As especulações sobre uma eventual divisão da Nigéria já existem há algum tempo. Mas foram recentemente reforçadas pelos numerosos e violentos ataques do grupo terrorista islâmico Boko Haram.
Poucos nigerianos se sentem realmente nigerianos no país mais populoso do continente africano: são pessoas das etnias hausa, yoruba, ibo, de religião cristã ou muçulmana, ou vêm das cidades de Lagos, de Port Harcourt ou de Bauchi.
O norte da Nigéria é dominado pelo Islão, e os cristãos são uma pequena minoria na região.
Há três anos, Jonathan Nyebe é pastor da igreja Evangelical Church of West África (Igreja Evangélica da África Ocidental, sigla ECWA), na cidade nortenha de Sokoto.
Ele conta que vem do Estado de Benue, no centro da Nigéria, a 750 km dali, e que teve de se adaptar a esta nova realidade.
Jonathan Nyebe, pastor da Igreja Evangélica da África Ocidental, diz que teve que se adaptar à realidade de Sokoto
„Estou me acostumando às pessoas aqui e aprendo a entender as diferenças culturais, que são grandes", diz.
Jonathan Nyebe é um homem calmo. Descreve a nova morada com cuidado. Não quer provocar a raiva sendo cristão – ou seja, minoria – numa área dominada pelo grupo étnico Hausa.
Apesar disso, a contenção do pastor evangélico só dura poucos minutos. Responde com raiva à pergunta se poderia construir uma nova igreja no centro de Sokoto.
"Não, não, não, jamais”, garante. Segundo Nyebe, em Sokoto, existe uma lei não escrita que diz que não há terreno disponível para uma igreja.
“Se a comunidade tem o dinheiro para a construção, não pode comprar a terra. Por outro lado, o governo permite a construção de mesquitas e paga aos Imãs com dinheiro dos cristãos", explica.
Enquanto uma lei não escrita diz que não há terreno disponível para uma igreja, o governo permite a construção de mesquitas
Conflito religioso ou terrorismo?
Há muitos anos, os cristãos no norte da Nigéria reclamam do que consideram uma injustiça, já que muçulmanos podem construir mesquitas sem maiores problemas no sul do país.
Outros críticos dizem, no entanto, que o problema é que o governo na Nigéria nada faz por uma integração nacional.
Segundo observadores, as chances de uma rápida aproximação entre etnias e religiões na Nigéria não são muito boas.
O motivo apontado por eles é a atuação recorrente do grupo extremista islâmico Boko Haram, que quer introduzir um Estado islâmico com base na lei islâmica Sharia neste país africano. Desde 2010, o Boko Haram teria assassinado pelo menos 1.400 pessoas.
Também quando supostos porta-vozes do Boko Haram destacam que lutam contra o governo nigeriano e não contra os cristãos, muitos destes sentem que não são bem vindos no norte do país.
Em Kano, todos os visitantes de uma igreja Católica são revistados para verificar se carregam explosivos e armas
Solução estaria no reforço da presença do Estado
Observadores pedem uma atuação mais forte do governo do Presidente Goodluck Jonathan que, segundo os críticos, parece não ser capaz de proteger a população de novos ataques.
Exatamente por isso, no sul do país, a ideia de uma separação do norte da Nigéria parece estar ganhando cada vez mais adeptos.
Mas o cientista político Hussaini Abdu, diretor regional da organização não governamental Action Aid, acha que uma separação do país mais populoso da África é improvável.
“Vejo que o país está diante de um abismo e de grandes desafios. Não podemos negar isso. Mas não acho que o país vá se dividir – até porque essa divisão não é um processo racional, mas é ligado a sentimentos e a contextos específicos", afirma.
Autoras: Katrin Gänsler (Sokoto)/Renate Krieger
Edição: Cristiane Vieira Teixeira / Helena Ferro de Gouveia
Edição: Cristiane Vieira Teixeira / Helena Ferro de Gouveia
fonte: DW
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Samuel