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NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!... A invasão e o massacre de Gaza, uma espécie de campo de concentração...

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

De Angola para o mundo -> Lucas Ngonda : ‘O primeiro obstáculo é a imprensa’.

NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!...

Antes de mais deixe-me dizer que já tive uma má experiência com o jornal O PAÍS, o jornal já me tinha entrevistado, uma vez destas… eu não gosto de entrar no jogo que põe a FNLA, ela própria, frente a frente, eu não me presto a este tipo de jogo. O jornalista que me tinha entrevistado, já não me lembro de quem foi, disseme que seria uma entrevista para explicar determinadas situações e eu chamei-lhe a atenção: se neste jornal aparecer o Kabangu a contrapor o que digo eu vou denunciar isto, não é correcto; se querem entrevistar o Ngola Kabangu entrevistem-no quando e como quiserem, ele é livre de dizer o que quiser, eu também sou livre de dizer o que quero, mas não quero que ele reaja à minha entrevista. Não me presto a este tipo de jogo. Mas, finalmente, o nosso jornalista acabou por fazer o que lhe tinha pedido que não fizesse. Esta é a atenção que lhe chamo.
Neste momento estamos numa nova fase. Recorremos todos aos tribunais, obtivemos respostas… ou em Angola há instituições que devem ser respeitadas ou não há e estamos todos à toa dentro deste país. Mas um país sem justiça como vai? Cada um manda e ninguém faz nada. Portanto, temos que cumprir com as decisões saídas do Tribunal. O Tribunal analisou profundamente a questão, tanto que são dez anos que durou o processo nos tribunais e agora temos o resultado.

Vamos começar exactamente por aqui. Era inevitável que corresse tanto tempo nesta crise da FNLA, não haveria forma de se mostrar flexibilidade nos vários lados da FNLA?
Esta questão remete-nos há uns dez anos atrás, são aquelas questões que surgiram no princípio… se era inevitável… bom, penso que em todos os conflitos começam sempre por conselheiros (a busca de solução), passa-se à mediação e da mediação passa-se ao sistema de arbitragem. Nós passámos por tudo isto e vimos toda a gente também, todos, as entidades conceituadas, desde bispos… e a iniciativa foi sempre nossa, mesmo no tempo em que o velho estava em vida. Nós não temos aqui nenhuma carta, ou do falecido velho, ou do outro irmão que está aí a dizer “irmão, vamos ver se resolvemos este problema”. Todas as cartas que existem, mesmo em tribunal, são cartas que nós escrevemos, para tentar. E esperávamos que os outros tivessem o mesmo gesto.
Mesmo quando o processo chega à Assembleia Nacional, essas propostas foram feitas por nós. Os mediadores foram nossas propostas; por exemplo, quem indicou o padre Kondjimbi fui eu, quem indicou o Dom Kahango sou eu. Indiquei-o porque sou amigo do Dom Kahango e o velho era amigo também do Dom Kahango, era nosso amigo comum, que nós estimamos e temos muito respeito. Ele aceitou…

Havia amizade, antes da crise entre si, Holden Roberto e Ngola Kabangu? Uma amizade que se deterioraria com as posições de cada um ou nem por isso?
Qual é o vosso interesse em ressuscitar isso?

É que onde há amizade as coisas resolvem-se mais facilmente…
Para que levantar este tipo de debate?

Acabou de falar na amizade que os unia a Dom Kahango…
Mas o debate em torno da crise, qual é o vosso interesse?

Não quer esclarecer as pessoas que não sabem, que querem compreender melhor?
Mas quem não sabe?

O senhor tem uma posição, Ngola Kabangu tem a sua, há que colocá-las para esclarecer…
Se é para ressuscitar o debate é melhor não continuarmos com esta entrevista.

Não se pode negar a crise…
A posição do Ngola Kabangu é a posição que foi transmitida ao Tribunal, a minha é a posição que foi transmitida ao Tribunal. Essas posições tiveram o respaldo do Tribunal (Constitucional), ponto final.

Não vai impugnar, ou inviabilizar, por exemplo, o congresso que Ngola Kabangu está a preparar?
Isso já não é falar do passado, é o hoje.
Isto é questão para o Tribunal que faz cumprir as suas leis, eu vou impugnar o quê?

O congresso será feito em nome da FNLA
Quem proíbe o Ngola Kabangu de realizar o congresso ou qualquer actividade em nome da FNLA, fora do grupo parlamentar, é o próprio Tribunal. Há o acórdão 135…

Não o inquieta que se esteja a realizar um congresso em nome do seu partido?
É o tribunal, até porque esta entrevista deveria ser com o tribunal, não comigo, os senhores deveriam ir ao
Tribunal perguntar porquê que os senhores decidiram assim? E o Tribunal deveria dar todas as explicações. Não é o Lucas Ngonda. O Lucas Ngonda está aqui para cumprir as determinações do Tribunal. Mas ainda pergunto, qual é o interesse que vocês têm? Este vosso jornal O PAÍS, eu sei que n’O PAÍS nós não temos amigos, não temos amigos n’O PAÍS. Não precisamos de ter amigos, mas jornalistas que tratem as questões cientificamente, jornalistas que estejam à altura do jornalismo que nós conhecemos no mundo. Agora o jornalismo de intrigas e não sei quantos mais, eu não sou muito amigo disso. É a minha posição pessoal, não é arrogância da minha parte, mas sempre fui assim. E eu não tenho nada a esconder, sou aquilo que sou. Em toda a vida fui assim, não dou falsas aparências, quando não gosto de uma coisa não gosto. E isto quer dizer que o vosso jornal quer aparecer outra vez Lucas Ngonda disse, Ngola Kabangu disse… isso não. Isto foi a razão porque chamei a atenção, se a intenção é esta, esta entrevista já não tem razão de ser.
Estamos aqui para o ouvir e fazer perguntas, é uma entrevista.
Exactamente. Sé há outro tipo de questões posso responder, mas se volta tudo ao … eu já não tenho mais que falar do Ngola Kabangu…

Não falemos de Kabangu, falemos do grupo parlamentar que ele dirige, nas suas relações institucionais com o Parlamento. Como encara a questão do grupo parlamentar da FNLA?
O presidente da Assembleia recebeu-nos, discutimos com ele o problema do grupo parlamentar. O que o presidente da Assembleia disse é que, em princípio, este problema não depende da Assembleia, depende do próprio partido. Nós escrevemos uma carta, para o vosso conhecimento, ao Ngola Kabangu, como o grupo parlamentar do partido deve vir nos ver, para discutirmos as questões, porque a direcção do partido é esta. E nós estamos à espera, a carta foi, marcámos o dia em que ele deveria estar aqui, 16 de Novembro, Ngola Kabangu não apareceu. Nós temos outras demarches a fazer. Este é o processo do grupo parlamentar que não se quer submeter
FNLA não tem deputados
“… e no caso da FNLA, um partido político reconhecido pelas instituições do Estado, não tem deputados no parlamento e os deputados avançam posições que não são as do partido, esta questão o próprio parlamento é que deve reflectir, não somos nós”.

Isto complica a mensagem que a FNLA quer passar à Nação, tem de agir fora do parlamento, fica complicado para si…
Fica complicado. Mas a complicação não é só nossa, a complicação é também para o próprio parlamento.
Se os partidos políticos representados no parlamento são estes partidos que devem opinar sobre as grandes questões da Nação, e no caso da FNLA, um partido político reconhecido pelas instituições do Estado não tem deputados no parlamento e os deputados avançam posições que não são as do partido, esta questão o próprio parlamento é que deve reflectir, não somos nós.

Não se deveria dizer que a FNLA tem, de facto, deputados no parlamento, eleitos em nome da FNLA, mas…
A FNLA tem deputados no parlamento

Mas em dissonância com a direcção do partido, infelizmente...
Sim. Mas isto é uma situação… a UNITA já teve problemas com os seus deputados. Estou a recordar-me de alguns deputados a dizerem que a UNITA era o nosso pão, era não sei mais o quê. É um problema que a UNITA teve, mas certamente conseguiu terminar com o conflito, tal como o fará a FNLA.

Os senhores tiveram há dias a segunda reunião do comité central, reuniram o bureau político… não é pouco para uma organização?
Como?

Não transmite a ideia de haver pouco contacto com as bases?
Pouco porquê? Nós fizemos o 15 de Março, por exemplo, no Uige. Tivemos uma série de reuniões com o Executivo. Os nossos delegados provinciais promovem actividades em toda a parte. Agora, que a imprensa não transmite, isso já é uma questão de nos interrogarmos o que é isto de termos uma imprensa tão selectiva…
• Olhando para os dados, o que se encontra reportado nestes anos são duas deslocações para fora de Luanda, uma ao Uige e outra a Benguela.
Eu já me desloquei várias vezes, eu já fiz deslocações, no quadro do exercício da minha profissão, contactar militantes e tudo em Cabinda, várias vezes. Nunca a imprensa referiu-se a isso.
No quadro da sua profissão, mas não tem tido acções partidárias, de massas, mais abertas… Acções de massas mais abertas tivemos em Benguela. Estivemos em Ndalatandu, estivemos agora no Uige, mas também aqui a imprensa não disse nada. Fizemos isso, inclusivamente visitei as autoridades. Em qualquer um desses actos visitei as autoridades provinciais e isso não saiu nos jornais, na rádio não saiu. O vosso jornal até, em certas acções, não tinha nascido ainda, não havia O PAÍS. Então, quer dizer que esta questão que está a levantar deve ser posta ao comportamento da vossa profissão em relação aos partidos políticos da Oposição.
Sabe porquê?

E não pode ser do vosso comportamento em relação à imprensa?
Não, nós sempre convidamos a imprensa. Imagina que quando eu fui a Benguela até levei num jornalista, quando fui a Ndalatando levei um jornalista. O jornalista que nós levámos, foi o Francisco Kabila que foi connosco a Ndalatando e a Benguela foi o Carlos não sei quê, não me lembro... Não disseram nada! Eles acompanharam, fizeram fotografias, fizeram tudo, mas cá postos, nem uma linha saiu na imprensa. Fomos ter com eles para saber o que se passava, disseram que não, nós queríamos escrever mas os directores dos jornais não querem publicar.
Então o problema não é da FNLA, o problema é da vossa filosofia…

Acha que há um complot contra a sua direcção?
Eu não diria complot, é que a imprensa angolana não exerce a sua missão profissionalmente. Como historiadores do presente deveriam ser mais imparciais, buscar a informação que convém buscar, de facto.
Mas a impressão que tenho da nossa imprensa, no geral, porque há órgãos de informação que já estão a tentar especializar-se, quando emitem uma opinião, a gente lê, aqui há jornalismo. E há outros que quando emitem uma opinião a gente vê que não é o jornalista que está a falar, é alguém que quer avançar um boato qualquer, e grande parte do jornalismo angolano é assim. Quer o jornalismo falado como o jornalismo… a única informação que é importante é aquilo que o Bento Bento fez, é aquilo que o comité do MPLA fez não sei aonde… aquilo pode passar uma semana.

Isso não é culpa da própria FNLA, partida… o que se soube da FNLA é aquilo que o senhor não quer falar, a tal crise.
E porquê que da FNLA só se tem de falar da crise se nós temos uma série de actividades? O senhor acha isso justo?

Dão outro motivo?
A imagem que vocês projectaram à sociedade angolana é a imagem de uma FNLA desfeita. Nós estamos a tentar reconstruir e vocês querem permanecer nesta imagem, porque isto vos arranja…

Mas o normal nos partidos é ter uma única direcção, uma voz…
Nós agora temos uma única direcção. Há uma única direcção. Se alguém pensa que o Kabangu tem uma outra direcção, este é problema da pessoa. Se o vosso jornal pensa assim é problema do vosso jornal. Mas nós, hoje, temos uma única direcção…

Hoje…
A direcção que se responsabiliza pelo partido, que responde e que vai responder sempre, é esta. Que foi reconhecida agora pelos tribunais.
Se os tribunais de Angola não têm valor, isso não é problema do Lucas Ngonda… Porquê que a reunião do comité central foi no CICA, Hoji Ya Henda, em vez do Futungo, como noutras vezes? Qual é esta insinuação? Porquê que temos de nos reunir sempre no Futungo, o Futungo nos pertence?

É hábito
O Futungo nós tínhamos alugado.
O secretário-geral, sabe o que tinha sugerido? Foi ideia dele, nós não tínhamos lugar para nos reunirmos em 2006, é aquele senhor que está aí… ele tinha um amigo e disse que no Centro do Futungo recebem religiosos, recebem todos e que, também, é barato.
Então nós fomos lá parar, não tínhamos meios e, como era mais barato albergarmos lá toda a gente que vinha das províncias e os nossos militantes, então conseguimos, efectivamente, resolver o problema. Mas não houve porque é o MPLA que nos deu isso.
Isso só passa na cabeça da imprensa intriguista. E porquê que não fizeram uma investigação aturada, científica, para apurar a verdade? Interessa-vos só o boato disso e daquilo, aí é que está o problema. Já nos reunimos na FILDA, a FILDA pertence a quem? Não pertence ao MPLA? O Arquivo Histórico não pertence ao MPLA? Estes talatonas, tudo, não são do MPLA? Então onde é que está o mal? Isso é intriga, pura e simplesmente, não é outra coisa. E isso não é fazer jornalismo. Andar atrás deste tipo de problema é complicar o problema de Angola.
E, sobretudo, levantam-se acusações gratuitas, o que não é correcto, não tem qualquer fundamento, mas como o que a imprensa diz é o que é acreditado… como se diz em França, le jornal a escrit e não sei quantos mais… não é um bom jornalismo assim, porquê que nós tínhamos de ir outra vez ao Futungo? Não temos de ir outra vez ao Futungo, encontramos, consoante as possibilidades… até porque nos teríamos reunido no Kimbango, mas eles, à última da hora, precisaram da sala.
Era para irmos ao Museu de História Natural, mas tudo estava fechado, a Liga Africana também estava ocupada, fomos parar ao Hoji Ya Henda, estava livre. A nossa reunião não poderia ser adiada outra vez por falta de sala. Não é questão de simpatia desta ou daquele, é uma questão de oportunidade e dos meios de que dispomos.
‘Queremos homens honestos, patriotas’
“Nós fizemos um despacho a suspendê-los de todas as actividades por indisciplina qualificada e levamos o problema ao comité central que analisou tudo e disse que o Pedro Gomes não pode ser suspenso, nem expulso…”

Entretanto, esta reunião, entre outros, criou um facto de interesse jornalístico que foi a suspensão de dois militantes… Dois não, mais.

Mas dois são militantes importantes mesmo, o Carlinhos Zassala e a senhora Fernandes.
Sim, importantes.

E isso não vai abalar ainda mais o partido quando deveria juntar as forças?
Sem a palavra crise...
Não. Juntar as forças mas separando o trigo do joio. Isto é importante, para qualquer força política. Vamos ver as histórias de todas as forças políticas… o senhor Carlinhos Zassala, por exemplo, nós o recebemos de braços abertos, trabalhámos com ele durante um certo tempo, como irmão, e quando eu me deslocasse para a Europa, das duas vezes em que me desloquei, eu designei-o para ficar no meu gabinete e no site estava mesmo como conselheiro do presidente do partido.
E a este título nós trabalhámos juntos.
Porquê? É que nós estávamos a pensar no sentimento da irmandade, da unidade do partido. Isto satisfazia-nos, porque, de facto, nós queremos, até hoje, é trabalhar com pessoas sinceras, com pessoas honestas e responsáveis.

Zassala não foi honesto nem responsável?
Isso não me compete dizer, os senhores é que devem constatar.
Primeiro começou a criar dificuldades para o congresso, acabámos por ir a congresso, com todas as precauções que a mediação tinha tomado…

E o senhor ganhou o congresso, foi eleito…
Não quero falar ainda se eu ganhei ou não, mas quero chegar à história.
Fomos ao congresso, cuja preparação obedeceu a todos os critérios das exigências de todos os candidatos, todos. E um dos grandes exigentes é o Dr. Zassala. Obedecemos todos os mesmo critérios. Realizaram-se as eleições, ele reconheceu o congresso, reconheceu quem ganhou as eleições, as declarações os senhores escreveram, como jornalistas, estão lá nos vossos jornais, é uma questão de irem ver… ou se omitiram não sei, mas pelo menos na altura eu li as declarações de cada um dos candidatos. E pela primeira vez um partido político teve quatro candidatos, qual é o partido em Angola que já fez isso? A UPA, a FNLA, é sempre o partido da primeira hora.
Fica registado na história dos partidos políticos que nós fomos os primeiros, em Angola, com quatro candidatos.
Porque queríamos terminar com toda a confusão, dois dos candidatos eram mandatados pelo nosso irmão. Um deles é o Fernando Pedro Gomes, o outro é o Miguel Damião que fazem parte do comité central e da direcção dele. Vão lá se candidatar… e vieram.
Nós aceitámos. O Zassala também fazia parte do comité central e do bureau político de lá. Os três candidatos vieram de lá. E nós aceitámos isso.
Porque pensávamos que estávamos a fazer a unidade do partido.
Findo o congresso, fomos ao comité central, organizámos a nova direcção do partido, onde o irmão Carlinhos Zassala ficou como secretário para a educação e cultura, tomou posse, temos o acto de posse assinado por ele. Todos esses que foram nomeados tomaram posse. Se tomaram posse deveriam trabalhar. Nunca puseram os pés no partido. Qual foi a minha constatação… eles fizeram uma reunião e decidiram que passariam a ser a direcção do partido, que esta direcção já não tinha valor nenhum. Ressuscitaram uma comissão catalisadora que não existe em nenhum lado dos estatutos. Catalisar mais o quê? Então esta pessoa está à procura de quê? Vai continuar nas instâncias do partido? Não. Nós fizemos um despacho a suspendê-los de todas as actividades por indisciplina qualificada e levamos o problema ao comité central que analisou tudo e disse que o Pedro Gomes não pode ser suspenso, nem expulso…

Porquê?
Ele escreveu-nos uma carta, explicou as suas razões e isto é assim. É o que o estatuto diz, o militante que se retracta não há razões para medidas punitivas contra ele…

Não acha mesmo que estas medidas, tão perto do processo eleitoral, vão, de alguma forma, fragilizar o partido?
Não fragiliza coisa nenhuma.

Não?
Não.
São homens que fazem opinião…
O que fragiliza é termos dirigentes que não trabalham e que passam a vida a fazer intrigas no seio do partido. E é isso que nós, doravante, não queremos. Queremos homens honestos, patriotas, que conheçam, de facto, a situação do partido e que estão de acordo com o trabalho do partido que queremos fazer.

Se for a eleições em 2012, sem Carlinhos Zassala, sem Laíz Eduardo, sem Ana Maria Fernandes, não sente que perde alguns capitães?
Penso que não. Os que foram suspensos por razões disciplinares, talvez, mas os que saíram voluntariamente, a FNLA não pode obrigar alguém a ser seu militante, não podemos dizer ao senhor jornalista que …

Mas eles podem arrastar votos para fora …
Mas isso é normal. Nós estamos a trabalhar para, mesmo com os arrastos, a FNLA vencer. A FNLA vai vencer. Temos confiança no trabalho que nós vamos fazer. Que as pessoas, por opções próprias, adoptaram outras posições, isso é normal na vida de todas as instituições.

O acórdão do Tribunal é deste ano, tem agora de renovar esforços para atingir os seus objectivos, havendo sempre obstáculos, certamente… na política temos, digamos, sempre adversários…
O primeiro obstáculo são os senhores.

Nós somos o primeiro obstáculo?
Sim

Sim senhor!!!
O primeiro obstáculo é a imprensa…

E o que pensa fazer para vencer este obstáculo?
Apelando à vossa consciência. Se de facto sóis jornalistas com uma missão nobre a cumprir ou não. Isto cabe-vos pensar.

E o seu grande adversário neste momento?
Quem é o adversário?

Não tem adversários políticos?
Adversários temos nós todos. Todo o homem que faz política tem adversários.

Quem é o seu grande adversário?
Mesmo o senhor jornalista, a partir do momento em que não apoia a minha causa, passa a ser adversário, apesar de ser jornalista. E, certamente, quando publicar o seu artigo, vai meter tudo em sentidos muitas vezes que não esperávamos. O homem político encontra adversários em todo o lado.

Daqui só vai sair o que diz…
mas tem adversários políticos, noutros partidos políticos … Os adversários políticos é normal para quem faz política. E nós vamos lutar com as armas que temos.
‘Podemos fazer é uma apreciação daquilo que o mPLA está a fazer como governante do país”
“Não haverá um partido político que assuma o poder em Angola e vá recusar a reconstrução nacional começada pelo mPLA”.
O MPLA é seu adversário?
Nós somos partido de Oposição.
A FNLA é um partido de Oposição.
E desde sempre foi um partido de Oposição.

Quais são os principais pontos em que não se encontra com o MPLA, em que é que acha que o MPLA está bem e o que é que acha que está mal?
O MPLA tem o seu programe e a FNLA também tem o seu programa.
Ontem, do ponto de vistas ideológico, eles eram comunistas, nós nunca fomos, somos liberais e democratas.
Hoje nos encontramos todos na democracia… para dizer que, finalmente, a FNLA, do ponto de vista histórico, ideologicamente, nós vencemos.
Porque pregamos que a democracia era o melhor sistema de governação dos países. Hoje, o MPLA alinhou-se também no domínio da democracia, nós não mudamos ainda de ideais… agora, se o MPLA mudou nós não sabemos…

Isso quer dizer que agora pensam da mesma forma?
Não. Não podemos pensar da mesma forma, ou não haveria MPLA e FNLA, haveria ou o MPLA ou a FNLA.

E quais são, para si, os principais erros da governação do MPLA?
Eu não falaria de erros, um homem políticos não diz que isto é erro, aquilo é erro. Podemos fazer é uma apreciação daquilo que o MPLA está a fazer como governante do país. É o que podemos fazer, mas não podemos dizer que aquilo aí é erro, um homem político não se exprime assim. Podemos fazer uma apreciação, do nosso ponto de vista, o que está bem, o que está mal… os projectos que o governo está a implementar, quais são as consequências… isto cabe na nossa reflexão.

Pergunto-lhe porque não tendo consonância com o grupo parlamentar terá de fazer mais oposição visível cá fora, o que vai ser difícil, não?
Mas sempre fizemos. Assumimos sempre as nossas posições. As posições no parlamento estão isoladas. São posições isoladas porque não têm respaldo aqui, a formação política reconhecida por lei.

O senhor lidera um partido que deve ter, obviamente, um plano, uma mensagem para o país. Para um cidadão normal o que lhe diz, quais são os ideais da FNLA para Angola neste momento?


Como vê Angola, como a pensa, no programa da FNLA... se quiser o meu voto, como me convence?
A consolidação da democracia, por exemplo, é uma batalha que é um processo. A reconstrução de Angola nos moldes que a FNLA pensa, por exemplo, é outra coisa. Não haverá um partido político que assuma o poder em Angola e vá recusar a reconstrução nacional começada pelo MPLA. O MPLA começou porque é dever dele também, senão faria o quê?

E o MPLA está a conduzir bem a reconstrução?
Bem ou não, nós podemos fazer uma apreciação. O certo é que há uma reconstrução, estamos a andar nas estradas… as estradas tinham sido destruídas, as pontes também foram destruídas… e qualquer força que vier aí vai construir pontes, vai continuar a fazer estradas pelo país, a criar caminhos-de-ferro, tudo isso.
Não penso que alguma força política se recuse a isso. Agora as formas de o fazer, os compromissos assumidos para fazer isto, no nosso entender, é aí que os problemas podem existir, mas isso é da responsabilidade de cada partido que estiver a fazer as coisas.

Vê-se a alinhar numa frente mais ampla de Oposição em 2012?
Mas se nem vimos o que é que esta Oposição representa, como é que vamos alinhar? É capaz de integrar uma… Agora não há elementos…

É capaz de integrar uma coligação?
Não há elementos de apreciação.
Tem de haver elementos de apreciação…

Temos partidos de Oposição…
Nós sabemos que os partidos de Oposição existem. Cada partido tem os seus ideais. Sabe porque digo isso? Porque eu fui um dos construtores do antigo Conselho Nacional da Oposição. Fui um dos construtores. Fui uma das pessoas que conduziu aquilo ainda no tempo em que tínhamos na retaguarda o velho Holden … e me designou para eu conduzir aquele processo…

Desiludiu-se?
Desiludido não fiquei, mas tiramos conclusões. Andámos todo aquele período de transição, depois de Bicesse, a construir uma oposição que pudesse falar a uma única voz. Quando chegámos e isso foi no Hotel Trópico, se a memória não me falha -, quando chegámos no momento de a Oposição designar o seu candidato, quem será o candidato, que faça peso na Oposição … e quem tinha, naquela altura, a imagem do Holden Roberto? Dos angolanos que existiam quem é que tinha a imagem do Holden Roberto? Se não era o melhor candidato? Mas não, essa oposição desfez-se.
É a partir daí que o Conselho da Oposição também deixou de funcionar, para depois se criar os POC.
Uns foram buscar alguém, não quero citar nomes, outros foram na UNITA, outros entraram na coligação com o MPLA e a FNLA ficou sozinha. Fomos a eleições sozinhos, não tivemos amigos, não tivemos aliados, nas eleições de 1992. Então, eu tenho experiência, é o que estou a dizer…

Então não se vê a coligar-se com outras forças em 2012?
Não é o que estou a dizer, que não me vejo. Eu estou a dizer que neste momento em que estamos nesta entrevista não há elementos de apreciação, não há elementos que possa analisar. Não temos ainda as tendências políticas, só estamos a ouvir discursos na dispersão. Nem se falou das tais eleições e em que moldes é que vão decorrer. Como é que podemos dizer eu vou fazer coligação com a Oposição, qual Oposição? Temos elementos de apreciação das forças políticas para podermos dizer se vale ou não fazer coligação?

Vai realizar mais um congresso antes das eleições?
Não. Normalmente, em termos dos estatutos do partido, é a conferência nacional que terá lugar.

É aí que se vai delinear a estratégia eleitoral?
Delinear a estratégia, a campanha eleitoral, ratificar a lista concorrente, os candidatos, ratificar o candidato à Presidência da República porque agora a Constituição mudou mas os nossos estatutos continuam os mesmos… estes são os problemas que a conferência nacional trata.
Não trata dos problemas do partido, trata de problemas que têm a ver com situações do momento, com as circunstâncias. Neste caso, as eleições, devem passar pela conferência nacional.

Como é que vai lidar com o problema, que não é apenas da FNLA, que é a dificuldade em recrutar jovens? Mas quem disse a si que nós temos dificuldades em recrutar jovens?
Quem lhe disse que nós temos dificuldades? Sabe porquê que lhe faço esta pergunta? Porque a gente lê os vossos jornais, as insinuações todas…nas províncias domina não sei quem… tudo isso. Mas quem lhe disse que temos dificuldades em recrutar jovens? No dia da nossa Juventude será convidado a aparecer, e o vosso defeito é que não vai aparecer, para ver a verdade à luz do dia. Não vai aparecer, como muitos que nos criticam mas quando os convidamos para um evento não vão, preferem escrever à porta fechada. Nós não temos dificuldades em recrutar jovens, apesar das campanhas que existem aí, daqueles que têm muitos meios, mas nós não temos dificuldades em recrutar jovens, e muito menos ir ao ser encontro, pelo contrário.
Agora, com esta clarificação da situação do partido … é pena não ter vindo de manhã, tivemos cá um grupo de jovens, da direcção. Há dois ou três dias estavam reunidos aqui, a formar as suas estratégias. Estão a preparar uma conferência provincial.
Vão cobrir a conferência provincial e verão se temos ou não jovens. O que vos faz dizer estas coisas? Aí é que está, está um jornalismo científico é importante no país, porque os senhores são os primeiros historiadores.

‘A FNLA vai para ganhar as eleições’ “mas se ainda nós não trabalhamos para isso, isso não é ser muito apressado, começar a dizer o número de deputados?”

Quantos deputados é que o senhor acha que a FNLA elegerá nas próximas eleições?
Mas se ainda nós não trabalhamos para isso, isso não é ser muito apressado, começar a dizer o número de deputados? Um homem político…

O homem político tem ambições…
A única coisa que podemos dizer aqui é que a FNLA vai para ganhar as eleições. E ninguém irá lá para perder, vamos aplicar todos os nossos esforços, na dimensão do nosso partido…

Olhando para a história recente da FNLA, para a situação actual do país, qualquer pessoa que o ouça dizer que vai para ganhar é capaz de perguntar se está mesmo a falar a sério.
Eu estou a falar a sério, estou a falar a sério. Porque não? Porque não? Eu tenho confiança no povo de Angola, está a ver? Que nem todos seguem a politização dos jornalistas, não. A politização do dia-a-dia, nem todos seguem. Há povos que têm consciência daquilo que podemos … enfim, não quero tirar outros exemplos. Mas uma coisa é a consciência daquilo que as populações pensam e a outra coisa é aquilo que nós possamos… o julgamento que nós podemos dizer…

Não acha que dá mais votos atacar, claramente, as políticas do governo e divulgar as suas estratégias, os seus pensamentos, que, e nesta entrevista já o fez três ou quatro vezes, atacar os jornalistas?
Os jornalistas não lhe tiram votos, não concorrem consigo, não são seus adversários políticos.
Eu não estou a atacar o jornalista, estou a dizer aquilo que a gente sente com o jornalismo em Angola. Estou a dizer aquilo que a gente sente. Quer dizer, se nós fizermos estatísticas…

Está sempre aberto a dar entrevistas?
Porque não? Eu sempre dei entrevistas, por isso aceitei a sua, apesar das golpadas do vosso jornal OPAÍS… eu creio que a pessoa que está na direcção até é nosso amigo, sim, até é uma pessoa amiga, e conterrânea ao mesmo tempo.

Voltou ao ataque…
Mas isso não conta…

O jornal publica tudo o que tem interesse…
O jornal tem a sua linha editorial…

E quais são as golpadas?
Eu já lhe dei um exemplo (Miguel Pinto, chefe de gabinete, que presenciava a entrevista, levantou-se para ir buscar uma prova, uma matéria em que contestavam uma fotografia de numa matéria sobre uma acção de massas de Ngola Kabangu em Mbanza Congo). Não fazemos jornalismo mas sabemos ler os jornais e compreendemos as tendências dos jornais. Mas eu não estou a atacar os jornalistas, estou a situar o problema, estou a chamar a atenção, a fazer um apelo, que o jornalismo deve ser mais científico que outra coisa. E eu digo que vocês são os historiadores do presente e devem fazer ressaltar a verdade histórica. O que eu constato é que, muitas vezes, o jornalista quer colocar um discurso na boca do político, o jornalista não tem de colocar um discurso na boca do político, o político é que tem de ter um discurso que o jornalista vai difundir nos seus jornais. É a compreensão que eu tenho do jornalismo. Nunca fui jornalista, mas esta é a compreensão que tenho. E o que a gente constata em Angola é que, muitas vezes, a entrevista só vem para fazer um arranjo daquilo que já foi concebido numa redacção qualquer… vão lá entrevistar o tipo! Eu conheço, eu sou angolano, tenho cultura de angolano, que é a cultura do presente. Eu vivo com os angolanos, conheço a mentalidade também, ou pretendo conhecer.


Isso quer dizer que sente que vai ter dificuldades em passar a sua mensagem durante as eleições, por exemplo, durante os próximos tempos?
Porquê dificuldade?

Se diz que os jornalistas são o seu adversário…
Mas nós sempre fizemos confiança… a prova está aí, o senhor está aqui, a Voz da América chamou-se e daqui a pouco vou dar-lhes uma entrevista, na semana passada fui entrevistado pelo… creio que foi a Rádio Mais e vários outros. Eu dou sempre entrevistas, nem por isso a gente fica… não. O jornalista é um parceiro dos homens políticos, sobretudo na fase da consolidação da democracia. A melhor via, aí é que acho que o problema está, quando nós exigimos que o jornalismo deve ser mais ou menos … hoje, eu podia citar, em Angola, que já temos pessoas que são jornalistas. Quando ele está a emitir uma opinião sabemos que está, de facto, a sair da boca de um jornalista. Mas há indivíduos que quando estão a falar sabemos que aquilo é mais, como é que eu diria… aquilo é mais... Portanto, há jornalistas que quando abrem a boca para falar, a gente não sabe se está em presença de um boateiro ou mesmo de um jornalista. É isso. Não é ataque, a nossa missão é educar. Enquanto Angola não sair disto, uma informação verdadeira para permitir às gerações futuras poderem, eventualmente ajuizar aquilo que se passou no nosso tempo em Angola, será difícil. O que é mau. Estamos a prestar um mau serviço para agora e para o futuro. Não é questão de atacar, está a ver? A compreensão fala já em ataque, não é ataque …

Não faz parte dos deveres dos partidos e dos políticos terem, as melhores estratégias de relacionamento com a média?
Tem-se dito que vós constituis o quarto poder, naturalmente a midia é importante para a acção política. Daí, tem-se dito na gíria, quando nós amamos mais castigamos também; por gostarmos muito dos jornalistas temos de ser francos ao dizer, temos de deixar aqueles cinismos. Se vai mal vai mal, penso que os jornalistas devem compreender isto. Nós não atacamos os jornalistas na sua generalidade, há uma certa imprensa… nós tivemos actos que, às vezes… numa entrevista, por exemplo… agora, como é uma coisa escrita, num jornal, é outra coisa, mas nas entrevistas faladas, em várias rádios ali… tirando a LAC, por exemplo, a LAC, até aqui não tenho razões de queixas daquela rádio… deformam palavras, depois tiram uma espécie de citação do seu contexto para fazer perder o raciocínio das pessoas que ouvem… chama a isso jornalismo? Não é, isto é um arranjo. Foi-se entrevistar alguém para arranjar uma situação estratégica concebida pelo jornal. Isto não é bom. Quando entrevistamos, porque queremos ouvir um homem político a falar, a dizer as coisas e esta mensagem passa para a opinião pública isto é outra coisa, é o que nós chamamos jornalismo científico. E não difundir informações sem fazer o mínimo inquérito, sem ter a mínima verdade, a mínima prova, jornalismo não se faz assim. E isto não é atacar, é dizer as coisas.

Como está a sua relação com os membros do antigo ELNA?
Os antigos combatentes, nós nunca tivemos relações contrárias com o ELNA…

Tem de se bater por eles
Sim, somo s advogados deles. Basta ver, e isso nunca disse a ninguém, a primeira vez que fomos recebidos por Sua excelência o Senhor Presidente da República, nós propusemos a questão do fundo de pensão, a questão dos antigos combatentes que não recebiam nada. Ao Presidente da República propusemos até a questão do Batalhão Búfalo; o Presidente da República, passado um tempo, pronunciou um discurso levando em consideração a questão da criação do fundo de pensão. O falecido velho Holden atacounos, chamou-nos de colaboracionistas, quem está a ganhar com isso não são os grandes desgraçados que estão a receber do fundo de pensão? Não é boa coisa? Nós é que falamos disso, na primeira vez que o Presidente da República nos recebeu. Nós somos e sempre fomos os defensores, acérrimos mesmo, dos antigos combatentes, porque nós sabemos o quanto eles sofreram para libertar este país.
Hoje milhares de pessoas vivem a vida sem conhecerem a história de onde é que este país veio, esses homens que dormiram nos pântanos, nas savanas, a fugir dos bombardeamentos, a fazer emboscadas, a fugir das tropas portuguesas, que situação é que eles têm hoje? Nada! O que é uma pensão de dez mil kwanzas? Não é nada! E que privilégios é que eles têm? Nós gostaríamos que os antigos combatentes, com o seu cartão não pagassem nos meios de transporte, como se passa em qualquer parte do mundo. Nas instituições públicas os antigos combatentes devem ter prioridade, quando vão tratar de papéis. Mas eles metem papéis em todo o lado e não há nada. E ficam aí metidos com garotos e tudo e ninguém os respeita. Nós gostaríamos que o Estado angolano decretasse, que a Assembleia Nacional legislasse, sobre a questão dos antigos combatentes, porque eles ainda não têm os privilégios que deveriam ter. Veja bem, eu falo de antigos combatentes de todos, não falo só dos ex-ELNA, de todos aqueles que tiveram a oportunidade de estar lá, na primeira hora, para lutar pela Independência de Angola.
Devemos-lhes reconhecimento. É a eles que nós devemos homenagear.
E eles estão satisfeitos com a actual situação do país? Se não tem uma casa para dormir onde começa a satisfação? Se não tem um filho a estudar em condições, porque não tem bolsa, a satisfação vai começar aonde? Se não tem um salário condigno, porque ele passou a sua vida a defender o país, hoje tem sessenta, setenta ou oitenta anos; no tempo em que deveria lutar para educar os filhos os filhos não foram educados, de onde é que vai sair a satisfação?

E com a FNLA, eles estão satisfeitos os ex-ELNA?
Eles, como militantes, são parte integrante do partido. Hoje, eu penso que fizeram a leitura que a situação está resolvida e vão continuar num partido que é deles, a lutar para o engrandecimento da FNLA.

Há quem vaticine que a FNLA está num caminho descendente e sem retorno, já desceu muito desde a Independência, em que não assumiu o governo, como gostaria, teve um determinado número de assentos parlamentares em 1992 que baixou em 2008 e isto pode indicar um sinal de não retorno…
Se tivéssemos no país um sistema normal de funcionamento democrático como na Europa, os indicadores, eu diria que são maus, mas nós, e como qualquer outro partido, fazemos a política do possível fazer-se em Angola. E o que estou a dizer qualquer partido político de homens honestos diz. Fizemos a política do possível. E o esforço que fazemos não nos indica que o nosso partido está em fase descendente, as pessoas que nós contactamos, em toda a parte, que vêm nos ver, também não nos indicam que o nosso partido está numa fase descendente. A ânsia que a juventude tem de ver uma FNLA a avançar com um protagonismo desejável não indica que estamos numa fase descendente.
Ao ouvir da opinião das pessoas com quem eu convivo, das pessoas que vêm ter comigo, o senhor é o professor Lucas Ngonda? Digo que sou. Avança com o nosso partido, dizem. Esta é uma mensagem que não indica que há uma ordem descendente. Digo-lhe isto não é para enfeites, digo porque isto acontece comigo várias vezes, as pessoas reconhecem-me, param, cumprimentam-me, perguntam o meu nome e, sim senhor, avança com o nosso partido, o nosso partido tem que avançar. Esta é uma mensagem encorajante para mim, pessoas que não conheço. A fase descendente seria se não tivéssemos já militantes, se não tivéssemos a vontade política, se não tivéssemos projecto. A FNLA é um projecto de sociedade.

Quando em 2008 a sua lista não foi autorizada a concorrer às eleições e viu Ngola Kabangu avançar, pensou em desistir?
Não. Na vida política não de desiste assim. A política não é uma profissão, é uma missão.

Não sentiu que estava derrotado?
Não. E a prova é que estou aqui. É uma batalha que o nosso irmão tinha ganho, naquela altura. E a prova é que estamos aqui. Porque nós sabemos analisar as coisas. E sabíamos em que direcção caminhávamos. Tem-se dito que a causa justa acaba sempre por vencer. Nós, nesta história da FNLA, não atropelamos ninguém, chamamos as coisas só pelo seu próprio nome, é o que muita gente nunca quis.

Está disposto a continuar numa proposta de reconciliação?
A proposta de reconciliação foi aquela que terminou com o Tribunal.
Nós não levantamos mais problemas porque … então para que é que serve? O senhor ainda não me disse para que é que servem os tribunais, gostaria de ouvir isso de si, como jornalista conceituado, um homem que escreve, gostaria de ouvir isso de si. Para quê que os tribunais servem?

Não é a mim que cabe responder aqui.
Aí está, mas como cidadão?

Tem um grupo parlamentar que não está em consonância com a direcção do partido.
Mas está em conflito com a lei. A lei é que deve resolver isso.

Não vai para mais uma tentativa de reconciliação?
O problema aqui não é a reconciliação, o problema é todos aqueles que querem que a FNLA seja uma grande força política, que assuma o seu protagonismo dentro deste país, a direcção está aqui. Nós estaremos prontos a fazer esta longa caminhada com eles. Este é o problema.
Os conciliábulos acabaram, porque todos fomos aos tribunais, o Tribunal provocou duas conciliações, primeiro no Tribunal Supremo, nas vestes de Tribunal Constitucional, e depois no Tribunal Constitucional mesmo. Nós avançamos e o próprio Tribunal, antes de começar com os mecanismos de conciliação, disse que tinha todos os mecanismos para decidir sobre o problema, mas se vocês puderem encontrar uma fórmula… esta fórmula não foi encontrada. E o Tribunal acabou por encontrar a sua decisão. Tinhanos avisado. Então vamos nos colocar no lugar do Tribunal? Vamos dizer que aquilo que o Tribunal decidiu não vale? Se ainda não tivéssemos passado por lá poderíamos dizer que não vale a pena procurar o Estado, internamente podemos resolver o problema. Mas estas perguntas devem ser feitas às pessoas que negam a conciliação.
Não teme que os partidários de Ngola Kabangu signifiquem votos fugidos da FNLA, quando for a eleições? Mas isso é absolutamente normal, já será o problema da consciência de cada um deles. É um problema de consciência. Há pessoas que pensam que a FNLA deve ganhar e estes vão votar na FNLA, de certeza. Não têm outro partido para votar, vão votar na FNLA.
‘AFNLA, na sua memória, é um partido de vivos e de mortos’
No próximo ano, no aniversário da morte de Holden Roberto, vai homenageá-lo?
Sim. Eu penso que nós, o partido, fará tudo para homenageá-lo. Nós não tivemos problemas pessoais com o falecido, todos os nossos problemas foram de ordem organizacional. Se está lembrado, quando fizemos o primeiro congresso, de 1999, os congressistas, e nós estávamos todos de acordo, decidiu-se que ele deveria ser o presidente honorário do partido, com todas honras. Ninguém decidiu que como as coisas correram mal, fomos derrotados, Holdem Roberto deveria ser expulso, ninguém pensou nisso.
Nós pensamos que e ele continua a ser o patrono deste partido -, a FNLA, na sua memória, é um partido de vivos e de mortos. Nós que estamos em vida estamos a continuar a missão daqueles que não puderam estar connosco aqui.
Ele é o patrono.

Esta homenagem vai fazê-la em Luanda ou vai ao túmulo dele?
São questões que o comité central deve decidir. Se nós ainda não fizemos isso é porque não queremos fazer da morte de Holden Roberto um pomo de discórdia. Há os que reclamam que Holden Roberto é uma figura que lhes pertence, a nossa leitura é que Holden Roberto é uma figura nacional, do país, ultrapassa a dimensão de um grupo político qualquer, é uma figura que deve ser homenageada pelo Estado angolano, pela comunidade internacional, aqueles que andaram com ele, estes podem homenagear Holden Roberto. É uma figura nacional e é dentro deste registo que nos inscrevemos.

Então, provavelmente, no próximo ano vê-lo-emos no cemitério em que está Holden Roberto?
Sim. Quando as condições estiverem reunidas para tal. Não queremos é que … aqueles que querem acirrar conflitos querem fazer disto um pretexto, chegando ao ponto de proibir as filhas de irem visitar a campa do pai. E estão cá, as folhas. Chegando ao ponto de dar ordem de se aparecerem vocês lhes batem, vocês matem-nos. Com que direito? São as filhas dele, vão honrar a memória do seu pai.
 
José kaliengue
5 de Dezembro de 2011 
 
fonte: opais.net

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