A GUINÉ-BISSAU
E O
LETRAMENTO
POLITICO
JOAQUIM AGOSTINHO DA SILVA
Caros irmão guineenses,
Sinto um dever patriótico e de cidadania em dirigir esta
minha mensagem de reflexão sobre a críse política vigente que vem assolando o
país e mantendo os políticos o povo da Guiné-Bissau, já há um ano, sob o
obscurantismo, após a tão almejada esperança advinda com as eleições
presidenciais e legislativas de 2014.
Caros irmãos guineenses,
É minha convicção, e acredito ser também de todos os guineenses,
que para se resolver uma crise, quer política,
quer social em primeiro lugar, seria preciso compreendê-la, avaliá-la, criando
assim um esquema mental e definindo etapas ou caminhos para obter solução.
Por conseguinte, seriam lançadas as bases propícias para consecução
de um consenso plausível.
Os conflitos têm
melhor perspetiva de solução quando o bom senso leva as partes a se esforçarem
minimamente em reconhecer a razão da
adversária, mas eles podem agravar-se quando as emoções, a falta de visão
ou má-fé impedem qualquer
reconhecimento das causas e motivações da outra parte.O nosso erro na resolução
de qualquer conflito, reside-se na forma como importamos análises acerca da cultura política democrática, o que
gera a controvérsia com as nossas leis,
histórias e contexto.
Carosirmão guineenses,
Completamos 43 anos da nossa independência: uma independência
em que muitos atores políticos não perceberam ainda, que quem quer liderar na
sociedade deve perceber que a luta pela liberdade ou luta de libertação nacional
não tem limites porque a sociedade não para de evoluir e de se renovar.
Esta luta não se esgota com a independência nacional, uma bandeira e um hino para logo continuarcom a "incivilidade
nacional", (mentiras, intrigas, ódios, arte factos e/ ou assassinatos).
Mas devemos perceber que o desenvolvimento é a tarefa mais difícil, que temos
pela frente, como dizia Amílcar Cabral.
Conquistada a independência o povo da
Guiné-Bissau não pode permitir opressão
de partidospolíticos, de indivíduos
ou grupos, ou outras formas de criar
divisão ou clivagens no seio da sociedade.
Estes 43 anos da nossa independência deveria servir de
reflexão, hoje, sobre os nossos percursos políticos, nossas açções e para pedir
desculpas a este povo marginalizado e cegadoe os heróis da nossa independência
(admitir que falhamos), não alegrar
com a situação de pobreza extrema e
morte lenta que o povo vive enquanto, os outros ainda manipulama verdade
dessa independência e/ ou tornar o próprio colonizador
do povo.
Devemos repensar a qualidade da nossa democracia,
refletir numa nova pedagogia cívica, aliás, na redemocratização das
instituições, e fazer o povo perceber: o que é a política, a democracia,voto,soberania, direitos e deveres docidadão, programa do governo, e ainda o mais importante, contar ao
povo o porquê é necessário à sua participação
na vida política e como se faz o agendamento
políticodos problemas sociais. Assim sendo, pode-se mesmo dizer que há
manifestação renovada nas instituições. Na base de valores e princípios
democráticos, onde o povo usufruirá, dos seus direitos básicos, como: á educação,saúde,informação, justiça, sendo pilares da matriz da cidadania.
Por isso venho através desta carta desafiar, os partidos políticos, instituições da república e o povo
em geral que, para que consigamos a paz, a estabilidade e o desenvolvimento, os
políticos precisam de uma NOVA ERA,
o chamado,LETRAMENTO POLÍTICO. O
letramento político não passa somente em saber, assinar o seu nome, ir ao
domínio de escrita, domínio de tecnologia etc, mas sim, saber interpretar as
instituições democráticas, respeitar as leis da república, símbolos, valores e
princípios democráticos, ter competência e conhecimento democrático, saber unificar vontades e consciências. Isso
passa em ter sentimentos positivos, de orgulho. Até o negativo de vergonha.
Porque o orgulho está muito centrado no imaginário do "povo".
É o compromisso de cada um de nós, com o nosso letramento político, que garantirá a
construção permanente de uma sociedade democrática, uma sociedade em que
sejamos livres, iguais, participativos, responsáveis e solidários,
compreendendoliberdade como
capacidade para ação, igualdade como
acesso para todos aos bens e serviços básicos de forma a proteger a dignidade
humana, participação como a
necessidade de contribuir para o interesse público, responsabilidade por si
mesmo, pelos outros e pelo futuro do mundo, e solidariedade entre as pessoas transcendendo barreiras políticas,
culturais e sociais.
O letramento político, não devemos esquecer, é um
aprendizado que se faz pela democracia e em democracia. Logo, a democracia
precisa ser um discurso e ao mesmo
tempo uma prática de todos nós
individual e coletivamente, todos os dias e em todos os lugares.
É muito importante que o povo tenha liberdade de participação
na democracia e isto significa que tem que ser uma prioridade o combate á
ignorância, de mesmo modo que é prioritário o letramento politico.
O povodeve ser educado
e esclarecido de forma a poder
decidir conscientemente (voto de
qualidade), apoiar quem entende que melhor vai defender os seus interesses.
Não aqueles que fazem "marketing" ou tenha mais meios de distribuir
dinheiros de proveniências duvidosas, comida, bebida, camisolas, etc.
As eleições só podem ser realmente livres e justas nas populações esclarecidas e os eleitos só
devem estar seguros disso nestas circunstâncias. Só pode dormir sem
sobressaltos aquele que for eleito por um povo instruído e esclarecidoe
que participa na vida política e nas tomadas de decisões. Por isso, chamo a
nossa democracia de disfuncional!Por
uma simples razão:POR CAUSA DA CRISE DA
CIDADANIA.Nós somos bons em sonhar, mas não somos bons em cumprir àsregras
dos jogos políticos.
O poder só pode ser exercido de forma pacífica e equilibrada
se a força e a razão estiverem do seu lado e tiver apoio de liderança do povo.
Nesse caso, defendemos que “vida política” e “vida
pública” devem ser entendidas em um contexto mais amplo do que aquele que
normalmente associamos ao adjetivo político.
Caros irmãos
guineenses,
O nosso problema tem aver com duas situações:
1ª A falta de educação (analfabetismo gritante)
2ª A pobreza estrema.
Por isso, a paz, e a tranquilidade e o desenvolvimento do
país é de responsabilidade de todos, dos dirigentes e dirigidos. Todos devemos
buscar a forma de cooperar para luta
contra a pobreza e necessidade extrema, porque elas podem provocar a
descida da consciência da cabeça para
bariga e fazer-nos passar então a viver num autêntico inferno. O perigo
disso é que o povo pode passar a votar com a bariga, os juízes podem passar a
decidir com bariga, os jornalistas podem passar a dar informação com a bariga,
os militares podem passar a defender bariga e não a pátria e a soberania, e a
elite social pode passar a pensar e a decidir políticas públicas com a bariga,
as crianças podem passar à não respeitar os pais, por causa da bariga, os
professores podem passar a ensinar com à bariga, os médicos podem passar a
tratar os pacientes com à bariga.Assim então ficam garantidas todas as
condições de segurança para a corrupção, o nepotismo, e os tráficos ilícitos
passarem a governar, e para a trapaça, vigarices, assaltos, roubos e companhia
limitada passarem a ditar as leis à sociedade (como diz um compatriota na diáspora). E quando o povo perde
completamente a cabeça, porque a consciência já desceu toda para a bariga, não
vai haver quem resista a fúria, porque ninguém vai estar à salvo, nem políticos,
nem militares, nem ninguém.
Caros irmão guineenses,
Para terminar quero dizer-vos para terem coragem e esperança,
que um dia tudo há-de mudar. Para que isso, mude é preciso exigir os nossos
governantes o respeito pelo nosso voto.
Uma coisa eu tenho a certeza, e é bom percebermos isso: nós,
não estamos, condenados a viver na corrupção, intriga, odio, nepotismo e
vingança, mas, estamos condenados a viver
na unidade nacional e na luta contra à nossa fraqueza que é a corrupção.
Porque somos um povo, com valores, padrões ético-culturais e morais capazes de
unificar vontades e consciências.Ontem, unimos e lutamos contra o colonialismo,
para conseguir a nossa independência, hoje, somos chamado de novo, para lutar,
contra comportamentos negativos dos nossos políticose de analfabetos
funcionais.
MUITO OBRIGADO!
JOAQUIM
AGOSTINHO DA SILVA
PROFESSOR DE COMUNICAÇÃO E JORNALISMO
NA
UNIVERSIDADE LUSÓFONA DA GUINÉ