Samuel Vieira
Trazer para conhecimento do público este tipo de assunto tem como objetivo revelar o mau carácter que precisa ser combatido na
nossa sociedade, para firmarmos princípios, regras claras sobre respeito ao
próximo, preservação de obras criadas por seus autores, etc, etc.
Eu Samuel Vieira não sou melhor que ninguém
claro, mas tudo que crio espelhando em alguém, eu procuro no mínimo, revelar a
fonte de minhas ideias, e se, naturalmente, minhas ideias floraram a partir de
ideias de outrem.
Hoje a história que você acompanha aqui é de
conhecimento de muitos guineenses, cabo-verdianos, angolanos, são-tomenses,
moçambicanos e de outras pessoas de outras nacionalidades que estudaram aqui em Recife, outras até em menor grupo, para
além dos brasileiros/pernambucanos, que sempre tomaram parte nos eventos que
anunciávamos para divulgar a cultura, aspectos políticos e económicos de nossos
países africanos.
A ideia de criar uma ASSOCIAÇÃO ESTUDANTIL, mais concretamente, a ASSOCIAÇÃO DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS DA GUINÉ-BISSAU EM PERNAMBUCO foi minha - eu, Samuel Vieira. Foi em meados de 2003.
Como foi?
Certo dia eu pensei - no Brasil vêm para estudar
muitos africanos, porém não há nenhuma revelação de aspectos culturais africanos
no seio da classe estudantil brasileira para permitir que não só a classe
estudantil conhecesse a cultura africana, como também o povo pernambucano
representado por estudantes da universidade e que vêm de várias partes de Pernambuco e de
outros Estados do Nordeste. Tinha na Reitoria da UFPE uma pessoa muita amiga
chamada Regina Lafayete. Levei ao conhecimento dela minha ideia de criar uma
Associação Estudantil que se chamaria mais tarde ASSOCIÇÃO DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS DA
GUINÉ-BISSAU EM PERNAMBUCO.
A ideia foi copiada de Delfim da Silva
Essa ideia eu tirei dos bons feitos do Sr. Delfim da
Silva, o ex-presidente da Associação de Estudantes da Guiné-Bissau em
Leningrado, Rússia.
Ele tinha ideias geniais que rapidamente envolveram
lideranças de estudantes de outros países na Rússia, mais concretamente em
Leningrado. Festas de Independência de cada país tinha uma atração de público
sem igual, onde participavam desde os Decanos (Reitores das Universidades)
convidados, Presidentes de Associações de cada país convidado, estudantes
russos e estrangeiros de outros países, etc.
Num desses eventos o Sr. Delfim da
Silva brilhou: um discurso que projectou a classe estudantil guineense e a
Guiné-Bissau numa sonoridade manifestada por todos que estavam presentes. O meu amigo angolano chegou junto de mim e
disse: “ Xê, madjé, o teu camba é Fo...”. Sabe muito! Eu me enchi de orgulho do
meu conterrâneo que pregava de forma ferrenha, o Marxismo-Leninismo. Ele tinha
ideias que na minha visão simplória era uma cópia dos ideais de Amílcar Cabral
(o Sr. Delfim que me desculpe, mas eu assim pensava!).
Nas reuniões mensais, o
Sr. Delfim tinha sempre novas propostas que visavam não só melhorar a nossa
Associação, assim como uma preocupação particular sobre o desempenho dos
estudantes em cada Faculdade ou Instituto. Chegou a propor para os estudantes
que estavam em períodos mais avançados para darem reforços
aos recém-chegados ou aqueles que estão debatendo com grandes dificuldades em
algumas matérias. O brio de Delfim rapidamente contagiou os outros grupos
estudantis de outros países. Os angolanos criaram sua Associação logo de
seguida. Na sequência várias Associações foram criadas e rapidamente se
espalharam por toda a União Soviética na altura.
Minha Proposta para criar Associação
Voltando à minha conversa com Regina Lafayete,
levando em conta o bom desempenho do Sr. Delfim da Silva enquanto líder
estudantil, eu contei como era na Rússia o papel da Associação Estudantil no
meio académico e a divulgação da cultura africana / acontecimentos políticos / económicos, nos eventos. Ela se apaixonou e disse de imediato - eu vou levar isso ao
conhecimento da Reitoria. Acto contínuo
nós propomos realizar a festa da independência. Quando fui chamado na reitoria,
expandi a ideia, fiz empolgar todos que estavam presentes. O Reitor disse:
Samuel o que vocês precisarem para a realização desse evento a universidade vai
apoiar. E como apoiou! Cedeu um espaço no centro esportivo e recreativo da
UFPE. Foi uma festa e tanta! Fiz um belo discurso salientado às relações
culturais Brasil / Guiné-Bissau que datam de longa época, o número de quadros
já formados por esta instituição, os apoios cedidos aos nossos estudantes, à
renovação de vistos e outros problemas enfrentados pelos estudantes, etc, etc.
Helder
Após a festa a notícia se espalhou por toda a cidade, o cabo-verdiano Helder me
confidenciou que eles os cabo-verdianos iriam criar sua Associação. Tal como
ele disse, assim fez. Na sequência outras nacionalidades foram tomando gosto e criaram
suas associações em Recife/Pernambuco. No segundo evento em 2004 contamos com
mais apoio ainda da UFPE e resolvemos alargar convite para algumas figuras
importantes. Convidamos o compatriota e Professor Universitário na Bahia, O Sr. Lamarana como o principal orador numa
palestra que tinha gente de todas as nacionalidades africanas e de alguns
brasileiros. Um enviado do Governador participou do evento e isso veio a dar
mais destaque à nossa Associação. Não
demorou muito para que estudantes de outros Estados tomassem gosto e criassem suas
associações, o que veio a ser difundido por todo o Brasil.
Preservar ideias das pessoas
Nós, guineenses precisamos respeitar as ideias das pessoas e
principalmente quando suas ideias contribuem para alguma mudança na sociedade.
Os grandes líderes muitas vezes são muito criativos, mas algumas vezes eles
renovam suas criatividades a partir de ideias de outras pessoas. Portanto, não
faz mal a ninguém revelar-se criativo se, sua criatividade ou suas ideias
partiram de ideias de outras pessoas. Agora o desenvolvimento dessa ideia pode
ter outras conotações contando, no entanto, que sua origem fosse preservada.
A ingratidão e reconhecimento
Falar da ingratidão que se faz sentir no seio da malta guineense, é uma forma de lembrá-la que ninguém é nada sozinho, sempre
precisamos de algum apoio para por em prática nossas ideias, nossas ações. E
quando nós lembrámos das pessoas que fizeram parte da nossa vida enquanto
jovens ou mais tarde adultos, é sempre um acto de generosidade para conosco
mesmo. Por exemplo, eu jamais posso esquecer o quanto o Artur Silva, o actual
ministro de Negócios Estrangeiros foi bom para mim.
Enquanto jovens, ele passou
alguns dias para me satisfazer com assuntos de geometria elaborando caderno
(SEBENTA - alguém se lembra?!) para mim. Minhas qualidades de bom aluno na
escola do Professor Armando N´Doha se devem a Artur Silva. Ele era um brilhante aluno, mas também uma figura que chamava muito atenção na classe. Os livros de matemática dos
autores: Albano Chaves, 1111, 16 Pontos, etc, quase todos os exercícios desses
livros, o Artur sabia resolver.
Eu me espelhei
nele. Tanto é que na Escola após Artur terminar, eu fui revelação. Na
Missão Católica em Bissau eu fui também revelação. Os colegas, por exemplo, o médico
Augusto Mansoa hoje em Portugal, Baró Dabo, Soares Sambu e outros sabem do que
estou falando, de contrário não expunha o nome deles aqui. Podem até alguns não
se lembrar de mim pelo nome de imediato, pois faz muito tempo, mas pela
história sabem. Devemos ser gratos às pessoas que nos ajudaram a subir na vida ou a
conquistar algo de importante na nossa vida, pois isso não tem valor que pague. E quando
nós lembrámos e reconhecemos as pessoas pelo que fizeram por nós, isso tem um valor que
devemos carregar na alma para Honra e Glória!
Participação de figuras importantes em eventos
Alguns guineenses de boa alma sabem que aqui em
Recife eu fui o promotor de vários acontecimentos universitários e palestras em
que eu era o orador principal. O sonho de engrandecer o nome da Guiné-Bissau no
Brasil me permitiu envolver muitas entidades importantes. A carta abaixo
explica por si só:
Recife, 17 de
setembro de 2004.
Consulado da
Guiné-Bissau
Campinas-SP
Ilmo.
Sr. Tcherno
Ndjai-Cônsul Honorário da Guiné-Bissau no Brasil
Conforme contato
mantido hoje (17/09/04) com o Pro - Reitor da Universidade Federal de
Pernambuco, quando da entrega formal do convite para as festividades do dia 24
e 25/09/04, o qual foi aceito com muita receptividade, e foi sugerido por parte
do mesmo, que deveríamos formular um convite ao governador do estado através de
vossa senhoria, levando em conta que vossa senhoria é o representante máximo da
autoridade guineense em terras brasileiras.
Solicitamos a
vossa gentileza neste sentido, uma vez que esse evento tende a ganhar
proporções maiores na mídia local, como também em nossa comunidade
universitária. Assim sendo, poderá reforçar a relação cultural e também
estimularia uma melhor visão da situação política e econômica da Guiné-Bissau
no meio político-social pernambucano e efetivamente Brasileiro. Portanto,
queremos deixá-lo confiante que estamos nos empenhando o máximo ao que diz
respeito à realização desse evento, que sem margem para dúvidas, honrará o nome
da nossa querida pátria, a Guiné-Bissau, diante de importantes personalidades
pernambucanas.
Anexo, convite
com a programação do evento.
Abaixo, endereço
do Governador do estado de Pernambuco:
Dr. Jarbas
Vasconcelos
Governador do
Estado de Pernambuco
Praça da
República, S/N.
CEP: 50010 –
050
Recife/PE
Fone Chefe de
Gabinete: (81) 3425 21 16
3425 22 30
Samuel
Vieira
Minha generosidade e falta de carácter de alguns
Em Recife fui generoso com muitos guineenses. Sempre
cheguei junto para incentivar, apoiar, etc. Muitos que passaram por aqui sabem
do que estou falando. Eu tinha um bom emprego e daí minha presença no grupo de
guineenses era sempre bem quista. Fui de promover encontros abrilhantados com
almoços “Kumida di Tchon”, e eu lotava o meu carro com muito deles, os comes e bebes
de quando em vez, mas tudo isso para os ingratos, não conta. O importante é que
a gente faz tudo isso sem esperar nada em troca. As compensações vêm de Deus,
Ele acompanha a obra de cada um na terra.
Tome nota
Obs.: A história aqui é real meu caro guineense que
passou por aqui em Recife.
Não relatei aqui toda essa história para me
promover, não. Mas quis deixar ao conhecimento de todos como tudo começou e
isso é um direito meu. Nós os guineenses temos uma carência muito grande em aceitar que antes de nós foram os outros. Amílcar Cabral pai da independência da
Guiné-Bissau e Cabo Verde, se a obra dele não fosse escrita e difundida em
larga escala, aposto que algum guineense teria ousadia de dizer que a obra é
dele! Você pode ver que, quer no seio do PAIGC e nos instrumentos políticos que
herdamos, não temos lideranças. A inveja não deixa!
Durante a nossa luta armada houve quem dissesse
que Osvaldo Vieira da frente Norte foi mais destemido que o Nino na frente Sul. Desses dois como podemos escrever a história?
Osvaldo foi ou não, o mais valente que Nino Vieira? Números de batalhas podem
contar para cada um, mas em cada ação você tem uma história diferente. Daí a
razão para respeitarmos as conquistas de cada um sem apagar a história do
outro.
O Ministro da Economia Geraldo
Martins está fazendo sua história e em sua época no comando da economia da
Guiné-Bissau, para isso não podemos apagar a história dele porque tomamos conhecimento de que, em alguma Universidade, há um estudante guineense de economia que se revelou e sustenta a
ideia de que ele no lugar de Geraldo Martins conduziria melhor a economia da
Guiné-Bissau. Vejam que absurdo! Outro exemplo interessante, o Sr. Pedro Pires
em Cabo Verde é um grande líder reconhecido por todos os cabo-verdianos. O Ministro José Maria Neves é um político brilhante, mas isso não lhe dá ousadia de querer apagar o araujo de bravura do comandante Pedro Pires. Cada um faz sua história para o bem da sociedade. E na Guiné, depois de Cabral quem é o líder
reconhecido por todos nós e que continua a ter grande influência na nossa
sociedade? A inveja não deixa a história acontecer! Reflitamos sobre tudo isso
e nossas perdas.
Samuel Vieira
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Samuel