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segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Cuba: Eu afirmo que não sou um intelectual independente.

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Os seres humanos somos animais de opinião. Uma força interna nos impulsa a expor com veemência aquelas que consideramos verdades; algo que pode parecer natural se não fosse por um simples detalhe: até agora nenhum humano demonstrou ter a verdade absoluta sobre nada.


Obra El pensador, de Marcelo Pogolotti.


Os seres humanos somos animais de opinião. Uma força interna nos impulsa a expor com veemência aquelas que consideramos verdades; algo que pode parecer natural se não fosse por um simples detalhe: até agora nenhum humano demonstrou ter a verdade absoluta sobre nada.

Há uns dias, saí à rua e alguém me disse: «Caramba, muito bom esse artigo que você publicou. Todo mundo gostou dele». Meio quarteirão depois, outra pessoa me puxou pelo braço: «Muito mau esse artigo que você publicou. Todo mundo o está criticando». Após o instante de perplexidade, eu me lembrei de uma máxima de Nietzsche: «O mundo real é muito mais pequeno do que o mundo da imaginação».

Certamente, não somos objetos, mas sim sujeitos: por isso somos mais subjetivos do que objetivos. Estou ironizando, naturalmente, mas pegue um cilindro na mão, coloque-o frente a uma luz, e verá que a sombra projetada alguma vez será um círculo e outra um retângulo: depende de como o coloquemos. Semelhante miragem talvez seja o que provoque certo tipo de «anorexia expressiva». Determinadas projeções internas fazem com que vejamos gorda nossa opinião, embora esta seja puro carcaça, e depois, nem sequer lançando mão da verdade pura das matemáticas (quilos de peso por centímetros de altura), há quem possa convencer-nos do contrário.

Mas os humanos também somos pessoas com juízo: talvez por isso temos inventado tantas filosofias, sociedades, clubes, congregações, castas, grêmios, comunidades e religiões. Por alguma razão nos parece que uma magra verdade dita por muitos acaba se tornando redonda.

Naturalmente, se um único jornal ou meio emite uma opinião, nem todos a aceitam; mas se o mesmo critério aparecer em vários, ainda que estes pertençam a um mesmo dono – ou a outros que em realidade são clones daquele – para muitas pessoas o que foi dito parecerá um axioma. Essa é a razão pela qual são criados os «Conglomerados Midiáticos».

Eu tenho um alerta de Google para Cuba. De cada notícia em cuja manchete apareça a palavra Cuba, Google me manda um breve resumo ao meu correio eletrônico. Dessa forma posso ver como funcionam determinadas «correntes de opinião» que, com frequência, fomentam campanhas com o fim de satanizar pessoas e instituições. Aparentemente, as opiniões provêm de distintos meios e usam palavras diferentes – dá a impressão de que o mundo conseguiu unanimidade por esta vez. Contudo, quando você começa a desenredar a madeixa, descobre coisas muito interessantes.

Vou pôr apenas um exemplo geral: o grupo espanhol Prisa, campeão na orquestração de campanhas midiáticas em escala mundial, conta com mais de 1.250 emissoras de rádio em 22 países, cada uma com sua respectiva versão na web. Mas se isso fosse pouco, também é dono – ou acionista substancial – de publicações globais como El País, As, Cinco días, El Huffington Post, e MeriStation; de editoras orientadas ao ensino, como Santillana educação, e Alfaguara infantil e junior; ou de importantes televisoras como Mediaset, Telecinco ou Cuatro em España; TVI em Portugal e V-ME nos Estados Unidos. Quando o gerente geral da Prisa expressa uma opinião pessoal, esta parece ter sido dita pelo mundo.

Uma dessas «correntes de opinião» anuncia que eu aqui – apenas por viver aqui – não sou um intelectual independente, e, em consequência, também não tenho liberdade de expressão. Naturalmente, depois, eu poderia argumentar que eles afirmam isso porque gostariam de ver-me repetindo as meias verdades suas em vez das minhas: paradoxos de uma liberdade que pretende escravizar o pensamento!

Também poderia dizer que nada atenta mais contra minha liberdade de expressão do que uma campanha global onde por todas as vias se insiste até o cansaço que, pelo fato de viver aqui, eu não tenho essa liberdade. Talvez esse seja seu propósito real: pretender – mediante a intimidação e a infâmia – que não goze de credibilidade a opinião adversa que chega de Cuba.

Eu, contudo, tenho um critério muito próprio do que é independência intelectual, atenção ao paradoxo! Por isso afirmo não possuir a tal de liberdade. Sublinho o que já foi dito: eu não sou um intelectual independente. E não porque alguém suborne minha palavra ou sussurre em meu ouvido o que devo dizer, mas sim porque minha opinião depende de uma ideologia, uma memória histórica, uma cultura, certos princípios morais, e o que eu entendo por ética.

Não posso sintetizar um fato ignorando contextos, fundamentos sociais ou processos dialéticos que o geram, porque isso seria uma inconsequência. Não posso reduzir a um adjetivo ou a um tópico o que é diverso e complexo na condição humana, porque isso converte as pessoas em coisas. Não posso pretender que meu juízo seja hino de todos, porque tão só é uma nota na dinâmica do consenso.

Mas também minha opinião depende de uma estética, por isso de maneira nenhuma pode ser livre (ou talvez deveria dizer libertina). Se aquilo que importa é brigar e não dialogar, a tarefa é fácil; mas não debalde o homo sapiens percorreu um longo trecho entre o guincho e a palavra. Após inventar a olaria, a seguir, os humanos começamos a colocar desenhos nas vasilhas de barro. Para que servem os ornamentos em um recipiente se com isso não se protege melhor o alimento? Talvez o mais importante salto evolutivo de nossa espécie foi ter desenvolvido um senso para a beleza.

Mas não somente a forma obriga. Nesse desempenho flaubertyano também procuro me livrar de estereótipos, vãs retóricas, frases gastas, insistências, lugares comuns e pobre imaginação. Enfim, não saio por um atalho nem lanço mão de malabarismos verbais para eludir um fenômeno complexo; tudo ao contrário: irrompo em outro igual de controverso. Estou absolutamente convencido de que a gente nem sempre pode expressar a opinião mais polêmica. Somente que a palavra se torna árdua quando deve ter consideração com o leitor, quando a gente propriamente se respeita.


fonte: granma.cu

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Samuel

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