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sábado, 30 de julho de 2011

“Quem ditou a morte do Dr. Savimbi foi o Eduardo dos Santos”.

NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!...


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Foto: General Abilio Kamalata Numa. (O Apostolado)
Novo Jornal

Eu tenho uma ambição, de acabar com todo esses desentendimentos entre angolanos definitivamente. Instalarmos a liberdade e a democracia no nosso país. Por isso mesmo, e como já fui ameaçado, talvez seja a próxima vítima. Mas nao tenho medo disto…

É dos rostos mais temidos na UNITA pelo seu arqui-rival, MPLA. Abílio kamalata Numa fez manchetes em vários jornais privados, depois de ter feito uma greve de fome, para a exigir a liebrtação de um militante do seu partido.

O também Secretário-geral da UNITA afirma que não tem qualquer ambição na politica, e que o seu maior sonho é ver Angola livre de intolerância e que haja uma verdadeira reconciliação nacional A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) concluiu esta semana os seus trabalhos. E, segundo o comunicado distribuído à imprensa, não se constatou casos de intolerância na província do Huambo. Quer comentar?
O relatório final da CPI significou surpresa para muita gente, mas para outras é o corolário de uma situação que já contavámos. Porque, o MPLA tinha de ser igual a ele próprio, da forma como foi, e seria diferente se o MPLA quisesse de facto abrir uma nova página, coisa que eles não fizeram, e devo dizer que não foi nenhuma surpresa, já contavámos com isso, e foi o que aconteceu. Aqueles que estão do outro lado acham que o MPLA conseguiu uma grande vitória, mas só devo dizer que é uma vitória sobre o seu próprio povo, o que é nuito mau, uma vez que retarda ainda mais o processo de reconciliação nacional entre os angolanos.

Nao ficou nada surpreendido então?
Não, não fiquei. Vamos ter outras CPI’s.

Esta a preparar alguma surpresa?
Nós estamos nessa luta, e com certeza vamos ter surpresas.

O facto de ter sido nomeado para estar à frente desta comissão um militar não logo a partida uma barreira para a investigação?
Não, até para muitos como eu, talvez tivesse sido a abertura de uma luzsita que alguma coisa boa iria sair daí, porque os militares são pessoas que gostam de ser livres. Mas o Higino mostrou aqui que é um militar de carreira, mas que esta submisso as ordens dos políticos. Está numa hierarquia política e ele não conseguiu desfazer-se desse que é casaco de forças e assumir a sua personalidade. O MPLA vincou o que queria, e começou a fazer isso desde o momento que foi ditado a composição da própria CPI, onde 97 por cento dos representantes eram deste partido, com um da UNITA, outro da FNLA e um do PRS, que se abstiveram, infelizmente foi a charada que nós tivemos.

Podia nos contar detalhadamente os acontecimentos do Huambo?
A primeira coisa que fiz, uma vez que me encontrava no Huambo, foi ter levado o secretário provincial do Huambo, Liberty Chiaka e depois disso o senhor presidente, que também passou por lá, falou com as autoridades sobre a presença desse novo quadro naquela área, e depois disso ele começou a fazer-se apresentar em todos os municípios e comunas, e fê-lo de uma forma muito extensiva. A parte final da sua visita ia culminar exactamente no município do Bailundo, isto no dia 31 de Janeiro, ele foi visitar o município do Lunji, e muita gente das redondezas foram assistir ao comício, e eu, que neste período me encontrava na aldeia do meu pai, que é ali ao lado, também fui assistir, deram-me a palavra, inclusive, falei um pouco, mas nao era o anfitrião, o anfitrião era o Liberty, depois separamo-nos. As populações voltadas daquele comício muito motivadas começaram a colocar bandeiras nas suas aldeias. E aconteceu o mesmo na minha aldeia, e numa outra ao lado, e foi nesta outra onde se deu a confusão, na aldeia do Chissassa. O soba retirou as bandeiras, e a população depois de se aperceber foi tirar satisfação. E o povo disse, “se o soba tirar a bandeira da UNITA, então nós tambem vamos tirar a bandeira do MPLA”. E a partir daí houve desentendimentos, ao ponto do soba sentir-se ameaçado, uma vez que era quase toda a população da aldeia. E o soba teve de fugir para a regedoria, que criou condições, dando uma motorizada para ele puder ir até à aldeia do Munji queixar-se as autoridades. E as autoridades sem mandato de captura, sem nada, prenderam a elite mais importante daquela aldeia. E foi assim que prenderam o professor António Kaputu, história que vocês já conhecem. Quando eu soube, na altura encontrava-me no Bié, achei porém que deveria intervir, uma vez que acompanhei de perto essa história, e já há muito tempo que venho acompanhando a história da intolerância no Huambo. Por isso achei por bem encontrar uma forma de fazer ressurgir essa causa por todo o país, e foi assim que iniciámos a greve de fome. Depois disso os meus colegas parlamentares pediram que fosse criada uma comissão de inquérito para averiguar os casos de intolerância na província do Huambo.

O que o motivou a realizar a greve de fome?
A injustiça. E devo lhe dizer que estou na política sem qualquer ambição. Não tenho qualquer ambição. Os que têm ambições são esses que andam um bocadinho escondidos à espera do momento oportuno para aparecerem e irem ao poder, esses têm ambições eu não tenho. Eu tenho uma ambição, de acabar com todo esses desentendimentos entre angolanos definitivamente. Instalarmos a liberdade e a democracia no nosso país. Por isso mesmo, e como já fui ameaçado, talvez seja a próxima vítima. Mas nao tenho medo disto…

Mesmo com essa aspiração pela liberdade foi sancionado pelo Parlamento…
Fui sancionado sim, também não esperava outra coisa deste MPLA. Eu tenho a certeza, que é destes actos que surgirá um país mais honesto no futuro, com as mortes do Mfulumpinga, dos Nitos Alves, dos Savimbis, as mortes de tantos outrosangolanos anónimos, inclusive de miúdos que são mortos por aí pela polícia, outros ainda que sao presos por se manifestarem, enfim, é destes sacrificios todos pelo querer pela liberdade, que um dia teremos um país sério.

Estamos a aproximarmo-nos de 2012. Tudo indica que teremos eleições o próximo ano. Como coordenador da campanha eleitoral da UNITA em 2008, como encara este desafio que têm pela frente?
Primeiro, a luta que vamos encentar nos próximos dias, e que não tenhamos uma lei eleitoral igual a de 2008. E por aquilo que nos fazem perceber, uma vez que o MPLA já entregou a sua proposta de Lei Eleitoral, já recuámos. Signfica que Eduardo dos Santos quer se fazer eleger pela força e não quer ficar abaixo do “score” que o MPLA atingiu em 2008, ou seja, dos 81 por cento. Portanto, vamos ter eleições muito mais agressiva do que 2008. Por isso mesmo, nós não queremos ir para as eleições desta forma, por isso mesmo nós vamos ter de fazer aquilo que os outros estão a fazer, nós vamos parar esse país, acredita mesmo, nóss vamos parar o país.

E como pretendem fazer essa paralisação?
Nós vamos nos manifestar, vamos parar o país com manifestações.

Está-se a referir a Comissao Nacional Eleitoral Independente?
O problema não está só na Comissão Nacional Eleitoral Independente, mas nos órgãos que administram o processo eleitoral, que tem de seguir à risca o que a Constituição diz. O que MPLA esta a dizer é de uma Comissão Nacional Eleitoral Independente comparticipada e não é isto que diz a Constituição. Se for a ler o artigo 107º e as suas duas epígrafes vai ver que não está lá nada parecido, com uma comissao compartilhada que o MPLA propõe.

O que pensa que a UNITA deverá fazer diferente do que fez em 2008, para que se saia melhor em 2012, embora vocês tenham alegado fraude?
Estamos muito melhores do que em 2008. De um lado houve uma certa ingenuidade da nossa parte, porque estavamos a acreditar numa autoridade angolana, mas a autoridade que temos é do MPLA, não é de Angola. E a partir de 2008 despertamos, e vimos que as eleições em África é confrontação, então nós vamos por aí, vamos aceitar essa luta, e o MPLA não nos vai impôr de forma nenhuma o que fez em 2008.

O sr. Secretario-geral disse durante uma conferência de imprensa, isso logo depois da greve de fome, que “a UNITA não voltará a engolir sapos”...
Estava a referir-me exactamente a isso. Eu previa que muita coisa iria mudar, já nesta altura, ainda não tinha acontecido as revoltas no norte de África, mas nós já estavámos atentos aos acontecimentos no mundo. A democracia permitiu a eleição do Lula no Brasil, um sindicalista que veio das massas, neste mesmo país onde uma mulher chegou a Presidente da República, um negro nos Estados Unidos. Embora tenhamos do outro lado países como a China e a Rússia que estão a ver se não lhe dão muito espaço, mas a verdade é que estes países correm o risco de ficarem para trás se não aceitarem essa corrente que arrasa a nossa era. E é isto que nos deu certeza de que alguma coisa em Angola iria mudar. Em 2002 quando eu cheguei, dizia-se à boca cheia, no seio do MPLA, que eles iriam governar mais cinquenta anos. Nao foram necessario 10 anos, e nota-se o MPLA muito aflito, não consegue se impor, se não pela força.

Como analisa a situação sócio-político do país?
Muito má. Primeiro para dizer que, nós, infelizmente, fomos colonizados por Portugal, e o meu pai, em 1965 foi preso pela PIDE porque havia dito, na altura, que seria bom se tivessemos sido colonizados pelos americanos. E eu hoje repito, foi muita pena termos sido colonizados pelos portugueses, porque o que deixaram aqui foi uma mente tacanha de uma dimensão muito grande, as pessoas nao sabem respeitar a lei. A lei que criam, no outro dia a desrespeitam, é isso que Portugal nos deixou. Enquanto que, se fores para um país de expressão anglófona as pessoas têm sempre uma preocupação com a lei, embora haja uma excepção, que é o Mugabe, mas você nota que aceitou a Comissão Nacional Eleitoral Independente que lhe surpreendeu, agora está a lutar a ver se tenta equilibrar-se. Enquanto nós aqui, isso aqui já nem se reconhece mesmo como um Estado sério, ou se é um país das bananas. Vocês imaginem o senhor Presidente da República fez as eleições de 2008 para ter a Constituição que tem. Está explanado na Constituição a Comissão Nacional Eleitoral Independente, e ele não quer. Uma coisa que ele assinou, ele viu. Temos um país onde as pessoas roubam, ficam ricas de dia para noite, e não há ninguém que julgue estas pessoas, é o país que temos. É por isso mesmo que temos de nos despir desta mentalidade tacanha de medo e opormo-nos desta forma de governar o país. Os países não têm dono, os donos sao os naturais desses países. E vou lhe dizer mais, com isso nós temos uma geração perdida, ou comprometida, nao sei, se diziam que a minha geração era sacrificada, agora a actual geração não sei. Temos um país muito enfraquecido.

Disse recentemente em entrevista a um jornal privado que se o MPLA encarar a verdadeira UNITA e não aquela que tem vindo a passar para os angolanos, a virtual, passaremos a ter um país mais repressivo. O que é que quis dizer com isso?
Nós fomos um partido-Estado. É só ver que nós fomos sancionados internacionalmente, e pela primeira vez no mundo aconteceu isso. Por isso, nós conhecemos bem como funcionam as instituições, como se gere estas mesmas instituições, temos muitos relatórios, nós temos relatórios que vêm do MPLA, assim como eles têm relatórios nossos, nós sabemos disso. E há vários relatórios vindos dos mais diversos sectores do MPLA, de três a quarto página onde citam a UNITA mais de cem vezes, não citam nenhum outro partido mais, se não a UNITA, que é o inimigo principal. E o inimigo principal, a UNITA ja nem é tratada como adversário político, mas sim, como inimigo. Porque eles acham que se há alguém que lhes vai tirar do poder é a UNITA, e dentro dessa perspectiva eles estão a lutar com uma UNITA real, e não a virtual, e é essa UNITA de verdade, e não a UNITA dez por cento. Por isso mesmo há intolerância por todo país, por isso mesmo não passa as leis que se querem democraticas, por isso mesmo nós vamos lutar para que tenhamos uma Comissao Nacional Eleitoral Independente de mãos beijadas.

Com os casos de intolerância que se regista um pouco por todo país, conforme denúncias da UNITA acredita que a população poderá votar livremente­? Acredita que 2012 será difente? Não continuarão receiosas?
Melhorou muito. E a UNITA fez um trabalho profundo, com muito esforco, principalmente a nível dos municípios e comunas, um trabalho de organização junto das populações. Embora ainda exista, isto a nível das aldeias um certo receio. Mas se for a analisar, hoje as populações das aldeias é apenas um quarto da população, até não sei se chega a um quarto. Hoje, grande parte da população de Angola vive nos municípios, ainda temos certeza que alguma coisa pode acontecer. De qualquer forma, nós somos uma força que se interessa pelo país. Eu tenho certeza que, do outro lado, os dirigentes do MPLA batem-se para preservar aquilo que conseguiram, não é por amor a esse país. É só verem, os casamentos que fazem dos seus filhos, é com estrangeiros, e se amanha acontecer alguma coisa eles já têm os dinheiros transferidos e vão se embora. Nao é por amor a este país, é por amor aos dólares recebidos dos nossos petróleos. É dentro desta diferença que estabeleço que nós queremos ir um pouco mais longe, se for necessário, não é poder pelo poder, se o MPLA for patriótico, que fale com as pessoas, têm medo que a UNITA governe o país, querem ganhar, que fale com as pessoas, nós podemos aceitar mais uma transição de mais cinco anos, desde que tenhamos certeza que a democracia vai funcionar, que as leis serão respeitadas, as liberdades vão se impor, vão melhorar as performances de governação do país, vamos ter melhor educação, um melhor sistema de saúde, vamos corrigir as situações de corrupção que graça pelo país, podemos aceitar. Agora, se os companheiros não forem patriotas, só querem pensar que eles vão governar mais cem ou duzentos anos, e para fazerem isto têm de matar, de perseguir, etc…

Ainda, fazendo referência a entrevista que tenho vindo a citar, o SG afirma: “nós estaremos aqui sempre, não temos outro país, vamos sobreviver com a força do povo”. O que queria dizer com isto?
Em 2001, 2002, a estratégia do MPLA era: eliminar Savimbi é o fim da UNITA. E provou-se que a eliminação do dr. Savimbi não é o fim da UNITA, pelo contrário. A UNITA que o Dr. Savimbi criou veio para as cidades, está a fazer a luta de se adaptar a nova conjuntura, e hoje sem sombra de dúvida que, a melhor coisa que aconteceu a UNITA foi a guerra ter terminado. Porque passado nove anos o povo consegue estabalecer a diferença entre a UNITA e o MPLA. Mesmo usando a força da propaganda da rádio que dominam, da comunicação social, diabolizando a UNITA, daqui e p’ra lá, mas nem com isso, porque o povo consegue estabelecer a diferença. Por isso, nós vamos sobreviver com a força desse povo, que está nas cidades, na zona rural, e é através da força deste povo que nós vamos sobreviver.

Como esta a UNITA no Norte e leste de Angola? Embora sei que tem estado mais vezes no centro-sul do país?
Olha, eu comecei a movimentar-me mais no centro e sul do país, depois de 2010. Nos anos anteriores, eu fazia o Zaire, Uige, Kuanza Norte, Malange e lundas. Quando a direcção determina que o Secretário-geral deve se ocupar mais da zona centro-sul do país, para mim foi uma boa oportunidade, por ser a zona onde sou menos conhecido, apesar de ser filho daquela área. Sou capaz de desafiar muitos dirigentes que nasceram aqui no norte e leste, concorrer com eles em eleições livres e justas, e concorrer com eles à vontade, porque é o território onde sou conhecido.

Foi dos fundadores das Forças Armadas Angolanas (FAA), juntamente com o general João de Matos, de onde saiu em 92, antes mesmo de rebentarem os confrontos em Luanda? O que lhe levou a tomar esta atitude?
Houve coisas que se passaram que me fizeram perceber que afinal a causa porque lutavamos ainda estava num processo de riscos. Primeiro, nós ao fazermos os acordos houve da parte dos dois partidos, questões que não foram cumpridas. Pouco antes de iniciarmos as eleições nós vimos o MPLA a desfilar forças, tinha transformado parte das FAPLA em unidades especiais da polícia, polícias de Intervenção Rápida, força anti-motin, e os acordos proibiam isto. Era um factor nosso que estava a ser introduzido no processo de transição do país, e quando as eleições se fazem, a fraude foi de tamanha grandeza que fez com que pensassemos que determinados erros deveriam ser corrigidos. De um lado, houve ingenuidade da nossa parte, penso que hoje nao repeteriamos, a UNITA cometeu um erro de ter dado ao MPLA o poder de organizar o processo eleitoral. Portanto, foi uma negociação que nós fizemos, que não devia ter sido feita daquela forma, talvez se a UNITA fizesse um governo de transição com o MPLA, talvez o processo não tivesse descambado. Mas a UNITA ao ter permitido que o MPLA continuasse a ser governo, e as eleições fossem elas a determinar o início da segunda República, acho que teria sido o melhor, mas infelizmente fomos para outro caminho E, quando já sentiámos tensão um pouco por todo pais, com ataques no Lubango, ataques em determinados municípios, e se fizer uma cronologia dessa época, vai notar que as nossas pessoas começaram a ser mortas em toda a parte do país. E eu recordo que nesta altura perdi um irmão, em Benguela, que era capitão das FAA, era instructor e foi morto mesmo em Benguela. E, quando vimos toda essa confusão pelo país, eu achei que não devia correr esse risco. Nao sei se está informada, mas a casa onde vivi, isto ali na zona do Benfica, que penso ter sido construída para as FAA, foram fazer tiros em direcção a minha casa. Isto antes das confrontações, depois das eleições. Um indivíduo veio à janela e fizeram tiros em direcção a minha cama, mas infelizmente ou felizmente já não estava lá.

Foram estes os motives que o levaram a sair?
Sim. Foram esses os motivos que me levaram a sair, à espera que as coisas se recompusessem, uma vez que ainda tinhamos gente nossa aqui, a negociar, como o Salupeto Pena, O Ben Bem, o Alicerce Mango, o vice-presidente Chitunda e o Chivukuvuku, ainda tinhamos pessoas aqui a negociar com o governo, um novo figurino para a situação, e poderia ter se evitado toda aquela situação que aconteceu depois.

Hoje, passados quase 20 anos, o que acha que correu mal naquele período, e que podia ter sido evitado? A UNITA entrou para a cidade com intenção de tomar o poder?
Era dos quadros importantes do partido. Era comissário político das FALA, vim com o estatuto de segundo homem das FALA, só saio quando fui para o norte. E conhecia bem o nosso partido, nós tínhamos apostado tudo nas eleições de 1992, e inclusivamente os nossos aliados, os americanos davam-nos essa segurança, é por isso mesmo que estavámos à vontade para fazermos essa transição. Mas, essa intrasigência do MPLA, de querer ser sempre ele a colocar-se acima de toda gente, e achar que é o único e legítimo representante do povo, faz com que maximizemos sempre os nossos objectivos, e nos leve sempre para a confrontação. É só vermos o que está a acontecer hoje, estamos a cometer os mesmos erros dos tempos passados, quando podíamos evitar isso. Mas nós vamos ter gente a correr nas manifestações, eu tenho certeza que depois disso as coisas irão mudar.

Fale-nos um pouco de António Dembo, um homem do norte, e que ocupou o cargo de vice-presidente da UNITA durante dez anos? E que sei que privou consigo durante um largo período de tempo. Que recordações é que guarda desta figura?
Grande homem. Tenho certeza que se Dembo tivesse sobrevivido a situação de 2002, tenho certeza que seria das pessoas mais respeitadas dentro do nosso partido. Muito simples, uma maneira peculiar de conviver com todas as pessoas, Dembo nao tinha animosidades com ninguém, e eu convivi muito tempo com ele. Com ele aprendi muita coisa, era meu mais velho, e uma pessoa que hoje faz muita falta e que ajudaria muito no processo de reconcliação interna do partido.

Que influência ele teve para a implantação da UNITA no Norte do país, uma vez que era desta região?
Dembo tem uma característica, que é, de muita gente pensar que ele era bakongo. António Sebastião Dembo, não era bakongo, mas kimbundu, da zona do Kuanza Norte, na área de Cabulo Kabanga, entre Golungo Alto e a Banga há aí uma aldeia de onde veio a sua família. O seu pai era pastor, tranferido para a zona de Nambuangongo, na regiao de Muxaluando, onde ficaram conhecidos.

Sei que esteve um período preso no tempo de Jonas Savimbi…
Estive sim, problemas normais de qualquer partido, e não há qualquer tabu em respondermos a isso.

Então pode nos contar os motivos que levaram a sua detenção?
Posso. Isto foi num período quando o partido começa a ter parte do pessoal aqui em Luanda, uns na Assembleia Nacional, e outros no GURN, então instala-se no seio do partido um ambiente de muita conflituosidade. Alguns quadros, na sua maioria jovens achavam que o Numa era daqueles que no Norte ia protagonizar um golpe dentro do partido. Em 1994, 95 a guerra no Bié tinha atingido uma dimensão muito grande, e eu não concordava com as tácticas de guerra que estavam a ser usadas pelo partido, assim como pelo governo. Porque eu pensava que estava a ser sacrificado todo um povo de uma forma desnecessária, penso que poderíamos ter encontrado uma outra solução naquela altura, e eu fui nomeado para suceder o Ben Ben no commando das tropas no Bié. E ja naquela altura, eu olhava para a dimensão histórica daquela guerra, por isso nao aceitei. Não disse ao senhor presidente que não iria, mas fi-lo de outra forma; saí do Huambo e fui para o Norte, sem dar a conhecer a direcção do partido. Quando um militar desobedece o alto commando, é extremamente perigoso, e eu assumi esse risco. Vinte e quatro horas depois estavam a achar que o Numa tinha desertado para o MPLA, e os meus amigos, como Chilingutila e outros, foram consultados para saber se eu tinha passado por eles, se eu tinha desertado, e se eles seguiriam o mesmo caminho, mas depois disso eu fiz uma mensagem para ao presidente a dizer que estava no Norte, que eu estava com o partido, e que não havia problemas, e que me encontrava adoentado. Fiz perceber que estava doente. Cinco meses depois eu recebi o primeiro castigo, foi depois do oitavo Congresso, fui enviado para o Bié, no Andulo, à frente de um pequeno comando. Uma fase muito boa para mim porque fiz uma coisa muito boa com os jovens, organizei o povo, enfim. Em 1998, fez-se um ataque ao Alto Hama e fui acusado de ter sido o mandante daquele acto, felizmente os companheiros que faziam parte do meu comando disseram a direcção que não havia sido eu, portanto, houve uma manipulação de companheiros, que agora não adianta citar nomes, mas depois chegou aos ouvidos do alto comando que tinha sido uma insubordinação da minha parte. E foi isso que levou-me a ficar preso durante algum tempo, foi dificil, mas passou. Assim como eu, estiveram outros como o Bock, o Vitó, o Antero, estiveram muitos. Desse grupo sobrevivi eu. O general Jacinto que desertou, e outros que depois desapareceram.

Esteve na última coluna de Jonas Savimbi.
Estive sim. Aliás, no dia 22, quando o dr. Savimbi foi morto, o único dirigente na coluna do presidente Savimbi era eu. Dormiámos lado a lado, tinhamos uma fogueira no meio, ele dormia de um lado e eu estava do outro.

Savimbi suicidou-se ou foi assassinado?
Foi assassinado. Foi morto numa batalha em que depois de fazerem tiros e ele cair, os militares chegaram perto do corpo e fizeram-lhe vários tiros.

E aonde estava nesse exacto momento?
O que aconteceu foi o seguinte: Nós depois separamo-nos nas várias manobras que fomos fazendo na mata, havia momento que tínhamos de fazer uma linha muito extensa para não se deixar um rasto. E foi nessa altura em que uma parte do grupo se desviou, e esse grupo era do dr. Savimbi. Era mais ou menos oito pessoas, e eu pertencia a um outro que já tinha se perdido da coluna três dias antes. Fazia parte do grupo de pessoas que controlava a rectaguarda da coluna do presidente e eu fui atacado numa destas vezes, e perdi-me da coluna. Mais tarde apanhei a coluna do dr. Savimbi no dia 21, e então eu vinha num grupo de cinco, quando me juntei a ele estava sempre animado a dizer que devíamos então ver se encontravamos o resto do grupo, porque a maior parte estava com o general Dembo e o General Samy. Começamos a maratona no dia 21, e no dia 22, por volta das 14horas estacionamos numa área, onde juntamos uma patrulha para ir ver se havia rasto de alguns dos nossos. Mas antes de chegarmos no ponto aonde estavamos, vi realmente pegadas de duas ou quatro pessoas, mas por haver muito musgo naquela altura nao se podia distinguir bem de quem eram as botas, se eram botas das FAA ou da nossa gente. Então chamei o dr. Savimbi e mostrei-lhe as pegadas, e disse que não sabia o que se passava, e que de qualquer forma era melhor entrarmos mas para o interior das matas, e depois mandarmos gente para o patrulhamento. Quando eram 14horas e qualquer coisa, eu pedi autorizaçã ao dr. Savimbi par ir carregar as minhas pilhas alkalinas, porque queria escutar relato à noite, eu sou um sportinguista doente, por isso não me passava nada, era a minha diversão. Eu saio, e vou para junto dos homens das comunicações para carregar as minhas pilhas. Mas, quando eu chego e me preparo para começar a colocar as pilhas sinto um barulho, e levanto-me e olho na direcção de onde vinha o barulho, quando começam os tiros. Entao vejo o dr. Savimbi a levantar-se a correr e a cair.

Ainda conseguiu ver Jonas Savimbi?
Sim, porque eu não estava distante. Era mesmo perto. Inclusive tambem fizeram tiros contra mim. Eu levava um casaco grande, que ficou furado, com tiros, foi por isso que eles depois disseram que eu tambem tinha sido atingido, que estava gravemente ferido. E sai. Passados dois minutos, naquela azáfama das corridas, sentia-se tiros pausados, como se tivessem a matar um animal. E eu estava a perceber que eram tiros que estavam a ser feitos ao corpo do dr. Savimbi, daí aquelas imagens que correram o mundo. A teoria do suícidio é uma teoria que não tem perna para andar, porque quem ditou a morte do dr. Savimbi foi o Presidente Eduardo dos Santos. Porque o senhor Eng. Eduardo dos Santos fez um pronunciamento, se não estou em erro, em Cabo Verde, onde afirmava que o dr. Savimbi ou rendia-se, ou seria capturado, ou seria morto. Estava tudo dito.

Diz-se que o senhor nunca vai aos cumprimentos de fim de ano, na Cidade Alta?
Nunca fui.

Mas ja foi convidado…
Sim, mas nunca fui. Eu saudei o senhor Presidente da República uma única vez, quando uma delegação do partido foi ter com ele, o presidente Samakuva, o senhor vice-presidente. Foi a única vez que o cumprimentei na Cidade Alta. Parece brincadeira, mas há coisas que têm efeitos na minha vida pessoal. José Eduardo dos Santos faz anos no dia 28 e eu no dia 31, portanto, somos do mesmo signo. E o sentimento que tenho das pessoas do meu signo, virgem, é um sentimento de justiça, e não aceito que isto aconteça com pessoas do meu signo.

Mas está-se a referir a quê exactamente?
O senhor Presidente da República tem se mostrado uma pessoa muito má, desculpem-me estar a dizer isso. Mas nunca vi nada igual, enriquecer os filhos, enriquecer os familiares e todas as pessoas a sua volta exibirem riquezas extravagantes, e depois a população vive de forma muito má, abaixo da linha da pobreza, deixa-me triste. Estamos aqui para dizer, boa viagem.

A UNITA já esteve várias vezes à porta de Luanda, antes de 92 e depois. O que faltou?
Os militares são a parte da UNITA que mais se surpreendeu com os acordos de Bicesse, porque nós queríamos ir até as últimas consequências. E é assim que nós, inclusive, houve um Congresso de 1986, o sexto, em que o dr. Savimbi proibiu-nos, os militares, e na altura estava com o Demóstenes Chilingutila, de irmos, e deu-nos, inclusive, uma frente. Ele nos disse: “nós vamos para um congresso, mas vocês os militares não vão para este congresso”. Pela primeira vez, na história da UNITA, os principais militares não irem para um congresso. Porque o dr. Savimbi sabia que tinha de se assumir uma determinada direcção para se acabar com o conflito, mas que encontraria juntos dos militares uma barreira. Porque nós não acreditávamos no MPLA, é o que estamos a ver hoje. Talvez com Agostinho Neto tivesse havido maior patriotismo, mais amor a pátria, enaltecer mais os interesses nacionais, em detrimentos dos pessoas, dando mais valor a reconciliação nacional, unidade, mas com este grupo que está agora a dirigir o MPLA. Não querem saber dos outros, para eles os angolanos só são eles.

Qual foi o momento em que mais próximos estiveram de tomar Luanda?
Nunca tivemos persepctivas de tomar Luanda. Nós tivemos sempre a perspectiva de fragilizar o MPLA, para fazermos acordos mais consentâneos, e o MPLA também procurou fazer o mesmo.

Como analisa o papel da troika de observadores, isto em 92, e em 2002?
Portugal, infelizmente, deixou-nos aqui muitos pendentes. Também não têm mais capacidade para puder reactivar os pendentes e darem solução. Agora essa é tarefa nossa. Nós temos o problema de Cabinda, e os cabindas continuam a dizer que Portugal devia resolver, mas Portugal não vai resolver mais nada, nós mesmo é que temos de ter capacidade para resolvermos o nosso problema. Em relação a troika, vou falar mais da Rússia, e dos Estados Unidos. A subordinação do mundo as energias, fez com que o MPLA, naquela altura, sempre partisse em vantagens, nos dois momentos. É o parceiro com quem estavam a negociar, e naquela altura o MPLA não tinha dado a perceber que não era democrático, que fosse corrupto, e por isso benefício de dúvida era mais fácil negociar com o MPLA, do que com a UNITA que ainda era muito duvidosa. Por isso mesmo tudo fizeram para que eles se mantivessem no poder, as forças do petrodólares ajudaram muito. Mas hoje essa percepção mudou muito, sobretudo da parte dos EUA.

Os americanos abandonaram a UNITA em 2002?
Eu não diria que abanadonaram a UNITA…

Ou melhor, mudaram de parceiros?
Eu diria que mudaram de parceiro à força. Porque, em 1992, o mais importante para os americanos era deslocar a Rússia. E se a Rússia estava já deslocada com os acordos que foram feitos, e era possível apanhar-se o MPLA, na base base da persepectiva económica, isto também estava bem encaminhada.

E daí a morte de Jonas Savimbi?
Sim. Morreu Jonas Malheiro Savimbi e fomos sancionados internacionalmente…, etc.

O amigo americano vós traiu?
No mundo da política não há amigos, há interesses. Quem estiver na política e achar que tem amigos está enganado.

Sei que também não tem boas relações com o general Karmoteiro…
Eu não preciso ter boas ou más relações. Primeiro, porque o Karmoteiro é meu subordinado desde sempre, Não é verdade. Até, porque primeiro, ele é meu subordinado e sempre foi, desde sempre. Eu fui membro da direcção da UNITA era o Comité Central e o Bureau Político. Eles são mais novos e já na altura nós tínhamos os problemas que tínhamos, mas nós sabíamos o que estava a acontecer.

É a favor do congresso?
Eu sou a favor do Congresso, o presidente da UNITA é a favor do Congresso. E nós vamos fazer tudo para que o congresso se realize ainda este ano.

O que faz um militar de carreira nos tempos livre?
Eu não sei se tenho tempo em que não estou a trabalhar. Sem recursos, com muitas dificuldades, mas nós estamos sempre a trabalhar de dia e de nooite, por isso mantemos essa máquina activa. E assim sacrificamos as nossas famílias, porque a paixão que temos por essa causa é muito grande.

Casado?
Não falo sobre isso (risos).

Uma cidade de Angola?
Cubal, terra aonde nasci.

Um país?
Angola

Sabe dançar, gosta?
Danço

Prato preferido?
Eu sou mesmo africano, gosto de funji. Gosto de grelhado de carapau, batata doce e mandioca.

Desporto preferido?
Futebol (Petro de Luanda e Sporting Club de Portugal).

Fonte: Novo Jornal

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Um abraço!

Samuel

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