NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!...
Manuel Vieira e Nádia Issufo, DW
Angola vive em paz há uma década. O silêncio das armas chegou com a morte em combate de Jonas Savimbi, uma figura mítica e controversa homenageada esta quarta-feira (22.02).
Jonas Malheiro Savimbi morreu a 22 de fevereiro de 2002 de arma na mão aos 68 anos de idade na província onde nasceu, Moxico (no leste de Angola), depois de um forte cerco das Forças Armadas Angolanas. Foi guerrilheiro durante mais de 40 anos e fundou em 1966 a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), agora o principal partido da oposição angolana.
O desaparecimento de Savimbi conduziu ao fim de uma guerra civil que se prolongou ao longo de 27 anos, que provocou mais de um milhão de mortos, para cima de quatro milhões de deslocados e um número superior a um milhão de mutilados.
Jonas Savimbi foi homenageado esta quarta-feira (22.02) através de um colóquio em Luanda. Com o tema "Dr. Savimbi – uma vida por Angola e pelos angolanos", o colóquio foi encerrado pelo discurso de homenagem do atual líder da UNITA, Isaías Samakuva.
Um líder “lunático, maquiavélico”
Enaltecido por uns e odiado por outros, o ex-líder da UNITA é ainda hoje uma personalidade mítica e controversa.
Nesta altura em que se assinala uma década da morte de Savimbi, o jornalista português Emídio Fernando lançou uma biografia do fundador da UNITA. De acordo com o autor, Savimbi “sempre teve uma ambição desmedida. Era lunático, maquiavélico, com alguns traços de loucura e extremamente ambicioso".
A UNITA atualmente é o maior partido da oposição de Angola, embora ainda viva com algumas crises internas. Emídio Fernando não revê Savimbi na UNITA dos dias de hoje, pois o partido ainda “sofre com os efeitos de Jonas Savimbi porque tem de se recuperar dos muitos anos de guerra que fez”.
Para o jornalista português, Savimbi “teve uma única qualidade: quando fundou a UNITA deu formação aos membros do partido."
Apesar de evidenciar muitos pontos negativos na vida de Jonas Savimbi, Emídio Fernando consegue citar pelo menos um legado positivo para o povo de Angola: "A grande importância, que é a ironia da história, foi o dia da morte [de Savimbi]. Só a partir desse dia Angola começou realmente a viver em paz. Costumo dizer que a segunda independência de Angola foi com a morte de Jonas Savimbi."
Democrata ou homem da Idade Média?
Filho do ex-presidente português Mário Soares, João Soares foi uma das pessoas que mais privou com Jonas Savimbi. Soares considera que a defesa dos princípios democráticos em Angola é um dos grandes legados deixados pelo fundador da UNITA.
Já Pinto de Andrade, dirigente do partido da oposição angolana Bloco Democrático, conheceu Savimbi e disse à DW que havia nele um comportamento da Idade Média.
A luta anti-colonial em vez da medicina
Uma das questões que mais animam hoje os angolanos é a busca de consensos para a construção de um panteão, simbolizando os três líderes da revolução de movimentos angolanos contra o colonialismo, nomeadamente Holden Roberto, da FNLA (Frente Nacional para a Libertação de Angola), Agostinho Neto, primeiro presidente angolano e ex-líder do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) e Jonas Savimbi, pela UNITA.
Savimbi pertencia aos “ovimbundu”, o maior grupo étnico de Angola. Era filho de um pastor evangélico e estudou numa escola evangélica. Recebeu da congregação religiosa uma bolsa de estudo para cursar medicina em Portugal, mas nunca chegou a frequentar o curso. É aí que entra em contacto com grupos de luta anti-colonial e por causa das ameaças da polícia política do regime português, a PIDE, fugiu para Suíça onde estudou Ciências Sociais e Políticas. Não se sabe se concluiu o curso.
Autores: Manuel Vieira (Luanda) / Nádia Issufo
Edição: Glória Sousa / António Cascais
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