O Uganda é conhecido como um celeiro de África e, em grande parte, isso continua a ser verdade. Mas a falta de chuva no nordeste do país e o grande número de refugiados impuseram desafios ao país.
fonte: DW África
Quem viaja até ao distrito de Arua, no norte do Uganda, vê verde por todo o lado. Chove sem parar desde junho. À primeira vista, não se diria que a região está a passar por uma crise de recursos. Todos os dias chegam aqui entre 300 e 500 novos refugiados vindos sobretudo do Sudão do Sul, em guerra desde dezembro de 2013. O Uganda abriga mais de 1,3 milhões de refugiados.
Ao contrário de outros países, o Uganda não construiu centros de acolhimento. Em vez disso, deu a cada família um terreno para construir uma casa e cultivar produtos. A ideia é que os refugiados se consigam sustentar a si próprios.
"Acho que o Governo está a fazer um grande esforço e tem um plano nacional em que estabelece a segurança alimentar como prioridade", afirma Andrea Padberg, da organização não-governamental Ação Agrária Alemã. "Mas, devido a vários fatores, como o grande afluxo de refugiados, os seus recursos estão limitados".
Em junho, o Uganda organizou uma cimeira de doadores em que a União Europeia, por exemplo, prometeu ajudar com 85 milhões de euros. Mas o Programa Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas ainda precisa de 62 milhões de euros. Há dinheiro suficiente para distribuir alimentos até ao final de novembro. Depois, segundo o diretor do PAM no Uganda, El-Khidir Daloum, será preciso voltar a angariar fundos. "Gostaríamos de ter flexibilidade. Gostaríamos de ter dinheiro antecipadamente para, por um lado, assegurar o financiamento e, por outro, ter as rações prontas para distribuição", refere.
Mercado em crescimento
Noutras circunstâncias, o Uganda consegue ser auto-suficiente. O país produz milho, mandioca e bananas, sobretudo no sudoeste, e é o segundo maior exportador africano de café.
Recentemente, o setor dos laticínios também assistiu a um crescimento exponencial. O Uganda compete agora nesta área inclusive com o Quénia, que também tem um setor dos laticínios bastante forte. "No sudoeste, o principal motor do crescimento, há pastoreio extensivo", explica Rinus van Klinken, da organização não-governamental holandesa SNV. "Há terrenos com 30 ou 80 hectares, grandes propriedades, e chove bem e há boas raças. Portanto, com pouco investimento consegue-se um bom retorno". No vizinho Quénia, acrescenta van Klinken, é o contrário: são pequenos agricultores que produzem o leite para grandes empresas de laticínios; eles têm pequenos terrenos, não há pastoreio, é necessário cultivar a comida dos animais e são precisos estábulos. "Ou seja, a vantagem comparativa do Uganda é o baixo custo de produção."
Acresce que, segundo Rinus van Klinken, o clima e o solo no Uganda são bastante bons para a agricultura e o Governo regula e gere o setor relativamente bem, apesar de algumas falhas no apoio à formação de camponeses e à criação de cooperativas.
Diferenças regionais
Mas, como van Klinken diz, a produção de laticínios difere muito de região para região no Uganda: "Karamoja [no nordeste] é um caso único, por causa da dinâmica na pastorícia. Não há muito comércio. A sociedade pastorícia produz sobretudo leite para consumo próprio".
A região de Karamoja já teve, muitas vezes, de pedir ajuda alimentar e donativos ao Governo ugandês e a organizações internacionais. Em 2016 e no início de 2017, esta foi a única região no Uganda que sofreu com a seca.
Problemas que afetam o país inteiro, como a desnutrição, atingem Karamoja de forma mais severa. "Vemos que o Uganda fez progressos nos últimos dez anos, em vários setores. Mas o número de crianças com desnutrição crónica continua alarmante", afirma Andrea Padberg, da Ação Agrária Alemã. "E há picos, como em Karamoja ou nos centros de acolhimento."
No Uganda, a desnutrição e a insegurança alimentar são associadas ao facto de 70% da população continuar a depender da agricultura de subsistência, estando por isso particularmente vulnerável à seca e às alterações climáticas. E, se não chove, e se não há colheitas, muitos não têm dinheiro para comprar os alimentos no mercado.
Essa situação de dependência não deverá mudar num futuro próximo, lamenta Padberg. Esse continuará a ser um desafio para o país. "Haverá certamente cada vez mais estações propensas à seca, que colocarão em causa os meios de subsistência dos pastores", diz. "Temos de trabalhar com eles e de criar mais alternativas contra a seca para lidar com estas alterações climáticas."
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Samuel