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terça-feira, 29 de dezembro de 2015

A revelação da ingratidão / da falta de carácter / da inveja que movimenta alguns corações guineenses, mas que alguns superam tudo isso revelando um trabalho digno que aniquila a inveja.

NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!...


                                                                       Samuel Vieira                                                                     

Trazer para conhecimento do público este tipo de assunto tem como objetivo revelar o mau carácter que precisa ser combatido na nossa sociedade, para firmarmos princípios, regras claras sobre respeito ao próximo, preservação de obras criadas por seus autores, etc, etc.

Eu Samuel Vieira não sou melhor que ninguém claro, mas tudo que crio espelhando em alguém, eu procuro no mínimo, revelar a fonte de minhas ideias, e se, naturalmente, minhas ideias floraram a partir de ideias de outrem.

Hoje a história que você acompanha aqui é de conhecimento de muitos guineenses, cabo-verdianos, angolanos, são-tomenses, moçambicanos e de outras pessoas de outras nacionalidades que estudaram aqui em Recife, outras até em menor grupo, para além dos brasileiros/pernambucanos, que sempre tomaram parte nos eventos que anunciávamos para divulgar a cultura, aspectos políticos e económicos de nossos países africanos.

A ideia de criar uma ASSOCIAÇÃO ESTUDANTIL, mais concretamente, a ASSOCIAÇÃO DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS DA GUINÉ-BISSAU EM PERNAMBUCO foi minha - eu, Samuel Vieira. Foi em meados de 2003.  

Como foi?

Certo dia eu pensei - no Brasil vêm para estudar muitos africanos, porém não há nenhuma revelação de aspectos culturais africanos no seio da classe estudantil brasileira para permitir que não só a classe estudantil conhecesse a cultura africana, como também o povo pernambucano representado por estudantes da universidade e que vêm de várias partes de Pernambuco e de outros Estados do Nordeste. Tinha na Reitoria da UFPE uma pessoa muita amiga chamada Regina Lafayete. Levei ao conhecimento dela minha ideia de criar uma Associação Estudantil que se chamaria mais tarde ASSOCIÇÃO DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS DA GUINÉ-BISSAU EM PERNAMBUCO. 

A ideia foi copiada de Delfim da Silva

Essa ideia eu tirei dos bons feitos do Sr. Delfim da Silva, o ex-presidente da Associação de Estudantes da Guiné-Bissau em Leningrado, Rússia.

Ele tinha ideias geniais que rapidamente envolveram lideranças de estudantes de outros países na Rússia, mais concretamente em Leningrado. Festas de Independência de cada país tinha uma atração de público sem igual, onde participavam desde os Decanos (Reitores das Universidades) convidados, Presidentes de Associações de cada país convidado, estudantes russos e estrangeiros de outros países, etc. 

Num desses eventos o Sr. Delfim da Silva brilhou: um discurso que projectou a classe estudantil guineense e a Guiné-Bissau numa sonoridade manifestada por todos que estavam presentes.  O meu amigo angolano chegou junto de mim e disse: “ Xê, madjé, o teu camba é Fo...”. Sabe muito! Eu me enchi de orgulho do meu conterrâneo que pregava de forma ferrenha, o Marxismo-Leninismo. Ele tinha ideias que na minha visão simplória era uma cópia dos ideais de Amílcar Cabral (o Sr. Delfim que me desculpe, mas eu assim pensava!). 

Nas reuniões mensais, o Sr. Delfim tinha sempre novas propostas que visavam não só melhorar a nossa Associação, assim como uma preocupação particular sobre o desempenho dos estudantes em cada Faculdade ou Instituto. Chegou a propor para os estudantes que estavam em períodos mais avançados para darem reforços aos recém-chegados ou aqueles que estão debatendo com grandes dificuldades em algumas matérias. O brio de Delfim rapidamente contagiou os outros grupos estudantis de outros países. Os angolanos criaram sua Associação logo de seguida. Na sequência várias Associações foram criadas e rapidamente se espalharam por toda a União Soviética na altura.

Minha Proposta para criar Associação 

Voltando à minha conversa com Regina Lafayete, levando em conta o bom desempenho do Sr. Delfim da Silva enquanto líder estudantil, eu contei como era na Rússia o papel da Associação Estudantil no meio académico e a divulgação da cultura africana / acontecimentos políticos / económicos, nos eventos. Ela se apaixonou e disse de imediato - eu vou levar isso ao conhecimento da Reitoria.  Acto contínuo nós propomos realizar a festa da independência. Quando fui chamado na reitoria, expandi a ideia, fiz empolgar todos que estavam presentes. O Reitor disse: Samuel o que vocês precisarem para a realização desse evento a universidade vai apoiar. E como apoiou! Cedeu um espaço no centro esportivo e recreativo da UFPE. Foi uma festa e tanta! Fiz um belo discurso salientado às relações culturais Brasil / Guiné-Bissau que datam de longa época, o número de quadros já formados por esta instituição, os apoios cedidos aos nossos estudantes, à renovação de vistos e outros problemas enfrentados pelos estudantes, etc, etc. 

Foto de perfil de Helder Andrade
Helder

Após a festa a notícia se espalhou por toda a cidade, o cabo-verdiano Helder me confidenciou que eles os cabo-verdianos iriam criar sua Associação. Tal como ele disse, assim fez. Na sequência outras nacionalidades foram tomando gosto e criaram suas associações em Recife/Pernambuco. No segundo evento em 2004 contamos com mais apoio ainda da UFPE e resolvemos alargar convite para algumas figuras importantes. Convidamos o compatriota e Professor Universitário  na Bahia, O Sr. Lamarana como o principal orador numa palestra que tinha gente de todas as nacionalidades africanas e de alguns brasileiros. Um enviado do Governador participou do evento e isso veio a dar mais destaque à nossa Associação.  Não demorou muito para que estudantes de outros Estados tomassem gosto e criassem suas associações, o que veio a ser difundido por todo o Brasil. 

Preservar ideias das pessoas

Nós, guineenses precisamos respeitar as ideias das pessoas e principalmente quando suas ideias contribuem para alguma mudança na sociedade. Os grandes líderes muitas vezes são muito criativos, mas algumas vezes eles renovam suas criatividades a partir de ideias de outras pessoas. Portanto, não faz mal a ninguém revelar-se criativo se, sua criatividade ou suas ideias partiram de ideias de outras pessoas. Agora o desenvolvimento dessa ideia pode ter outras conotações contando, no entanto, que sua origem fosse preservada.

A ingratidão e reconhecimento

Falar da ingratidão que se faz sentir no seio da malta guineense, é uma forma de lembrá-la que ninguém é nada sozinho, sempre precisamos de algum apoio para por em prática nossas ideias, nossas ações. E quando nós lembrámos das pessoas que fizeram parte da nossa vida enquanto jovens ou mais tarde adultos, é sempre um acto de generosidade para conosco mesmo. Por exemplo, eu jamais posso esquecer o quanto o Artur Silva, o actual ministro de Negócios Estrangeiros foi bom para mim. 

Enquanto jovens, ele passou alguns dias para me satisfazer com assuntos de geometria elaborando caderno (SEBENTA - alguém se lembra?!) para mim. Minhas qualidades de bom aluno na escola do Professor Armando N´Doha se devem a Artur Silva. Ele era um brilhante aluno, mas também uma figura que chamava muito atenção na classe. Os livros de matemática dos autores: Albano Chaves, 1111, 16 Pontos, etc, quase todos os exercícios desses livros, o Artur sabia resolver.  

Eu me espelhei nele. Tanto é que na Escola após Artur terminar, eu fui revelação. Na Missão Católica em Bissau eu fui também revelação. Os colegas, por exemplo, o médico Augusto Mansoa hoje em Portugal, Baró Dabo, Soares Sambu e outros sabem do que estou falando, de contrário não expunha o nome deles aqui. Podem até alguns não se lembrar de mim pelo nome de imediato, pois faz muito tempo, mas pela história sabem. Devemos ser gratos às pessoas que nos ajudaram a subir na vida ou a conquistar algo de importante na nossa vida, pois isso não tem valor que pague. E quando nós lembrámos e reconhecemos as pessoas pelo que fizeram por nós, isso tem um valor que devemos carregar na alma para Honra e Glória!

Participação de figuras importantes em eventos

Alguns guineenses de boa alma sabem que aqui em Recife eu fui o promotor de vários acontecimentos universitários e palestras em que eu era o orador principal. O sonho de engrandecer o nome da Guiné-Bissau no Brasil me permitiu envolver muitas entidades importantes. A carta abaixo explica por si só:

Recife, 17 de setembro de 2004.

Consulado da Guiné-Bissau
Campinas-SP


Ilmo.
Sr. Tcherno Ndjai-Cônsul Honorário da Guiné-Bissau no Brasil


Conforme contato mantido hoje (17/09/04) com o Pro - Reitor da Universidade Federal de Pernambuco, quando da entrega formal do convite para as festividades do dia 24 e 25/09/04, o qual foi aceito com muita receptividade, e foi sugerido por parte do mesmo, que deveríamos formular um convite ao governador do estado através de vossa senhoria, levando em conta que vossa senhoria é o representante máximo da autoridade guineense em terras brasileiras.

Solicitamos a vossa gentileza neste sentido, uma vez que esse evento tende a ganhar proporções maiores na mídia local, como também em nossa comunidade universitária. Assim sendo, poderá reforçar a relação cultural e também estimularia uma melhor visão da situação política e econômica da Guiné-Bissau no meio político-social pernambucano e efetivamente Brasileiro. Portanto, queremos deixá-lo confiante que estamos nos empenhando o máximo ao que diz respeito à realização desse evento, que sem margem para dúvidas, honrará o nome da nossa querida pátria, a Guiné-Bissau, diante de importantes personalidades pernambucanas.

Anexo, convite com a programação do evento.

Abaixo, endereço do Governador do estado de Pernambuco:

Dr. Jarbas Vasconcelos
Governador do Estado de Pernambuco
Praça da República, S/N.
CEP: 50010 – 050
Recife/PE
Fone Chefe de Gabinete:  (81) 3425 21 16
                                               3425 22 30

Samuel Vieira

Minha generosidade e falta de carácter de alguns

Em Recife fui generoso com muitos guineenses. Sempre cheguei junto para incentivar, apoiar, etc. Muitos que passaram por aqui sabem do que estou falando. Eu tinha um bom emprego e daí minha presença no grupo de guineenses era sempre bem quista. Fui de promover encontros abrilhantados com almoços “Kumida di Tchon”, e eu lotava o meu carro com muito deles, os comes e bebes de quando em vez, mas tudo isso para os ingratos, não conta. O importante é que a gente faz tudo isso sem esperar nada em troca. As compensações vêm de Deus, Ele acompanha a obra de cada um na terra.

Tome nota

Obs.: A história aqui é real meu caro guineense que passou por aqui em Recife. 

Não relatei aqui toda essa história para me promover, não. Mas quis deixar ao conhecimento de todos como tudo começou e isso é um direito meu. Nós os guineenses temos uma carência muito grande em aceitar que antes de nós foram os outros. Amílcar Cabral pai da independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde, se a obra dele não fosse escrita e difundida em larga escala, aposto que algum guineense teria ousadia de dizer que a obra é dele! Você pode ver que, quer no seio do PAIGC e nos instrumentos políticos que herdamos, não temos lideranças. A inveja não deixa!

Durante a nossa luta armada houve quem dissesse que Osvaldo Vieira da frente Norte foi mais destemido que o Nino na frente Sul.  Desses dois como podemos escrever a história? Osvaldo foi ou não, o mais valente que Nino Vieira? Números de batalhas podem contar para cada um, mas em cada ação você tem uma história diferente. Daí a razão para respeitarmos as conquistas de cada um sem apagar a história do outro.  

O Ministro da Economia Geraldo Martins está fazendo sua história e em sua época no comando da economia da Guiné-Bissau, para isso não podemos apagar a história dele porque tomamos conhecimento de que, em alguma Universidade, há um estudante guineense de economia que se revelou e sustenta a ideia de que ele no lugar de Geraldo Martins conduziria melhor a economia da Guiné-Bissau. Vejam que absurdo! Outro exemplo interessante, o Sr. Pedro Pires em Cabo Verde é um grande líder reconhecido por todos os cabo-verdianos. O Ministro José Maria Neves é um político brilhante, mas isso não lhe dá ousadia de querer apagar o araujo de bravura do comandante Pedro Pires. Cada um faz sua história para o bem da sociedade. E na Guiné, depois de Cabral quem é o líder reconhecido por todos nós e que continua a ter grande influência na nossa sociedade? A inveja não deixa a história acontecer! Reflitamos sobre tudo isso e nossas perdas.

Samuel Vieira

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Samuel

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