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NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!... A invasão e o massacre de Gaza, uma espécie de campo de concentração...

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

O BAIRRO DOS MINISTÉRIOS ANTECIPARÁ FESTA DOS 100 ANOS DE GOVERNO DO MPLA.

NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!...



Incumbido de fazer um esclarecimento sobre o Bairro dos Ministérios, o ministro Manuel Tavares de Almeida informou que o Centro Político e Administrativo vai ser criado na modalidade BOT (Building Operating and Transfer), reafirmando que o mesmo vai aliviar os gastos públicos e criar empregos. Ai é? Então… Ndapandula ao MPLA, dizem os escravos. É Deus no céu e João Lourenço na terra…

Oministro da Construção e Obras Públicas, Manuel Tavares de Almeida, quando falou no final da 7ª Sessão Ordinária do Conselho de Ministros, orientada pelo Presidente do reino, considerou que o BOT (sigla que na tradução para português significa Construir, Operar e Transferir) é uma iniciativa inovadora (como todas as do MPLA) que se usa actualmente em todo o mundo e baseada num modelo contratual e financeiro. O mesmo, sublinhou, vai aliviar os gastos públicos, criando emprego e contribuindo para o crescimento do país. Provavelmente vai ajudar a diversificar a economia, a fazer com que os laranjais voltem a florescer, que o milho cresça com fartura, que passe a chover no Cunene e que a malária seja extinta.
Para o ministro da Construção e Obras Públicas, “pôr em causa o projecto é simplesmente desmobilizar as intenções já manifestadas de investimento do sector privado nacional e estrangeiro e descredibilizar o país”. Tem toda a razão. E desde quando é que os escravos angolanos têm direito de pôr em causa as ordens superiores do mais alto representante de Deus na Terra?
Segundo Manuel Tavares de Almeida, este projecto não só vai garantir muito emprego aos jovens, como também vai mobilizar a indústria e o comércio internos, quer na sua fase de construção, quer na fase de operação. Ou seja, com esta obra chegará a altura dos angolanos declararem a independência e assumirem, sob a égide do MPLA, o lugar que cabe ao reino… no reino dos pobres de espírito (e não só).
No quadro do novo ciclo político de governação participativa e inclusiva (em que todos podem falar mas só o MPLA decide), orientado pelo Titular do Poder Executivo, assistiu-se à apresentação pública do Projecto do Centro Político Administrativo na modalidade BOT, a ser implantado no futuro Bairro dos Ministérios, com o intuito de mobilizar potenciais investidores.
Reconheçamos, e o Folha 8 fá-lo aqui e agora, que o Bairro dos Ministérios deveria chamar-se Bairro do MPLA. Isto porque seria uma boa forma de se antecipar as comemorações do 100º aniversário de governação ininterrupta do MPLA. É que só faltam 56 anos…
O ministro Manuel de Almeida Tavares lamentou o facto de terem sido registados alguns excessos negativos na abordagem deste tema, com manifestações de falta de urbanidade e honestidade intelectual, por parte de alguns analistas. E isso é, para além de uma chatice, um crime passível de ser enquadrado como tentativa de golpe de Estado.
Ao rebater o que diz serem “inverdades e incongruências”, Manuel Tavares de Almeida esclareceu que a construção do Centro Político Administrativo (do MPLA) não arranca este ano, mas em breve deve ser lançado o concurso público de pré-qualificação para apurar as empresas com competência para financiar, na modalidade BOT, os subprojectos autorizados pelo Titular do Poder Executivo.
Depois disso, esclareceu, deve ser elaborado o estudo de impacto ambiental que não levará menos de seis meses, condição indispensável para a obtenção dos financiamentos. É que o MPLA quer fazer tudo como “manda a sapatilha”, reservando à sociedade de escravos o direito e continuarem a aprender a viver sem comer, a forma mais digna de ajudar a embelezar esta essencial, vital, imprescindível obra que será, de facto, uma verdadeira Pedra Filosofal.
Depois, segue-se a contratação dos consultores (técnico, financeiro e jurídico) para assessorar a preparação e a negociação do BOT, com vista a contratação das empresas vencedoras.
No termo desta fase, o contrato sobre a construção do Centro Político e Administrativo do MPLA, vulgo Bairro dos Ministérios, a ser construído na Chicala 2, em Luanda será submetido ao Tribunal de Contas (que aprova de cruz tudo o que o MPLA quiser) para obtenção do visto preventivo que dará o conforto para o início da construção.
O ministro Manuel Tavares de Almeida afirma que este projecto não só vai garantir muitos empregos aos jovens, como mobilizará a indústria e o comércio internos, quer na sua fase de construção, quer na fase de operação. Será, por assim dizer, mais de meio caminho andado para chegar ao paraíso.
O ministro esclareceu que o Bairro dos Ministérios (do MPLA) está integrado no Plano Urbanístico de Requalificação da Baixa da Cidade de Luanda, obedecendo o seu Plano Director, localizado numa área onde já estava previsto um projecto habitacional e de escritórios.
Manuel Tavares de Almeida esclareceu que o Centro Político Administrativo sempre esteve planeado para ser implantado na zona da Praia do Bispo, em torno do Mausoléu. “Porém, o projecto foi relocado para um local melhor e está na sequência da integração dos órgãos de soberania; ou seja, com o Palácio Presidencial e com a Assembleia Nacional, que já dignificam o país”, acrescenta o ministro.
O ministro negou, por outro lado, que o projecto terá marina para iates, “mas sim, cada hotel, seja o hotel protocolar do Estado ou o hotel privado, será implantado junto do canal marítimo da Chicala II e logicamente, por essa razão, deverão existir pequenas marinas para atracamento de pequenos barcos de recreio, junto aos restaurantes, tendo esta parte do projecto investimento privado.”
Manuel Tavares de Almeida disse que o projecto não será um condomínio fechado, mas um espaço público, com forte pendor turístico e um sistema de segurança.
“As vozes críticas que estavam contra a construção do Aproveitamento Hidroeléctrico de Capanda e, por isso, fizeram atrasar sobremaneira a sua conclusão, são as mesmas vozes que hoje reclamam que o país não tem energia”, acusou o ministro.
Afirmou também que “as vozes críticas que permanentemente estiveram contra a construção de refinarias em Angola alimentaram durante todo este tempo os interesses dos grupos que vivem da transformação do nosso petróleo bruto no exterior.”
Segundo o ministro, a pressão sobre o Governo angolano fez adiar a construção da Refinaria do Lobito: “Essas mesmas vozes, hoje, condenam o Governo de Angola, dizendo que não se compreende que um país que é o segundo maior produtor em África ainda tem de importar os refinados do petróleo.”
O ministro assinalou ter havido também alguma incoerência na abordagem técnica do projecto Centro Político e Administrativo, muitas das quais taxando o projecto um luxo.
“Isto não corresponde à verdade, pois os projectos executivos ainda não foram desenvolvidos e as edificações previstas serão normais, para cumprir as suas funções de instituição do Estado”, disse o ministro da Construção e Obras Públicas, Manuel Tavares de Almeida.
O governante acrescentou que a mobilidade estará assegurada, quer pelas marginais Sudoeste e da zona da Corimba, quer pelas vias internas do projecto e parques de estacionamento.
Manuel Tavares de Almeida disse ser “mera especulação” considerar um luxo a construção de edifícios com condições tecnológicas e adequadas para a sua funcionalidade.
“É evidente que há outros programas mais importantes que este projecto e são de facto prioritários. Esses programas já estão em curso e devemos aguardar os resultados”, aconselhou o ministro da Construção e Obras Públicas.
Quantos aos custos do projecto de construção do Centro Político e Administrativo (do MPLA), o ministro Manuel Tavares de Almeida sublinhou que há um estudo de pré-viabilidade, baseado na área de construção e os preços médios de mercado.
Porém, afirmou não ser prudente divulgar os custos estimados para não influenciar a concorrência. Além disso, referiu que os custos de cada subprojecto dependem, também, dos custos de financiamento e estes, por sua vez, dependem das garantias que possam minimizar o risco.
O projecto, de cujo alcance e benefícios os matumbos (como nós) nada perceberam, contempla a construção de 28 edifícios ministeriais, o secretariado do Conselho de Ministros e 37 casas protocolares. Coisa pouca e singela, própria de um país megalómano que, aliás, só tem 20 milhões de… pobres.
Após o anúncio do projecto, cidadãos manifestaram o seu desagrado nas redes sociais em relação aos critérios de prioridade umbilical do Governo em que, mais uma vez, o importante são os poucos que têm milhões e não os milhões que têm pouco ou… nada.
Em conferência de imprensa, o vice-presidente da UNITA (o maior partido da oposição que o MPLA ainda permite que exista), Raul Danda, considerou que “essa construção, com uma opacidade quanto aos custos a acarretar pelo Estado, não pode ser prioridade”, quando há “questões relevantes e de alta sensibilidade como a saúde, a educação, a alimentação, a água, a luz, o saneamento básico”.
Segundo o ministro, cada subprojecto do Centro Político Administrativo, cuja prioridade é aprovada pelo Titular do Poder Executivo, pelo Presidente do MPLA e pelo Presidente da República, poderá levar de dois a três anos de construção, sem desembolsos para o Estado e sete anos de amortização, a contar da data da sua conclusão e entrega para sua utilização.
O titular da pasta da Construção e Obras Públicas sublinhou que a restante área do Bairro dos Ministérios está a cargo de um promotor privado, cujo nome não revelou, para investimento privado.
“O Executivo recorreu à consultoria especializada para garantir a harmonização entre os projectos de diversas obras no perímetro do Centro Político Administrativo a erguer em Luanda, disponibilizando para o efeito uma verba equivalente a 2,2 milhões de dólares” (1,97 milhões de euros), salientou.
Por altura do anúncio do projecto, o ministro de Estado para o Desenvolvimento Económico, Manuel Nunes Júnior, disse que a construção do Centro Político Administrativo de Luanda “virá reduzir os avultados recursos financeiros” que o Estado gasta com os atuais edifícios, inclusive privados.
“Os edifícios onde hoje funcionam os vários departamentos que constituem o Executivo angolano estão dispersos pela capital e muitos deles funcionam em espaços privados. O Estado despende avultados recursos financeiros pela utilização desses edifícios”, disse.
Sobre esta justificação, o vice-presidente da UNITA propôs que sejam renegociados os valores das rendas, cujos preços são “altamente especulativos”, para além de que “muito do património sobre o qual o Estado hoje paga renda foi erguido com dinheiros públicos, sendo igualmente certo que não é em todos os edifícios onde funcionam ministérios que o Estado paga renda”.
O Centro Político Administrativo a ser erguido numa área total de 1.193.947 metros quadrados, na continuidade do bairro da Praia do Bispo, onde já estão localizados o Palácio Presidencial e a nova sede do Parlamento do MPLA, na orla marítima de Luanda, zona da Chicala, vai contar com um centro de convenções, um hotel, um campus judicial, um palácio da cultura, um centro de exposições e vários serviços de apoio institucional.
O também denominado Bairro dos Ministérios (do MPLA) compreende igualmente “áreas inteiramente dedicadas à iniciativa privada”, como centro de negócios, prédios de apartamentos, hotéis, restaurantes e zonas de lazer.
Terá, igualmente, uma vasta área com caixotes de lixo de última geração onde, mediante autorização superior, os angolanos que continuam a tentar viver sem comer poderão procurar alguma coisa para se alimentar.
fonte: folha8

Conselho de Segurança pede resposta urgente para o ébola.

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O Conselho de Segurança das Nações Unidas voltou a manifestar “profunda preocupação” com o surto de ébola na República Democrática do Congo (RDC) e sublinhou “a necessidade de uma resposta urgente” de combate à doença.



O surto da doença no nordeste da RDC cumpriu, na quinta-feira, um ano desde que foi declarado e já causou 1.813 mortos entre 2.701 casos registados.
A 17 de Julho, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou que o surto epidémico de ébola na RDC se tinha tornado uma emergência sanitária internacional.
Numa declaração, aprovada ontem, o Conselho de Segurança da ONU afirma que a propagação da doença aos países vizinhos da RDC “pode ter graves consequências humanitárias e afectar a estabilidade regional”.
O Rwanda encerrou, ontem, durante 14 horas, a fronteira com a RDC, após a detecção de um novo caso de ébola na cidade fronteiriça congolesa de Goma.
O órgão máximo da ONU elogiou os esforços que estão a ser realizados tanto pela RDC como pela OMS e outros organismos da ONU, na luta contra o surto, mas mostrou também inquietação com a situação de segurança neste país.
“O Conselho de Segurança reiterou a grave preocupação pela situação de segurança nas zonas afectadas pelo surto do ébola, em particular, os ataques ao pessoal ligado à ajuda humanitária e a médicos”, indicou aquele órgão, que ontem teve uma reunião para abordar a situação.
Neste sentido, a ONU pediu o cessar imediato das hostilidades de todos os grupos armados, tendo em conta que a insegurança está “a dificultar seriamente as actividades de resposta e a facilitar a propagação do vírus”.
Além disso, “exigiu que se garantisse o acesso seguro e sem obstáculos” do pessoal médico e humanitário e destacou que “as equipas de resposta e as instalações médicas” devem “respeitar-se e proteger-se, e não alvo de ataques”.
Este é o décimo surto de ébola na História da RDC, tendo-se convertido na segunda epidemia mais grave do mundo, apenas superada pela que afectou a África Ocidental em 2014, com mais de 11 mil mortos.
O vírus do ébola transmite-se através do contacto directo com o sangue e fluídos corporais de uma pessoa já infectada, provoca febre hemorrágica e pode chegar a alcançar uma taxa de mortalidade de 90 por cento se não for tratado a tempo.
O Conselho de Segurança destacou avanços na situação política e de direitos humanos na RDC, após a eleição do novo Presidente, Feliz Tshisekedi.
De acordo com o portal de notícias da ONU, os 15 Estados com assento no Conselho de Segurança consideraram que o país “teve avanços políticos positivos desde a eleição do novo Chefe de Estado, que incluem os esforços em prol da reconciliação, paz e estabilidade”. 
A ONU, que tem uma missão na RDC (Monusco), elogiou os passos de Tshisekedi para abrir o espaço político, incluindo a libertação de membros da oposição e da sociedade civil e o regresso de actores políticos, além dos esforços em prol da liberdade de opinião e expressão.
No mesmo documento, o órgão da ONU destaca as acções do Governo congolês para garantir e “respeitar os direitos humanos, as liberdades fundamentais e o compromisso de combate à corrupção e impunidade”.
Salienta ainda que as autoridades do país precisam de fazer mais esforços para a prestação de contas dos responsáveis pelos crimes que cometeram e diz que “é preciso abordar as causas profundas dos conflitos, incluindo exploração ilícita, tráfico de recursos naturais, ciclos recorrentes de violência e melhorias na segurança em algumas partes da RDC”.
Os 15 países-membros manifestam preocupação frente à degradação da situação de segurança das agências humanitárias que trabalham em algumas áreas do Leste do país, principalmente nas províncias de Ituri e Kivu do Norte (nordeste da RDC).

fonte: jornaldeangola

Líder do MDM preocupado com dissidentes da Renamo.

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O líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Daviz Simango, defendeu ser decisivo “acarinhar a expectativa” da desmobilização dos guerrilheiros da Renamo, no actual quadro precário da paz, para quebrar ciclos de violência pós-eleitoral e insurgências.



Em declarações à Lusa, Daviz Simango sugeriu que a contestação de uma ala da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana, maior partido da oposição) à liderança do partido e do processo de Desmobilização, Desarmamento e Reintegração (DDR) social, iniciado esta semana, resulta da falta de transparência.
O líder da terceira força política moçambicana chamou a atenção para a necessidade de se promover a inclusão, para não se “abrir uma porta para a insurgência no futuro” e prejudicar o acordo de cessação de hostilidades militares.
“Não basta a gente assinar por assinar, para transportarmos a imagem de que em Moçambique há ciclos eleitorais em paz”, disse Daviz Simango, em alusão ao acordo de cessação das hostilidades, para o fim formal dos confrontos entre as forças governamentais e o braço armado da Renamo, assinado a 1 de Agosto na Gorongosa, entre o Presidente moçambicano e o líder da Renamo.
Daviz Simango manifestou preocupação com a contestação inédita dos guerrilheiros, insistindo para a necessidade de inclusão e integração e de gestão das expectativas do grupo para a vida futura, após a desmobilização.
Em causa estão as contestações de um grupo de guerrilheiros liderado pelo major-general da Renamo Mariano Nhungue, e que se auto-denomina “Junta Militar da Renamo”. 
O grupo exige a renúncia do líder do partido, Ossufo Momade, acusando-o de estar a “raptar e isolar” oficiais da Renamo que estiveram sempre ao lado do antigo presidente do partido, Afonso Dhlakama, que morreu a 3 de Maio do ano passado.
“Nós temos consciência de que parte das pessoas, que eventualmente não estejam integradas, são pessoas que cumpriram a sua missão no processo de criação e no desenvolvimento da própria democracia. 
Entretanto são pessoas úteis e são pessoas importantes na nossa sociedade, são nossos irmãos, são pessoas amáveis”, precisou Daviz Simango, que defendeu a publicação da lista dos guerrilheiros a integrar para a transparência do processo de DDR.
“As pessoas querem a paz, todos eles querem integração, único problema aqui é a comunicação, é o problema de ouvir, e assegurar as motivações”, sublinhou, sustentando que “o moçambicano não tem interesse nenhum em, de ciclo eleitoral em ciclo eleitoral, estar a gastar os pacatos recursos financeiros” para gestão de conflitos provocados por intolerâncias políticas.
A autoproclamada Junta Militar da Renamo ameaçou quarta-feira com acções militares se o Governo moçambicano insistir em negociar com o presidente do partido, considerando que o processo do diálogo viola o espírito dos acordos de paz celebrados pelo líder histórico do partido, Afonso Dhlakama.
Na quinta-feira o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e o líder da Renamo, Ossufo Momade, assinaram o acordo de cessação das hostilidades, para o fim formal dos confrontos entre as forças governamentais e o braço armado do principal partido da oposição.
O processo de paz para Moçambique prevê ainda um acordo de paz mais amplo, que deverá ser assinado na próxima semana, desta feita em Maputo, e prevê a integração nas forças de segurança do contingente armado da Renamo.
O acordo de cessação de hostilidades foi assinado na quinta-feira, no meio de contestação da Junta Militar da Renamo à liderança do partido e ao rumo das negociações de paz, e um dia após um ataque a um camião de carga e um autocarro de passageiros, que resultou em um morto.
Comunidade
de Santo Egídio
O padre Ângelo Romano, que em nome da Comunidade de Santo Egídio participou nas negociações de paz em Moçambique, disse sábado que os moçambicanos nascidos após a guerra civil, metade da população total, foram e serão um “obstáculo” a eventuais tentativas de retrocesso no processo de paz.
Para aquele membro da Comunidade de Santo Egídio, o factor mais importante para o sucesso das negociações, e que “tem de ser considerado”, foi “a vontade de paz do povo moçambicano”.
O padre Romano acrescentou: “Se alguém pensar em propor o conflito, vai encontrar esse obstáculo pela frente, que é uma geração que quer um país sempre mais moderno, mais avançado e com a sua dinâmica democrática normal”. 
Assim, na sua opinião, a vontade dessa geração foi um grande contributo para a paz e será no futuro uma guardiã dessa mesma paz.
fonte: jornaldeangola

Guiné-Bissau: Bianguê Na Ntan garante fidelidade dos militares.

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O chefe das Forças Armadas guineenses, Biaguê Na Ntan, afirmou sábado que enquanto estiver à frente da instituição não haverá golpe no país e que muitos o acusam injustamente de ser o suporte do actual Presidente, José Mário Vaz.



“Comigo à frente das Forças Armadas não há lugar para golpe de Estado. As pessoas podem falar à vontade, eu fico calado, porque sei o que quero para este país, eu e os meus oficiais”, declarou o general Na Ntan, citado pela Lusa, ao receber um prémio que lhe foi atribuído por uma empresa de guineenses sediada nos Estados Unidos.
A empresa decidiu homenagear o chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA) pelo seu papel na estabilização da Guiné-Bissau, onde, considera, não houve sobressaltos militares nos últimos cinco anos, como ocorria regularmente em anos anteriores.
Num discurso em crioulo, o CEMGFA guineense aproveitou para abordar os comentários que disse ter ouvido nos últimos meses a respeito do seu posicionamento em relação ao Presidente do país, José Mário Vaz, também conhecido por "Jomav".
“Oiço muita gente a dizer: O general Biaguê é quem tem ajudado a que o "Jomav" não seja derrubado. Peço às pessoas que consultem a Constituição da República. Na nossa Constituição  está lá claro. O comandante supremo das Forças Armadas é o Presidente da República. É da lei”, observou o responsável militar.
Para Biaguê Na Ntan, “mesmo que tenha sido uma criança a ser escolhida pelos guineenses como Presidente da República, todos os militares terão de o respeitar”, disse, para salientar que “quem não concordar com isso terá de mudar a Constituição”.
“As Forças Armadas apenas cumprem com a Constituição da República”, disse Biaguê Na Ntan.
O líder militar guineense afirmou que quando chegou ao posto, no dia 17 de Setembro de 2014, jurou respeitar a Constituição por entender que a paz, a estabilidade e o investimento estrangeiro na Guiné-Bissau “está nas mãos dos militares” e que se sair do cargo poderá dizer ter cumprido  a sua parte.
“Posso prometer-vos que a paz já chegou à Guiné-Bissau”, sublinhou Na Ntan, para dizer que constitui vergonha para os guineenses, sobretudo os que vivem no estrangeiro, quando ocorrem situações de convulsões militares no país.
Logo que assumiu o cargo, o dirigente disse ter começado por explicar aos militares o que é a Constituição da República, quais os seus deveres e obrigações e lançar programas de formação de jovens soldados, cujos resultados, disse, já se fazem sentir.
Em cinco anos, Biaguê Na Ntan afirmou ter formado mais de 140 militares em Marrocos, 315 localmente e ainda este ano promete enviar para formações no exterior outros 97 militares. “São estes jovens que nos vão substituir aqui. Não podemos ficar aqui como pedras”, concluiu.
Entretanto, o Governo guineense nomeou o general Armando Nhaga para reassumir o comando da Polícia de Ordem Pública, em substituição do coronel Celso de Carvalho, segundo foi anunciado sexta-feira em comunicado do Conselho de Ministros, a que a Lusa teve acesso. É a quarta vez que Armando Nhaga assume a liderança da Polícia de Ordem Pública (POP) da Guiné-Bissau.

fonte: jornaldeangola

Angola: Opinião - O pagamento da dívida pública.

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É uma boa notícia o facto de o Estado estar a pagar, sob diferentes modalidades, a dívida pública que contraiu a empresas nacionais. É sabido que muitas empresas nacionais foram à falência em virtude do não pagamento pelo Estado do que devia a muitas unidades de produção privadas, nomeadamente pequenas e médias, que são numerosas.
Muitas destas empresas que hoje cobram as suas dívidas ao Estado querem continuar a realizar actividade produtiva, o que é bom para a economia, até porque é do interesse do Estado que hajam investidores privados a contribuir para o crescimento económico. 
É verdade que o processo de pagamento de dívida contraída pelo Estado é em muitos casos complexo, tendo em conta o facto de muitos procedimentos legais não terem no passado sido observados, mas espera-se que se encontrem as melhores soluções para que o Estado e os empresários nacionais que agiram de boa fé não sejam lesados.
A economia angolana precisa de muitas pequenas e médias empresas, devendo-se criar mecanismos céleres para a certificação da dívida, evitando-se excesso de burocracia. Há muitos empresários angolanos que querem trabalhar, e se eles tiverem as suas empresas a funcionar, estas criarão muitos empregos. 
As autoridades querem que seja o sector empresarial privado a criar um elevado número de empregos, e o pagamento da dívida pública por parte do Estado é uma via para que se reduza o desemprego e se aqueça a economia. A redução do desemprego pode contribuir para que muitas famílias vivam com menos dificuldades. 
Estamos em crise económica e financeira e a experiência de outros países pela mesma situação mostrou-nos que, por via da actividade produtiva de pequenas e médias empresas, podem-se resolver muitos problemas. Que haja pois criatividade e dinamismo para se resolver o problema do pagamento da dívida do Estado a empresas nacionais, muitas das quais se encontram paralisadas há vários anos. É preciso perceber que uma das soluções para sairmos da crise é a revitalização do empresariado nacional privado. 
O importante é que haja realmente vontade do Estado de pagar o que deve a empresas nacionais, e há informações fornecidas pelo ministro das Finanças que provam que as autoridades estão apostadas em pagar tudo o que as instituições públicas devem a empresários nacionais. Segundo o ministro das Finanças, já foram pagos a empresas nacionais 211 mil milhões de kwanzas, dos quais 84 mil milhões em “cash”, 123 milhões por títulos de tesouro e oito mil milhões por compensação fiscal.
O Estado é uma pessoa de bem e uma das suas principais funções é a promoção do bem-estar das populações. O Estado, por via de acções orientadas para o crescimento económico, pode fazer com que milhares de famílias tenham rendimentos e vivam com melhor qualidade de vida.
Que se continue a pagar a dívida a empresas nacionais, para que estas possam, elas também, se tornar em factor importante para a luta contra a pobreza no nosso país. O empresário angolano deve ser considerado parte da resolução dos problemas de Angola.
fonte: jornaldeangola

Angola: “Eu era um autêntico forasteiro na minha própria terra”.

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Edna Cauxeiro

Viveu mais de quarenta anos fora do país, onde internacionalizou a sua música e elevou ao mais alto nível a bandeira de Angola. No seu regresso à Pátria, Waldemar Bastos disse ter sofrido perseguições que o forçaram e a sua família a procurar “outros portos de abrigo”. Entretanto, nem tudo correu bem. O músico lamentou a morte do seu primogénito, vítima de assassinato, em circunstâncias misteriosas, e anunciou para o final do ano o seu próximo disco, que já tem título. Mas o autor prefere não revelar, por enquanto.

Participou recentemente no FestiKongo. Foi a primeira vez que regressou à sua terra natal depois que de lá saiu ainda bebé. O que significou para si esse regresso?
Olhe, a primeira palavra que eu encontro é: inexplicável. Era um conjunto de emoções de tal ordem intensas, que fiquei num estado de serenidade, de muita acalmia, porque acabava de me encontrar com o meu sonho. Encontrei Mbanza Kongo como eu sentia e vivia através dos olhos da alma.

Que idade tinha quando saiu de Mbanza Kongo?

Era pequenino. Nasci e ainda não tinha um ano quando saí de Mbanza Kongo. Os meus pais, enfermeiros no combate a doenças como a do sono, a tuberculose e a lepra, eram muitas vezes transferidos, eram nómadas, era uma missão. O meu irmão Lúcio, que é médico, e eu nascemos em Mbanza Kongo e o meu falecido irmão mais velho nasceu em Luanda.
Por que razão levou tantos anos a regressar a Mbanza Kongo?

É um mistério que eu também não sei explicar, mas voltei para a terra que me viu nascer e isso é uma renascença da minha própria vida.
Como foi a actuação no FestiKongo? 

Foi brilhante, porque comecei por cantar a "Rainha N'jinga" e a juventude que, acredito não ser grande conhecedora da minha música, cantou comigo do princípio ao fim.
O que significa isso para um músico?

Para qualquer músico isso é muito importante. Mas, no meu caso particular, ser recebido em minha terra, com jovens a cantarem a minha música, melhor alegria eu não podia ter. Cantaram, brincaram comigo e eu brinquei com eles. Foi um espectáculo memorável, no qual tivemos o carinho do senhor governador, pessoa muito amável, inteligente, humilde, e da ministra da Cultura, que mostrou ser uma pessoa muito sensível. Também sentiram que era um momento importante para mim e trataram-me com o melhor carinho que era possível.
Tem vindo mais vezes a Angola nos últimos tempos?

Sim. Agora, felizmente, com dignidade.
Antes não tinha dignidade?

Não. Era ostracizado, nem quero mais falar sobre isso. Mas estar na minha terra hoje, como cidadão normal, e ter direito a respirar e a poder beber a água da minha terra, isto era-me vetado de uma forma, considero eu, malévola, de uma dimensão que nem interessa recordar.
Tem ideia do motivo que levou a que fosse como diz que foi?

Resumo isso numa palavra: valores. Eu defendo valores. Os valores, na altura, eram contra, eram antítese. Nunca me meti na política, defendo valores que dignificam o homem. Isso não era aceite.
Nunca se envolveu na política. Mas, como cidadão angolano, como avalia o momento político actual do país?

Como angolano, primeiro, alegra-me, porque é uma mudança de paradigma. Eu próprio, que não podia respirar, já respiro, em termos pessoais. Em termos colectivos, nada melhor para um povo do que a esperança. Mas a esperança vem quando a gente vê actos. E temos visto actos concretos. As pessoas, às vezes, querem as coisas logo, mas, na vida, tudo tem o seu "timing" e uma coisa é certa: há um resgate de valores, há reposição de valores da angolanidade, da confraternização, da fraternidade entre os angolanos. Não vou citar as alíneas, mas toda a gente, até os menos atentos, vão notar que há todo um esforço para congregar, para incluir. A não inclusão é má, somos todos angolanos, cada um com a sua maneira de pensar e de ser, mas, desde que estejamos todos a expor o nosso pensamento com sinceridade, acho salutar para o desenvolvimento da nação angolana.
Waldemar Bastos já está estabilizado em Angola?

Sim. Posso dizer que sim. Já tenho, nesse momento, uma habitação.
Quais são os seus projectos, agora que regressou a Angola? 

Os meus projectos sempre serão a valorização da música popular de Angola.
A música popular de Angola está desvalorizada?

Direi que sim, que agora começa a ser valorizada. Sou uma pessoa que, pela minha trajectória, conheço o tempo áureo da música angolana de raiz. Kiezos, Ngola Ritmos, África Show, Águia Reais, Jovens do Prenda, Ngoma Jazz, Super Popa, conheço todos eles, porque vivi ao lado do Ngola Cine, onde havia o Dia do Trabalhador e, portanto, tenho um historial, conheço o historial da música de Angola, pelo menos na era contemporânea.
Como avalia o estado da música nacional no momento? 

A música angolana, em função do que falámos anteriormente, também vai, na minha perspectiva, e não tenho dúvida, florescer agora, porque quando se está amordaçado não se cria. Temos aqui músicos e outros artistas de talento nato. Não vou citar nomes, mas temos um vasto número de artistas que têm valor tanto cá dentro quanto lá fora.

Não quer citar nomes, há algum mal em ter preferência?

Quando disse que não queria citar nomes era só por uma razão: por eu ser aquilo que se diz um sénior. Não queria magoar. Os talentos são vários nos jovens e também nos adultos que foram castrados. Existem, tanto do lado da juventude quanto de músicos já seniores, indivíduos altamente capazes. Os seniores têm uma grande bagagem. Muitos deles, até mesmo com dificuldades, participaram nos meus discos gravados lá fora. Posso falar do Boto Trindade, Joãozinho e Teddy, que são inequivocamente músicos de alta dimensão. Gravei também com o falecido Fontinhas. Existem músicos com talento. Muitos deles tento ajudar, quanto mais não seja com uma conversa.
Vamos falar da internacionalização da música angolana. Cabe ao músico ou ao nosso organismo de tutela criar políticas que permitam internacionalizar a música angolana?

Sou daqueles que defende o seguinte: primeiro, temos de dar o melhor de nós. Nós é que temos de aprimorar. O músico tem que treinar, ter disciplina e, naturalmente, se tiver talento, acaba por ser reconhecido. Aí a instituição, a Cultura, dentro dos meios que tem, vendo quem são os talentos de destaque, poderá potenciá-los. Portanto, é uma conjugação do talento, esforço, a instituição Cultura e o mecenato, os sponsors, porque um sponsor ou mecenas apoia e patrocina a arte. Nisso, acabam por ter grandes descontos nas suas contas fiscais. A partir do momento em que haja essa conjugação, a música de Angola floresce.
Mas temos cá muitos músicos com potencial para isso?

O angolano, como o africano, no geral, é eminentemente criativo e a música de Angola, quer queiramos, quer não, e não estamos a dizer isso por vaidade, deu origem a muita música nos Estados Unidos, Caribe... agora já se diz que o jazz veio de Mbanza Kongo. Temos potencial para chegar lá. Se nós, sozinhos, eu e o Bonga, com entraves de toda a ordem conseguimos...
Já agora, qual é a relação que tem com o Bonga?

É normal. Não somos da mesma geração, somos de gerações diferentes. Mas temos uma relação de respeito.
O que significa estar de regresso a Angola e o que sente quando é abordado pelo público? 

Olha, eu só posso agradecer a Deus. Estar de regresso a Angola é estar de regresso à minha pátria. Os meus ancestrais estão aqui, eu nasci aqui, é um direito inalienável e natural. Ser recebido com o carinho com que sou recebido é muito bom. Toda a gente percebeu que nunca lutei por dimensões económicas, a minha luta foi sempre cultural, alicerçada nos valores. Sou músico, Deus me deu esse dom, a minha música é muito estimada pela juventude; é uma coisa que me admira e me deixa agradecido a Deus.
Fez o CD "Clássicos da minha alma" com a Orquestra Sinfónica de Londres. Como é que a música angolana pode beneficiar da globalização, na sua visão? 

Deus, quando fez os povos, o mundo, meteu músicas diferentes. Se nós formos ver a música da Argentina, da América, da Rússia, de Cuba, cada uma tem a sua especificidade. Para conseguirmos atingir o mundo, os palcos internacionais, acima de tudo, temos de ter identidade. Se não a tivermos, não somos aceites. Estou a dizer isso porque vários já tentaram, com outros estilos de música. Lá fora, ninguém quer fotocópia, quer-se originalidade, identidade. Se não a tiveres, não tens hipótese.

Se fosse ministro da Cultura que estratégia adoptaria para o sector das artes?

Sinceramente, não tenho como responder a essa pergunta. Vou ser honesto.
Se pudesse ajudar a resolver alguma coisa a nível da música e das artes angolanas, o que faria? 

Primeiro, não tenho, nunca tive, respondendo à sua anterior pergunta, nunca me vi num cargo político. Agora, poder ajudar, assessorar, sim. Não devo ser egoísta, guardando a minha experiência para mim. Se tiver alguma hipótese de ajudar, claro que farei o melhor para a minha terra.

Em que área colocaria as suas mãos, logo, à partida?

Sou músico. Iria valorizar as coisas da terra, valorizar a nossa diversidade cultural e, logicamente, fazendo a triagem. A qualidade é fundamental em tudo e na arte também. Claro que há graus, há escalões de qualidade, há artistas mais exigentes, com mais talento. É normal, existe nas outras áreas e na arte também.
Sente que a juventude não está a fazer música nos estilos que caracterizam a música angolana de raiz? 

Sinto que já há jovens que estão a fazer isso para todos os ritmos. Há uns poucos que ainda achavam que fazendo outros estilos, copiando no Brasil, teriam sucesso. O Brasil tem música própria e nós temos a nossa. Temos muito que mergulhar no Rio Kwanza e no Rio Zaire, para puxar cá para cima toda a diversidade musical que temos. Ninguém tem que ter complexo de cantar as nossas coisas. Temos de gostar de nós mesmos.
Waldemar Bastos tem todos os discos esgotados. Quando é que os angolanos poderão tê-los?

É uma grande pergunta, boa pergunta e oportuna. Essa situação só era possível na condição em que estou actualmente, de um cidadão que anda normalmente pela rua, que não é alvo de perseguição e de teorias absurdas. Os valores que eu defendia não eram adequados àquela época e, portanto, eu a viver uma vida normal posso começar a pensar em fazer isso. Antes, não tinha paz de espírito.

Significa que agora vai ser possível?

Peço a Deus, acima de tudo, e acredito que sim, até porque tive uma audiência com o senhor Presidente e falei que queria trabalhar no meu país. Ele disse-me que eu podia trabalhar à vontade.

O que sentiu diante desse apoio do Presidente da República?

Senti, para já, que é um líder de Estado que sabe reconhecer os seus valores. Se somos reconhecidos, não só eu, mas os outros também, é muito bom. A mim, em particular, deixa-me feliz saber que a máxima instância do meu país também tem carinho por uma pessoa que toda a sua vida dedicou à arte e que tem feito o seu melhor e é uma referência no país. Não sou referência porque quero, mas porque o destino assim ditou.

Com que imagem saiu do encontro com o Presidente João Lourenço, que tipo de ser humano é o senhor Presidente, na sua visão?

Para mim, é uma pessoa muito preocupada com Angola. É um patriota. Sendo ele um patriota, agrada-me, como artista. O que Angola mais precisa é de filhos assim. Temos de usufruir da nossa terra, aqui ninguém é contra a riqueza, mas temos que usufruir livremente e dar, também, o que fazer aos mais necessitados. Posso dizer que Angola precisava, de facto, de ter um rumo com alguém que se importe verdadeiramente com essa angolanidade, que precisa de aparecer no mundo como uma estrela brilhante. As crises, às vezes, são muito boas para reflectir e dar o passo em frente. Também são boas para criar. Temos tudo para erguer um país equitativo e equilibrado.
A perseguição de que foi alvo estendeu-se à sua família? Os seus familiares também sofreram consigo?

Incomensuravelmente. É muito difícil manter uma família nessa condição. É doloroso. Repare: parte da minha família está nos Estados Unidos e outra metade está em Londres e eu ando de um lado para o outro. Fomos divididos, mas nós somos uma família. A minha família teve de se deslocar, com medo. Foram procurar outros portos de abrigo e eu também tive que ir.
Havia ameaças a si e à sua família?

Tenho um filho que foi assassinado. Não sei porquê, mas foi. Não estou a fazer acusações, mas para uma mãe e para um pai é horrível. Isso, por si só, já coloca uma família numa situação de crise. É uma hecatombe, não é fácil. É muito difícil e muito triste.
Desculpe tocar no assunto novamente, mas não terá sido um acaso? 

Poderá. Poderá. Deixo a Deus o julgamento, Ele é Omnipotente, Ele sabe, Ele vê tudo. Não quero fazer acusações. Só estou a dizer que esta situação provocou - se, nós já tínhamos problemas - uma hecatombe. Perante isso, todo o tipo de imaginação é possível.
Como está a sua família, actualmente?

A minha família está grata e pediu-me para agradecer ao senhor Presidente pela mudança e pela atitude que tem tido para comigo. No fundo, sou o representante da família; é uma família acossada ao longo de vários anos e hoje começa a descomprimir, porque sente que acabou toda uma tortura. É difícil repor a justiça para uma pessoa que tantos anos sofreu, como eu. Também não lutei por questões materiais, mas quando há um sentimento de reposição é sinal de que o país está a caminhar, como se diz, com a bússola no rumo certo. Isso agrada a qualquer pessoa que sabe da minha luta por valores culturais, pela música, aos meus fãs e a toda a gente porque, de facto, eu era (eu e não só) um autêntico forasteiro na minha própria terra.
“Nunca abri uma garrafa de whisky nem de champanhe numa discoteca”
Como foi recebido nos países em que viveu durante anos? Também se sentiu um forasteiro? 

Vou cantar agora num teatro em França, em Outubro, depois em Portugal e na Suécia. Fiz várias digressões, estive na Polónia e na Eslovénia. Sou reconhecido lá fora como artista, em livros, inclusive. Não gosto de falar de mim, mas já que me faz a pergunta, respondo que trabalhei com a Orquestra Sinfónica de Londres, que é a maior do mundo, com a Orquestra Gulbenkian, uma das maiores da Europa. Gravei ao vivo no CCB, que é a maior sala de Lisboa, com a sala completamente esgotada; trabalhei no Japão, com Riuchi Sakamoto, no Brasil, com Chico Buarque, com David Byrne, nos Estados Unidos, foi o indivíduo que me levou para a América. O que quero dizer com esses nomes que estou a citar é que, mesmo sem mecenas, sem patrocinador, consegui fazer isso. E hoje, no mundo é difícil. Todo o artista tem que ter alguém atrás.
Em que lugar está agendado o seu concerto em França? 

Vou cantar num teatro no Centro de Paris. É Angola que está em causa, é a marca Angola. As pessoas podem ler o currículo do artista, mas associado ao currículo do artista está a sua terra, o que tem a terra, quantos habitantes, enfim, toda a beleza, tudo o que temos para mostrar. No meu caso concreto, ainda por cima, sou de Mbanza Kongo, património cultural mundial. O artista pode servir, muito bem, para potenciar o seu país.
Ao longo da sua carreira, cantou em lugares importantes, de renome mundial. Conseguiu amealhar algum dinheiro para conseguir viver condignamente?

Sim e posso dizer que melhor eu fiz: estou muito contente, como qualquer pai, por ter formado os meus filhos.
Quantos filhos?

Dois. O primeiro, como disse, foi assassinado, mas os outros estão formados. Um é engenheiro informático e o outro é formado em business. Nasceram cá e também amam Angola. E eu, como pai, o dinheiro que ganhava nunca ninguém me viu numa discoteca. Nunca abri uma garrafa de whisky nem de champanhe numa discoteca, porque eu sabia que o pouco dinheiro que ganhava, umas vezes mais outras vezes menos, teria que canalizar para a educação dos meus filhos. Tenho casa própria em Portugal, fiz sempre uma vida humilde, porque, acima de tudo, o que estava em causa era a formação dos meus filhos.

Depois de Mbanza Kongo ter sido elevado à categoria de Património da Humanidade, o Semba estar a ser projectado para concorrer à mesma distinção. Que vantagens trazem esses ganhos para Angola?
Quando a gente é eleita a Património Mundial, está a dar ao mundo aquilo que o mundo não tem. Todas as partes do mundo têm um bocado para dar, então estamos a dar ao mundo algo de maravilhoso, algo de importante, no contexto das nações. Quanto mais a gente conseguir aparecer no mundo com coisas nossas, que são únicas e têm valor, mais a nossa terra é valorizada e projectada.
O que significaria o Semba seguir o mesmo caminho? 

Gosto do Semba e toco Semba, mas não sei se o Semba reúne todas as alíneas. Se reunir, logicamente que será de todo o agrado. Estou a falar de forma muito honesta, não tenho conhecimento profundo sobre que requisitos são necessários para que um estilo musical se torne Património Mundial. Como não sei, não me posso pronunciar. Lógico que será agradável se assim for, mas não consigo é opinar muito sobre essa matéria.
Fala-se na intenção da Itália registar a Kizomba como seu estilo musical. De modo geral, como é que os angolanos podem proteger os seus estilos?

A primeira coisa que deve ser feita é registar. Se eu fizer uma música agora, devo registá-la, porque pode aparecer um garimpeiro.
Para quando um novo disco?

Está em vista o próximo parto. Um disco acústico. Peço a Deus que até ao final do ano ou no princípio do outro o disco fique pronto.
Já tem título?

Tem vários títulos, ainda estou a ver qual deles será. 
Perfil
Nome Waldemar dos Santos Alonso de Almeida Bastos.
Data de nascimento 4 de Janeiro de 1954.
Naturalidade Mbanza Kongo, Zaire.
Filiação Carlos de Almeida Bastos e Guiomar de Souto Veiga Bastos .
Irmão: Lúcio Bastos.
É casado há mais de 40 anos com a sra. Laureana Gomes da Silva Paz e é pai de Edair Paz Bastos e de Sidney Paz Bastos. 
-------------------Discografia
1983 – “Estamos Juntos” 
(EMI Records Ltd);
1989 – “Angola Minha Namorada” 
(EMI Portugal);
1992 – Pitanga Madura” 
(EMI Portugal);
1997 – Pretaluz/Blacklight” (Luaka Bop);
2004 – “Renascence” (World Connection);
2008 – “Love Is Blindness”;
2012 – “Classics 
of my Soul”
fonte: jornaldeangola

Angola: Vidas em risco por “coisas” esquecidas no corpo depois da cesariana.

NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!...

Rodrigues Cambala e Fernando Cunha

Marisa Raimundo, caminha aos solavancos, até aproximar-se do cadeirão. A mão direita finca a coluna vertebral e a esquerda descerra os punhos e adianta-se no assento, para manter o tronco firme.


Um gemido meio disfarçado deixou brechas para que se dê conta das dores. Os movimentos frouxos também. Marisa está, apenas, há 12 horas desde que recebeu alta de uma segunda cirurgia, que ocorreu, como diz, por culpa de um erro médico. Foi na noite de uma sexta-feira, dia 22 de Fevereiro deste ano, que a mulher, de 35 anos, foi submetida a uma cesariana, na Maternidade Lucrecia Paím, em Luanda, para dar vida ao quarto filho. Conta que lhe foi dada alta médica dois dias depois. Em Abril, Marisa Raimundo começou a sentir ligeiras dores na região abdominal, que aos poucos se foram tornando mais fortes. 
“Eram dores muito estranhas, que pareciam agulhas a picar”, relatou, numa voz roufenha.
Numa manhã do mês de Maio, deslocou-se a um posto de saúde, em Viana, próximo de casa, tendo a médica de serviço solicitado uma ecografia. O exame dava conta da existência de uma inflamação. A receita baseou-se em antibióticos para combater as dores.
Apesar dos remédios, disse, as dores na região abdominal não paravam. De regresso ao posto de saúde em Viana, a médica, que, a princípio, orientava a conclusão da medicação, aceitou as súplicas da mulher e recomendou que voltasse à Maternidade Lucrécia Paim, onde tinha sido operada.
Marisa Raimundo dirigiu-se ao Banco de Urgência da referida maternidade com a última ecografia. 
“Perguntaram-me se tinha dinheiro para fazer uma nova ecografia. Eu disse que sim e logo fui à área vocacionada”, disse. O resultado do exame condizia com o do anterior, solicitado pela médica de Viana.
Já no Banco de Urgência, as dores ganhavam contornos incontroláveis, lembra. Uma enfermeira pediu, delicadamente, ao médico para que Marisa fosse assistida de imediato, devido à pressão alta. 
“Puseram-me numa maca. Em seguida, fui submetida a uma curetagem, porque acharam um líquido no útero. Suportei aquela dor toda...”, conta, virando-se para o chão. O tratamento foi sol de pouca dura. A dor retornou no terceiro dia. Marisa recorreu a casa da mãe, porque não se sentia muito bem. “O meu esposo trabalha fora de Luanda e tive de pedir ajuda aos meus pais para ir a uma clínica”, salientou.
Já numa outra unidade privada, o médico pediu nova ecografia, sugerindo, por outro lado, a realização de um TAC, porque presumia haver um tumor no intestino. Depois do exame, orientou uma consulta de Cirurgia. Marisa Raimundo explica que a marcou dias depois, numa outra clínica. A operação não foi realizada, porque o médico dizia que o TAC estava inconclusivo.
“O médico tinha receio que fosse um tumor e pediu para fazer novos exames”, lembrou.
No dia 10 de Junho, voltou à Maternidade Lucrécia Paim, para marcar uma consulta com o médico que a tinha operado. “Pelo corredor, cruzei-me com o doutor. Mostrei-lhe os exames para que avaliasse a minha situação”.
Conta que o médico observou-a, em seguida, nas consultas externas, tendo pedido apoio a outros dois colegas (um cirurgião e uma ginecologista). Os três concluíram haver uma massa, de acordo com a ecografia. O médico informou que o problema não era ginecológico, propondo o regresso à clínica onde o fez, para obter um relatório conclusivo do TAC.
O médico insistiu, dizendo: “não é um problema ginecológico e vou fazer-te o favor de atender-te na próxima quarta-feira, 17 de Julho.”
“Pedi-lhe que me receitasse alguma coisa por causa das dores, mas ele disse que não”, afirmou a mulher, recordando que o médico que fez o TAC ficou estupefacto por saber que os seus colegas não conseguiram fazer a leitura”.
Marisa conta que regressou a casa em sofrimento e lágrimas. Inconformada, no dia seguinte, 11 de Julho, foi à consulta de Cirurgia que tinha agendada numa unidade privada. O médico também recorreu aos colegas para determinar o resultado dos exames que tinha em mãos. Não tardou, veio a resposta: tinha de ser evacuada a uma outra clínica, por, supostamente, haver uma inflamação.
Transferida, mal a médica observou os exames, ordenou a sua entrada no Bloco Operatório. “Eram 19 horas e só despertei às 23 horas e logo disseram-se que a operação foi um sucesso.” A causa de tanto sofrimento chocou-a: 
“A senhora não tinha nenhum tumor; eram compressas esquecidas no abdómen, aquando da cesariana”, informou-lhe a médica. “Disse-me que a compressa já estava deteriorada e foi retirado pus em quantidade”, explica. Marisa Raimundo afirma que não tem, até agora, acompanhamento de um psicólogo. “Senti-me muito mal (…), tive um transtorno psicológico muito grande. Sofri muito…”, sussurra, numa voz melancólica com lágrimas a cobrirem os olhos. Durante o período que durou a situação, a jovem teve de deixar de amamentar o filho, que tem apenas quatro meses.
“Só quero justiça”, acrescenta, de forma pausada, a mulher sobre quem um mau procedimento fez com que anulasse o Curso de Ciências Políticas e Relações Internacionais. Com o apoio da família, pensa em intentar uma acção judicial contra o hospital.
Advogada e Maternidade
Marisa Raimundo constituiu uma advogada, que está a tratar do processo para uma acção contra a Maternidade Lucrécia Paím.
Nancy André, a advogada, disse que daria entrada, na Procuradoria-Geral da República, de uma queixa contra a Maternidade, para que a sua constituinte seja indemnizada. 
A advogada afirmou ainda que vai remeter uma cópia à Maternidade, para o caso de a instituição querer negociar, antes que o processo tramite em julgamento. 
“Estamos a concluir a participação e logo que estiver concluída vamos entregar à PGR”, reiterou a advogada.
Entretanto, a nossa reportagem deslocou-se à Maternidade Lucrécia Paím, para recolher a reacção sobre o caso. A secretária de direcção, Maria Agostinho, informou que a directora só falaria deste assunto se Marisa Raimundo fizesse uma reclamação ao hospital. 
“Não temos nenhuma informação. Assim que a paciente informar o que se passou, a direcção do hospital estará em condições para prestar declarações ao Jornal”, acrescentou.
“As 24 horas mais difíceis” de uma missionária
Numa paróquia da Igreja Católica, em Luanda, a reportagem do Jornal de Angola conversou com uma missionária, que, sob anonimato, descreveu as 24 horas mais difíceis da sua existência, devido a um erro médico que por pouco lhe tirava a vida.
Em 2012, foram-lhe detectados miomas uterinos, ainda em fase inicial. A recomendação da equipa médica de tomar os medicamentos para vencer os miomas não surtiu efeito. Dois anos depois, já em missão em São Tomé e Príncipe, durante uma consulta de rotina, uma médica informou-lhe que não precisava de operar, porque muitas mulheres convivem com miomas.
Em 2015, depois de tratar de um problema no ouvido, em Portugal, a madre aproveitou a oportunidade para fazer outra consulta de rotina. O médico avaliou os resultados dos exames e sentenciou: “não te enganes a tomar a medicação, pois todo o mioma é um corpo estranho e tem de ser retirado”.
“Comecei a notar que havia opiniões diferentes”, contou a madre, que, no regresso a Angola, em 2016, trouxe também na memória a intenção de resolver o problema dos miomas que estavam em progressão.
Antes de fazer a cirurgia, foram-lhe recomendadas duas injecções, que custaram 250 mil kwanzas. “As ampolas eram muito caras, mas não tive outra saída”, avança. Aparentemente, os remédios, comprados numa farmácia na cidade do Lubango, Huíla, estavam prontos para lhe serem aplicados, até que a mãe da missionária, uma enfermeira, observou algo de errado nas ampolas.
“Já não me lembro do nome dessas ampolas, mas as que foram adquiridas destinavam-se a homens. A farmácia pediu desculpas pelo erro”.
Sexta-feira, 18 de Agosto de 2017, numa clínica no Lubango, cujo nome a mulher prefere não citar, as condições para a cirurgia estavam criadas. “Pareceu-me ser uma equipa boa. Já no Bloco Operatório, todos rezaram antes de começar a operação”, recorda. Depois da cirurgia, a missionária ardia de dores no abdómen. Dada a aflição, chamou a enfermeira, que disse serem as dores normais e passageiras. Contudo, intensificaram-se entre as 13 e as 16 horas. Conta que nem posição para dormir encontrava. O médico observou e corroborou com a enfermeira: “é normal essa dor, vai passar”.
A equipa médica só não adivinhava que as dores na zona da operação avolumavam-se a cada minuto. “Às 16 horas, notei que a barriga estava a ter um outro formato e fechava-se no centro, como se tivesse um cinto apertado”.
A persistência da mãe da paciente forçou os médicos a realizarem uma ecografia. Parecia haver sangue acumulado. Ainda assim, o médico pediu 24 horas para avaliar a evolução. A madre conta que arfava e já não conseguia andar. 
“Sentia uma vontade de ir à casa de banho. Não conseguia colocar-me em pé. Quando coloquei a cabeça no ombro da minha mãe, 'apaguei”, disse. Ao despertar, olhou para os lados, pois já não se lembrava do que sucedeu. “Um médico perguntou-me como me sentia, eu disse-lhe que queria ter o mesmo descanso...”
No dia 19, sábado, voltou ao Bloco Operatório. “Despertei e já estava na unidade de cuidados intensivos. Um técnico do laboratório gritou: “ela acordou, ela acordou...”. Fez-se um ligeiro silêncio. Ele voltou-se à missionária, sem dizer uma palavra.
À pergunta sobre o que aconteceu tem duas versões. A primeira: esqueceram-se de algum material de cirurgia no abdómen. A segunda: esqueceram-se de canalizar um órgão no abdómen.
“As enfermeiras disseram que tive sorte, porque a equipa médica ainda não tinha deixado o hospital”, afirma. “Quando vivemos momentos de perigo, percebemos que a vida é passageira. Por isso, é essencial fazermos sempre o bem”, diz a mulher, lamentando que os médicos não tenham admitido o erro.
“A minha irmã perdeu o filho”
Quer ser apenas identificada por Isabel. Acedeu falar em nome da irmã - esta não o faz, por temer represálias -, que, há um mês, perdeu o filho e vive acamada desde o dia em que foi dar à luz por cesariana, na Maternida do Huambo.
Depois da cirurgia, em Fevereiro deste ano, Isabel conta que a irmã, de 30 anos, recebeu alta. Não obstante a medicação, no mês seguinte, começou a queixar-se de dores fortes no abdómen, propriamente na zona da operação.
No princípio, os familiares deduziram tratar-se de caprichos. Depois de uma semana e meia, o que parecia “birras” estava a ganhar contornos preocupantes. “Voltamos ao hospital, mas os médicos diziam que era normal, qu e mais tarde passava”, conta a irmã.
Em Junho, as dores propagaram-se.?A zona de cirurgia cheirava a podre, o leite do peito estava misturado com pus e sangue. 
“Os médicos voltaram a fazer outra cirurgia e encontraram uma zona completamente infectada com sangue e pus. O leite materno estava contaminado com pus. Após alguns dias, o bebé teve de ser internado e acabou por morrer.
Isabel revela que a morte do sobrinho aconteceu no mesmo dia do internamento, “em razão das complicações provocadas pelo leite materno 'estragado' e pela má assistência médica”. 
Nem a segunda cirurgia resolveu o problema. A paciente continua acamada, agora em casa. A zona da cirurgia não está cicatrizada e a ferida continua dorida, sem sinais de melhoria. Nesta altura, os familiares estão a amealhar alguns trocados para procurar um tratamento rigoroso no exterior do país. A mãe está em Luanda, à procura de apoio na Junta de Saúde.
“Ela não está bem...”, balbucia em tom amargo. “Os médicos deixaram uma compressa e não fecharam correctamente um órgão”, denuncia a irmã.
“Deixaram uma compressa”
Há 14 anos, Ana Paula entrou na Maternidade Lucrécia Paim, para dar à luz. Por algumas complicações, foi levada ao Bloco Operatório. Três dias depois, estava em casa, já no seio da família.
Paula descreve que, após um mês, começou a sentir dores estranhas no abdómen. Ao retornar ao hospital, os médicos apalparam a zona da cirurgia e perceberam que tinham deixado uma compressa.
“Fui submetida a uma nova cirurgia e retiraram a compressa”, recorda com o rosto carregado de alívio.
“Não tive problemas no atendimento quando voltei para reclamar. A zona não tinha infectado”, acrescenta Ana Paula, lembrando que não processou a Maternidade porque tudo terminou bem e eles pediram desculpas.
Admitiu que já acompanhou muitos casos de esquecimento de compressas, e recentemente uma amiga viveu a mesma situação, que lhe causou grandes problemas de saúde.
Caso do Huambo é desconhecido
O director-geral do Hospital Regional do Huambo, Hamilton dos Prazeres Tavares, disse, ao Jornal de Angola, desconhecer a existência de um caso com parturiente, em cujo organismo tenha sido esquecida qualquer compressa.
“Não existe, na nossa maternidade, qualquer caso ocorrido com parturiente em quem foi esquecida qualquer compressa por altura da realização de uma cesariana no período evocado pela senhora Isabel”, afirma.
A posição do clínico surge no seguimento da denúncia da senhora identificada por Isabel, cuja irmã terá sofrido uma cesariana, na Maternidade do Huambo, e a equipa médica terá deixado uma compressa. 
“A unidade materno-infantil do nosso hospital não dispõe de registo deste caso, porque, durante esse meio ano apontado pela senhora Isabel como tendo ocorrido a situação, não há, nos nossos relatórios, qualquer situação registada nos nossos serviços operatórios da maternidade. E mais dificil fica porque a pessoa não se identifica”, afirma.
Em relação à morte do bebé, o clínico explica que a situação relatada por Isabel não dá lugar à contamição dos mamilos, por se tratar de órgãos completamente diferentes.
Segundo o médico, a infecção verificada no mamilo de uma mulher após o período de parto é quase sempre resultado de incumprimento de regras elementares, que devem ser tidas em conta no período da amamentação. 
Se não forem observadas, acrescenta, dão lugar à chamada “mastite purperar, que provoca uma colecção de pus e incha os mamilos.”
 “Não existem normas de actuação na prestação de cuidados”
O médico cirurgião Renato Palma admitiu que os erros acontecem devido à demanda das instituições e, sobretudo, das maternidades, que ainda são em número reduzido, principalmente com qualidade assistencial.
“Estas unidades têm uma demanda a duplicar ou triplicar e com um pessoal reduzido e que muitas vezes faz turnos repetidos”, disse, argumentando que a demanda faz com que a perícia médica diminua, porque o organismo atinge o esgotamento. O especialista acrescenta que a demanda faz com que se esqueça um instrumento ou material dentro do abdómen da paciente.
Ao corroborar com a opinião do porta-voz da Ordem dos Médicos, Renato Palma defende a realização de verificação do material, antes e depois da cirurgia, para evitar consequências que coloquem em risco a vida do paciente e do recém-nascido. Explicou que a paciente com parto por cesariana fica internada entre três e cinco dias, para acompanhar-se a evolução. Antes da alta médica, acrescenta, a paciente deve passar por uma revisão da cavidade, que pode incluir análises das secreções a nível da ferida e órgão genital, Raio X, exame de sangue e ecografia. 
Renato Palma disse, por outro lado, que o país não dispõe de normas de actuação para o mesmo tipo de prestação de cuidados, pois o corpo clínico de cada instituição de saúde decide da sua forma.
Logicamente, afirma o especialista, “se cada instituição tiver a sua norma, é muito difícil haver um documento que vai reger as formas de prestação de uma mesma patologia e fica um terreno fértil para ocorrência de situações do género”.
Ao indicar que a elaboração das normas é responsabilidade das academias ou institutos, disse que o médico, como qualquer ser humano, tem a capacidade de esquecer, mas a presença de uma norma de actuação permite seguir os passos antes e depois de cada cirurgia.
Pacientes no Josina Machel
O médico admitiu que o Hospital Josina Machel recebe pacientes, provenientes de outras unidades, com algum instrumento ou material gastável esquecido durante a operação.
Ao apontar que situações deste género não podem suceder, Renato Palma disse que, nalguns casos, a compressa esquecida é expelida pelas fezes e, outras vezes, pode apodrecer na cavidade abdominal.
“Quando isto acontece, causa uma quantidade de pus e pode provocar uma falência múltipla de órgãos, insuficiência cardíaca e renal, levando o paciente à morte”.
Acrescentou que as complicações podem ser piores naqueles casos em que se esquece de uma lâmina de bisturi, pinças ou um separador, porque com o movimento o paciente pode ter um órgão perfurado.
Não se encerra a cirurgia sem a contagem
O porta-voz da Ordem dos Médicos de Angola, Jeremias Agostinho, esclareceu que, em situações ligadas a erros médicos, o paciente pode queixar-se à Inspeção Geral da Saúde e à Ordem dos Médicos. Estas entidades avaliam se houve negligência por parte do médico. 
“Analisamos, se for reincidente, se a instituição tem condições para a realização de tal cirurgia e se foi feita da melhor forma possível ou se houve negligência”.
Além de medida disciplinar, os profissionais podem ver a carteira cassada. O médico salientou que não se encerra a cirurgia sem que se faça contagem, mesmo que o material esteja com sangue.
“Se o enfermeiro entregar 20 pares de compressas, depois do procedimento, ele tem de contar se os 20 pares foram retirados, bastando faltar uma para não se encerrar”, explica. Acrescenta que algumas complicações surgem também por falta de cuidados do paciente depois da operação.
fonte: jornaldeangola


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