“Foi com espanto que acompanhei as declarações proferidas na Conferência de Imprensa da Sonangol a 28 de Fevereiro 2018. Não posso deixar de demonstrar a minha total indignação com a forma como, sob o título de “Constatações/Factos” foram feitas acusações e insinuações graves, algumas das quais caluniosas, contra a minha honra e contra o trabalho sério, profissional e competente que a equipa do anterior Conselho de Administração desenvolveu ao longo de 18 meses”, começa por dizer, em comunicado de imprensa, Isabel dos Santos, a anterior Presidente do Conselho de Administração da Sonangol.
Eis, na íntegra, o demolidor comunicado de Isabel dos Santos, em que nem Carlos Saturnino nem João Lourenço saem ilesos. Trata-se, aliás, de um documento que tem, entre outras, a especial virtude de pôr à prova Angola como um Estado de Direito. Se o for de facto, vão rolar cabeças. Se ficar tudo na mesma, então confirma-se que o país não passa de uma república das bananas:
“Após apenas 4 slides muito genéricos e superficiais sobre a performance da empresa e do sector petrolífero em Angola, a conferência de imprensa rapidamente deixou de se concentrar naquilo que deveria ser o seu propósito:
– analisar a empresa, e detalhar o plano de reestruturação da Sonangol e do sector, que tanto necessitam, dando continuidade ao processo de transformação, e reestruturação iniciado pelo anterior CA, e conforme instruídopelo Executivo.
Em vez disso, lançou-se um ataque directo ao anterior Conselho, e à minha pessoa em particular, com insinuações e acusações directas de desonestidade.
Gostaria de deixar claro que não deixarei de tomar todas as medidas, e encetar todas as providências legais, adequadas e necessárias à protecção do meu bom nome e defesa dos meus direitos.
Sem prejuízo disso, não posso deixar de responder desde já a algumas das acusações lançadas naquele documento:
1. Programa de Reestruturação da Sonangol
As acusações e insinuações proferidas, além de falsas, servem para atiçar um clima de instabilidade e desconfiança, que prejudica a Sonangol, e desvia as atenções daquilo que certamente é a preocupação fundamental –
“Qual é o futuro da empresa? E como reforçar a competitividade do sector petrolífero?”
Porquê Carlos Saturnino fabrica estas mentiras e põem em causa as decisões tomadas pelo anterior Conselho de Administração e pelo Executivo?
Trata-se nada mais que um circo, uma encenação! Procurar buscar um bode expiatório, para esconder o passado negro da Sonangol, e escolher fazer acusações ao anterior Conselho de Administração! Ora, isto não passa de uma manobra de diversão, para enganar o povo sobre quem realmente afundou a Sonangol. E seguramente não foi este Conselho de Administração a que presidi, e que durou 18 meses, que levou a Sonangol à falência!
Em 2015, após a apresentação pelo Dr. Francisco Lemos, então PCA da Sonangol, do “Relatório Resgate da Eficiência Empresarial”, o Executivo angolano tomou conhecimento da gravidade do problema da Sonangol.
A Sonangol, que supostamente deveria ser a segunda maior empresa de Africa, soube-se de repente que estava falida, e incapaz de pagar a sua dívida bancária.
Em consequência deste facto, o Executivo angolano tomou a decisão de criar a Comissão de Reestruturação do Sector dos Petróleos, e de contratar um grupo de consultores externos.
A Comissão de Reestruturação do Sector dos Petróleos criada por Decreto Presidencial 86/15 Data 26.10.2015, foi composta por: Ministro dos Petróleos, Ministro das Finanças, Governador do BNA, PCA da Sonangol, Ministro da Casa Civil da Presidência da República.
Transcrevo a Acta da Reunião da Comissão do Sector dos Petróleos, realizada em Luanda, no CDI a 15 de Dezembro de 2015:
Presentes: MinFin, MinPet, BNA, PCA SNG, Ministro Casa Civil, BCG (AG, JH) PwC (IF, JM, ) VdA (PTC, RA), Wise.
Documento de apoio: “151211-Reuniao_Comissao-kick-off_V10”
Apresentação das várias equipas (BCG, VdA e PwC) de consultores;
Importância do projecto ter um gestor transversal no projecto dada a complexidade e abrangência do projecto;
Credenciais de cada uma das empresas consultoras;
Apresentação do calendário e etapas do processo –
“prazo exigente; projecto começará com um diagnóstico detalhado, seguido de um desenho detalhado finalmente um plano de reestruturação detalhado.”
“….Procuraremos ao longo do processo identificar quick-wins que permitam ir cristalizando poupanças de custos e de aumento de eficiências.”
E, como deliberado na própria acta:
“Importância do projecto ter um gestor transversal no projecto dada a complexidade e abrangência do projecto;”
Foi assim, em representação do governo de Angola, assinado pelo Ministério das Finanças, um contrato de consultoria para Reestruturação do Sector dos Petróleos em Angola, com empresa Wise Consulting, na qualidade de coordenador de um alargado grupo de consultores identificados.
Foi solicitado pelo Executivo, que este grupo de consultores identificados desenhasse a solução, e apoiasse também na implementação da solução, devendo para tal apoiar e trabalhar com a gestão da Sonangol.
Este contrato foi posteriormente cedido à empresa Matter, por razões de organização interna do grupo de consultores e a pedido destes. A Matter, foi o gestor transversal do projecto, foi a entidade coordenadora, e gestora dos diversos programas de consultoria prestados no âmbito da reestruturação da Sonangol, nomeadamente pelos consultores: PriceWaterCoppers, Boston Consulting Group, ODKAS, UCALL, VDA, McKinsey, etc., e que teve a responsabilidade de optimizar os custos, prestações e resultados da consultoria.
A cessão da posição contratual, e contratação foi oficial, e com a autorização do Conselho de Administração da Sonangol, e do seu PCE, Presidente da Comissão Executiva, conforme a acta numero 7 data 23 de Maio de 2017.
Pôr em causa hoje as decisões tomadas pelo governo angolano em 2015 e 2016, pôr em causa a presença de consultores, pôr suspeitas sobre o trabalho realizado e pagamentos feitos, significa negar o facto de que a Sonangol estava falida.
Pôr em causa a decisão do Governo angolano em querer reestruturar a Sonangol, e tentar manipular a opinião publica, para que se pense que a administração anterior trouxe os consultores por falta de competência ou por interesses privados, significa querer reescrever a história, e atribuir a outros as responsabilidades da falência da Sonangol.
Esta manipulação dos factos assemelha se a um autêntico revisionismo, e só pode ter como objectivo, o regresso em força do que convém chamar como “a antiga escola” da Sonangol.
2. No que refere a Custos com Consultores
Perante esta insinuação de gastos excedentários e esbanjamento em consultores, afirmo que o Conselho de Administração a que presidi foi o que menos gastou em consultoria na Sonagol nos últimos 5 anos!
Ao contrário das suas afirmações aqui vão os factos:
– em 2014 a Sonangol gastou 254Mio$ com consultoria.
– em 2015 a Sonangol gastou 115Mio$ com consultoria.
– o custo de consultoria em 2016 foi: 79,7Mio$
– o custo de consultoria em 2017 foi: 90,5Mio$
– em 2014 a Sonangol gastou 254Mio$ com consultoria.
– em 2015 a Sonangol gastou 115Mio$ com consultoria.
– o custo de consultoria em 2016 foi: 79,7Mio$
– o custo de consultoria em 2017 foi: 90,5Mio$
O CA a que presidi reduziu para cerca de metade os custos com consultoria comparativamente à média anual no período 2013-2015.
Esta redução de custos de consultoria foi conseguida, sem prejuízo da qualidade e capacidade de aportar valor da equipa de consultores seleccionados, envolvendo 10 empresas, entre as quais líderes internacionais de consultoria estratégica e gestão, escritório de advocacia de primeira linha e a maior empresa de auditoria e assessoria financeira do mundo, entre outras.
Recordo o diagnóstico da situação da empresa realizada pelo Dr. Francisco Lemos, PCA da Sonangol que me antecedeu, no relatório “Resgate da eficiência Empresarial” com data de 15 de Maio de 2015. Nas próprias palavras do antigo PCA Francisco Lemos, ele reconhece as debilidades da Sonangol, cito:
1. “A Sonangol apresenta uma enorme e tal extrema debilidade de assentar-se e mover-se por si própria. (…)
2. O actual modelo operacional, que adquiriu dimensão diferente e acrescida após 2008, caracteriza-se pela crescente dependência da Sonangol do (…) outsourcing de serviços do básico ao especializado. (…)”
3.“O modelo operacional da Sonangol fracassou e está falido. Deixamos de aprender a “saber fazer” e aprendemos a “contratar/subcontratar”.”
4.“Funções críticas são desempenhadas por “terceiros” em virtualmente todas as subsidiárias da empresa”.
2. O actual modelo operacional, que adquiriu dimensão diferente e acrescida após 2008, caracteriza-se pela crescente dependência da Sonangol do (…) outsourcing de serviços do básico ao especializado. (…)”
3.“O modelo operacional da Sonangol fracassou e está falido. Deixamos de aprender a “saber fazer” e aprendemos a “contratar/subcontratar”.”
4.“Funções críticas são desempenhadas por “terceiros” em virtualmente todas as subsidiárias da empresa”.
Não podemos esquecer ou esconder esta situação de partida, descrita pelo Dr. Francisco Lemos em Maio de 2015, e não é possível numa empresa parar esta dependência de terceiros de um dia para outro!
Capacitação e Promoção de Talento e Quadros Angolanos
Apesar dessa dependência histórica da Sonangol de consultores externos, o CA a que presidi fez – contrariamente às administrações anteriores – um esforço muito evidente de alterar a situação, e reforçar a estrutura de quadros da Sonangol, internalizando competências vitais, e assim diminuiu para metade os custos de consultoria comparando com os anos anteriores.
Conseguimos reduzir os custos de consultoria para metade, a comparar com o ano 2014, graças a diversas iniciativas, nomeadamente:
• Identificamos, recrutamos e promovemos de jovens talentos Angolanos a novos cargos;
• Criamos pela primeira vez na Sonangol o Programa de formação dos Futuros Líderes, habilitando-os a exercer funções de chefia de acordo com as melhores práticas de gestão internacionais;
• Promoção de dezenas de quadros internos nacionais para lugares de relevo nas diversas estruturas das varias empresas do grupo.
• Recuperação de quadros de grande valia que se encontravam inactivos, em casa, em regime de “aguarda colocação”, e que passaram a integrar Comissões Executivas e Direcções da Sonangol EP e suas subsidiárias.
• O convite e recrutamento de quadros angolanos de elevado valor que estavam a trabalhar em empresas internacionais e petrolíferas estrangeiras.
• Identificamos, recrutamos e promovemos de jovens talentos Angolanos a novos cargos;
• Criamos pela primeira vez na Sonangol o Programa de formação dos Futuros Líderes, habilitando-os a exercer funções de chefia de acordo com as melhores práticas de gestão internacionais;
• Promoção de dezenas de quadros internos nacionais para lugares de relevo nas diversas estruturas das varias empresas do grupo.
• Recuperação de quadros de grande valia que se encontravam inactivos, em casa, em regime de “aguarda colocação”, e que passaram a integrar Comissões Executivas e Direcções da Sonangol EP e suas subsidiárias.
• O convite e recrutamento de quadros angolanos de elevado valor que estavam a trabalhar em empresas internacionais e petrolíferas estrangeiras.
Perante esta óbvia redução dos custos com consultores, apenas se percebe a insinuação e informação parcial da Conferência de Imprensa como difamatória.
3. Transferência Bancária e Pagamento de Facturas no valor de USD38.1Milhões
Éfalsa a afirmação de que foram efectuadas transferências bancárias de USD 38,18Milhões após a cessação de funções da anterior Administração. O Sr. Carlos Saturnino tenta deliberadamente confundir a opinião pública fazendo crer que existiria aqui alguma irregularidade, ou falta de ética.
Ora, a ética profissional é estabelecida pela lei e pelo estatuto de gestor publico.
Realçamos, que o Estatuto do Gestor Público é claro quanto a esta matéria, e é a lei aplicável aos Administradores da SNL. E.P., e que consagra no seu artigo 27º o seguinte:
“No caso de cessação do mandato, o Gestor Empresarial Público nomeado mantém-se no exercício das respectivas funções, em regime de gestão corrente, até à tomada de posse do novo titular”.
A nomeação do novo CA aconteceu a 16 de Novembro de 2017, tendo as reuniões de passagem de pasta começado nesse dia. Não existem instruções de pagamentos, ou outras.
fonte: jornalf8.net
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Samuel