Em 1943 foram criadas a Casa dos Estudantes de Moçambique ( Coimbra ) e a Casa dos Estudantes de Angola ( Lisboa ). No ano seguinte surgem outras casa de jovens africanos a estudar em Portugal. A criação da Casa do Estudantes do Império de acordo com a nota informativa da Organização, foi proposta e cito por ” proposta do ministro das Colónias e apoiada pelo Comissário Nacional da Mocidade Portuguesa.
Além da sede em Lisboa e da delegação em Coimbra, houve uma mais tardia e efémera delegação no Porto. A Casa cedo subverteu as expectativas oficiais de um corpo obediente e alinhado com a ideologia imperial”, conforme e citando o documento de apresentação da Organização. Mas hoje na histórica Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa, a História da Casa dos Estudantes do Império (CEI ) cruzou o olhar da Memória, recebeu e evocou testemunhos e figuras históricas que passaram e viveram na Casa dos Estudantes do Império, foram lembradas e recordadas quer pelo seu envolvimento político, quer pelo seu posicionamento face a História dos seus países.
Como refere o documento introdutório e citando o mesmo, ” pela Casa ( ou melhor pelas Casas ) passaram jovens de diferentes proveniências geográficas, de diferentes etnias e com diversas posições político-ideológicas. Juntos defenderam a liberdade e a independência da Casa num país fascista. Muitos deles viriam a participar nas lutas de libertação nacional, alguns dos quais em posições de destaque como militantes e dirigentes, outros como participantes na construção dos novos países africanos independentes”.
E neste primeiro dia, Olhares transversais de Investigadores de diferentes origens e especialistas em Ciências Sociais e das Humanidades, revisitaram a História, o que foi o Colonialismo, os Legados e a Memória. 11 painéis temáticos integram este Colóquio Internacional e o objectivo é reler o passado, mas como disse Victor Ramalho, actual Secretário-Geral da UCCLA, ” não há futuro sem memória”. E por isso entre a perspectiva de análise e estudos das Comunicações apresentadas, o debate gerou questões pertinentes dos conferencistas participantes, quer pelas possíveis contradições existentes à época, quer pelos conflitos internos e da luta e do pensamento em estratégias que visavam o despertar de uma consciência nacionalista, mas também a atitude crítica face a um sistema político que era necessário combater.
E foi o período entre 1944 e 1965 que foi e será discutido ao longo destes dias, mas também será o testemunho de militantes da causa que amanhã farão reunir à tarde o Olhar histórico-político de Edmundo Melo Rocha ( Médico angolano ), Fernando Mourão ( Professor de Arquitectura), Humberto Traça ( General e antigo Adido de Defesa da Embaixada de Angola em Portugal ), Manuel Videira ( Médico angolano ), Tomás Medeiros ( Médico santomense ) e Rute Magalhães, num debate moderado pela Investigadora Cláudia Castelo, num painel intitulado ” A Casa por quem a viveu “. No período da manhã e neste sábado, o tema ” Os Movimentos Estudantis no desmoronar dos vários Impérios Coloniais ” e a ” Circulação Transnacional de actores, Textos e Ideias Anticoloniais e a Emergência dos Modernos Nacionalismos Asiásticos e Africanos ” abrem o segundo dia de trabalhos deste Colóquio Internacional sobre a antiga Casa dos Estudantes do Império numa perspectiva temporal e reflexiva do que foi o Império Colonial, os Movimentos AntiColoniais, a análise da PIDE-DGS e o percursos percorridos no contexto social, político e cultural. Olhar o passado, é também uma forma de quebrar tabus, abrir horizontes e sentir o mundo num quadro global de múltiplos desafios.
Hoje cruzaram-se abraços e apertos de mão entre Luís de Almeida( actual Embaixador de Angola junto da CPLP ) e João Boal, entre estes e Edmundo Melo Rocha e Tomás Medeiros, passando por Humberto Traça, Júlio Correia Mendes, Filipe Zau ( actual Reitor da Universidade Independente de Angola e antigo Conselheiro Cultural da CPLP em Lisboa ), Aida Freudenthal, Manuel Videira e o curioso é que no tema ” Os Filhos da Casa “, serão oradores Ana Maria Mesquita, Ricardo Costa, Fidel Reis, Francisco Viana e Sandra Monteiro.
É o cruzamento de várias gerações e o testemunho de um lado da História. Como alguém disse no Colóquio, ainda há um longo caminho a percorrer face à Casa dos Estudantes do Império. Há documentos para reler, estudos para fazer e recolha de outros testemunhos para ouvir. A História não é estática e as dinâmicas sociais também não.(Portal de Angola)
por Gabriel Baguet Jr, Jornalista/Escritor
Fotos de Jorge Monteiro/Arquivo Portal de Angola
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