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domingo, 18 de junho de 2023
MISSÃO DE PAZ AFRICANA EM KYIV E MOSCOVO: Uma mediação da razão.
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De sete à partida, para levar a cabo uma iniciativa de paz entre a Ucrânia e a Rússia, são finalmente quatro chefes de Estado africanos que se deslocam a Kiev onde serão, em princípio, recebidos hoje 16 de junho de 2023, pelo seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky , antes de viajar para São Petersburgo em 17 de junho para se encontrar com o chefe do Kremlin, Vladimir Putin. São eles os presidentes da Zâmbia, Hakainde Hichilema, do senegalês Macky Sall, do sul-africano, Cyril Ramaphosa, a que se juntam o actual presidente da União Africana (UA), o comoriano Azali Assoumani, que estão finalmente disponíveis para liderar esta iniciativa de paz africana em o conflito russo-ucraniano. Uma aproximação diplomática à qual se associaram o congolês Denis Sassou Nguesso, o ugandês Yoweri Museveni e o egípcio Abdel Fattah Al Sissi acabou por impedir. O objetivo desta missão é restabelecer o diálogo entre os dois beligerantes com vista a uma resolução pacífica do conflito. O mínimo que podemos dizer é que a realocação desta missão de paz africana é uma iniciativa louvável que faz crescer o continente negro e reflete seu desejo de desempenhar seu papel nas relações internacionais.
Esta missão africana de bons ofícios é a aproximação de uma voz que quer contar no concerto das nações.
Um desejo tanto mais justificado quanto por razões económicas, diplomáticas e geoestratégicas, África está no centro de muitos interesses que a tornam hoje mais do que ontem, um continente que importa. Um continente que conta num mundo globalizado onde é objecto de um assíduo tribunal por parte das grandes potências que, perante a crescente influência de outros países como a China, a Turquia e até o Japão e a Índia, descobrem sérios concorrentes no esta parte do planeta que, no entanto, era considerada reservada às antigas potências coloniais. Ou seja, hoje o mundo mudou muito e a África com ele. E esta missão africana de bons ofícios para uma oferta de paz no maior conflito do momento com impacto global, é a aproximação de uma voz que quer contar no concerto das nações. Isto é tanto mais legítimo quanto, para além das considerações diplomáticas, o continente negro é duramente atingido pelas repercussões desta guerra tão distante mas tão próxima, que não está longe de perturbar a ordem mundial e que põe à prova as suas economias já em gotejamento. Recordamos ainda a visita, em junho de 2022, do Presidente senegalês, Macky Sall, a Sochi, vestido com o seu boné de Presidente em exercício da União Africana, para fazer campanha não só a favor de uma calmaria nos combates, mas também e sobretudo defender, junto do patrão do Kremlin, a causa do continente negro com vista à libertação de stocks de cereais e fertilizantes agrícolas em benefício dos Estados africanos. Quatro meses depois, em outubro de 2022, foi o atual presidente da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, o guineense Umaro Sissoco Emaballo, que lhe seguiu os passos indo a Kiev e a Moscovo, pregar a paz.
Além de suas chances de sucesso, esta iniciativa de paz africana pretende ser uma abordagem educacional.
Quer dizer, se a missão deste quarteto de chefes de Estado africanos que hoje se encontram na Ucrânia e na Rússia, como apóstolos da paz, é uma mediação da razão que se insere na mesma dinâmica do continente negro, contribuir para a resolução de um conflito que está mobilizando todas as energias da comunidade internacional. Significa também que, ao investir na busca de soluções para o retorno da paz na Ucrânia, a África busca proteger seus próprios interesses. Este é um jogo justo. E a iniciativa é tanto mais apreciada quanto o próprio continente negro já está sobrecarregado por seus problemas internos em termos de guerras, desastres naturais, desafios de segurança e onde os focos de tensão são contados de leste a oeste e de norte a sul. É por isso que, para além das hipóteses de sucesso, esta iniciativa de paz africana pretende ser uma abordagem educativa e uma mensagem forte às grandes potências e à comunidade internacional. Que por vezes apresentam uma solidariedade de geometria variável que, neste caso, se orienta essencialmente para a Ucrânia em detrimento de um continente onde as necessidades falam por si e que não cessa de pedir ajuda. Em todo o caso, para além da sua tradição de diálogo sob a palavereira, África não carece de trunfos nesta missão de bons ofícios, ainda que a redução, no último momento, da delegação, não deixe de questionar. E neste sentido, salvo raras excepções, a posição de neutralidade da maioria dos países africanos neste conflito, poderá ser uma vantagem para os missi dominici do continente no sentido de captar o interesse dos seus interlocutores. Há também o momento da missão, que ocorre mais de um ano após o início das hostilidades, quando o cansaço pode ser sentido de ambos os lados. Se somarmos a isso a crise de confiança que parece se refletir no fracasso das iniciativas ocidentais neste conflito bélico entre blocos antagônicos, não há dúvida de que a África tem uma boa cartada para jogar Kiev e Moscou.
fonte: lepays.bf
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Samuel