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quarta-feira, 21 de agosto de 2024
África: este país quer compensar os sobreviventes das guerras recentes.
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A África, berço da humanidade, tem sido infelizmente palco de numerosos conflitos armados nas últimas décadas. Desde guerras civis a genocídios, golpes de Estado e intervenções estrangeiras, o continente tem visto a sua quota-parte de violência e sofrimento. Estes conflitos deixaram cicatrizes profundas, tanto a nível humano como económico, dificultando o desenvolvimento de muitos países africanos. As causas destas guerras são múltiplas e complexas, variando desde tensões étnicas até lutas pelo controlo dos recursos naturais, incluindo as consequências do colonialismo e a interferência de potências estrangeiras. Apesar dos esforços de paz e reconciliação, as consequências destes conflitos continuam a fazer-se sentir em muitas regiões do continente.
Um fundo nacional para curar as feridas do passado
Neste contexto, a República Democrática do Congo (RDC) está a embarcar numa iniciativa sem precedentes. O país criou o Fundo Nacional de Reparação de Vítimas (Fonarev), uma estrutura ambiciosa destinada a identificar e compensar os sobreviventes das atrocidades cometidas no seu território desde 1993. Kevin Ngunga Makiedi, diretor-geral da Fonarev, estima o número em cerca de 10 milhões de congoleses. que sofreram crimes de guerra ou crimes contra a humanidade nas últimas três décadas.
Esta abordagem, descrita como “Genocostes” pelas autoridades congolesas, combina as noções de genocídio e custo económico, destacando assim o duplo impacto dos conflitos na população e nos recursos do país. O termo evoca uma realidade sombria: a exploração das riquezas naturais da RDC tem sido frequentemente a força motriz por trás da violência extrema contra civis.
Trabalho titânico para fazer justiça
Fonarev enfrenta um desafio colossal: identificar com precisão as vítimas espalhadas por um vasto território. Makiedi explica que a organização se baseia em várias fontes, incluindo o relatório de Mapeamento da ONU, que documentou 617 incidentes entre 1993 e 2003. Desde então, Fonarev listou 2.039 incidentes no total, fornecendo um mapeamento mais completo dos conflitos que abalaram o país.
Este trabalho meticuloso não se limita a uma simples contagem. Trata-se de compreender onde, quando e como as vítimas vivenciaram essas atrocidades, para determinar os danos sofridos. Esta tarefa hercúlea, que Fonarev espera realizar em três anos, abrange 99 dos 145 territórios da RDC, mostrando a extensão geográfica da violência.
Além das fronteiras: responsabilidades e reconciliação
Se a iniciativa Fonarev visa principalmente proporcionar reparação às vítimas congolesas, também levanta questões sobre a responsabilidade dos países vizinhos nestes conflitos. As autoridades congolesas apontam o dedo ao envolvimento do Uganda e do Ruanda, acusados de terem alimentado a violência para monopolizar os recursos naturais da RDC.
No entanto, Fonarev também reconhece a existência de violência interna intercomunitária, nomeadamente em Ituri, Kasaï-Central, Mai-Ndombe e Kongo-Central. Este reconhecimento matizado de responsabilidades poderia abrir caminho a um processo de reconciliação mais amplo, tanto a nível nacional como regional.
Para financiar este vasto projecto de reparação, a RDC tomou uma decisão ousada: atribuir 11% das suas receitas mineiras à Fonarev. Esta medida, em vigor desde o final de 2023, demonstra o compromisso do país em utilizar os seus recursos naturais para o bem-estar da sua população, transformando assim uma fonte histórica de conflito numa ferramenta de cura colectiva.
A iniciativa congolesa poderia servir de modelo para outras nações africanas que procuram curar as feridas do seu passado. Ao enfatizar não apenas as reparações individuais, mas também a reconstrução das infra-estruturas sociais e a implementação de medidas simbólicas, a RDC adopta uma abordagem holística à justiça transicional. Esta abordagem, se for bem-sucedida, poderá marcar um ponto de viragem na forma como os países africanos abordam a sua história recente e constroem o seu futuro.
fonte: https://lanouvelletribune.info/2024/08
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Samuel