Primeiro-ministro poderá reeditar seu Governo com o apoio de somente um de seus aliados de esquerda.
Vitória, sim; maioria absoluta, não. A primeira pesquisa de boca de urna confirmou no domingo as pesquisas que diariamente previam, ao longo da campanha eleitoral, uma vitória socialista em Portugal; mas, a princípio, sem a possibilidade de se obter maioria absoluta. A clara vitória do primeiro-ministro António Costa nas eleições legislativas realizadas no domingo, diferentemente do último mandato, lhe permitirá escolher os apoios para formar o Executivo. Em um Parlamento de 230 deputados, poderá não precisar dos votos em conjunto do Bloco de Esquerda (BE) e do Partido Comunista (PC) para formar uma maioria de 116 deputados, bastando-lhe o apoio de somente um deles.
A pesquisa da TVI aponta a vitória do Partido
Socialista (PS) entre 34,5% e 38,5% dos votos que lhe dariam até 112
deputados, a 4 da maioria absoluta; depois o PSD, entre 24,6% - 28,6%,
entre 68 e 78 deputados; o Bloco era a terceira força, com 7,7% - 11,7% e
20 – 26 deputados, mais do que os 19 atuais; atrás vem o CDU (PC mais
Os Verdes), entre 6% e 8%, com 10-14 deputados, depois o direitista CDS,
2,9% e 4,9%, que seria o pior resultado de sua história e ficaria de 3 a
7 deputados; e depois o novo ecologismo do PAN, com 2,7% - 4,7%, que
formaria grupo parlamentar com margem de 4 a 6 deputados.
Os
comunistas não compartilharão seus votos se não ocorrer um aumento
salarial geral de 90 euros (400 reais) mensais; um aumento do salário
mínimo dos 600 euros (2.670 reais) atuais a 900 euros (4.000 reais)
durante o próximo mandato e o fim da reforma trabalhista imposta pela
troika (o BCE, a Comissão Europeia e o FMI). No caso do Bloco, uma de
suas principais exigências é a contratação de milhares de pessoas nos
serviços públicos de saúde e um salário mínimo de aproximadamente 800
euros (3.560 reais). Ambos pedem em seus programas a nacionalização dos
bancos e o fim da educação e saúde privadas, mas se mostram dispostos a
renunciar a essas reivindicações (ainda que tentarão impedir seu
alimento).
Além de aprovar a gestão do Governo
socialista, as eleições dirimiram a hegemonia da esquerda à esquerda do
PS. Em 1999 foi criado o Bloco de Esquerda, com membros vindos de uma
cisão do PC, com a finalidade de criar entre seu eleitorado uma imagem
mais moderna e jovem. 20 anos se passaram e o PC, em sua lenta
decadência, resiste.
É certo que o Bloco de Catarina Martins voltou a ganhar do
PC por uma diferença maior do que há quatro anos (1,9 ponto à época), de
acordo com a contagem provisória. A distância não é enorme e, de
qualquer modo, menor do que seus dirigentes gostariam, mas vai retirando
peso voto a voto do PC, que obteve um dos piores resultados de sua
história.
O resultado eleitoral terá consequências na
liderança dos partidos. No caso do PC, seu histórico líder, Jerónimo de
Sousa, praticamente se despediu, após duas décadas na arena das
campanhas eleitorais. No momento de votar anunciou aos jornalistas que
continuará sempre à disposição do partido, mas que pretende dedicar mais
tempo a sua família. Seus substitutos naturais são o porta-voz
parlamentar, João Oliveira, e o líder nas eleições europeias, João
Ferreira.
O resultado do Bloco também não é expressivo o
suficiente para realizar uma tentativa de Governo de coalizão, como
insinuou Martins. A campanha eleitoral foi uma batalha entre as
esquerdas para se anular e se equilibrar com a finalidade de impedir uma
provável maioria absoluta do PS que lhes deixaria sem capacidade de
negociação.
Decepção na direita
O bloco da direita, que de 14 eleições legislativas ganhou
seis, fez figuração. Sem possibilidade de ganhar, tanto o Centro
Democrático Social (CDS) como o Partido Social Democrata (PSD)
aproveitaram a campanha para sustentar seus líderes, Assunção Cristas e
Rui Rio, e suas bases. Seu trabalho de oposição durante quatro anos se
centrou em antecipar o caos e o desastre, e nada disso aconteceu, o que
decepcionou sua militância que, além disso, perdeu o medo de votar em
Costa.
O escrutínio provisório, entretanto, trouxe
resultados melhores do que os previstos para Rio, líder do PSD,
provavelmente por uma transferência de votos do CDS, de Cristas, ao seu
partido pelo efeito do “voto útil”. Apesar da derrota, não tão
estrepitosa como se esperava há alguns meses – as pesquisas chegaram a
apontar quase 20 pontos de diferença com o PS –, Rio não quis revelar
seu futuro, após descartar sentar-se no Parlamento por considerar que é
uma instituição “desacreditada”. “Missão cumprida”, disse após depositar
seu voto. Com muitas brigas internas desde sua ascensão em fevereiro do
ano passado à liderança do partido, Rio provavelmente deixará a
direção, após o fracasso nas eleições europeias e agora nas
legislativas.
A abstenção se aproximou de 47%, apesar dos
pedidos de participação feitos pelo presidente do país, Marcelo Rebelo
de Sousa, e de todos os candidatos. Parte do problema se deve a uma
reforma legal que recenseou automaticamente todos os emigrantes
portugueses. O censo cresceu a 10,8 eleitores, mas o número de votantes
quase não se modificou. O secretário geral do PSD, José Silvano, pediu
com “urgência uma mudança do sistema político”. Há alguns meses, Silvano
foi flagrado votando sem estar no Parlamento.
PAN, a vitória de um novo ecologismo
Os
ecologistas já caminham sozinhos. Desde 1987, o clássico partido
ecologista Os Verdes participou das eleições através do Partido
Comunista na Coalizão Democrática Unitária (CDU). Ainda que com
liberdade de votos para votar contra as touradas enquanto o PC o fazia a
favor, sempre estiveram nas sombras do PC nos trabalhos parlamentares.
Os
Verdes e sua histórica líder, Heloísa Apolónia (deputada desde 1995),
deixaram de ser a única bandeira ecologista da câmara em 2015 quando o
PAN (Pessoas Animais Natureza) entrou com seu líder André Silva. Quatro
anos depois o deputado com direito a falar um minuto conseguiu aumentar
consideravelmente os votos e formar um grupo parlamentar, de acordo com
as pesquisas de boca de urna. Graças, em parte, a uma exposição
midiática nos debates dos líderes de lista, em que Os Verdes não
aparecem, por estar sob a cobertura do PC.
Durante a
campanha o PAN sofreu fortes críticas da direita e da esquerda, acusado
de fundamentalismo ambiental. Entre suas medidas pedem a proibição da
carne de vaca e do leite, algo que acabaria com a economia de, por
exemplo, as Ilhas Açores. Por sua vez, Silva acusa Os Verdes de ser um
ecologismo caduco e o PC de conservador.
fonte: brasil.elpais.com
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Samuel