as ter é elas serem lançadas nesse mercado. Há uma coisa que de que me orgulho, fizemos este projecto com a ORION, que foi por duas vezes consecutivas termos feito a campanha da CNE (Comissão Nacional Eleitoral) e os resultados, do ponto de vista qualitativo, foram visíveis, os consultores que vieram contratar essa eficiência foram claros. Foram duas empresas angolanas, pedimos aos cidadãos que reflectissem sobre a sua cidadania e sobre o dever que essa cidadania lhes pedia ao irem votar. Não fizemos a campanha de nenhum partido.
A qualidade foi tanta que tornou-se um case study e foi utilizada noutros países. E não tivemos assessores estrangeiros. Foi uma equipa nacional, fomos buscar até outras componentes fora da agência. É preciso que haja a preocupação de introduzir agências nacionais neste mercado. Mas as agências devem especializar-se. São campanhas com muitos custos, que exigem sondagens, estudos de opinião, uma grande equipa e muita especialização. Deus queira que um dia possamos ter as nossas.

Mas seria bom que se legislasse sobre isso, não acha?
Eu sei que em Moçambique, por exemplo, a FRELIMO já usou por duas vezes uma agência nacional para fazer a sua campanha e ganhou. Deu resultados. A agência pode até ser determinante, até para causar uma mudança de opinião, e é preciso saber, é preciso ter muita competência, mas os eleitorados também se ganham com as práticas do dia-a-dia.

Está a olhar para os dez anos, disse-o já. O que teremos nestes dez anos?
Queremos continuar a ser uma empresa respeitada, uma empresa com referência angolana, queremos ser uma empresa a olhar para a região e perceber que tendo qualidade aqui podemos fazer a mesma qualidade noutros sítios, com humildade e com a observância das regras elementares para saber criar valor acrescentado com pessoas desses sítios, não temos a intenção de desembarcar no território dos outros, temos a intenção de levar a marca para, com pessoas locais , podermos ter uma Executive Moçambique, uma Executive Zâmbia… é um sonho, mas esta casa foi feita de sonhos, é a coisa mais barata que a gente tem. Mas estes dez anos têm de ser alicerçados a partir de dentro. A preocupação agora é como tornar  sólida a Executive.

Há vinte anos mal tínhamos publicidade, como se decide avançar para aí?
Primeiro é preciso ter um sonho, perceber o que temos, o ambiente em que se está e o que é preciso para avançar com a ideia. As pessoas que temos que ter, os meios financeiros e que passos temos que saber dar. E tudo com muita vontade, sem vontade não vamos lá, se fizermos isso, se calhar depois de vinte anos temos uma coisa criada.

Mas começa-se num espaço em que tudo são surpresas.
Acho que quem um dia sonhou ser independente deve ter tido um grau muito maior de dificuldade, mas o processo é sempre o mesmo: eu quero ser. Como é que eu consegui ser independente? Provavelmente foi uma conversa que reuniu sensibilidades de milhões mas que provavelmente foi uma conversa a dois ou a três. O passo a seguir era o quê, se calhar foram mil reuniões, hoje com um, depois dom dois, e depois dezenas. Depois os custos disso tudo, as fugas, as prisões, as mortes, etc., por isso é que costumo dizer aos nossos amigos estrangeiros que nós somos de uma geração que tem a noção exacta do custo de uma ideia. E se calhar a melhor ideia de todas foi a ideia da independência. Essa deve ser a ideia mãe para todas as outras ideias. Sou daquela geração a quem se pediu para largarmos temporariamente os estudos e virmos fazer o país. Foi uma grande ideia. Os sacrifícios, as frustações, os óbitos, as pessoas não têm ideia, nem nós que vivemos na pele. Foi uma grande ideia, a mãe de tudo, nem a Executive existiria sem esta ideia.

E há uma rádio lá no fundo da lama ainda?
Se um dia voltasse ao jornalismo activo talvez fosse fazer rádio, não sei, mas gostaria de fazer jornalismo de investigação. Agora, vinte anos depois, digo aos meus camaradas que gostaria de voltar ao activo, que me libertem um pouco, eu sou jornalista e serei jornalista até morrer, o gestor foi uma passagem.

Por: José Kaliengue
fonte: opais.net

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