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sexta-feira, 20 de julho de 2012

Angola: As maravilhas da medicina tradicional.

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Medicamentos tradicionais como cola e gengibre são vendidos nos mercados dos Congolenses e São Paulo e procurados por muitos cidadãos que acreditam na medicina natural
Fotografia: M. Machangongo
A medicina tradicional é eficaz na cura de muitas doenças físicas e mentais. Resulta da combinação de conhecimentos, habilidades e práticas baseadas em teorias, crenças e experiências usadas para prevenção, diagnóstico e tratamento. 
O terapeuta tradicional é reconhecido pela sua comunidade por ser competente para prestar cuidados de saúde, baseados nos conhecimentos tradicionais, sejam eles religiosos culturais ou sociais, e que visam o bem-estar mental, físico e social. Maria dos Santos, 59 anos, vende medicamentos naturais no mercado dos Congoleses, antigo Caputo, desde 2007. Fornece aos clientes desde cola, gengibre, pele de jacaré, diala miango, raiz de coqueiro e outros remédios usados na medicina tradicional. 
A vendedora diz que a pele de jacaré serve para curar doenças dos brônquios: “a pele é assada no carvão, depois pisa-se no pilão. O pó resultante põe-se num copo com água e dá-se a mistura a beber aos bebés e adultos que tenham problemas dos brônquios. O medicamento deve ser tomado duas vezes por dia, de manhã e à noite”.
Mas Maria dos Santos sabe mais: “a junção da raiz do coqueiro com dicaxi cura o paludismo. Juntam-se as duas raízes numa cafeteira, deixa-se ferver e depois os doentes bebem o chá até ficarem bons”.  
O brututu cura a biliose. O chá é feito com dicaxi e raiz de coqueiro. A mandioca macho também é usada numa mistura com “diala miango” para dar potência sexual aos homens. Colocam-se as raízes na água. O “doente” depois bebe a infusão e mastiga a mandioca. Maria dos Santos diz que é infalível.
A raiz “ngadiola” (parece um feijão grande) serve para curar a febre tifóide: “tem de se mastigar um por dia, até passar a doença”. A vendedora disse ainda que estes medicamentos são bons e se forem bem usados dão excelentes resultados. Atenção! Alguns medicamentos naturais não podem ser misturados com remédios químicos ou bebidas alcoólicas. 
Jorgina Afonso, 25 anos, trabalha com a avó no mercado dos Congoleses há dois e colhe a sua experiência todos os dias. Desde que tomou contacto com os remédios tradicionais já consegue receitar as doses aos doentes.
Lamparina mágica

“Esta lamparina serve para fazer fumaça e expulsa os maus espíritos de casa. Esta pedra brilhante ou dilingonde, combate o mau-olhado e anula o veneno”, explicou Jorgina Afonso. No mercado de São Paulo, antigo Chamavo, o cenário é idêntico. A venda de plantas medicinais dá o sustento a muitas famílias. 
Os doentes não se queixam e muitos comprovaram que os “milongos” curam mesmo. Teresa Teixeira, 52 anos, há 25 que trabalha no mercado de São Paulo: “trabalho desde muito jovem com plantas medicinais, foram os meus avós que me ensinaram e sempre resultou. O nosso desejo é mesmo fazer uma parceria com o Executivo, para adquirirmos mais conhecimentos e aprendermos a dosear a medicação” disse.
A vendedora reforçou: “os nossos pais sempre que ficávamos doentes tratavam-nos com plantas”. Teresa Teixeira diz que se alguém parte a perna ou um braço “não é necessário ir ao hospital, põe-se a casca de mucumbi no local da fractura e passados alguns dias a pessoa fica boa”, reforçou.

Trabalhar o íntimo

“A medicina tradicional é diferente do espiritismo, que trabalha mais o íntimo. O psicológico vem dos nossos antepassados. Para saber se alguém está possuído de um espírito maligno tem de passar por rituais. Alguns kalundus só saem por acção de grandes mestres. É difícil acalmar certos espíritos, por que podem ser dos avós, bisavós, tios e outros parentes directos do doente”, afirmou.
A vendedora, 52 anos, disse que quando os espíritos aparecem (sobem) pedem o que for necessário para ser feito o tratamento: “carvão podem ser dois sacos, batuque, esteira e chifre de boi. 
Daí começa-se a tocar o batuque e o chifre de boi. A pessoa possuída pelos espíritos mergulha no fogo feito com dois sacos de carvão até os kalundus subirem e pedirem o necessário para o tratamento. Se o doente sair da fogueira sem queimaduras quer dizer que o espírito é verdadeiro, senão é falso”.
Teresa Teixeira disse também que os santos têm a ver com a kianda: “há alguns que se misturam com os kalundus, mas é raro. Existem os santos da água e da igreja, tudo começa pelos sonhos e termina sempre na água”. Também há crianças doentes com “mondona” e passam mal: “é quando o pai ou a mãe abandonam os filhos e eles só querem o cheiro dos pais. Então damos a roupa às crianças para sentirem o cheiro”. Com medicamentos naturais são tratadas doenças como a meningite: “é tratada com unhas de pássaro (orococo) golpeia-se o dedo do bebé corta-se um pouco a unha do pássaro e faz-se o trabalho”.
Atenção aos doentes com ácido úrico ou gota: “o doente não pode comer feijão, galinha e ovo. O tratamento é fácil, golpeia-se o dedo do doente corta-se a galinha na pata. Une-se o sangue dos dois”. Santa Luzia, 44 anos, disse ao Jornal de Angola que desde criança trabalha com remédios tradicionais. 
“Sou herdeira da minha mãe, é um dom de família. Aqui neste mercado vendo de tudo desde peles de animais, tubérculos, folhas de plantas medicinas, caveiras de macaco, cada um tem o seu fim”, afirmou. A vendedora disse: “se pudermos associar-nos e trabalhar com o Executivo a favor da boa saúde da população vai ser uma alegria porque há doenças que só o ramo da medicina tradicional pode tratar”. A pele de jibóia fervida serve para partos difíceis. A pele de macaco cozida ou moída combate vertigens e tonturas.
Os pelos de coelho curam queimaduras. A terra do morro de salalé serve para fechar a cabeça aberta em bebés recém-nascidos. 
Caveira de macaco cura cabeça aberta. Chifre de boi chama os espíritos na hora do chinguilamento. As tripas da jibóia e a coluna vertebral servem para tratar a mulher que não consegue dar à luz, ajudam a expulsar o feto.
As penas de pássaros, galos, galinhas e patos usam-se para dar banho de chinguilamento. Unha de águia combate o mau-olhado, a gota e os bebés que se assustam de noite “não se assustam mais”. As missangas são boas para rituais espiritistas e as vassouras de mateba servem para tirar o mau-olhado do corpo.

Medicina natural

A medicina natural ganhou espaço na sociedade angolana e hoje ocupa um lugar de destaque. A ervanária Xandala é antiga no tratamento com plantas medicinais em Angola.  Com 44 mil clientes, a ervanária Xandala está aliada à Associação dos Centros e Ervanárias de Medicina Natural (MENA), que também trabalha no ramo. Morina de Sousa, terapeuta, há dez anos trocou a medicina convencional pela natural por acreditar que desta forma salva mais vidas. 
Os doentes que procuram esta parte da medicina tradicional recebem uma orientação sobre a medicação e a alimentação ou como devem viver em sociedade para evitar determinadas doenças: “o paciente tem de ter consciência do tratamento que está a fazer, porque se não cumprir com a medicação não tem como obter resultados positivos, por isso toda a cura depende da fidelidade do paciente durante o tratamento” disse a terapeuta.
A medicina natural tem a sua parte química e por isso, ao ser feita a medicação, deve-se ter cuidado com o tempo que é dado pelo terapeuta para tomar os chás e xaropes. 
A ervanária Xandala tem uma horta na Funda onde faz a colheita, secagem e embalagem de alguns medicamentos: “os nossos produtos são feitos por nós” afirmou  Morina de Sousa.

Função dos medicamentos

Uma papa de folhas, sementes, ginguba e fuba de milho serve para defender o organismo porque actua como vitamina. O sisal serve para tratar doenças como o paludismo e a febre tifóide. Amoreiras utilizam-se para gargarejos, inflamações nas amígdalas, dor de dentes e de garganta, vermes, feridas, diabetes e dor de bexiga. A folha da bananeira é utilizada para banhos, úlceras, azia, asma e tosse rebelde. O manjericão alivia as dores intestinais e de estômago, é tónico e estanca o sangue. O vinagre de maçã baixa o colesterol, combate a artrite, a azia, o reumatismo, a dor de bexiga. 
Paulo Kapela tem larga experiência no campo da medicina tradicional: “vem dos nossos antepassados, os pais passam testemunho de geração em geração. Eu aprendi tudo o que sei com os meus avós e pelos caminhos que percorri n no Congo Democrático, Congo Brazaville e Maquela do Zombo”, afirmou.

Opinião do público

Joaquina Gomes, funcionária pública, acha importante o Executivo trabalhar com os terapeutas tradicionais e ervanários porque “se serve para salvar vidas então é bem-vindo, muitos ao irem aos hospitais não são curados e vão aos médicos tradicionais ou ervanárias e são curados. Tenho uma irmã que não conseguimos tratá-la no hospital, levámo-la a uma ervanária e ficou curada”.

Sérgio Quintas, vendedor ambulante, disse “há muito preconceito por parte da população, nós no mato nunca tomamos remédios, só ervas que os nossos avós iam buscar na mata e depois de preparar davam-nos a beber e ficávamos curados”, afirmou.

Tânia Silva, funcionária pública, afirmou que é louvável o Executivo trabalhar com pessoas que conhecem a fundo a  medicina tradicional para a­poiar os hospitais quan­do não puderem dar resposta a certas doenças”.


fonte: Jornal de Angola


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Samuel

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