O Bloco
Democrático (BD) condenou hoje, em Luanda, a agressão perpetrada por soldados
das Forças Armadas Angolanas (FAA) e agentes da Direcção Nacional de
Investigação Criminal (DNIC) contra o correspondente da Voz da América, Manuel José,
na passada segunda-feira.
Segundo explicações do
jornalista a este portal, por volta das 11h00, os soldados, armados com
Kalashnikovs (AK’s), cercaram-no enquanto se encontrava a carregar o saldo do
seu telemóvel na via pública e aguardava pelo táxi, na zona do Zango 0, Viana.
Minutos antes, Manuel José
comunicara com a redacção da Voz
da América sobre a matéria
que estava a escrever, a partir da Escola do II Ciclo Vil 491, onde dá aulas de
Português.
Saiu da escola, foi ao banco
levantar dinheiro, comprou os cartões de carregamento de telefone e tencionava
dar seguimento à recolha de informação sobre a reunião do Conselho da
República. Desde as eleições de 2012 que o presidente José Eduardo dos Santos
não convocava este órgão, e só o fez para associar os dirigentes da oposição à
sua gestão da crise económica que se adensa no país.
“’Mãos ao ar!’, ordenaram-me
os soldados que apontavam as armas contra mim. Os dois indivíduos da
investigação criminal, vestidos à civil, tinham as suas pistolas prontas a
disparar. Fui para o chão. Um soldado pisou-me nas costas e algemaram-me”,
contou o jornalista.
Manuel José disse ter pedido
aos soldados que o identificassem, revelando-lhes ser jornalista. Implorou que
verificassem os documentos que trazia consigo no bolso. “Um soldado pisoteou-me
outra vez e ordenou-me que calasse a boca.”
Os soldados trataram então de
levantar Manuel José, que mede 1,85 metros e pesa 115 quilos. “Chamaram-me de
gordo e um dos soldados insistiu que tinha de ser eu a levantar-me. E disse-me
‘tu não sabes gerir as tuas banhas, seu gordo?’” O detido cooperou e foi
transportado para a 47ª Esquadra, do Zango I, onde foi interrogado durante uma
hora, explicou.
Terminado o interrogatório, um
dos investigadores devolveu a mochila (com computador e documentos) a Manuel
José, pediu-lhe desculpas e informou-o de que tinha sido confundido com um
delinquente. O jornalista explicou que o agente não lhe devolveu a agenda, onde
tinha os seus apontamentos.
Manuel José acabou por não
enviar o artigo que preparava sobre o Conselho da República.
O BD foi a única instituição
que se pronunciou contra a agressão, apelando ao “Sr. Presidente da República,
já que tudo se faz ‘graças a sua excelência’, que dê instruções a quem tem
responsabilidades directas de zelar pela boa conduta das forças de defesa e
segurança angolanas, que, em princípio, deviam ser republicanas, no sentido de
‘descriminalizar’ a profissão de jornalistas e/ou o ‘não alinhamento’ com os
caprichos e as birras do regime”.
Por sua vez, “um indivíduo do
gabinete do comandante provincial da Polícia Nacional em Luanda, comissário
Sita José, ligou-me a pedir desculpas e disse que vai tratar do assunto. Falou
em nome do comandante, mas nem sequer me disse o seu nome ou a sua função”,
revelou a vítima.
Maka Angola confirmou essa informação junto de fonte policial
afecta ao Comando Provincial de Luanda.
“Estamos a tratar do caso.
Orientámos a abertura de uma participação. Ao comprovarmos a inquietação do
cidadão Manuel José a chefia de Luanda tomará as medidas necessárias”,
assegurou a fonte.
A mesma fonte, que preferiu
falar sob anonimato, explicou também que Manuel José “não foi interpelado na
qualidade de jornalista” porque os captores não o identificaram no local. “Só
na esquadra é que ele foi identificado. Logo, não foi nada contra um jornalista”.
Mais referiu sobre a possibilidade de ter havido “algum excesso por parte dos
supostos agentes”.
#makaangola.org
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Samuel