Cerca de dois anos depois do golpe deEstado militar que depôs o Governo, a Guiné-Bissau tem um novo Presidente desde esta segunda-feira (26.06). A posse de “Jomav” marca o regresso do país à ordem constitucional.
José Mário Vaz, novo Presidente da Guiné-Bissau
Com a tomada de posse no passado dia 17 de junho de Cipriano Cassamá como novo presidente do Parlamento guineense e agora de José Mário Vaz como Presidente da República, e brevemente de Domingos Pereira como chefe do Governo, chega assim ao fim o período em que a Guiné-Bissau foi dirigido por autoridades e figuras nomeadas na sequência do golpe de Estado militar de abril de 2012.
Trata-se do início de uma nova etapa para a Guiné-Bissau, encarada com muito otimismo pelo historiador e investigador guineense Julião Soares de Sousa.
DW África: Como perspetiva esta nova etapa para a Guiné-Bissau?
Julião de Sousa (JS): Há aqui profundas alterações a acontecerem no país e perspetivas com bastante otimismo em relação ao futuro do país. São os novos corpos que vão trazer, seguramente, algumas novidades em termos de exercício da governação e, portanto, só posso encarar isso com certa serenidade e também com algum otimismo.
DW África: Não será uma mudança na continuidade?
JS: Espero que não seja a mudança na continuidade, pelo menos o facto de haver novas pessoas a corporizarem toda esta transformação que se esperava há muitos anos, o facto é que novas pessoas perspetivam que sejam também novas as políticas.
É isso que todos os guineenses esperam, e portanto, não acredito que se venha a manter aqui o status quo que nos trouxe até aqui com situações graves do ponto de vista interno, graves conflitos, graves cisões internas e espero que os novos corpos que vão entrar em funções venham a limar todos esses problemas e que se trabalhe no sentido de se juntar o país, de se unir o país e de fortalecer o diálogo que é necessário para a construção de uma nova pátria.
DW África: A comunidade internacional diz estar cansada de ajudar a Guiné-Bissau, que será uma nova oportunidade. Será uma oportunidade que as novas autoridades da Guiné-Bissau não deverão perder?
JS: Não podem desperdiçar essa oportunidade. De facto dá a sensação de que chegamos ao fim da linha. E de facto a comunidade internacional estava cansada dessa situação de instabilidade que a Guiné viveu ao longo dos anos e portanto, o que se espera agora é que haja um grande sentido de responsabilidade, que o guineense tenha essa responsabilidade e que tenha consciência que nós tínhamos chegado ao fim da linha e que doravante é necessário que haja mais diálogo interno e que comecemos a dar os primeiros passos internamnete no sentido de resolver rapidamente os problemas das nossas populações, que é o que as populações também esperam. Não acredito que se venha a desperdiçar esta oportunidade, porque me parece que será uma das poucas oportunidades que temos para que, de facto, alterar esse status quo.
DW África: Então quer dizer que na ordem do dia não vai continuar o perigo da instabilidade no país?
JS: Acho que o próprio guineense está cansado dessa instabilidade, portanto, o que se espera é que doravante haja um grande sentido de responsabilidade no sentido de evitar o regressso a esta instabilidade.
É verdade que o Presidente e os nossos órgãos de soberania vão tomar posso com alguns problemas por resolver, há problemas gravíssimos que tem de ser devidamente poonderados, mas é preciso que haja mudanças efetivas nas Forças Armadas, na esfera política e nas políticas e tudo isso são dossiers que vão estar em cima da mesa. Mas o mais interessante é que haja um grande sentido de responsabilidade e de Estado.
DW África: Muitos dizem que para lidar com vários desafios na Guiné-Bissau é preciso haver um Governo inclusivo. Isso não será marginalizar a própria oposição?
JS: Quando se fala em inclusão é exatamente no sentido oposto, é alargar o leque das possibilidades do diálogo nacional. Acho que esse diálogo deve ser de inclusão, não do afastamento dos partidos que ficaram largados do poder por causa das eleições, mas que haja um diálogo interno com a participação de todos.
No fundo o que pode tirar o país da situação em que se encontra é um diálogo inclusivo com a participação de todos.
Certamente que é isso que vai acontecer com a tomada de posse das novas autoridades e penso que todos têm essa consciência de que para que haja boa governação. E para que haja estabilidade governativa é necessário que haja mais diálogo nacional.
DW África: Esse diálogo inclusivo poderá acabar com as sanções internacionais contra alguns chefes militares ligados ao tráfico de drogas, para que a estabilidade regresse ao país?
JS: Acho que é um dossier que certamente as novas autoridades vão ter de resolver, porque quando se fala em diálogo nacional ele tem de ser inclusivo e que não haja perseguições ou ódios. A ideia é que haja um diálogo efetivo e quem cometer algum crime deve ser julgado pelos nossos tribunais e deve ser julgado. Portanto, não perseguir as pessoas sem mais nem menos, evitar esses ódios que tem trazido o país a essas todas convulsões que assistimos ao longo desses 40 anos.
Campo cheio para assistir ao empossamento de "Jomav"
# dw.de
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Samuel