A fronteira com o Senegal foi encerrada após o golpe (Julien Tack/AFP).
Com a situação na Guiné-Bissau ainda mergulhada na incerteza, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) reúne-se hoje em Lisboa para discutir uma reacção ao golpe de Estado de quinta-feira à noite.O secretário executivo da CPLP, Domingos Simões Pereira, adiantou à Lusa que o principal objectivo do encontro será “o de continuar a persuadir todas as estruturas, no sentido da preservação da segurança e da integridade física das pessoas que estão sob custódia” – nomeadamente o primeiro-ministro e candidato à presidência, Carlos Gomes Júnior, e do chefe de Estado interino, Raimundo Pereira. Será igualmente prioritário criar “canais de comunicação para permitir a procura de uma solução negociada para a crise”.
Na Guiné-Bissau foi entretanto já esta manhã sinalizado que os líderes da oposição deverão discutir no Parlamento a criação de um governo de “unidade”, como proposto pelos militares que, após o golpe, exigiram assumir as pastas ministeriais da Defesa e do Interior. Esse governo não deverá ter representantes do PAIGC (partido pelo qual Carlos Gomes Júnior se candidatava às presidenciais e nas quais era dado como favorito para a segunda volta de 29 de Abril próximo), é avançado pela agência noticiosa francesa AFP.
Na véspera, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Paulo Portas, defendeu que a CPLP deve adoptar uma postura firme face à intentona militar, a fim de garantir um “triunfo da legalidade”. “Não podemos condescender com um golpe militar que acontece a meio de um processo de eleição do Presidente da República”.
No terreno, a situação permanece calma mas confusa. Depois do recolher obrigatório imposto durante a noite pelo autodenominado “comando militar”, a manhã começou sem incidentes em Bissau: o comércio abriu e é pouco visível a presença de militares nas ruas, adiantam várias fontes. Correspondente daquela agência testemunhava que a vida “retomou o ritmo normal” esta manhã nos bairros populares do centro de Bissau, com “os militares pouco visíveis, com excepção dos edifícios públicos e na sede do partido no poder até à data do golpe”.
Num comunicado divulgado ontem à noite, os golpistas confirmaram ter detido o Presidente interino, o primeiro-ministro e vários membros do seu governo, bem como o chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, António Indjai. Na nota, assinada pelo “Estado Maior General das Forças Armadas”, os militares repudiam “qualquer ação que possa pôr em causa a instauração da ordem e tranquilidade” e referem que todas as estações de rádio privadas vão continuar encerradas.
O golpe de Estado coincidiu com a data prevista para o início da campanha para a segunda volta das presidenciais, mas os golpistas justificam a acção com um “acordo secreto” entre as autoridades nacionais e o Governo de Angola “para aniquilar as forças armadas da Guiné-Bissau”. No documento, os militares referiram não ter “qualquer ambição de poder”, e justificaram o golpe com a missão militar angolana (Missang) que está na Guiné-Bissau desde 2011 com um mandato de capacitação, e que inclui a reforma das forças armadas.
Mais tarde, os golpistas reuniram com partidos da oposição e propuseram a criação de um governo de unidade nacional, adiantaram à AFP membros das formações políticas que participaram na reunião. "Os militares pediram-nos para reflectir sobre um governo de união nacional e a sua composição, mas exigem os cargos de ministro da Defesa e do Interior", disse um dos responsáveis políticos que pediu anonimato.
fonte: publico.pt
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Samuel