Rafael Marques considera que o Presidente angolano planeia recandidatar-se, estando a levar a cabo um "massacre para renovar o poder pela via da violência" e a "minar as bases do Estado para uma transição pacífica".
Comemoram-se esta quarta-feira, 11 de novembro, os 40 anos da independência de Angola. Durante 36 deles, José Eduardo dos Santos foi o Presidente do país. O seu actual mandato termina em 2017.
Num cenário de contestação social e instabilidade económica no país, o 40º aniversário de Angola independente assinala-se também de olhos postos no futuro político do país.
A DW África falou com o jornalista e ativista angolano Rafael Marques sobre a sucessão de José Eduardo dos Santos.
DW África: 36 anos depois, já se prepara a sucessão em Angola? Já há um plano?
Rafael Marques (RM): Tanto quanto eu sei, não há plano nenhum para a sucessão do Presidente José Eduardo dos Santos. Se há algum plano, é o de ser ele o seu próprio sucessor. Ou o seu filho. Mas são planos apenas informais. Esse é um dos grandes dilemas que vivemos neste momento, porque o Presidente cada vez mais se mostra incapaz de dar conta dos assuntos do Estado e cada vez mais está ligado aos assuntos familiares. Trata os assuntos do Estado como se de família se tratassem. Mesmo a transferência de negócios e de património do Estado para os seus filhos está a ser feita de uma forma que revela que é alguém que já não têm o mínimo de cuidado com as leis e que pode até acabar por ser julgado pela forma tão aberta como está a cometer crimes de peculato, entre outros.
DW África: Acha que José Eduardo dos Santos está a pensar recandidatar-se?
Num cenário de contestação social e instabilidade económica no país, o 40º aniversário de Angola independente assinala-se também de olhos postos no futuro político do país.
A DW África falou com o jornalista e ativista angolano Rafael Marques sobre a sucessão de José Eduardo dos Santos.
DW África: 36 anos depois, já se prepara a sucessão em Angola? Já há um plano?
Rafael Marques (RM): Tanto quanto eu sei, não há plano nenhum para a sucessão do Presidente José Eduardo dos Santos. Se há algum plano, é o de ser ele o seu próprio sucessor. Ou o seu filho. Mas são planos apenas informais. Esse é um dos grandes dilemas que vivemos neste momento, porque o Presidente cada vez mais se mostra incapaz de dar conta dos assuntos do Estado e cada vez mais está ligado aos assuntos familiares. Trata os assuntos do Estado como se de família se tratassem. Mesmo a transferência de negócios e de património do Estado para os seus filhos está a ser feita de uma forma que revela que é alguém que já não têm o mínimo de cuidado com as leis e que pode até acabar por ser julgado pela forma tão aberta como está a cometer crimes de peculato, entre outros.
DW África: Acha que José Eduardo dos Santos está a pensar recandidatar-se?
RM: Não só está a pensar em recandidatar-se, como todo este movimento de procurar supostos golpistas, e agora até esta ideia de que a NATO poderia envolver-se numa invasão a Angola, são pretextos para justificar - caso a situação económica continue a deteriorar-se, como temos estado a verificar - o massacre para renovar o poder pela via da violência e do medo. É uma constante na forma de fazer política em Angola.
DW África: Falou anteriormente de Filomeno dos Santos, filho do Presidente, como hipótese para a sua sucessão. E Manuel Vicente, actual vice-Presidente de Angola, poderá ser um nome considerado pelo MPLA?
RM: Todos sabemos que Manuel Vicente é uma marioneta do Presidente José Eduardo dos Santos. E não tem apoios no MPLA que lhe possam garantir a manutenção do poder logo após a saída do Presidente, quaisquer que sejam as circunstâncias da sua saída. Do ponto de vista formal, Manuel Vicente seria automaticamente indigitado como Presidente, se a saída acontecesse até 2017. Mas estamos a falar de um ano e meio, praticamente. Fora isso, sabemos que Manuel Vicente é apenas mais uma figura que o Presidente utiliza para tentar dar a ideia de que tem mais alguém com que pode partilhar o poder. No entanto, aquilo que conhecemos do Presidente vai pela máxima dos ditadores: depois de si, não há mais nada.
DW África: Falou anteriormente de Filomeno dos Santos, filho do Presidente, como hipótese para a sua sucessão. E Manuel Vicente, actual vice-Presidente de Angola, poderá ser um nome considerado pelo MPLA?
RM: Todos sabemos que Manuel Vicente é uma marioneta do Presidente José Eduardo dos Santos. E não tem apoios no MPLA que lhe possam garantir a manutenção do poder logo após a saída do Presidente, quaisquer que sejam as circunstâncias da sua saída. Do ponto de vista formal, Manuel Vicente seria automaticamente indigitado como Presidente, se a saída acontecesse até 2017. Mas estamos a falar de um ano e meio, praticamente. Fora isso, sabemos que Manuel Vicente é apenas mais uma figura que o Presidente utiliza para tentar dar a ideia de que tem mais alguém com que pode partilhar o poder. No entanto, aquilo que conhecemos do Presidente vai pela máxima dos ditadores: depois de si, não há mais nada.
DW África: Vários analistas consideram que, no dia em que José Eduardo dos Santos deixar o poder, a situação vai tornar-se complicada em Angola. Acha que a sucessão será pacífica ou espera violência, de alguma forma?
RM: As coisas não ficarão complicadas pela saída de José Eduardo dos Santos. O Presidente é que está a complicar a situação, está a minar as bases do Estado para uma transição pacífica. Quando manda prender os activistas e os acusa de tentativa de golpe de Estado, quando nomeia um embaixador itinerante que vai a todo o país dizer que estes jovens, coitados, estão em contacto com a NATO para vir bombardear Angola. Não faz sentido nenhum. É a lógica da estupidificação do pensamento e da consciência dos angolanos. É uma forma de criar medo, através da brutalidade da linguagem belicista, do poder. E esse tipo de ações têm uma mensagem clara: se alguém desafiar o poder do Presidente José Eduardo dos Santos, vai ter guerra. Como não há uma força capaz de fazer guerra contra o MPLA, o que se subentende com esta ameaça é que o MPLA não pensará duas vezes em massacrar todos aqueles que se opõem ao poder do Presidente.
RM: As coisas não ficarão complicadas pela saída de José Eduardo dos Santos. O Presidente é que está a complicar a situação, está a minar as bases do Estado para uma transição pacífica. Quando manda prender os activistas e os acusa de tentativa de golpe de Estado, quando nomeia um embaixador itinerante que vai a todo o país dizer que estes jovens, coitados, estão em contacto com a NATO para vir bombardear Angola. Não faz sentido nenhum. É a lógica da estupidificação do pensamento e da consciência dos angolanos. É uma forma de criar medo, através da brutalidade da linguagem belicista, do poder. E esse tipo de ações têm uma mensagem clara: se alguém desafiar o poder do Presidente José Eduardo dos Santos, vai ter guerra. Como não há uma força capaz de fazer guerra contra o MPLA, o que se subentende com esta ameaça é que o MPLA não pensará duas vezes em massacrar todos aqueles que se opõem ao poder do Presidente.
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Samuel