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terça-feira, 8 de dezembro de 2015

ANGOLA: REVELÇÃO - "O presidente da UNITA controla a máquina toda”.

NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!...

O presidente da UNITA controla a máquina toda”

Há 12 anos e seis meses, Dinho Chingunji era um dos candidatos à liderança da UNITA, partido que viria a abandonar definitivamente tempos depois. Curiosamente, dois dos três candidatos actuais pleitearam com ele nas urnas, nomeadamente Isaías Samakuva, que foi o vencedor, e Lukamba Gato, o aspirante. Pela experiência que adquiriu naquela altura, o mais famoso dos actuais integrantes do clã Chingunji pensa que a vitória é delineada momentos antes nas bases, isto é nos círculos provinciais. Onde os secretários provinciais, segundo conta, são autênticos ‘patrões’
Porque nos disse que esta será a última vez em que irá falar sobre a UNITA?
Porque trato isso como um dossier fechado. Faz parte do passado. Principalmente porque na nossa situação basta dizer algo, para as pessoas que estão na UNITA, são dirigentes, ficarem com alguma preocupação de que o Dinho falou e deve ser uma crítica contra nós. Uma das razões que fez com que eu saísse da UNITA foi exactamente por causa desta questão em que não queria que houvesse um tipo de conflito constante com eles. Não sei se ainda te lembras da forma como que sai. Claro que algumas pessoas ligadas à UNITA avançaram explanações que não tinham nada a ver com a realidade, porque isso partiu na própria questão do congresso.

Está a falar do congresso de 2003?
Sim. O primeiro congresso depois da morte de Savimbi, em que participei. Mas também participei porque o meu regresso à UNITA foi aceite como a reunificação de um partido que durante a liderança de Savimbi estava dividido. Na altura, antes disso estava a ajudar o general Manuvakola, por quem até agora tenho muita consideração por aquilo que acho que são as ideias que tinha para a UNITA.

O que se passou concretamente?
Antes fui mesmo um opositor a sério de Jonas Savimbi, porque o que aconteceu comigo eu poderia ter virado as costas, desistir. E uma figura como aquela eu ficaria caladinho no meu canto. Mas dentro dos valores que aprendi na minha família, era minha responsabilidade, embora muito jovem, confrontá-lo porque os outros acabavam por desaparecer mesmo por causa das acções que ele próprio fez contra a família. Então, em 2003, quando sentei com o general Gato para se falar da reunificação, fui primeiro ouvir se era possível. Ele disse-me que ‘era necessário, por causa mesmo de história da família’ e era a razão que fez com que eu estivesse contra Jonas Savimbi. Estava-se a abrir uma nova fase e era importante que todos aqueles que se achavam do partido regressassem. Disse-me que ‘vamos fazer agora uma nova UNITA’ e com o Congresso que se avizinhava, na ausência de uma ala que achava mais próxima da minha visão, neste caso a do Manuvakola, mas só que ele não estava mais interessado. Então decidi que deveria avançar. Como primeiro passo, era importante dar a conhecer às pessoas que existo, que estou aqui, claro que represento a família que represento, mas tinha as minhas ideias sobre aquilo que a UNITA deveria ser daí para a frente. Foi daí que tudo o que fiz na altura era somente apresentar a minha visão de futuro. Mas depois disso ouvi que não era nada disso. Era mais uma questão de que a UNITA é para os mais próximos de Savimbi e todos aqueles que acreditavam nele quererem números avultados, mas os que não estavam de acordo com Savimbi fizessem o papel de arrependidos.
Recuemos então no tempo: há sensivelmente 12 anos e seis meses era um dos candidatos à liderança da UNITA.
Sim.

Concorria, na altura, contra o agora presidente cessante Isaías Samakuva e o general Lukamba Paulo Gato. O que é que mudou ou se mantém estático na UNITA?
Já não estou oficialmente na UNITA desde Agosto de 2008 até hoje. Dentro daquilo que está dentro do partido não posso dizer nada. Não sei o que está a acontecer. Mas como observador de fora, olhando para a UNITA, só posso dizer que uma das mudança – se é que posso considerar mudança, porque era o desejo das pessoas ligadas ao Dr. Savimbi – é o regresso total à linha do próprio Savimbi. Significa que estão mais juntas pessoas e todas elas acreditavam em Savimbi, querem implementar o programa deixado por ele. Por isso é que saí. Depois saiu o Chikuvukuvu também. Então, agora ficou uma UNITA que está mais ou menos de acordo com aquilo que eles querem. Já não têm como culpar mais ninguém sobre aquilo que lhes esteja a criar dificuldades. Por isso, posso dizer que a mudança é esta. Ficou mais a UNITA próxima da própria imagem de Savimbi.

Pode esclarecer isso?
Gato e outras pessoas pessoas acreditaram em tudo o que aconteceu. O resto, a guerra é assim mesmo. Para o presidente Samakuva também é assim. Aliás, onde eles todos vão levam sempre a fotografia de Savimbi, que está quase como o quarto candidato, invisível, mas presente. Não tem mais ninguém que chegue e diga que acabou a contribuição do Velho e tem que se criar uma UNITA toda ela adequada à realidade dos novos tempos. O que passou, passou. São todas elas pessoas que são do mesmo pensamento e ideologia, a diferença às vezes é uma questão de apresentação, cara, etc.

Depois de ter concorrido acabou por abandonar a UNITA. Abel Chivukuvuku também deixou o partido depois do congresso de 2007 e decidiu criar a CASA-CE. Acha que estes congressos têm sido fracturantes?

Depende. Um observador de fora pode ficar com esta impressão. Mas não é verdade. Um certo grupo de pessoas utilizaram isso para criar esse tipo de situação. Lembro-me de que no Congresso de 2003 surgiu dentro da UNITA um confronto entre Samakuva e oGato. Em vez de ser um exercício, porque ouvi e acompanhei, diziam alguns que o Gato ‘não deve ser presidente porque recebeu dinheiro do MPLA’. Para o Gato, ele dizia que estava a participar porque estava totalmente contra os interesses políticos do Abel Chivukuvuku que eram muito estranhos e não eram da UNITA. Se não fosse isso, até não teria concorrido. Fugiram aos debates, entraram em questões muito pessoais contra eles próprios candidatos. Entre o Samakuva e o Gato, como a situação estava, não havia mesmo como eu sair de lá como o presidente da UNITA. Era impossível. Você tem que entender que os mecanismos de selecção dos delegados são onde se ganham as eleições.

Disse-nos antes desta entrevista que os mecanismos de selecção de delegados favoreciam Isaías Samakuva. É verdade isso?
Sim, favorecia.

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Porque diz isso?
Antes de responder a isso, quero que saiba que em 2007 veio o Abel a concorrer. Eu já não estava. A única razão que fez com que não podia concorrer em 2007, foi-me dito pessoalmente numa reunião em que me chamou o presidente Samakuva, era porque, em primeiro lugar, o candidato da UNITA tem que ser praticamente um delfim de Savimbi. Eu não fui. Eu fui um indivíduo que combateu Savimbi.

Quem foi que lhe disse isso?
Estava o (Mário) Vatuva, que era o secretário-geral, mais uma lista de pessoas dirigentes da UNITA. Mas deram a missão ao Vatuva para que me dissesse isso. Estava presente o mais velho Chiwale, que trato sempre por tio porque os meus pais foram padrinhos dele. A primeira questão foi essa. A segunda foi que o meu nome ainda constava na lista de um partido que se chamava ‘Tendência de Reflexão de Democrática’.

O partido fundado por Miguel Nzau Puna, Tony da Costa Fernandes e Paulo Tjipilika?
Mas não tinha nada a ver comigo. O que tínhamos fundado era com o Georges Chikoty, Dinho, Olímpio e por aí. A tendência veio depois, juntou-se a nós porque não tinha conseguido ainda a legalização. Concorreu-se pela FDA, que depois conseguiu um lugar, uma vez que Nzau Puna ficou como deputado da Nação.

O que é que aconteceu depois?
Eu disse que em 2003 isso tudo vocês sabiam. Por outro lado, se voltei aquando da questão da reunificação, mas vocês estão a pegar nisso, na minha questão de adversário de Savimbi ou membro do Fórum Democrático Angolano (FDA), significa que vocês logo desvalorizaram a teoria da reunificação, de que iríamos criar uma nova UNITA. Eu disse: ‘vocês sabem a minha história toda, o velho Chiwale que está aqui conhece bem a minha história como UNITA, tirando a questão da minha família’. Quando fui para as matas era miúdo, na altura nenhum miúdo saía das cidades porque queria ir para as matas. Em 1969 tinha uns cinco anos, quando a minha mãe decidiu ir para as matas com os velhos. Ainda tenho umas fotos do tempo das primeiras bases e quando o Dr. Savimbi começou a matar a minha família eu tinha que me levantar. Ainda disse: então vão condenar um individuo que se levantou contra a morte da família e por causa disso não pode concorrer? Então vi que tudo foi mentira. Mentiram-me. Vi que sentava com eles, participava, pensei que tínhamos deixado as coisas, mas afinal o rancor ainda estava do lado deles. O que era perigoso. Penso que estas reuniões, se fosse nas matas estaria lixado. Eu é que deveria estar com rancor, desde 2003 que nunca falei da família. Nem nos meus discursos. Como saí em missão de serviço no mesmo dia, quando cheguei ao exterior ouvi que tinham chumbado a minha candidatura.

O que fez?
Disse que viria e faria uma conferência de imprensa, porque não fazia sentido. Um deles depois me disse que era por causa da questão as quotas, porque nunca houve a decisão que as quotas deviam ser pagas até uma determinada data. Se tivesse as quotas em atraso, era suposto actualizá-las. Criou-se depois o termo candidato consequente, que depois vi na JURA. Quando voltei quis fazer a conferência de imprensa, mas aconselharam-me a não fazer porque podia manchar o congresso. Então achei que estávamos em 2007, em 2008 deveríamos ter eleições gerais. Foram eles que revelaram e não eu, falei com algumas amizades e disseram-me que só haveria mais um ano. Eu disse a mim mesmo que afinal não sou da UNITA e acaba por ai. Mas vê que depois o Chivukuvuku, que era parte do sistema…

Era o secretário para os Assuntos Políticos e Eleitorais…
E não só. No congresso em que participei foi o director de campanha de Isaías Samakuva. Quem surge agora como o inimigo foi o Chivukuvuku. Era visto como o infiltrado, foi comprado, não era assim tão fiel ao Jonas a acompanhei aquilo tudo. Comecei a dizer a mim mesmo e falei com alguns parentes que são próximos de Samakuva, porque ele também é um primo distante do meu paí, ‘este ambiente que estão a criar não é bom’. Então alguém que trabalhou para a campanha de Samakuva, hoje, porque está a concorrer já é o pior inimigo? Como é que vai ser a convivência depois disso? Sempre que alguém concorrer com Samakuva depois vai ser o inimigo, comprado, ou porquê é o MPLA? A própria lógica da democracia perde-se aí.

‘Chivukuvuku só ganharia se desmantelasse o sistema que ajudou a criar em 2003’
E em relação à escolha dos delegados. O que se passa afinal, no teu ponto de vista?
Quanto ao que disse sobre a eleição dos delegados, quando o Chivukuvuku tenta outra vez…

Quando houve o chamado grupo de reflexão?
Sim. Eu disse a mim mesmo que se o Chivukuvuku concorresse seria ingénuo, porque estava num sistema muito fechado de selecção dos delegados. Perdeu daquela vez, se desta vez tentar vai perder outra vez. E se perder, como político acabou. Fica desgastado, porque argumento no partido já não tem: duas vezes derrotado. Nem para opção das pessoas que estão fora, porque tem simpatias. Se você não está a conseguir no partido, como é que vai conseguir lá fora? Então, só se fosse desmantelar um sistema que ele próprio contribuiu para criar em 2003. Para ter mais possibilidade de ganhar. Porque aquilo é assim e o Gato tinha ficado distraído em 2003: os membros da Comissão Política toda são delegados. A Comissão Política como estava na altura eram muitos mais velhos tipicamente conservadores que direccionavam o voto. Eles organizaram aquilo e fecharam o Samakuva. O Gato estava com um grupo de jovens que, apesar de tudo, podiam falar com os mais velhos, mas estes dar o cargo de liderança a eles é praticamente impossível. Então, têm que dar a um indivíduo mais velho como o Samakuva.
Nas províncias os delegados têm que ser amarrados sobretudo na selecção, porque eles vêm já sabendo para quem vão votar. Não é naquela reunião de dois ou três dias que vão eleger. Dentro da sala todo o mundo já sabe para quem vai votar. Portanto, se você deixa o processo de selecção, aí você perde. O Gato tinha ficado relaxado na altura. Como não tinha anunciado a sua candidatura, Samakuva e os outros foram para as províncias. Quando os outros regressam e anuncia, então havia contrariedade porque já tinha dito que não seria árbitro e jogador. Mas já era tarde e não deu conta disto. Mesmo na selecção, eu que estive lá como candidato, o meu nome como delegado foi escrito à mão, dentro da sala de votação. Isso aconteceu na última instância e eu era candidato.

Como foi que isso aconteceu?
Porque eles completamente ignoraram a minha candidatura. Era uma coisa apenas simbólica. Esqueceram-se que ao selecionar os delegados, eu como candidato automaticamente tinha que constar da lista. Ficou só apenas a divisão entre os do Gato e os do Samakuva. Estávamos sentados no Sovsmo. Tem aí uma suite presidencial VIP, onde estávamos o tio Jaka Jamba, (Abel) Chivukuvuku e mais alguém que era representante do Gato. Estavam a olhar para lista e a escolher. ‘Maninho, este sim’, ‘maninho, aquele não’, ‘esse aqui parece que é do Gato!’. Foram os últimos acertos. Eu ouvi isso porque estava presente. Eu disse: ‘aqui não sei como é que o Gato vai ser’ Eu disse que também tenho uma lista de pessoas que tinham que participar, disseram-me que não havia problema… ‘estou a ver aquilo os mais velhos a dividirem o bolo’. Seleccionou-se e dei uma lista de pessoas jovens e só passaram cinco. E, então, vi que só iria sair mesmo com cinco ou seis votos.
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Acha que esta será a última cartada de Lukamba Gato?
Sim. É a última carta. Acho que, apesar de tudo, tem um grupo de jovens que está a altura de também poder concorrer. São pessoas que têm 60 anos: o Numa parece que tem 60, o Gato deve ter 61 e o velho Samakuva mais. Daqui a uns anos, a própria situação do país fará com que haja também a participação de uma geração diferente.

Com uma perspectiva de cinco ou seis votos, como foi quando entrou para a sala do conclave?
Lá dentro comecei a confirmar a lista e disse: ‘desculpem-me, porque é que o nome dos outros candidatos constam aqui como delegados e o meu não?’. O Dr. Justino Pinto de Andrade escreveu a mão: Eduardo Jonatão Chingunji.

Acha que esse sistema favorece o presidente Samakuva?
Sim. Porque a única forma de ele perder é se os delegados vierem e mudarem o disco na sala. Houve uma parte dos delegados de 2003 que fizeram isso com o Gato. ‘Maninho, podes ficar tranquilo porque estamos contigo!’, mas o que sabia é que alguns, nas outras reuniões, estavam com o velho ‘Samas’. Aquando do discurso das candidaturas, aquilo ficou claro. Os do Samakuva levantaram-se ‘sim, sim, sim’. Os do Gato começaram a chamar nomes, surgiu uma confusão que nunca mais entendi.

A democracia interna do partido está fragilizada?
Eu posso dizer que a democracia depende do que alguém diz sobre o sistema. Para mim, pensava que era diferente, que havia uma forma mais transparente de selecionar as pessoas e depois o argumento seria dentro do conclave. Dar oportunidade para as pessoas apresentarem as suas estratégias e delas puderem fazer uma avaliação e tomar uma decisão. As pessoas vêm até lá, mas é um milagre você querer pensar que é aí que a pessoa que já veio convencida de que vim aqui para votar no ‘Dinho’ Chingunji e chegar dentro do congresso fazer o contrário. Se acontecer isso é com pouca gente, mesmo que se diga que tenha sido por causa do discurso feito pelo fulano. Aquilo é tudo uma formalidade. Portanto, a democracia, cada um pode dizer que participaram três candidatos, mas é um sistema. Mesmo quando vi aquilo houve pessoas que me disseram ‘você também, a tua mensagem já passou. Portanto, retiras-te ou ficas ao lado do Gato’. Eu disse que não, prefiro sair com um voto e fazer a discussão. Quero apresentar as minhas ideias, sou jovem, posso não passar desta vez – na altura tinha 39 anos – ainda tinha tempo. Mesmo tendo sido derrotado, ainda dancei. Por isso, quando vi Chivukuvuku em 2007, o mesmo que vi a contar os delegados, se ele deixou aquilo como tal era uma aventura. Porque o resultado que ia sair dai era mesmo do Samakuva. Mesmo também em 2011, se ele participasse tinha que se montar um sistema mais aceitável que desse possibilidade de mudança, porque o presidente, neste caso, é que controla a máquina toda. Só és capaz de perder se esses delegados já não têm a tua confiança. Aí é que surge uma oportunidade de os terceiros fazerem uma campanha e puderem ganhar.

O seu afastamento não teve a ver com aquilo que aconteceu à sua família?
Claro. É o que me foi dito: você sempre foi contra o Chefe. ‘Não devia’. Um termo que foi utilizado era de que em 2003 tinha havido uma distração, porque as pessoas não estavam ainda atentas por causa do óbito. Por isso, a tua candidatura passou. Então, ficou claro a partir daí. Porque quando diziam que Savimbi é a razão da unificação do partido, eu não levantava a mão. Seria uma hipocrisia. Como é que poderia fazer isso se Savimbi dizimou a minha família? Sentar-se com pessoas que dizem isso, então vi que vamos deixar as coisas por aqui, fiquem com o partido e quero ficar só. Até já diziam que ele está a sair assim porque já entrou no MPLA, mas eu não queria mesmo. Pretendia concentrar-me e algo cujo interesse tinha que ser nacional. Eu tinha a minha visão, sou engenheiro de construção civil, estamos na fase de reconstrução nacional. Na altura, ainda não existia o Gabinete de Reconstrução Nacional.

‘Um líder se apanha duas derrotas pesadas retira-se
em nome do partido’
Não havendo limitação de mandatos na UNITA, MPLA, PRS e outras forças políticas, por que defendeu recentemente, em entrevista, que Isaías Samakuva deveria ter abandonado a liderança deste partido em 2008?

Haveria algum ganho se ele colocasse o lugar à disposição? Sim. Eu baseava este argumento na fórmula típica do mundo, dos partidos democráticos. Porque um líder se apanha duas derrotas pesadas, seja qual for a razão, retira-se em nome do partido. Olhando para o nosso país, a esperança de vida dos angolanos…

São 52 anos de idade. O que tem isso a ver com a UNITA?
Usando isso em relação à nossa realidade, 10 anos é muito tempo para os angolanos. Então, se você em 10 anos não conseguiu, não tens mais o que fazer pelo partido. Se ficar mais tempo está a desgastar mesmo o partido, principalmente a UNITA que é o partido na Oposição que diz ser mesmo o pai da democracia. Então, sendo o pai da democracia você tem que dar mesmo esta lição. Não é só multicandidaturas. É uma prática, porque o que conta é as pessoas verem mesmo a democracia a funcionar. Se funcionar a democracia, então você automaticamente entra nos corações das pessoas. Agora, se depois o discurso é porque os membros pediram que eu fizesse, isso é típico de muitos candidatos de sistemas do terceiro mundo que quiseram continuar, permanecer onde estão e dizer sempre que ‘o povo é que exigiu, ouvi e vou concorrer’. Por isso é que disse que depois da derrota de 2008 e depois 2012 devia dizer que não, agora temos que fazer um congresso. Até podia mesmo dizer que não quero, mas depois o partido dizer que ‘não, estamos contra e o candidato Samakuva tem que continuar’.

Mas não foi isso que aconteceu?
Não foi isso.

Mas agora, quando apresentou as razões da sua recandidatura, o presidente Samakuva disse que estava a responder aos apelos dos militantes e muitos dirigentes da UNITA?
Não. Essa é uma linguagem utilizada pelo mundo. Você tem que passar por um processo, onde mesmo na comissão política dese libera se que com essa derrota que tivemos estamos a analisar a questão do candidato Samakuva. E ele fica neutro. Toma-se uma decisão e depois, no comunicado, diz-se que a Comissão Política reuniu e debateu. O que se fez é mesmo ‘eu não vou sair’. Anos depois, veio dizer que ainda não terminei a minha obra, por isso mesmo quero continuar. E a limitação dos candidatos também é muito estranha.

Como assim?
Na altura em que nós participamos, foi defendida claramente – e o Dani deve-se lembrar – que estamos a ter um sistema daqui em diante de dois mandatos. Por isso, Abel teve esperança de que mesmo se o velho não sair, depois de dois mandatos automaticamente ele também vai ser o meu apoiante.
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Alterou-se isso nos estatutos?
Alterou-se o estatuto e muita gente não acompanhou. Quando foram ver nos estatutos, havia um grande golpe, aquilo foi retirado. Se foi retirado sem muita gente dar conta é porque foi deliberado. Eu não sou apologista de mandatos, porque na realidade acontecem situações em que há líderes que só surgem uma vez em 100 anos. Ele ainda podia, mas é limitado pelos mandatos e tem que se retirar. A nossa democracia tem que ser vista dentro da nossa realidade e ditar as regras, o sistema democrático que vamos seguir. Se for só para dar ouvidos àquilo porque é bonito, então surgem estes problemas. Você foi copiar a correr e depois vê que não pode. Eu próprio prefiro o sistema britânico porque até cresci com ele. Não limita os mandatos, mas dá os poderes claros aos membros e ao povo para reagir quando há necessidade de mudança. Na Inglaterra, um líder pode ser destituído do poder governativo através do voto somente partidário. Deixa de ser líder político do seu partido, deixa de ser primeiro-ministro. Não se convoca as eleições gerais.

O ‘último’ Chingunji
O ‘último’ Chingunji Filho de Samuel Piedoso Chingunji, Eduardo Jonatão Chingunji, ou simplesmente ‘Dinho’, é um dos poucos sobreviventes desta influente família de integrantes da UNITA.
Engenheiro civil de formação, nasceu em Setembro de 1964. Foi muito cedo às matas com os seus país, mas acabou posteriormente por viver exilado na Zâmbia e mais tarde no Reino Unido.
Actualmente, o sobrinho do malogrado Tito Chingunji está desligado do mundo político, depois de uma curta passagem pelo Fórum Democrático Angolano (FDA) e o regresso que fez à UNITA, onde chegou a concorrer para a sua liderança logo após à morte do líder fundador Jonas Savimbi.
Antigo ministro do Turismo da República de Angola, o jovem está agora virado à sua área de formação: a engenharia civil.
Um dos seus maiores objectivos era contribuir para que os angolanos conseguissem ter residências a baixo custo. Uma luta que ainda não deu por vencida. Por enquanto, o engenheiro tem emprestado os seus conhecimentos num dos principais projectos em curso na cidade de Luanda.

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Samuel

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