Para nos darmos conta da pertinência da presente abordagem, façamos uma breve retrospectiva, a fim de compreender melhor até que ponto ter padrinhos na cozinha (ou o pai) pode ajudar a ter acesso a um bom tacho.
Nos idos de 2008, o F8, assim como muitos militantes do MPLA, espantaram-se ao ver o nome de Tchizé dos Santos na lista de candidatos a deputado desse partido.
Pensámos então e continuamos a imaginar que havia no seio daquela formação política outras tantas pessoas cuja militância era mais visível e o nível de intervenção pública muito mais profícuo que o da personalidade em causa. Mas a opção recaiu, entre outros tantos repescados sabe-se lá como e onde, para uma jovem de quem nunca se tinha ouvido a mais insignificante declaração, por mais curta que fosse, em nome do partido.
Como militante do MPLA, ninguém tinha ouvido falar, previamente, do desempenho ou da militância de Tchizé.
Muito antes disso, já tínhamos experimentado uma outra sensação de surpresa, quando soubemos que Tchizé e o seu irmão Zedú tinham sido bafejados pela sorte de uma qualquer fada madrinha, ao lhes ser passado para gestão o segundo canal da Televisão Pública de Angola (TPA) sem concurso público, sem nada.
Do dia para a noite, os angolanos foram informados sobre uma negociação que transferiu para uma empresa privada a gestão de uma empresa pública ou, pelo menos, de parte dela, sem qualquer justificação.
Mas o nosso espanto, já grande, ainda pôde crescer, quando Tchizé dos Santos rubricou um comunicado, numa altura em que já era deputada, a respeito da sangria que ameaçava os quadros da Televisão Pública de Angola (TPA), asseverando que tinha sido movida por um sentido de ética e de cidadania, acrescentando no aludido documento que apenas propôs, na sessão parlamentar em que interveio, que «o Estado defendesse os seus interesses e o dos seus cidadãos, aquando da atribuição de licenças de Comunicação Social».
Puxa! Dizer isto depois da mudança relâmpago da gestão do canal 2 e Internacional da TPA, sem concurso, seguida de perto pelo inesperado surgimento do seu nome na lista de candidatos a deputado pelo MPLA, em que a ética foi simplesmente enviada ao diabo, a única conclusão possível é que Tchizé pode, ao mesmo tempo, caminhar em ambos os sentidos de uma mesma faixa de rodagem. Na mesma altura que anda em contramão em relação à ética, lá está ela a defender, ferrenhamente, o seu sentido ético.
Alguém conseguirá compreender isto?
É claro que não, perdão, é claro que sim, porque o que permite à Tchizé fazer tudo isso e mais alguma coisa, é essa força, essa condição que a coloca, digamos, numa posição de super-poderosa, ou seja, o facto de ser filha do Presidente da República, ilação que, de resto, se estende a todos os filhos do presidente José Eduardo do Santos.
E isso, em países onde se respeita a ética, tem um nome: tráfico de influências, o que para muitos dignitários da elite angolana não passa de uma exótica noção escolar.
Feito este breve retorno ao passado, o F8 vê-se na impossibilidade de dar a boa nova, isto é, noticiar um progresso qualquer relacionado sobre esse tema, o tráfico de influências. Pelo contrário, temos é a deplorar um acréscimo dessa tendência, se for verdade o que foi noticiado pelo Club K.
Segundo esse site, o Presidente da República, Engenheiro José Eduardo dos Santos, o nosso “N’guxito”, orientou, na sequência de uma proposta avançada por um (ou uma) anónimo/a – para o restante povo, para ele não -, a criação de uma espécie de comissão atípica com a designação de Grupo de Revitalização e Execução da Comunicação Institucional da Administração (GRECIA), com missão de prestar contas ao ministro de Estado e Chefe da Casa Civil, Carlos Feijó.
Na prática, porém, segundo parece, quem põe e dispõe é um coordenador, Sérgio Neto, actual director executivo da Semba Comunicação, e este, por sua vez, não teve dificuldade nenhuma em subcontratar a empresa que ele próprio gere, a dita Semba, essa mesmo, dos filhotes do PR, como entidade a quem teriam sidoDELEGADAS COMPETÊNCIAS PARA FAZER A GESTÃO DA IMAGEM DO GOVERNO, numa harmoniosa parceria, vai de si, firmada com a Presidência da República.
Ficou, portanto, tudo em família e assim é que está bem por estas bandas de bandos.
Nesta empreitada, tipo pára-brisas de eventuais e nocivas lufadas de ar fresco, com tendências constantes para oxidar a imagem de Nguxito (PR), alegadamente já terá sido avançada uma primeira tranche a rondar os 80 milhões de dólares, o que permitiu a contratação de consultores estrangeiros a auferir um ordenado de 10 mil dólares, sem contar subsídios diversos, enquanto os consultores nacionais receberão por mês o correspondente a 5 mil dólares.
Tal discrepância já é normal em Angola, embora seja uma aberração digna de registo. Porém, no caso vertente, dada a opulência dos emolumentos, a diferença nem se vê, apesar de ser de algum modo humilhante.
Mas neste parte e reparte ainda sobrarão algumas belíssimas “fezadas”, para escribas e comentaristas, sendo apontados os nomes do seguintes felizes cooptados angolanos, ou seja, Victor Fernandes, da revista Expansão, os jornalistas Alexandre Cosse e Benedito Joaquim, trânsfugas da Rádio Ecclesia, Rui de Castro, ligado pelo coração e porta-moedas ao MPLA, sem esquecer o inefável Dr. Belarmino VanDúnen, esse espectacular “Yes man” que um dia, no Semana em Actualidades, tentou propagar a ideia de que os cadernos eleitorais são folhetos descartáveis, quer dizer, eis ali um democrata de mão-cheia!
Quando dizíamos que a campanha eleitoral tinha começado, eis mais uma prova disso, em forma de rectificação das alegadas calinadas cometidas por Mena Abrantes (ler Patinagem Presidencial, no Top Secreto).
AQUI ESCREVO EU
WILLIAM TONET
fonte: angola24horas