Fotografia: Francisco Bernardo | Joanesburgo
O Presidente da República, José Eduardo dos Santos, afirmou ontem, em Joanesburgo, que a China é um “parceiro imprescindível” para o desenvolvimento de África, em função do crescimento do investimento do gigante asiático no continente.
Ao intervir durante uma mesa-redonda de líderes
africanos com o Presidente chinês, Xi Jinping, por ocasião da segunda cimeira
do Fórum de Cooperação China-África, em Joanesburgo, o Chefe de Estado angolano
destacou os indicadores da balança comercial que colocam a China como o maior
parceiro e também o que mais investimentos directos fez em África, nos últimos
anos.
O líder angolano disse que a parceria sino-africana, forjada ainda no período colonial, além de apoiar o desenvolvimento de cada um dos países africanos e o continente berço, em geral, pode contribuir para o estabelecimento de uma nova ordem política e económica internacional e promover a democratização das relações internacionais. “A China apoiou de modo exemplar os países africanos na luta contra o colonialismo, tanto no plano político-diplomático como material”, lembrou José Eduardo dos Santos, salientando mais à frente que depois de conquistadas as independências nacionais e estando as nações em construção, impunha-se uma nova parceria com novos desafios e focada na realização de objectivos comuns.
O Presidente José Eduardo dos Santos disse estar convicto de que África e a China vão realizar os objectivos fixados na Estratégia Conjunta, e propôs, para solucionar os problemas mais prementes, que a cooperação seja estruturada a três níveis, cada um com os respectivos instrumentos de acção.
O Presidente angolano propôs que a cooperação sino-africana opere a nível continental, através da Comissão Executiva da União Africana, a nível de cada uma das cinco regiões e respectivos aparelhos, e a nível de cada um dos Estados-membros da UA. José Eduardo dos Santos disse que além da cooperação para a procura de soluções globais, previstas pela NEPAD e pela visão para a Industrialização da África e promoção do seu Comércio, a China pode dar uma maior contribuição na solução dos problemas básicos das populações, como a erradicação da fome e da pobreza, apoiando a agricultura familiar, a comercialização da produção e o apoio a programas para a instalação de pequenos sistemas de produção de água potável no meio rural e na periferia das cidades.
Para o líder angolano, a China pode ainda apoiar as políticas para a juventude, com a criação de centros de formação profissional, garantindo-se o financiamento previsível de longo prazo dos planos nacionais de educação, para um ensino de qualidade aos jovens africanos.
Ainda no que toca aos jovens africanos, José Eduardo dos Santos defendeu a promoção de projectos de investimentos públicos e privados, que criem postos de trabalho e evitem a emigração para outros continentes ou a fuga para outros países africanos com melhores oportunidades. O líder angolano alertou para o problema da desertificação que afecta várias regiões africanas, e fez um apelo para os países africanos poderem dispor de meios para suportar os efeitos das mudanças climáticas. “Temos de cuidar e de alargar as nossas florestas e transformar, em vez de queimar, o gás obtido da produção de petróleo”, defendeu.
José Eduardo dos Santos também se referiu aos documentos que foram adoptados ontem pelos seus pares africanos e o líder chinês. Destacou a Declaração de Joanesburgo, que, como disse, reflecte a “profundidade e a visão estratégica” do Fórum de Cooperação China-África, com esperados benefícios para a paz, a estabilidade e a prosperidade de todos.
Em relação ao Plano de Acção 2016-2018, o Presidente angolano disse que o documento vai permitir aos Estados e respectivos Governos darem um novo impulso à materialização dos consensos alcançados, abrindo caminho para a entrada numa “nova era de cooperação e progresso”. À margem da cimeira, o Chefe de Estado angolano, que é o Presidente em exercício da Conferência Internacional para Região dos Grandes Lagos (CIRGL), manteve encontros privados com os seus homólogos da Nigéria, Mohamad Mamadou Buhari, do Sudão do Sul, Salva Kiir, e da Guiné-Conacri, Alpha Konde. Recebeu ainda os Vice-Presidentes do Burundi e do Sudão, Joseph Butore e Bakri Hassan Salih.
Maior banco do mundo
O Presidente José Eduardo dos Santos teve encontro, ontem, em Joanesburgo, com uma delegação do Banco Industrial e Comercial da China (ICBC), o maior do mundo, com activos no valor de 239,5 mil milhões de dólares.
O Chefe de Estado conversou brevemente com Yi Huimane e Zhang Hongli, presidente e vice-presidente do ICBC, respectivamente. Os representantes do banco, que financiou a construção do maior projecto habitacional em Angola, a cidade do Kilamba, e que, entre outros projectos, está a financiar a construção da central de ciclo combinado do Soyo, querem ter um papel mais activo na “mudança estrutural para a diversificação da economia angolana”.
O ICBC foi um dos bancos que apoiou a primeira emissão de euro-obrigações, no montante de 1,5 mil milhões de dólares. A operação teve apoio técnico e legal da Goldman Sachs, JP Morgan, Banco Mundial e FMI, tendo o Presidente José Eduardo dos Santos mandatado como agentes bancários representantes do Estado angolano o Deutsche Bank, o ICBC e o banco de investimento Goldman Sachs.
Ministro Georges Chikoti
O ministro das Relações Exteriores, Georges Chikoti, resumiu para a imprensa o conteúdo dos encontros mantidos pelo Presidente José Eduardo dos Santos, em Joanesburgo, à margem da Cimeira do Fórum de Cooperação China-África.
“Todos os nossos parceiros reconheceram a importância do papel que Angola desempenha, particularmente o Presidente José Eduardo dos Santos, procurando sempre ajudar os outros com ideias e iniciativas que possam contribuir para consolidar a paz nos seus respectivos países”, disse Georges Chikoti.
O encontro com o Presidente da Nigéria serviu para trocar impressões sobre a cooperação bilateral, com os dois líderes dos maiores produtores de petróleo em África a convergirem na necessidade de se abrir um mecanismo de diálogo a nível ministerial para partilha de ideias e busca de soluções para a difícil situação gerada pela queda acentuada do preço do petróleo no mercado internacional.
O ministro Georges Chikoti disse que o Presidente José Eduardo dos Santos agradeceu ao Presidente nigeriano pela participação da Nigéria nas celebrações dos 40 anos da Independência de Angola. O Chefe de Estado angolano encorajou o seu homólogo a tudo fazer para pôr fim à instabilidade gerada pela acção terrorista na Nigéria e manifestou a sua solidariedade com o povo nigeriano.
Já o encontro com Alpha Kondé, Presidente da Guiné-Conacri, teve no centro a cooperação bilateral. Os dois líderes destacaram, segundo Chikoti, as boas relações entre os dois países e defenderam a reactivação o mais breve possível da comissão bilateral. Com o Vice-Presidente do Burundi José Eduardo dos Santos falou do processo de paz naquele país. O apoio de Angola às iniciativas que visam encontrar uma solução política ao nível das Nações Unidas, da União Africana e também da CIRGL são levados em boa conta pelas autoridades burundesas que, disse Georges Chikoti, consideram haver “alguma incompreensão” sobre o que realmente se passa no Burundi. Com o Presidente Salva Kiir, o Chefe de Estado partilhou informações sobre a situação política na região dos Grandes Lagos e no Sudão do Sul em particular, onde todos os esforços estão a ser desenvolvidospara garantir o funcionamento de um Governo de inclusão. Fontes próximas do “dossier” Sudão do Sul, dão conta de um certo isolamento de Riek Machar, que depois de vários apelos no sentido de integrar o Governo de inclusão, condiciona a sua participação a um encontro com o Presidente Salva Kiir. Georges Chikoti fez uma abordagem geral da cimeira e destacou o pragmatismo nas sessões de trabalho a nível de peritos, dos ministros e na Cimeira. “No cômputo geral a Cimeira trabalhou em questões muito concretas”, disse.
O ministro disse que depois de apontadas as grandes áreas de cooperação entre a China e o continente africano e atendendo à disponibilidade da China em financiar com 60 mil milhões de dólares projectos de desenvolvimento em África, cabe aos africanos organizarem-se rapidamente para uma resposta à altura de toda essa disponibilidade por parte da China.
Angola deve aproveitar
A reportagem do Jornal de Angola ouviu alguns integrantes da delegação angolana, que comentaram, em particular, o discurso do Presidente chinês. Para o ministro das Finanças, Armando Manuel, a mensagem de Xi Jinping vem “desmistificar o juízo de que as relações da China com África tinham no centro as matérias-primas de que África dispõe”. “Partilhamos aqui uma nova visão do desenvolvimento cooperativo e uma relação mútua que visa atacar três principais problemas que afectam as economias africanas, e Angola, não foge a essa realidade”, afirmou o ministro das Finanças.
Segundo Armando Manuel, ficou assente que África precisa de infra-estrutura básica necessária, de melhorar o ambiente de negócios, e de possuir capital humano necessário para garantir a sua agenda de desenvolvimento. “O Presidente Xi Jinping apresentou na sua agenda uma estratégia muito precisa para responder aos três aspectos no domínio das infra-estruturas, do capital humano e dos recursos financeiros que sempre são escassos”, referiu.
O ministro olhou ao pormenor para a questão do pacote financeiro de 60 mil milhões para projectos de desenvolvimento em África. “É um montante significativo e nele destacamos cerca de cinco mil milhões que devem ser doações e 35 mil milhões de recursos de crédito preferencial”, assinalou, antes de sublinhar que o montante anunciado pelo Presidente Jinping não inclui as acções espontâneas da banca comercial chinesa.
“Podemos identificar outro aspecto voltado para o investimento privado em África, à luz do qual o Presidente Xi Jimping visiona a deslocalização da indústria chinesa para as economias africanas”, sublinhou o ministro, que aponta para um horizonte de quatro anos para assistir a um “crescimento de 100 por cento dos fluxos actuais de comércio, fruto da injecção de investimento estrangeiro chinês em África”. Para Armando Manuel o momento é histórico, pois marca a inauguração de uma nova plataforma de relacionamento entre África e a China. “Angola vai procurar beneficiar desta relação no quadro da comissão bilateral”, defendeu. É preciso que saibamos aproveitar, repetiu, na mesma senda, o ministro da Agricultura. Afonso Pedro Canga tomou notas, muitas notas, especialmente no ponto em que o Presidente chinês falou do segundo ponto da agenda da cooperação estratégica
China-Africa.
E disse: “Foram de facto anunciados 10 programas, entre os quais a agricultura
nas diferentes vertentes, a do investimento directo para a produção agrária,
agricultura e pecuária, investigação científica, formação de quadros, e apoio à
agricultura familiar nas aldeias”.
Segundo o ministro, Angola pode e precisa de aproveitar a disponibilidade financeira e tecnológica da China para aumentar a produção e a produtividade, criar riqueza, diversificar a economia e as fontes de arrecadação de receitas. “Temos projectos a serem desenvolvidos, mas precisamos de muito mais. E estamos preparados para, com a China, trabalhar num programa de investimentos no sector agrário com a participação de investidores chineses e angolanos”, afirmou.
Para a ministra do Comércio, o financiamento chinês para África é bem-vindo, especialmente no que respeita a infra-estruturas, como estradas, pontes, linhas de caminhos-de-ferro e outras que concorrem para dar fluidez ao circuito comercial. “Para haver comércio precisamos de ter estradas e outras infra-estruturas que vão ajudar a escoar a produção”, disse, lembrando que, numa altura em que Angola se presta a entrar para a Zona de Livre Comércio, precisa de criar condições para enfrentar a concorrência.
Primeiras-damas
A Primeira-Dama da República, Ana Paula dos Santos, participou ontem, em Joanesburgo, num encontro da Organização das Primeiras-Damas Africanas Contra HIV-SIDA com a Primeira-Dama da China, Ping Liyaun, no qual reafirmaram o seu compromisso para a eliminação da transmissão de mãe para filho do HIV e para acabar com a SIDA até 2030.
À saída do encontro, a Primeira-Dama de Angola mostrou-se confiante no êxito da parceria com a China para um combate cerrado ao HIV-SIDA. “Estamos empenhadas e determinadas. Vamos fazer o que for preciso para erradicar essa doença em África”, disse Ana Paula dos Santos que destacou o trabalho dos vários actores no amplo movimento contra o HIVSIDA em Angola, o que tem contribuído para que os níveis de seropositividade no país estejam entre os mais baixos da região e do continente. Ana Paula dos Santos disse, no entanto, ser preciso continuar a trabalhar, mais e melhor.
O encontro decorreu à margem da Cimeira do FOCAC, organizada sob o lema “Parceria com a China, por uma geração livre do HIV-SIDA” e serviu para lançar a campanha África-China de combate à doença. As Primeiras-Damas destacaram a importância do atendimento pediátrico, o fortalecimento de parcerias e lembraram que a SIDA é um elemento de peso na agenda de desenvolvimento pós -2015.
A Primeira-Dama da China anunciou que em 2016 vai convidar 30 crianças africanas para o acampamento de verão anual para as crianças que vivem com o HIV. Segundo a senhora Ping, a China vai realizar cursos de formação para África e desenvolver uma campanha junto da sociedade chinesa para a arrecadação de fundos para financiar iniciativas contra o HIV e SIDA em África.
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Samuel