Filomeno Pina - Nô Djagra
OS PRIMEIROS
PASSOS para
a saída do “ouro” foram sendo dados silenciosamente através dos descuidos, dos
erros cometidos e das intrigas dentro e fora do PAIGC. Parecendo que o mais
importante nesta organização foi sempre o “culto de personalidade” entre líderes
rivais, julgo ser óbvio para os mais atentos que discutiram promessas em vez de
projectos para o futuro, pois tudo começou antes do último Congresso do PAIGC
em Cacheu. Este encontro ficou caracterizado pelo egocentrismo adulto, ofuscou
o real valor social e político do Partido, que já era fraco, aqui onde ainda é
forte, quando é visto ou passa simplesmente a representar um “trampolim elástico”, desejado
pelos seus atletas mais poderosos da linha da frente, usado para trepar no salto
pretendido mais alto, provavelmente para alguns subirem na vida material e
financeira, a única preocupação de alguns, sem ideias inovadoras,
revolucionárias, que provoquem mudanças necessárias na Casa-Grande!
São Lutas pessoais pelo poder, que cegou os
protagonistas, agiram com um exibicionismo extremo, sem trabalho de fundo
dentro de Casa, sem reconhecerem a fragilidade do Partido, uma organização com
mais de meio século, a precisar de renovação pedagógica urgente assente em
novos objectivos para o futuro, porque para hoje no séc. 21, já é tarde, pois
há que repensar o PAIGC, coisa que não tem sido tratada frontalmente no justo
valor da exigência intelectual e política inerente, por isso mesmo, este
Partido cambaleia moribundo e o Povo ainda o ama desde a luta de libertação
nacional, e só por isso, vai votando no mesmo, em maioria, mas parece ter os
dias contados (má labarémus na kába), acredite se quiser.
Este último Congresso do PAIGC serviu para chamar a
atenção de múltiplas realidades e problemas políticos mal tratados pelos seus líderes,
mas, no entanto os senhores que se candidataram, apressaram-se apenas e
sobretudo na compra da “inteligência” e do voto expresso nas urnas, a
rivalidade centrou-se no “charme” dos candidatos da primeira fila, não se
ouviram expressar as suas ideias inovadoras para o Partido, os próprios
desviaram as atenções da necessidade de uma reflexão profunda, análise
exaustiva sobre o aparelho do Partido e olharam para o lado.
Paradoxalmente ao esperado, assistimos a uma luta renhida
pelo poder de grupos, em quase nada tendo que ver com a filosofia de base do
PAIGC (unidade do Partido), eles utilizaram o espaço do congresso para cimentar
rivalidades pessoais e interesses materiais fora do Partido, deixando para trás
o estado físico e psicológico duma organização, infelizmente, doente há
décadas! Foi um congresso de grupos rivais dentro do PAIGC (uma tristeza), não
se tratando de ideias ou ideologias opostas, mas sim de interesses pessoais
opostos em jogo permanente.
Este maior partido político de sempre na Guiné-Bissau tem
vindo a desistir dos seus maiores trunfos de sempre desde a independência do
País, já não esconde que está ferido com gravidade nos órgãos internos e
externos da sua orgânica politica, ninguém se preocupa, senão em subir, subir,
não se sabendo para onde, mas com um desejo latente de chegar ao poder, mesmo
sabendo que este Partido está doente, poucos estarão interessados em lavar as
fraldas do “velho”, por a mão no sujo sem nojo de limpar, renovar e tratar da
higiene mental do Partido no interior da sua génese.
Um trabalho que exige vinculação permanente nesta fase
decadente da organização do PAIGC é preciso perceber o seu estado profundo, só
depois aplicar a receita para a cura. Até parece que não se passa nada, pelo
facto de terem ganho eleições, mas não chega! Vejamos os últimos acontecimentos
políticos no País, já ninguém dorme nisto, há muito que frisei a necessidade de
vínculo efectivo a tempo inteiro para o seu Presidente limpar a Casa, mas o
poder material foi mais forte do que o poder das ideias, mas lá está agora
visível, os “filhos” do poder no PAIGC estão em guerra aberta, feriram de
“morte” a imagem do Partido no mundo inteiro, mais uma vez!
Acredite se quiser, falta fazer este trabalho de casa,
limpar, cuidar do estado físico e ideológico do PAIGC, há muito que o Partido parou
no tempo, tem sido apenas um trampolim, é usado só para chegar ao Poder, mais
tarde ser abandonado por ex-militantes/lideres, saindo quando são precisos, descolam
para formar outro Partido ou melhor, para tratar de negócios, i. é, o mesmo que
dizer, agora tenho o meu quintal, eles que se danem (o PAIGC).
A queda do “anjo” já é visível, o coveiro simbólico, são
os próprios Camaradas do Partido, os que não fazem e não deixam fazer os interessados
neste partido pelo seu valor ideológico, político e seus militantes e
simpatizantes. Pois há que repensar o PAIGC no seu todo, só assim, a
organização terá vida própria sem estar ligada à mentira ou morte lenta.
O SEGUNDO
PASSO -
Para a saída do “ouro” é a demonstração da clara aproximação do precipício,
foram acontecendo há vários meses depois das eleições de 2014, já em pleno
mandato (com maioria absoluta), o mesmo paradoxo assente em interesses pessoais
e políticos misturados, fizeram com que um ambiente hostil se apoderasse deste triângulo
do poder dentro do PAIGC (Presidência, Governo e Parlamento), provocando um
conflito Institucional, já cozinhado para ser servido frio numa das três mesas apenas
(kôba dy djamfa).
E aconteceu em Agosto deste Ano, as inverdades ocultas
e o silêncio estratégico para o assalto final, concretizou-se, fizeram explodir
a bomba “D. Antónia”, na crise política sem precedentes, depois de um ano de
mandato, vieram as contradições antes colocadas debaixo do tapete e, quando
tudo aparentemente ia de “vento em popa”, gerou-se um choque dentro do Partido que
passou para as instituições (Presidência, Governo e Parlamento) e, já com as ameaças
de derrubar o Governo de DSP, uma realidade que rapidamente levou à convocação
da maior manifestação duma força política em Bissau, tudo em cima do joelho,
foi evidente a água no bico desta “Megamanifestação
– versos - Mega fragilidade do PAIGC”, a minha leitura de momento que,
volto a sublinhar aqui novamente, este comportamento de desespero e ansiedade política
dos líderes do Governo no momento, chegou como sinal de preocupação da queda do
Governo, salientou a divisão do Partido, com o Primeiro-Ministro a pedir o
apoio do seu eleitorado, ao mesmo tempo que a outra “metade”, desejou ver o mesmo
Governo derrubado, um acontecimento inédito no País, foi verificar a guerra
aberta dentro da mesma Casa, uma vergonha, que a oposição tomou logo a seu
favor acrescentando, naturalmente, o “sal” a gosto!
Devo acrescentar que o Eng.º Domingos Simões Pereira
neste Governo, facilitou, não dando o devido tratamento esperado em tempo
record, no que concerne às suspeitas de comportamento ilícito, colado a certos
membros do Governo, digamos que abusou da sorte, abusou do tempo de reacção, porque
melhor do que ninguém, não digo antes de iniciar o mandato, mas poucos meses
depois pôde inteirar-se acerca do mal que vinha a caminho, não era difícil de antever
que algo de injurioso podia pôr em causa o Governo, e tudo por causa de alguns,
no que toca à corrupção ou outras manobras ilícitas!?
Repito aqui, o Eng.º. DSP. como chefe do Governo facilitou
muito, quando agiu para remodelar, já era tarde, o seu rival político tinha alguns trunfos e preferiu
jogar a matar (Áz-mata-séty) infelizmente. Digamos que o chefe do Governo agiu
tarde e só quando sentiu o chão a fugir-lhe, já tarde demais!
Mas esta “queda” ensinou o Jovem Líder muita coisa de
uma assentada, esperemos que faça uso devido, com consciência e sabedoria
implícita, sendo exigente consigo próprio, revolucionário, que o Povo agradece.
O que parecia manifestação de força não passou de excesso
de confiança, confundiu o enterro dançante com o carnaval do Povo, os
organizadores da manifestação não perceberam os sinais implícitos dum Partido enfraquecido
na sua unidade interna, fragmentado, com lutas de caris individualista, mas deram
atenção à fúria registada no evento (manifestação de rua), por efeito positivo e
reforço do “ego”, tudo isto cegou os organizadores da megamanifestação, ao verem
uma multidão a torcer pelo Governo ainda de pé, já sorriam vitoriosos, mas não
chegou! O Partido é uma representação plural, sabemos que o - PAIGC – costuma assistir
passivamente, quando é utilizado pelos membros para chegar ao poder, só que
quando reage, y suma - kátchú dy tchébem – pica em qualquer posição ou sentido
que estiver no terreno, exige cuidados no tratamento ao infractor, tem sempre
uma na manga, sabemos que muitas vezes aconteceram situações tristes, onde muitos
infelizes em guerra no interior do Partido, chegaram ao limite das suas vidas,
infelizmente é um facto histórico que poucos sabem analisar o porquê e
continuam a pisar o mesmo erro!
Na realidade alguns militantes mais novos serão sempre
os últimos a perceber este fenómeno, saber do que a CASA gasta, o que fazem os mais
velhos, para manter de pé o nome de família política PAIGC. O Partido sabe, “nem
só do pão vivem os seus militantes”, embora alguns engordem exageradamente, é
preciso cuidar da higiene ideológica desta organização de massa! É fundamental
percebermos quando somos aceites ou rejeitados, saber o porquê da possível
mudança do eleitorado, seguir a par e passo todos os acontecimentos políticos, dentro
e fora do Partido.
Tanto o JMV
como DSP, ambos têm erros a corrigir e não haverá nunca um único culpado neste
conflito, o tempo o dirá, vamos estando atentos…
Esteve patente na megamanifestação a ansiedade e o medo
da derrota, um receio antecipado de perda, a separação precoce de algo que se
imaginou vitalício (poder executivo) ao mesmo tempo que era distante, mas veio confirmar
a surpresa fatal imposta pela crise politica vivida no País, que determinou a
queda do Governo de DSP.
Quero relembrar que manifestação de força muitas vezes
é paradoxalmente vista como falta dela. Por causa de uns pagaram outros e por
arrastamento. Houve aproveitamento deste descuido, o Governo teve tempo para
substituir certos nomes, usar da transparência e sacudir os problemas,
sobretudo demonstrar que não é obstrução à Justiça, em vez de resolver este problema
no Governo, preferiu fazer discursos duros, que puseram em causa o Ministério
Público e, por arrastamento, o PR (misturando as águas), aquando do pedido de
levantamento de imunidade de certos políticos indiciados na Justiça, sabendo
que ninguém está acima da lei, o Eng.º DSP deveria logo apoiar a medida e ponto
final!
Várias circunstâncias e acontecimentos vêm demonstrar
a fragilidade do PAIGC, uma ferida aberta em derrame, longe de estar estancado,
diria que os anticorpos mais resistentes cederam lugar a “parasitas”, tornando
a crise do Partido cada vez mais debilitado, visto que progride no sentido de PAIGC
perder uma maioria parlamentar e passar a viver entre a prata e o bronze, deixando
o pódio, como maior Partido desde a sua fundação, será?
Cuidado com as guerras na família política, fragilizam
e permitem ascensão de militantes oportunistas a viver no meio do conflito, tornando
cada vez menos provável uma reaproximação entre as partes desavindas, quando se
zangam as comadres, ficamos a saber os podres de cada um. Neste caso, quem
beneficiará é o maior Partido na oposição.
O PRS,
Partido da Renovação Social está atento, esta força política nunca esteve mais
próxima de se tornar no Partido mais votado na Guiné-Bissau. Se concorrer às
próximas eleições com um único candidato, vamos ter surpresas, o PAIGC que se
cuide!
Há novatos que brincaram com o fogo fazendo asneiras
(os enurécticos da politica), e não é menos verdade que os mais antigos do
PAIGC, são poucos os que têm moral para influenciar o PAIGC actual, alguns abandonaram
pura e simplesmente a luta politica e social, passando a testemunha ocular com
total passividade, nesta meta como fim de vida politica, já não estão
integrados, neste momento, em qualquer actividade sociopolítica, daí que o
barco ande à deriva, faz tempo.
Há uma falta de educação politica neste momento dentro
do Partido, ausência de formação militante continuada, avaliação selectiva
capaz de separar as águas entre a actividade executiva e de militância, tudo
isto desde o período pós-independência, só houve nos primeiros dez anos talvez,
uma acção diferente, mas a pedagogia veio esmorecendo, hoje é apenas lembrada
por poucos antigos, é preciso investir na formação, preparação dos militantes,
há que manter “escola política” activa para os seu militantes, uma forma de
controlar o desenvolvimento ideológico do Partido, evitando uma cegueira política
dentro do próprio Partido que afeta a visão dos seus militantes.
O TERCEIRO
PASSO foi
o último que veio desvendar mais um registo de fraqueza dentro do PAIGC, foi
quando o Governo do Eng.º DSP foi derrubado, consequentemente o Ministro nomeado
à revelia da Constituição da Republica, veio pedir ajuda ao PRS, para formar o novo
Governo de Dr. Baciro Djá, que só durou as 48 horas mais ansiosas da vida política
nacional! O importante aqui foi reconhecer que sozinhos não conseguiram fazer a
festa, como não tendo o “arroz” que chegasse, saíram para pedir ao vizinho
(PRS) umas canecas a juntar ao resto. Pensarão outros, mais vale adiar uma
festa do que pedir a outros para fazer a festa, será.
O PRS foi o médico assistente no bloco operatório do
PAIGC, assistiu à intervenção “cirúrgica” deste Partido e viu tudo, sabe da sua
fragilidade, os podres, conhece a luta interna dos seus militantes pelo poder, tem
boa dose de conhecimento sobre a crise deste Partido, e servirá para por em
prática contra a maioria nas próximas eleições!?
De médico assistente a chefe clínico desta equipa, já falta
pouco ao PRS, para abandonar a “prata” e chegar ao “OURO”, substituindo o PAIGC
como maioria no pódio. Só num ano foi convidado três vezes para fazer parte do
Governo, 1º: com Eng.º DSP; 2º com Dr. BD e, 3º com Eg.º CC, tudo em menos de
um Ano ou pouco mais. Devo acrescentar que esta força política pediu sempre
para “ir” pensar, mas pelos vistos a resposta foi sempre positiva, dando a
entender que este tempo para “pensar”, tem sido, para entrar logo o mais
depressa possível, será?
Querer estar no Governo é compreensível, ganha-se
visibilidade e fica na memória do eleitorado, uma “vitamina” que faz bem a
qualquer força política (fazer parte do Governo), faz crescer o eleitorado (há
que aproveitar), mas, saber governar é muito complexo e difícil, requer
ponderação, estudo continuado de projectos em curso, capacidade de gestão,
inteligência, honestidade e sentido de Estado!
Posto isto,
devo acrescentar que vejo positivamente algumas mudanças na vida política
nacional com agrado, percursos diferentes na maturidade política dos Partidos
com representação Parlamentar, no social e cultural, progressos que são
necessários no avanço da Democracia e do Estado de Direito, uma coisa é certa,
o País mudou para melhor, sem dúvida – VIVA A GUINÉ-BISSAU!
Djarama. Filomeno Pina.
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Samuel