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NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!... A invasão e o massacre de Gaza, uma espécie de campo de concentração...

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

ANGOLA: ADALBERTO, SIM. LOURENÇO, NÃO.

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Como jornalistas do Folha 8, jornal que assume – como sempre – de corpo e alma a sua função histórica (desde 1995 dá voz a quem a não tem – os Angolanos), tenho a liberdade de pessoalmente escolher as duas figuras que, em Angola, se destacaram em 2022 pela positiva e pela negativa. É, reitero, uma escolha pessoal. Adalberto da Costa Júnior é, para mim, a figura do ano pela positiva e João Lourenço pela negativa. Por Orlando Castro Neste balanço, ao contrário de outros que nunca erram, o Folha 8 sabe que (ainda) não conseguiu levar a Carta a Garcia. Mas, na certeza de que não há comparação entre o que se perde por fracassar e o que se perde por não tentar, continuará a tentar. Custe o que custar, cá estamos na frente de combate. Esta tese não se aplica, reconhecemos, ao regime de sua majestade o novo rei, general João Lourenço, que, como se sabe, não comete erros e não ajuda a cometer erros. Daí a justa designação de ele ser a nova versão, melhorada segundo o MPLA, do anterior “escolhido de Deus” (José Eduardo dos Santos). Como nós somos apenas simples mortais, resta-nos a missão de lutar para que Angola seja um dias destes aquilo que ainda não conseguiu ser há 47 anos: uma democracia e um Estado de Direito. Não será fácil, mas continua a ser possível. Até lá, porque a luta continua, não daremos tréguas aos que não conseguem esquecer o passado – mesmo que recente – e fazem dele um fardo tão pesado que muitas vezes os impede de caminhar para a frente, de forma erecta. Os angolanos (os únicos a quem devemos explicações) merecem o nosso esforço e dedicação. São um nobre Povo que, apesar de 20 milhões sobreviverem na miséria, continua erecto e disposto ir de derrota em derrota até à vitória final. Para 2023, ano de grandes desafios que exigem de todos nós tudo o que de melhor possamos dar, os desejos são muitos e muitos deles, sabemos bem, não serão satisfeitos, por uma ou por outra razão, mas sobretudo porque somos (des)governados há 47 anos pelo MPLA. Ou seja, porque a razão da força do regime impede o triunfo da força da razão do Povo. Um desses desejos, talvez o que mais impacto poderá ter no futuro imediato de Angola, é o de que o percurso que há 47 anos falta cumprir (Estado de Direito democrático) tenha em 2023 os primeiros indícios. Um outro desejo tem a ver com a necessidade das diferentes instituições agirem de acordo com a lei (algo que nunca aconteceu), respeitando-a plenamente para que a palavra “cidadania” tenha o devido valor civilizacional. A justiça angolana ainda não deu (pelo contrário) suficientes provas de maturidade, de competência e de independência política, o que nos leva a acreditar, sem qualquer hesitação, que continuará a desempenhar o seu papel de modo domesticado e canino, mesmo sabendo que isso contraria os princípios da verdade e da legalidade. Também gostaríamos que, em 2023, o discurso político do regime/MPLA fosse finalmente inclusivo, sobretudo porque é uma organização (na prática é mais uma seita) que domina o país há 47 anos. Não vai acontecer, é certo. O seu principal argumentário baseia-se na imposição da única lei que conhecem: quero, posso e mando. Gostaríamos, também, que o ano de 2023 desse frutos (mesmo que ainda embrionários) no sentido de se apostar na diversificação da economia nacional, uma vez que essa é uma condição incontornável para combater a crise que nos entrou pelo país dentro. É, aliás, uma estratégia defendida há décadas por quem usa a cabeça para… pensar (não é caso dos dirigentes do MPLA que usam a cabeça apenas para enriquecer). É tempo daqueles que trabalham para sua majestade o rei/general João Lourenço, e que são pagos com o dinheiro roubado aos angolanos, perceberem que, por muito que tentem e se esforcem, Angola deixará um dia de ser um reino esclavagista. É evidente que o Povo angolano não têm nada a ver com aquilo que é o sonho, a vontade e a prática neocolonialista que o MPLA leva a cabo, há 47 anos, sobre Angola. É neste contexto que Adalberto da Costa Júnior sobressai pela positiva e João Lourenço pela negativa. Em síntese, continuarei em 2023 a ser ingénuo a manter viva a tese de Jonas Savimbi: “Angola não se define – sente-se”. FOLHA8

ANGOLA: EM LIBERDADE MAS DE BICO CALADO.

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O Tribunal Supremo de Angola concedeu liberdade condicional ao ex-ministro dos Transportes Augusto Tomás, que fica obrigado a residir em Luanda e a pagar o total da indemnização a que foi condenado. Numa das audiências, Augusto Tomás disse: “Às vezes as pessoas confundem a essência com a aparência”… No acórdão do Tribunal Supremo, datado de ontem, é concedida “a liberdade condicional ao recluso Augusto da Silva Tomás, pelo tempo que resta para o cumprimento da pena de cinco anos, três meses e 22 dias de prisão”. A pena de Augusto Tomás – condenado pelo Tribunal Supremo em Agosto de 2019, a 14 anos de prisão maior, no âmbito do julgamento do conhecido “caso do Conselho Nacional de Carregadores” (CNC), pena que foi reduzida pelo plenário do Tribunal Supremo a sete anos e um mês de prisão – termina no dia 10 de Janeiro de 2024, lê-se no acórdão. Até lá, o ex-ministro terá que “cumprir as seguintes obrigações: residir nesta cidade de Luanda; pagamento total da indemnização a que foi condenado, no mesmo prazo”. A defesa de Augusto Tomás solicitou a liberdade condicional, por o ex-ministro ter cumprido metade da pena que lhe foi imposta, tendo a Direcção-Geral do Serviço Prisional dado parecer favorável. O antigo ministro dos Transportes encontra-se detido desde o dia 21 de Setembro de 2018, pelo que atingiu o meio da pena no dia 2 de Abril deste ano. Augusto Tomás foi ministro dos Transportes de Angola entre 2008 e 2017, e respondeu em tribunal pelos crimes de peculato, de violação das normas de execução do plano de orçamento sob forma continuada, de abuso de poder sob forma continuada e de participação económica. O antigo ministro dos Transportes foi absolvido dos crimes de branqueamento de capitais, associação criminosa e de crime de participação em negócio, por falta de provas. Recorde-se que o juiz Daniel Modesto Geraldes deu pistas inquisitoriais reluzentes ao considerar, no dia 27 de Setembro de 2022, criminoso o cidadão Augusto da Silva Tomás, para negar a concessão de Liberdade Condicional, por cumprimento de metade da pena, ao abrigo do Proc.º n.º 02/19 – Tribunal Supremo, que o condenou à 7 anos e um mês de prisão. Eis o douto “veredicto” do juiz Daniel Modesto Geraldes: “Dito isto, a libertação deste tipo de criminosos a meio da pena não se mostra de todo compatível com a paz social e tranquilidade públicas que se exige para a concessão da liberdade condicional. Mais, diremos que consideramos as penas demasiado brandas e será tempo de o legislador olhar para esta criminalidade de forma mais consciente, seja nas molduras penais que deveriam ser mais severas, seja neste tipo de benefícios que se deveriam verificar cumprida que estivesse 5/6 da pena, para se evitar a sensação tão ouvida por parte do povo em nome de quem administramos a justiça de que “afinal o crime compensa. Assim e nos termos expostos decido negar a liberdade condicional ao requerente”. Importa relembrar, como o Folha 8 fez no passado dia 12 de Outubro, que o “veredicto” Daniel Modesto Geraldes encerra uma linguagem abjecta, torpe e soez, que deveria navegar, apenas nos esgotos da escumalha mafiosa, por atentar contra os normativos de um direito, contra tratamento degradante: “Ninguém pode ser submetido a tortura, a trabalhos forçados, nem a tratamentos ou penas cruéis, desumanas e degradantes”, art.º 60.º CRA (Constituição de Angola), norma assente nos marcos da humanização, imparcialidade, liberdades, democracia. O juiz Daniel Modesto Geraldes denotou, a céu aberto, ter questões pessoais, contra este preso (Augusto Tomás) em particular, tomando “sentença adesão”, com a severidade das decisões aplicadas, em clara violação do art.º 158.º CPC (Código do Processo Civil). Primeiro, estando o arguido, em prisão domiciliar, através de mandado judicial, com controlo e vigilância da Polícia Prisional, por ter contraído COVID-19, inusitadamente, num dia, o juiz emite um mandado de busca e captura, publicitando-o nos meios de comunicação social públicos, quando o mesmo estava localizado e sob protecção policial, que nunca comunicou fuga do arguido, tudo para macular a sua honra. Uma postura que nem o estado de guerra, de sítio ou de emergência compagina, a perca de direitos, vide, alíneas d) e f) do n.º 5 do art.º 58.º CRA. Segundo, é bizarria jurídica catalogar, um preso na marginalidade do objecto de ressocialização, conotando-o de criminoso, violando artigos constitucionais, sombrinhas dos direitos fundamentais, art.º 36.º CRA: “2. Ninguém pode ser privado da liberdade, excepto nos casos previstos pela Constituição e pela lei. 3. a) O direito de não ser sujeito a quaisquer formas de violência por entidades públicas ou privadas; b) O direito de não ser torturado nem tratado ou punido de maneira cruel, desumana ou degradante”. A violação dos direitos fundamentais, é um crime e, ninguém tem o livre arbítrio, mesmo escondendo-se por detrás de uma toga preta, de catalogar outrem de criminoso, sem fundados elementos probatórios. Ademais, no caso em concreto, não em outros eventuais ilícitos, mas no do CNC (Conselho Nacional de Carregadores), o acórdão para além de sofrível, denota, uma conflitualidade conceitual, insanável. No passado dia 4 de Junho de 2019, o ex-ministro dos Transportes disse que o seu julgamento estava envolto em “outros factores” ligados a funções antigas que exerceu, que resultaram no desmantelamento de redes mafiosas em portos e aeroportos do país. Porque será que o se esperava ser um tsunami não passou, até agora, de uma pequena calema, e Augusto Tomás não pôs a boca no trombone, preferindo antes meter o instrumento na mala? Augusto Tomás negou a maioria das acusações feitas, salientando que tudo o que fez, nomeadamente a aquisição de participações em sociedade privadas, o frete de aviões, o pagamento de despesas com funcionários do Ministério dos Transportes, como subsídios de alimentação, assistência médica no exterior do país, e outros fora do ministério, o pagamento de facturas de telecomunicações, foram todos realizados com conhecimento e autorização das autoridades e para suprir falhas orçamentais que se verificaram sobretudo a partir de 2014. O ex-governante admitiu que as despesas foram feitas para o Ministério dos Transportes e “não para o cidadão Augusto Tomás e sua família”, sublinhando que nunca fez uso desse tipo de práticas em toda a sua vida e não tem necessidade de fazer isso. Para Augusto Tomás, a sua presença em tribunal tinha a ver com funções que ocupou num passado recente, designadamente quando foi nomeado, em 2007, secretário de Estado para as Empresas Públicas. Segundo Augusto Tomás, sempre defendeu, desde 1995, que era necessário uma reestruturação das empresas públicas, que considerava “um dos fundamentais buracos da economia angolana”, pelo seu funcionamento irregular e deficitário. Já como secretário de Estado, contou que começou a trabalhar para o diagnóstico económico e financeiro das empresas públicas estratégicas mais importantes, nomeadamente a Sonangol, petrolífera estatal, a Endiama, diamantífera do Estado, bancos públicos. “É assim que eu saio deste órgão. Quando começamos a meter o dedo na ferida surgiram anticorpos contra a minha pessoa, é assim que este órgão é extinto e eu vou parar ao Ministério dos Transportes, como ministro dos Transportes”, explicou. O sector dos transportes é o que tem mais empresas públicas, pelo menos 14 empresas e sete institutos, avançou Augusto Tomás, sublinhando a magnitude do sector que é transversal ao desenvolvimento da economia do país. O antigo ministro dos Transportes disse que reestruturou as empresas públicas, criando um modelo de governação de duas camadas, de gestores executivos e não executivos, e criando um sistema de monitorização dos indicadores de gestão, recursos humanos, económicos e financeiros e técnicos operacionais. “Em função disso criámos de facto problemas sérios, tendo em conta que, como é de domínio público, havia um congestionamento portuário de cerca de 90 navios encalhados no Porto de Luanda, com despesas diárias por navio de 25 mil dólares, com despesas anuais de mais de 2,5 mil milhões de dólares, que revertiam para a população em geral e era necessário desmantelar essa rede mafiosa que era dirigida pela máfia do shipping internacional”, referiu. “E o senhor Augusto Tomás foi escolhido para liderar essa luta e desmantelamos essa rede em menos de três meses. Porque Angola tinha o frete mais caro do mundo, como Angola tem o combustível mais caro de aviação do mundo”, acrescentou o réu, realçando as várias diligências internacionais feitas, com Angola a acabar por aderir a Convenções internacionais em relação à aviação civil. Para evitar que o aeroporto internacional de Luanda fosse parar à lista negra e Angola visse inviabilizada a sua aviação civil, Augusto Tomás lembrou que foi necessário “tomar medidas bastante duras”. “É lógico que tivemos que meter no chão, por exemplo, 12 companhias aéreas de ministros de Estado, de generais e de ministros, foi necessário também nessa altura tomar medidas para reverter o quadro anormal que havia no aeroporto de Luanda. Impedir que as pessoas que tinha as companhias aéreas fossem com as suas viaturas até aos aviões. Fechámos 17 entradas, com betão, no aeroporto de Luanda e um colega general ameaçou explodir o aeroporto de Luanda. O Presidente José Eduardo [dos Santos] disse: eles pensam que eles é que mandam”, contou. Sobre estes detalhes que avançou em audição, Augusto Tomás disse que foram apenas “para dar a entender quem é a pessoa que neste momento está a ser julgada”. “Porque há outros contornos à volta da minha prisão. Portanto, não é por acaso que eu permaneci dez anos no Ministério dos Transportes, porque é uma luta titânica de uns contra gigantes, é lógico que tinha que terminar assim”, disse. Ao terminar, Augusto Tomás recorreu a um adágio de Cabinda, de onde é natural, para dizer que “às vezes as pessoas confundem a essência com a aparência”. “O papagaio tem o bico preto, o sardão tem o bico vermelho, há dendê e quem come o dendê é o papagaio, mas quem tem o bico vermelho é o sardão, quer dizer que por vezes as aparências iludem”, referiu. Folha 8 com Lusa

Obama, Macron, Fernández e outros líderes lamentam morte de Pelé.

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ÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Líderes mundiais repercutiram a morte de Pelé, aos 82 anos. Um deles foi Barack Obama, ex-presidente dos EUA, que conheceu Pelé em 2019, em São Paulo, durante uma visita ao Brasil. Na ocasião, Pelé, que se recuperava de uma infecção urinária, entregou uma camisa da seleção brasileira para o ex-presidente americano. "Para presidente Obama com abraço, Edson Pelé". Obama disse então que o ex-jogador era a "única lenda viva que ele queria conhecer e ainda não havia conhecido", o que Pelé retribuiu dizendo que era um admirador "de longa data" de ex-presidente. Após ter conhecimento da morte do Rei do futebol, Obama publicou no Twitter: "Pelé foi um dos maiores que já jogou o belo jogo. E, como um dos atletas mais reconhecidos do mundo, ele entendeu o poder do esporte para unir as pessoas. Nossos pensamentos estão com sua família e todos que o amavam e admiravam". Presidentes também prestaram homenagens ao Rei do futebol. "Nos deixou um dos melhores futebolistas da história. Recordaremos sempre daqueles anos em que Pelé deslumbrou o mundo com suas habilidades. Um grande abraço a sua família e ao povo do Brasil, que o levará no coração", disse Alberto Fernández, presidente da Argentina. Já o presidente da França, Emmanuel Macro, postou uma foto de Pelé com os dizeres: "O Jogo. O Rei. A Eternidade. A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, afirmou que "graças ao seu talento e à sua classe", Pelé "conseguiu deixar a sua marca mesmo nas gerações que não tiveram a sorte de o ver jogar". "Hoje o mundo inteiro chora uma lenda chamada Pelé." O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, lembrou que "quando criança, assisti Pelé na Copa do Mundo de futebol em uma tela em preto e branco. Meu pai me disse que eu era o melhor jogador de futebol do mundo. Hoje acho que meu pai tinha razão", disse ele, que completou: "Uma mensagem de solidariedade à sua família e a todos os brasileiros que tanto o amavam". O presidente Andrés Manuel López Obrador, do México, país em que Pelé conquistou o tricampeonato mundial, destacou o papel de influência do craque em futuras gerações de jogadores do Brasil e mundo. "Que descanse em paz, Pelé, o grande jogador e humilde professor que certamente influenciou jogadores como Ronaldinho com seu exemplo". A embaixadora da Suécia no Brasil, Karin Wallensteen, lembrou dos laços de seu país com o maior futebolista da história, já que foi em solo sueco onde Pelé e o Brasil conquistaram pela primeira vez a Copa do Mundo. " Pelé não foi apenas uma estrela do futebol, mas um jogador de futebol muito amado na Suécia, após a Copa do Mundo de 1958. Lamentamos e choramos junto com o Brasil a morte deste ícone do futebol."

URSS. A maior utopia política nasceu há um século.

NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!... Cem anos depois da criação da União Soviética, como estão as repúblicas que a integraram?
Vladimir Ilyich Ulianov, mais conhecido como Lenine (à esq.), com Yossif Vissarionovitch Dzhugashvili, mais conhecido como Estaline, que se tornou secretário-geral do Partido Comunista Soviético em 1922, ano da criação da URSS.© AFP Vladimir Ilyich Ulianov, mais conhecido como Lenine (à esq.), com Yossif Vissarionovitch Dzhugashvili, mais conhecido como Estaline, que se tornou secretário-geral do Partido Comunista Soviético em 1922, ano da criação da URSS.© AFP URSS Dos escombros do império russo e na sequência da tomada do poder pelos sovietes, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas ganhou forma em 30 de dezembro de 1922, quando mais de dois mil delegados, reunidos no teatro Bolshoi, aprovaram uma declaração sobre a instituição da entidade política e respetivo tratado. Faziam então parte da união orquestrada por Lenine a Rússia, Ucrânia, Bielorrússia e Transcaucásia. Mais tarde chegou a incorporar 15 repúblicas, ocupando um sexto da superfície terrestre. A revolução comunista impôs-se pela força da ideologia e das armas, podendo reclamar como feitos a vitória sobre a Alemanha nazi ou o papel pioneiro na aventura espacial. Mas o regime autoritário e opressor ruiu sob o peso da ineficiência económica e a incapacidade de se reformar. Bielorrússia Na corda bamba A natureza da relação com a Rússia, numa permanente corda bamba entre a absorção por Moscovo e uma soberania limitada, tem sido o número circense em que se especializou o autoritário Alexander Lukashenko. Os acontecimentos precipitaram-se nos últimos meses e já poucos duvidam que a fortuna do homem que lidera a Bielorrússia está ligada de forma inexorável à de Vladimir Putin. Único aliado do líder russo na "operação militar especial", ao permitir que as forças russas invadissem a Ucrânia através do seu território e usem as bases militares para lançar mísseis ou para acolher as tropas mobilizadas, Lukashenko diz que não vai participar de forma direta no conflito. Em troca diz ter recebido mísseis com capacidade nuclear, para os quais os seus aviões de combate foram adaptados. Os opositores que não estão exilados nem presos demonstraram-se ativos com várias operações de sabotagem, em especial nas linhas de comboio. O regime tem sido alvo de sanções do Ocidente e a perspetiva para 2023 é de recessão e mais pobreza. A história da Estónia, Letónia e Lituânia está fundada na luta contra o invasor russo (e soviético) e quem conhece os povos bálticos não se surpreende por terem sido os primeiros a saltar fora da União Soviética, ao declararem a independência meses antes da dissolução. A sua solidariedade para com os povos perseguidos ou alvo de coerção pelas grandes potências já tinha sido notícia, fosse a acolher os exilados bielorrussos ou em demonstrações de solidariedade para com Taiwan (Taipé abriu em Vilnius uma embaixada em nome próprio, o que gerou um conflito diplomático), mas a reação de apoio aos ucranianos só tem paralelo com a dos polacos. Entre as 15 repúblicas soviéticas são as únicas a saírem da URSS com passaporte da NATO e da União Europeia. Os países bálticos são um caso de êxito na reintegração europeia, inclusive na independência energética da Rússia. Rússia Fatalismo e neo-imperialismo O escritor ucraniano Andrei Kurkov, que escreve em russo, ao caracterizar os seus compatriotas como individualistas e anarquistas separou as águas dos russos: "Os russos são fatalistas. Todos os russos dizem que não podem fazer nada para mudar a situação, têm de aceitar o que quer que aconteça", disse ao DN. Irá o líder da Rússia, que considera o fim da URSS a "maior catástrofe geopolítica do século XX", e irão os seus cidadãos-súbditos (tendo em conta a progressiva perda de direitos cívicos e de liberdades) agir em conformidade com o dito fatalismo? Vladimir Putin, considerado por alguns um brilhante estratega e por outros um genocida, afastou o seu país do Ocidente ao liderar um regime de fachada ultraconservadora e nacionalista que tem eliminado toda e qualquer oposição séria. Sentado na mina dos hidrocarbonetos, o antigo agente do KGB conseguiu elevar o nível de vida da população, em especial nas cidades, e o aparato de segurança trouxe a segurança e estabilidade que agradou a muitos russos, enquanto foi restaurando a ideia neo-imperial de uma Rússia maior do que a está definida nas fronteiras. Além de não reconhecer a soberania da Ucrânia, o presidente russo aprovou em setembro uma nova doutrina de política externa que em última análise justifica as intervenções armadas em qualquer lugar em que haja populações russófonas. O documento diz que a Rússia tem como dever "proteger, salvaguardar e fazer avançar as tradições e ideais do mundo russo". Com as portas fechadas na Europa, Moscovo virou-se para a Ásia e em especial para a China, sem esquecer o Médio Oriente (Síria e Irão) e África, para tentar minorar os efeitos das sanções. Ucrânia Num pesadelo a sonhar com o futuro A Ucrânia marcou pela diferença ao aprovar em referendo, e com maioria esmagadora, a independência da URSS, tal como anos depois entregou as armas nucleares à Rússia em troca de garantias de segurança. A dependência económica, energética e política russa foi sufocando as tentativas de fazer o seu próprio caminho, minado igualmente pela corrupção. Mas a ingerência russa que desembocou na revolta de 2014, tendo levado à perda de território e à guerra, teve como efeito a refundação de uma nação e a unidade do povo, fale ucraniano ou russo, seja ortodoxo, católico ou muçulmano, perante a invasão. O fim da guerra - quando e como - ditará se o sonho europeu está ao virar da esquina Moldávia Voltada para oeste, ameaçada a leste A neutralidade moldava tem, até agora, sido suficiente para não alimentar o apetite das tropas russas estacionadas na margem esquerda do Dniestre, onde funciona uma espécie de estado soviético em ponto pequeno, a Transnístria. Para o diretor dos serviços de informações do pequeno país de língua romena, não há dúvidas de que o ataque vai ter lugar. Com uma presidente e uma primeira-ministra pró-europeias, em junho, a par de Kiev, Chisinau recebeu de Bruxelas o estatuto de país candidato à adesão, mas a entrada no clube não é para amanhã. Cáucaso Longe de Bruxelas e longe de Moscovo Três quartos dos georgianos dizem-se pró-ocidentais e a sua presidente, Salome Zurabishvili, representa esse sentimento. Mas o governo, que é acusado de manter o ex-presidente Saakashvili em condições desumanas na prisão, não está com a maioria, segundo alguns analistas devido à influência pró-russa do ex-PM e oligarca Ivanishvili. Resultado da deriva georgiana, a UE barrou o pedido de candidatura, enquanto o país recebeu dezenas de milhares de russos. Um fluxo migratório que trouxe a duplicação do crescimento económico, mas que pode vir a gerar problemas no futuro, tendo em conta o que aconteceu na Abecásia e Ossétia do Sul. O Azerbaijão e a Arménia têm continuado em escaramuças nas fronteiras, e sem que a força de paz russa consiga impor-se, o que já levou o governante arménio a pôr em causa o tratado de defesa liderado por Moscovo. Ásia central Entre a influência russa e chinesa A invasão russa da Ucrânia desencadeou ondas de choque geopolítico em toda a Ásia Central e alterou ideias feitas sobre o equilíbrio de poder na região, que viveu momentos de instabilidade nos últimos meses. O principal e mais industrializado dos cinco países, o Cazaquistão, iniciou 2022 com protestos que não resultaram no derrube do presidente Tokayev porque a Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC), composta por seis ex-repúblicas da URSS saiu em sua ajuda. Mas depois de ter saído reforçado, o líder cazaque mostrou distâncias com Putin: declarou não reconhecer anexações russas e disse que o seu país não iria violar as sanções internacionais à Rússia. O Quirguistão e o Tajiquistão voltaram a envolver-se em confrontos fronteiriços, mas desta vez, às dezenas de mortos, seguiu-se a assinatura de um acordo de paz. A China, que assinou um acordo com o Tajiquistão para realizar manobras militares naquele país (e está presente numa base na fronteira com o Afeganistão), tem reforçado a sua presença na região para lá das trocas económicas. Não por acaso, a primeira viagem de Xi Jinping desde a pandemia foi ao Cazaquistão. cesar.avo@dn.pt

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