6,6 milhões de eleitores são, este domingo (07.10), chamados às urnas para escolher entre os oito candidatos à presidência nos Camarões. Paul Biya é o favorito. Já há mortos nas regiões de conflito.
fonte: DW África
Paul Biya tem 85 anos, está no poder desde 1982 e é o favorito das eleições presidenciais deste domingo (07.10), nos Camarões. Esta manhã, em declarações aos jornalistas na assembleia onde votou, na capital Yaoundé, o presidente cessante, mostrou-se satisfeito. "Acho que é um dever de todos os cidadãos votar nas eleições presidenciais. Portanto, estou satisfeito porque cumpri o meu dever e vejo que as coisas estão a correr bem, não há tumultos. A campanha eleitoral tem sido pacífica". Afirmando ficar muito feliz se, mais uma vez, "os camaroneses mostrarem que "continuam a depositar confiança” no seu governo, Byia apelou à "continuação da calma” após a divulgação dos resultados.
Por sua vez, o principal candidato do partido da oposição, Joshua Osih, pediu transparência na contagem de votos. Em Douala, na sua assembleia de voto, o líder líder da Frente Social Democrática (FSD), afirmou: " O meu desejo é que os resultados da votação não sejam adulterados. Transparência deve ser a palavra de ordem. Espero que a escolha feita pelo povo camaronês seja respeitada", afirmou.
Vários mortos
O balanço positivo do decorrer das eleições deste domingo (07.10) feito pelo presidente contrasta, no entanto, com o ambiente que se vive nas regiões anglófonas do país, onde os separatistas prometeram boicotar o ato eleitoral . Desde a manhã deste domingo (07.10), há já a registar a morte de três pessoas na região de Bamenda, no noroeste, abatidas pelo exército. O governador da região, Deben Tchoffo, afirmou que não iria "permitir que terroristas perturbassem a eleição". "Saúdo a maturidade das pessoas que estão a enfrentar as ameaças, cumprindo o seu dever cívico. Fomos informados de que homens armados estão a atirar indiscriminadamente para assustar os eleitores. Não permitiremos", afirmou.
Também o diretor da Comissão Eleitoral assegurou que a onda de violência, registada desde sábado (06.10) em pelo menos seis cidade e aldeias desta região, não "impedirá de fazer o [seu] trabalho". Por seu lado, Paul Atanga, ministro da Administração do Território, deu conta que a segurança havia sido reforçada e que por isso as pessoas não devem ter medo de ir votar.
Nestas regiões, o material eleitoral chegou "durante a noite" e por via aérea, deu conta uma fonte ligada à Comissão Eleitoral e que disse ainda que existirão forças de segurança em todas as 4.000 assembleias de voto das regiões do sudoeste e do noroeste do país".
A sombra da crise anglófona
No total, para as eleições deste domingo (07.10) foram implementadas 25.000 assembleias de voto em todo o país. No entanto, as regiões do noroeste e sudoeste, onde se mantém o braço de ferro entre o exército e os separatistas anglófonos, e que no último ano fez já 400 mortos, não contam com observadores da União Africana. A União Europeia não enviou nenhuma missão de observação para este ato eleitoral.
Em entrevista à DW, o escritor e crítico do governo, Paul Nganangestime, afirmou que Paul Biya será "reeleito com quase 80%" dos votos através de um sistema de fraude.
O International Crisis Group pediu aos dois lados que declarassem um cessar-fogo pelo menos durante a semana da eleição.
Também o católico mais respeitado do país, o cardeal Christian Wiyghan Tumi, tem tentado persuadir o presidente Paul Biya e os camaroneses anglófonos a sentarem-se frente a frente para encontrar uma solução para o problema. Em entrevista à DW, o cardeal explica que "toda a gente sabe" que o conflito entre as duas partes se deve "à insatisfação [das regiões anglófonas] com a situação política no país". Na opinião de Christian Tumi, "num clima mais pacífico, as eleições poderiam ter trazido aos Camarões a renovação política de que precisa".
Uma opinião partilhada por Jeffrey Smith, diretor executivo da organização Vanguard Africa. "Se [Paul] Biya for declarado vencedor, os Camarões continuarão a sua trajetória de queda, e muito possivelmente haverá um aumento da violência, mais abusos de direitos humanos e o mesmo tipo de impunidade descarada que caracteriza este governo", disse.
Centenas de milhares de pessoas deslocadas, por causa da violência consequente desta situação, mas também que fogem dos terroristas do Boko Haram, não poderão votar neste domingo (07.10) porque, segundo a lei, um eleitor só pode votar no município onde está registado. No início do dia, a participação nas regiões de língua inglesa era baixa. Já nas regiões francófonas, registavam-se filas de algumas centenas de pessoas aguardando a sua vez para votar.
Ainda há esperança?
Edith Kahbang Walla, presidente do Partido Popular (CPP) alerta que o conflito nas regiões anglófonas não é o único problema dos Camarões. "Viver como camaronense é um risco. Como não temos hospitais, estradas, etc, estamos a morrer todos os dias com este governo do sr. Biya".
A líder deste partido da oposição e ex-candidata presidencial prometeu derrubar Biya através de protestos. Nas eleições deste domingo, o seu partido não é um dos candidatos por não concordar com o "processo eleitoral pobre" do país.
Ainda assim, Walla está confiante e com esperança que os Camarões possam "beber" também das recentes mudanças de poder registadas em África. "Se aconteceu na Tunísia, no Burkina Faso, no Zimbábue, porque não aqui nso Camarões?", questionou.
Na passada sexta-feira (05.10), Akere Muna, líder da Frente Popular para o Desenvolvimento (FDP), anunciou a "retirada" da sua candidatura às eleições deste domingo, para apoiar Maurice Kamto, o chefe do Movimento para a Renascença dos Camarões (MRC). Nestas eleições presidenciais concorrem ainda Njoya Adamou Ndam, da União Democrática dos Camarões, Gargan Haman Adji, do partido Aliança para a Democracia e o Desenvolvimento, Serge Espoir Matomba, líder do partido Povo Unido para a Renovação Social, Franklin Ndofor Afanwi, do Movimento dos Cidadãos Nacionais e Cabral Libii Li Ngue Ngue pelo partido político Universo.
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Samuel