Donos de comércio relatam prejuízos e fecham as portas.
Mulheres de PMs dizem que movimento continua até acordo com o governo.
Familiares de PMs pedem reajuste salarial e protestam impedindo o policiamento nas ruas do Espírito Santo. O estado diz que não tem caixa para bancar o aumento. E no meio do impasse está a população, que desde sábado (4) enfrenta uma onda de violência. O G1 ouviu algumas das vítimas do caos na Grande Vitória. Elas relatam assaltos à mão armada, arrastões, saques de lojas, dificuldades para comprar comida e medo de sair de casa.
Prejuízo no bar
O comerciante Celso Henrique, de 36 anos, acordou, nesta terça-feira (7), e viu o bar dele, em Porto Canoa, na Serra, Grande Vitória, destruído. Cervejas e cigarros roubados, porta de aço estourada e um prejuízo de mais de R$ 6 mil. Depois de 10 anos sem tirar férias, ele havia chegado de Porto Seguro, na Bahia, na segunda-feira (6) e, na madrugada seguinte, foi vítima da ação de criminosos.
“Eu nem estava sabendo direito o que estava acontecendo no estado, porque eu, finalmente, consegui tirar umas férias. Mas aí, eu chego e acontece isso. É um sentimento de revolta. A gente trabalha, paga imposto, a prefeitura fica em cima da gente, para ser assaltado dessa forma”, falou Celso.
O dono do bar contou que, segundo testemunhas, um bando de cerca de 30 pessoas arrombou a porta do estabelecimento com um pé de cabra, roubou os produtos e, depois, seguiram para outros comércios na mesma via, a avenida Brasília, em Porto Canoa.
Arrastão em shopping
Depois de ter a arma apontada para a cabeça enquanto fazia compras em um shopping na Praia do Canto, em Vitória, uma publicitária, de 24 anos, que preferiu não ser identificada, só tinha um pensamento: “Eu vou morrer”.
Vários homens saíram de dentro de carros em frente ao shopping e fizeram um arrastão em lojas no local no sábado (4). O bando saqueou uma joalheria e, em seguida, passou por outros estabelecimentos, segundo a jovem.
“A moça da loja em que eu estava abriu a porta para ver o que era e dois homens entraram. Eu estava saindo do provador e, nisso, vi os assaltantes e dei dois passos para trás. O 'cara' olhou para mim, apontou a arma e mandou eu ficar parada, sem olhar para ele. Foi horrível”, relatou.
No mesmo dia, a mãe dela também foi assaltada no salão de beleza, no fim da tarde. “Ela me contou que entraram no salão, abordaram todo mundo e minha mãe não quis entregar a bolsa. Aí, apontaram a arma para ela e perguntaram se ela queria morrer”, disse.
Para a jovem, a onda de terror só tende a piorar. “Pelos relatos nas redes sociais, isso foi gerando uma onda de terror até nas pessoas que não foram vítimas. Está tudo muito interligado. A gente nunca viveu isso. Exército nas ruas, confronto direto. Acho que mesmo com os PMs voltando, a população pegou um certo ranço deles”, afirmou.
Carro roubado
O recepcionista Eduardo Vellozo contou que o tio dele teve o carro roubado em Viana, na Grande Vitória, mas conseguiu recuperar.
“Meu tio estava chegando em casa, onde ele estava estacionando e, logo, foi abordado pelos indivíduos que pediram para tirar a neném que estava no veículo e levaram o carro embora”, falou.
Para Eduardo, deveria haver um quantitativo mínimo de policiais nas ruas. “A gente até concorda com a situação, com a manifestação que estão fazendo, mas, como em todas as outras profissões, deveria ter um percentual nas ruas também. Trinta, quinze por cento já diminuiria bastante o que está acontecendo”, afirmou.
Testemunha
Um militar mineiro, de 25 anos, seguia para o Aeroporto e contou que viu oito homens participando de um arrombamento à loja Ricardo Eletro, em Goiabeiras.
“A Polícia Civil chegou e prendeu uns seis, mas deixou a porta aberta, nisso eles voltaram a saquear, vieram até com carro para levar as mercadorias”, contou.
Segundo o militar, a Polícia Civil voltou novamente e atirou em duas pessoas que saqueavam a loja. “Um foi atingido na perna e o outro no quadril, de raspão. As cenas que estamos presenciando desde a última sexta-feira são um desrespeito”, disse.
Loja Ricardo Eletro, em Goiabeiras, é saqueada na capital do Espírito Santo (Foto: Fernando Madeira/ A Gazeta)
Turistas
As turistas de São Paulo, Nathali Victorino, 27, e Paula Mir, 29, afirmam que visitam o Estado pela primeira vez e nem sabiam da situação.
“Ficamos trancadas o dia inteiro no hotel, na hora do almoço não encontramos restaurantes abertos, agora vamos procurar algo para comer”, disse Nathali.
Turistas de São Paulo, Nathali Victorino e Paula Mir (Foto: Ricardo Medeiros/ A Gazeta)
Comércio, bancos e escolas fechadas O dono de um comércio no bairro Ilha de Santa Maria, em Vitória, explicou, pelo interfone, o motivo de ter fechado o estabelecimento nesta segunda-feira (6).
“Eu prefiro não descer. Não quero me expor. Preferi fechar o comércio, devido à insegurança que nós estamos vivendo. Nesse momento, nós estamos nos sentindo dentro de uma cadeia e os bandidos soltos pela rua”, justificou.
Agências bancárias e escolas municipais e estaduais na Grande Vitória também amanheceram novamente fechadas. A dona de casa Águida explicou que a situação está complicada porque os filhos estão em casa sem aula e ela está sem comida, pois não tem como sacar dinheiro nas agências bancárias.
"Estou sem gás em casa há dois dias e eu não consigo sacar nem R$ 10 porque os bancos estão fechados. Eu tenho três crianças em casa, meus filhos estão sem se alimentar direito, só com pão e suco", disse.
Comércio no bairro Ilha de Santa Maria permanece fechado (Foto: Reprodução/ TV Gazeta)
Sem atendimento
Um homem, que preferiu não se identificar, passou a noite de segunda (6) para terça (7) na porta da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos, em Vitória, e não conseguiu ser atendido. A loja dele foi assaltada na manhã de segunda-feira por vários homens armados, que levaram o carro e vários objetos dele, inclusive a aliança.
“Chegamos aqui ontem, às 9h40, e nada, nem à noite. Ficamos a noite também, porque falam que o atendimento é 24 horas por dia, mas estamos aqui até agora e nada acontece”, reclamou.
Homem passa a noite na delegacia esperando atendimento (Foto: Reprodução/ TV Gazeta)
“Quando saímos do carro e eu tranquei o veículo, eles atravessaram na frente e falaram: 'É um assalto. Entrega o carro, entrega a chave'”, contou.
Costureira chora após ter o carro roubado em
Cariacica (Foto: Reprodução/ TV Gazeta)
A costureira disse que está mais assustada com a situação do que com a perda do carro. “Eu não estou chorando pelo carro que levaram, que é um bem material. Foi um filme de terror na minha frente, foram uns cinco na minha frente. Quem está solto são os bandidos, quem está preso somos nós”, falou.Cariacica (Foto: Reprodução/ TV Gazeta)
O investigador Jair Netto explicou que o atendimento na delegacia acontece 24 horas por dia, mas, nesta segunda-feira, por questão de segurança, manteve somente o atendimento interno.
“Nesse momento específico que estamos vivendo, qual é o ideal para a própria segurança da população? Se houve o crime durante a noite ou durante a madrugada, as pessoas não precisam se dirigir, imediatamente, até a Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos. Elas podem ir para casa, retornar durante o dia, que é quando é feito o boletim de ocorrência e o lançamento da restrição. No boletim, nós temos escrito o horário do fato e o horário do registro do boletim”, falou.
Parentes de PMs
Enquanto a população pede a volta da Polícia Militar às ruas, a mulher de um policial, Débora Carolina, afirmou que o movimento não vai parar até um acordo ser feito com o governo do estado.
“Enquanto não houver um acordo, e o secretário e o governador não conversarem com a gente, não vamos sair da frente dos batalhões e companhias”, afirmou.
Débora falou que a manifestação é legítima, como qualquer outra. “A população vai sofrer com isso, como qualquer outro movimento que poderia estar acontecendo. Da mesma forma, a população ia ser prejudicada”, disse.
Mulher de PM disse que movimento não acaba até acordo (Foto: Reprodução/ TV Gazeta)
Entenda a crise na segurança no ES– Os PMs reivindicam aumento nos salários, pagamento de benefícios e adicionais e criticam as más condições de trabalho.
– Como os PMs não podem fazer greve, as famílias foram para a frente dos batalhões para impedir a saída das viaturas policiais.
– O bloqueio começou no sábado (4) e atinge a Grande Vitória e cidades como Linhares, Aracruz, Colatina, Cachoeiro de Itapemirim e Piúma.
– Desde então, a Grande Vitória registrou 75 mortes violentas, ante 4 em todo o mês de janeiro, segundo o sindicato da Polícia Civil.
– Escolas, postos de saúde e parte do comércio estão fechados desde segunda-feira (6), quando ônibus também pararam de circular. Os coletivos voltaram a rodar na manhã desta terça (7), mas serão recolhidos novamente às 19h.
– 1.000 homens das Forças Armadas fazem policiamento na Grande Vitória desde segunda; 200 integrantes da Força Nacional começam a atuar nesta terça.
# g1.globo.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário é sempre bem vindo desde que contribua para melhorar este trabalho que é de todos nós.
Um abraço!
Samuel