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segunda-feira, 9 de maio de 2011

Angola tem em África uma grande influência.

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O embaixador dos Estados Unidos da América em Angola (EUA), Christopher J. McCullen, falando pela primeira vez à imprensa, defendeu, em entrevista exclusiva ao Jornal de Angola, que a democracia em qualquer país do mundo não deve ser encarada como um evangelho, seguido por todos da mesma maneira.
O diplomata norte-americano disse que "não há um modelo único de democracia, mas sim aquele que é adaptado a uma realidade política, social e cultural concreta de cada país".

Jornal de Angola (JA): Quando chegou a Angola para ser embaixador dos EUA é verdade que esperou muito tempo para apresentar as cartas credenciais ao Presidente da República?

Christopher J. McMullen (CJM):
Cheguei nos finais de Novembro de 2010. Esperei quatro meses, mas cheguei um pouco depois da última cerimónia de apresentação de cartas credenciais de outros embaixadores em Outubro, embora tenha sido convidado pelo Ministério das Relações Exteriores para estar nas cerimónias do referido mês. Infelizmente, tive que cumprir o formalismo do Governo norte-americano. Entendo que seja normal que o Presidente da República tenha feito esta cerimónia quatro meses depois. Portanto, não foi uma espera longa.

JA: Viu algum embaraço no facto de ser acreditado cerca de seis meses depois de estar no país?

CJM:
Não. Acho que foi um processo normal e acompanhei o mesmo com outros embaixadores. Não foi nenhum embaraço. Pelo contrário, foi uma honra. Estou ansioso por conhecer mais o país. Quero visitar todas as províncias e conhecer a cultura e o povo angolano.

JA: Esteve à espera de ser acreditado numa fase em que se falava numa alegada manifestação contra as instituições do Estado legitimamente eleitas, assistiu à marcha da paz numa altura em que um navio de bandeira norte-americana esteve retido no Lobito, transportando material bélico não declarado no manifesto. Como é que interpretou todos esses acontecimentos que se desenrolaram uns atrás dos outros?

CJM:
Acho que devemos encarar esses acontecimentos de forma diferente. O navio chegou com alimentos humanitários para uma Organização Não-Governamental em Benguela. Entendo que os planos para a manifestação começaram muito mais cedo e a manifestação do MPLA foi uma decisão para promover a paz no país. Não vejo conexão nenhuma entre esses factos. Apenas o facto de terem ocorrido num período muito curto.

JA: Interpretou a retenção do navio como retaliação ao encerramento das contas da embaixada angolana nos EUA?

CJM:
Não tem nada a ver com isso porque a decisão de encerrar as contas bancárias da embaixada angolana nos EUA foi uma decisão de um banco privado. A decisão de reter o navio foi uma decisão das autoridades marítimas angolanas. Segundo as autoridades angolanas, foram feitas algumas perguntas sobre o navio que motivaram a decisão de o reter. Angola é um país soberano e pode decidir sobre as leis e regras estabelecidas aqui. Desde o início, a nossa embaixada esteve preocupada com a situação dos membros da tripulação americana do navio. A questão da carga do navio foi uma questão entre a Maersk, proprietária do navio e o Governo angolano. Não tínhamos nada a ver com esta questão.

JA: Acha que a democracia deve ser encarada como um evangelho, aplicado da mesma forma em qualquer país?

CJM:
Acho que cada democracia é diferente. Nós temos uma democracia muito diferente, por exemplo, da Inglaterra ou da França. Acho que cada país, cada cultura política tem que decidir sobre qual a forma de governo que quer. Não há um único modelo de democracia, mas a democracia adaptada à realidade concreta deve ter certas atribuições, como a liberdade de imprensa, a liberdade de reunião e liberdades individuais.

JA: Não considera "ditadura de democracia" exigir um sistema democrático à maneira americana em países com realidades diferentes?

CJM:
Não acho que os EUA estejam a exigir um modelo americano de democracia para todos os países. O que pedimos é que um    líder ou governo respeite os direitos dos cidadãos e acho que a forma de democracia depende do próprio povo.

JA: Está a dizer então que um sistema político deve ser proporcional à realidade política, social e cultural específica de cada país?

CJM:
Sim. Absolutamente. Porque não se pode sobreviver sem ter em conta a cultura própria de qualquer país.

JA: Portanto, modelos políticos de países ocidentais não se aplicam de forma taxativa num outro país?

CJM:
Sim. Absolutamente, não se aplicam.

JA: A Administração norte-americana criou uma zona de exclusão aérea para proteger civis na guerra da Líbia. Quando é que os EUA pensam fazer o mesmo na Palestina, que tem um conflito com Israel, e onde também morrem civis vítimas de bombardeamentos aéreos?

CJM:
É difícil especular porque cada situação é diferente da outra. Primeiro, porque estamos a actuar na Líbia com autorização da ONU e da Liga Árabe, que pediram que os EUA e outros países participassem nesta zona de exclusão aérea. No caso da Palestina, sabemos que é uma situação muito complicada, uma história muito longa. Os EUA têm participado em muitos esforços para negociar uma solução entre israelitas e palestinos. É muito complicado, mas é difícil comparar esta situação com a situação que se vive na Líbia, onde é o próprio líder que está a atacar de forma indiscriminada o seu próprio povo com blindados e aviões. Então, não se pode comparar essas situações.

JA: O histórico dos EUA está cheio de invasões militares de outros países, algumas delas muito recentes. Consegue imaginar a hipótese de um dia um país fazer o mesmo à América, com o pretexto de colocar no poder uma administração da sua conveniência? Como é que o senhor qualificaria isso?

CJM:
Não. Não quero especular sobre essa situação teórica.

JA: É apenas sobre um caso hipotético que quero ouvir a sua opinião…

CJM:
Acho ridículo pensar numa situação destas. Não vou especular sobre esta hipótese.

JA: É graduado com distinção no Instituto Nacional de Guerra. É favorável a uma intervenção militar estrangeira?

CJM:
Esta universidade de Defesa nos EUA é de muito prestígio para nós. Todos os anos temos cerca de 15 diplomatas que frequentam esta universidade ao lado de soldados de outros países como Malásia, Tailândia, talvez Angola também, não sei, e claro, militares norte-americanos. É uma experiência muito boa no sentido em que permite trocar experiências. É uma experiência muito boa para a preparação para embaixadores, cônsules e altos funcionários diplomáticos, mas não é necessariamente para assuntos militares.

JA: Qual é a visão que os EUA têm sobre os países africanos? Ainda é aquela que vê África como um continente de Estados    com a mão estendida a necessitar de ajuda humanitária?

CJM:
Não. Temos uma visão de uma África que está a desenvolver-se de forma rápida e que tem feito muitos progressos nos últimos 20 anos. Há mais democracia no continente. Há mais desenvolvimento económico e pensamos África, olhamos para África como um parceiro dos Estados Unidos da América.

JA: Qual é a posição que os EUA atribuem a Angola na classificação de países com quem têm relações diplomáticas?

CJM:
O facto de a Secretária de Estado, Hilary Clinton, ter escolhido Angola como um dos três parceiros estratégicos indica a importância de Angola no sistema de cooperação com os EUA. Em conjunto com a África do Sul, Nigéria, Quénia e Etiópia, que são países estratégicos para os EUA.

JA: É a diplomacia do petróleo ou das trocas comerciais?

CJM:
Não. Embora a maioria do comércio esteja centrada no petróleo, as companhias petrolíferas americanas que operam em Angola estão a expandir-se noutras áreas. Por isso, acho que vamos expandir o comércio, os nossos investimentos. Mas que Angola é um dos maiores produtores de petróleo é um facto. Angola tem importância além disso por ter poder na região e influência no continente africano. Há muitos factores já enumerados pela Secretária de Estado Hilary Clinton quando escolheu Angola como um parceiro estratégico para os Estados Unidos da América.

JA: Fez certamente um estudo sobre a actuação dos seus antecessores. O que pode trazer de novo, que não tenha sido feito pelos antigos embaixadores? Ou vem apenas reafirmar e continuar a cooperação diplomática ordinária?

CJM:
Acho que em termos gerais na política americana, em qualquer país, há uma continuidade entre embaixadores devido ao facto de haver uma continuidade da política. Portanto, um embaixador não tem muitas possibilidades de expandir ou mudar a trajectória da diplomacia. Temos algumas opções, mas normalmente é mais continuidade.

JA: O senhor começou o seu consulado diplomático com a disponibilização de 45 mil dólares do “Fundo Pessoal do Embaixador” para ajudar, sobretudo, Organizações Não-Governamentais que trabalham nas comunidades. Este fundo, tal como diz a sua designação genérica, é seu pessoal?

CJM:
Seria bom se fosse (risos). Não é um fundo pessoal. Tem o nome de fundo do embaixador, mas na realidade é o mesmo que o orçamento da agência de desenvolvimento americana. É um fundo em que eu posso escolher a Organização Não-Governamental a apoiar.

JA: Por que é que para disponibilizar este fundo os EUA escolhem a sociedade civil e organizações comunitárias? É alguma orientação do Departamento de Estado em relação aos países em desenvolvimento?

CJM:
Depende do projecto apresentado. Cada projecto é diferente e normalmente tentamos escolher um projecto que mais benefício dá à comunidade local. Então, temos que tomar uma decisão baseada no projecto.

JA: Tem alguma noção de como actua a sociedade civil em Angola?

CJM:
Acho que está muito mais avançada do que esperava encontrar quando me preparava para assumir este cargo. É uma sociedade civil relativamente nova, no sentido de que se desenvolveu durante uma guerra prolongada. Pensamos que podemos trabalhar com a sociedade civil e Organizações Não-Governamentais e o Governo.

JA: O grande desafio de um embaixador é convencer o seu Presidente, que o nomeou para a missão diplomática, a fazer uma visita ao país onde o colocou, para concretizar a cooperação institucional. É o seu desafio, enquanto estiver aqui, trazer o Presidente Obama a visitar Angola?

CJM:
No último cargo que ocupei no Departamento de Estado estive envolvido em decisões sobre as visitas ao estrangeiro da Administração do Presidente Bush e do Presidente Obama à América Latina, e nesses casos, normalmente, há vários factores envolvidos nas decisões. Por exemplo, factores de equilíbrio geográfico fazem com que o Presidente reparta por regiões cada país a visitar. Muitas vezes depende também da dimensão da comunidade deste país nos EUA, porque as comunidades têm muita influência sobre o Congresso norte-americano e podem influenciar decisões. Depende igualmente das companhias americanas, de embaixadas americanas, das preferências e os interesses pessoais do próprio Presidente. Depende ainda da situação geopolítica do momento. Mas vamos ver. Vou fazer o que posso para trazer o Presidente Barack Obama a Angola. Vou evocar argumentos fortes, mas depende muito dos factores que enumerei.

JA: Como é ser embaixador americano pela primeira vez num país africano?

CJM:
Sinto-me em casa porque li muito sobre Angola desde que eu era estudante na universidade de Georgetown. Sempre estive interessado por Angola desde o tempo da sua independência. Por isso, ser embaixador aqui é muito bom.
fonte: Angola Digital

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Um abraço!

Samuel

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