Quase 7 milhões de ruandeses são chamados às urnas para votar nas presidenciais. Antes mesmo do arranque da votação, a vitória já é reivindicada pelo Presidente Paul Kagame, que concorre a um terceiro mandato.
fonte: DW ÁFRICA
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Os eleitores ruandeses decidem, esta sexta-feira (04.08), entre três candidatos presidenciais, mas Frank Habineza, do Partido Verde, e o independente Philippe Mpayimana têm poucas hipóteses contra o Presidente Paul Kagame. O próprio chefe de Estado classificou a corrida como uma "formalidade", frisando que não há dúvidas quanto ao resultado das eleições.
Paul Mugenzi vai votar pela primeira vez. Ainda assim, não está entusiasmado com o processo: "Acho que é aborrecido. Já sabemos quem vai ganhar", diz. "O Presidente Paul Kagame vai vencer, é óbvio, com estas multidões nos seus comícios, comparando com os seus opositores. Se outra pessoa ganhasse as eleições, seria um choque."
O sucesso de Kagame
Ao longo dos anos, o partido no poder, a Frente Patriótica do Ruanda (RPF), conquistou um grande apoio em todo o país, muito por causa da sua estratégia de desenvolvimento socioeconómico. Em Kigali, os residentes acordaram na madrugada de quarta-feira ao som dos altifalantes anunciando o último ato de campanha eleitoral de Kagame, e, em apenas duas horas, milhares de apoiantes do Presidente ruandês encheram as ruas da capital.
O ambiente surpreendeu o antigo vice-Presidente do Quénia, Moody Awori, que lidera a missão de observação da Comunidade da África Oriental no Ruanda: "Estou realmente surpreendido por ver que em muitas regiões se ouve barulho. Normalmente, é difícil perceber que está a decorrer a campanha eleitoral no Ruanda. Mas o facto de não esperarmos nada invulgar não nos impede de vir aqui observar as eleições", afirmou Awori.
Dificuldades da oposição
Além do sucesso dos comícios de Paul Kagame, há poucos sinais da campanha eleitoral no país.
Os candidatos estão proibidos de afixar cartazes na maioria dos locais públicos. A comissão eleitoral veta as mensagens dos candidatos e ameaça bloquear as suas contas nas redes sociais. Organizações de defesa dos direitos humanos acusam o regime de usar táticas intimidatórias para garantir o sucesso eleitoral e afirmam que a população tem medo de se associar aos opositores do Governo. Alguns dos eventos do candidato independente Philippe Mpayimana, por exemplo, estiveram praticamente vazios.
Ainda assim, no norte do Ruanda, numa aldeia perto das montanhas Virunga, Frank Habineza conseguiu recentemente mobilizar uma centena de pessoas. Com 40 anos, o candidato do Partido Verde enfrentou muitas dificuldades para ver a sua candidatura aprovada. O secretário do seu partido está desaparecido há dois anos e o corpo decapitado do seu número dois foi descoberto em 2010 em Butare, uma cidade do sul do país.
Para Habineza, é um ato de coragem concorrer contra Paul Kagame, no poder há mais de 20 anos – primeiro, como ministro da Defesa, depois como vice-Presidente e, nos últimos 14 anos, na Presidência.
Segundo a Constituição do Ruanda, Kagame não poderia candidatar-se novamente após dois mandatos de sete anos. Mas, num referendo em 2015, 98% dos ruandeses aprovaram a candidatura do Presidente a um novo mandato. Os analistas esperam um resultado semelhante nas eleições desta sexta-feira. Ainda assim, Frank Habineza não perde a esperança:
"Estamos a receber mais encorajamento, depois de um mau começo", comentou o opositor. "No início, as autoridades locais impediram as pessoas de vir aos nossos comícios. Fomos ameaçados e agredidos. Mas, desde então, melhorou. Muitas pessoas vêm à nossa campanha e temos mais esperanças de vencer."
Apesar das fracas hipóteses dos candidatos da oposição, o momento é decisivo para o partido no poder. Para a geração mais velha, a RPF é vista como o exército de libertação do Ruanda, que veio do Uganda, no início dos anos 90, para travar o genocídio de um milhão de tutsis. Paul Kagame apresenta-se como o único garante da paz e da segurança. No entanto, dos quase 7 milhões de eleitores registados no Ruanda, cerca de um quarto, nascidos depois do genocídio de 1994, votam pela primeira vez. E a abordagem do Presidente poderá tornar-se cada vez menos eficaz junto de uma geração que não viveu as atrocidades.
Resultados provisórios das eleições presidenciais deverão ser conhecidos já esta sexta-feira, ao final do dia.
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Samuel