O ativista luso-angolano Luaty Beirão está em greve de fome há 26 dias, para protestar contra a sua detenção ilegal. A cada dia piora o seu estado de saúde. Quem é Luaty Beirão, que muitos descrevem como herói?
Na quinta-feira (15.10), Luaty Beirão foi transferido do hospital-prisão de São Paulo para uma clínica privada em Luanda. O músico faz parte do grupo de 15 ativistas detidos desde 20 de junho, acusados de preparação de uma rebelião e de um atentado contra o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos.
"Um dia, quando os meus filhos me perguntarem quem foi Luaty, direi que foi um herói que vi a lutar pela causa justa do povo angolano". A frase é de um ouvinte da DW África, mas reflete a opinião de muitas outras pessoas, que vêem no ativista de 33 anos um símbolo da resistência ao regime angolano.
"É o meu herói", diz também o jornalista angolano Rafael Marques. O defensor dos direitos humanos acrescenta que Luaty Beirão "é de uma coragem e de uma convicção extraordinárias, duas qualidades fundamentais para a afirmação da cidadania em Angola. O Luaty é um cidadão angolano exemplar, porque está a colocar a sua vida em risco por um bem comum, pela liberdade dos angolanos. E não há sacrifício maior do que este."
"É o meu herói", diz também o jornalista angolano Rafael Marques. O defensor dos direitos humanos acrescenta que Luaty Beirão "é de uma coragem e de uma convicção extraordinárias, duas qualidades fundamentais para a afirmação da cidadania em Angola. O Luaty é um cidadão angolano exemplar, porque está a colocar a sua vida em risco por um bem comum, pela liberdade dos angolanos. E não há sacrifício maior do que este."
Luaty, uma pessoa comum
Mas Luaty não se vê como um líder. Diz-se "igual a qualquer um". "A pretensão dele não é ser um símbolo ou um herói nacional", diz a mulher do ativista, Mónica Almeida: "O Luaty é uma pessoa comum. As pessoas estão a ‘deusificar’ o Luaty. Ele comete os seus erros, tem as suas convicções muito fortes e isso é que contribui para que as pessoas estejam a transformá-lo em símbolo, porque cada vez há menos pessoas assim."
Família e amigos têm tentado demovê-lo da greve de fome, que já levou a manifestações de solidariedade, de Luanda a Lisboa e noutras cidades. Mas Luaty Beirão está disposto a lutar até ao fim por aquilo em que acredita.
Mas Luaty não se vê como um líder. Diz-se "igual a qualquer um". "A pretensão dele não é ser um símbolo ou um herói nacional", diz a mulher do ativista, Mónica Almeida: "O Luaty é uma pessoa comum. As pessoas estão a ‘deusificar’ o Luaty. Ele comete os seus erros, tem as suas convicções muito fortes e isso é que contribui para que as pessoas estejam a transformá-lo em símbolo, porque cada vez há menos pessoas assim."
Família e amigos têm tentado demovê-lo da greve de fome, que já levou a manifestações de solidariedade, de Luanda a Lisboa e noutras cidades. Mas Luaty Beirão está disposto a lutar até ao fim por aquilo em que acredita.
Já assinou "uma declaração a desresponsabilizar os médicos e outra a responsabilizar José Eduardo dos Santos caso morra", conta a esposa: "A greve de fome dele é para exigir que os seus direitos enquanto arguido sejam respeitados, no que toca principalmente à possibilidade de liberdade condicional. Ele tem plena noção que será julgado, com ou sem provas."
Luaty Beirão é um dos rostos mais visíveis da contestação ao regime angolano desde 2011, ano em que as manifestações anti-governo começaram a ganhar expressão. Já foi preso várias vezes pela sua luta.
Luaty Beirão é um dos rostos mais visíveis da contestação ao regime angolano desde 2011, ano em que as manifestações anti-governo começaram a ganhar expressão. Já foi preso várias vezes pela sua luta.
Um músico crítico
E Mónica Almeida lembra que "o Luaty quer mais condições para o povo angolano. Quer mais água, quer mais luz, quer mais educação, quer mais saúde. É isso que ele quer. O Luaty nunca iria cometer qualquer atentado contra o Presidente da República".
Luaty é filho de João Beirão, já falecido, e que foi primeiro presidente da Fundação Eduardo dos Santos (FESA). Mas isso nunca o impediu de criticar o Presidente. Já o fazia enquanto rapper, na voz do "Brigadeiro Mata Frakuzx" ou como "Ikonoklasta" – nomes com que se apresenta em palco.
"Acusam-me de ser um filho do regime, mas não vejo em que é que isso me obriga a seguir a linha de pensamento do meu pai. Felizmente, pude formar-me e penso pela minha própria cabeça", defende-se o músico.
Luaty Beirão é "uma pessoa sui generis", segundo disse à DW a ativista dos direitos humanos Lisa Rimli, que o conheceu em Angola, em 2011, quando trabalhava como investigadora da Human Rights Watch.
E Mónica Almeida lembra que "o Luaty quer mais condições para o povo angolano. Quer mais água, quer mais luz, quer mais educação, quer mais saúde. É isso que ele quer. O Luaty nunca iria cometer qualquer atentado contra o Presidente da República".
Luaty é filho de João Beirão, já falecido, e que foi primeiro presidente da Fundação Eduardo dos Santos (FESA). Mas isso nunca o impediu de criticar o Presidente. Já o fazia enquanto rapper, na voz do "Brigadeiro Mata Frakuzx" ou como "Ikonoklasta" – nomes com que se apresenta em palco.
"Acusam-me de ser um filho do regime, mas não vejo em que é que isso me obriga a seguir a linha de pensamento do meu pai. Felizmente, pude formar-me e penso pela minha própria cabeça", defende-se o músico.
Luaty Beirão é "uma pessoa sui generis", segundo disse à DW a ativista dos direitos humanos Lisa Rimli, que o conheceu em Angola, em 2011, quando trabalhava como investigadora da Human Rights Watch.
Lisa Rimli recorda que "ele teve uma educação privilegiada, estudou em Inglaterra, em França, mas depois dos estudos voltou para Angola, à boleia, com apenas cem dólares no bolso. Isso mostra que ele tem uma atitude diferente do que é típico para as elites angolanas. É uma pessoa que tem uma grande humildade. (…) Identificou-se muito cedo com as pessoas mais pobres em Angola."
Um ponto de vista que, como o ativista confessou em tempos, gostaria um dia de transmitir ao Presidente angolano, numa "conversa tranquila no seu jardim": "Nós queremos pedir-lhe, com toda a humildade, que o senhor peça ou exija a quem deve zelar e velar pelo respeito das normas constitucionais, que não as pise. E que nos deixe, por favor, manifestar, nós, os 20% que não votamos no MPLA. Deixe-nos, por favor, usufruir desse direito que nos foi dado pela Constituição".
Um ponto de vista que, como o ativista confessou em tempos, gostaria um dia de transmitir ao Presidente angolano, numa "conversa tranquila no seu jardim": "Nós queremos pedir-lhe, com toda a humildade, que o senhor peça ou exija a quem deve zelar e velar pelo respeito das normas constitucionais, que não as pise. E que nos deixe, por favor, manifestar, nós, os 20% que não votamos no MPLA. Deixe-nos, por favor, usufruir desse direito que nos foi dado pela Constituição".
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Samuel