Keita anunciou que vai dar prioridade à negociação com os rebeldes tuaregues JOE PENNEY/REUTERS
Adversário do ex-primeiro-ministro na segunda volta antecipou-se aos resultados oficiais e reconheceu a derrota. A forma como decorreram as eleições são um bom presságio para o país, após ano e meio de convulsões.
Ibrahim Boubacar Keita, antigo primeiro-ministro e figura dominante da política nacional, é o novo Presidente do Mali, país que no último ano e meio assistiu a uma rebelião armada, um golpe de Estado, cidades tomadas por grupos jihadistas e a uma intervenção militar estrangeira. As eleições, isentas de violência, foram um bom presságio para a reconciliação nacional, o principal desafio que espera IBK, como é conhecido no país. O desfecho da corrida eleitoral chegou mais cedo do que o previsto. Soumaila Cissé, o ex-ministro das Finanças que enfrentou Keita na segunda volta das presidenciais, reconheceu a derrota na segunda-feira à noite, pouco mais de 24 horas depois do fecho das urnas. Os resultados oficiais só eram esperados na sexta-feira e a surpresa foi ainda maior porque, horas antes, os seus apoiantes tinham denunciado publicamente a existência de fraudes. “A hora não é de polémicas”, disse à AFP o candidato derrotado, explicando que acabava de regressar da casa de Keita, onde fora com a família para “o felicitar e desejar-lhe boa sorte”, “à boa maneira da tradição do Mali”. Um conselheiro explicou à Reuters que ex-ministro decidiu reconhecer a derrota face à grande vantagem de Keita na contagem de votos – terá mesmo vencido em Gao, principal cidade do Norte de onde Cissé é natural. Já nesta terça-feira, o candidato derrotado explicou que não iria contestar os resultados, porque a “fragilidade do país” aconselha todos a terem “um comportamento virtuoso”. Keita não veio ainda a público reclamar vitória, nem reagiu ao gesto do adversário. Mas em Paris, o Presidente François Hollande, revelou ter conversado com ele ao telefone para “o felicitar pela vitória” e garantir que a França “vai continuar ao lado do Mali”. A forma como as eleições se desenrolaram – sem violência nem fraudes maciças – é uma dupla vitória para Hollande que, depois de em Janeiro ter enviado as suas forças para combater os extremistas islâmicos que ameaçavam avançar sobre Bamako, fez grande pressão sobre o governo de transição para que as presidenciais acontecessem o quanto antes. “Tudo o que aconteceu desde a intervenção francesa de 11 de Janeiro, em nome da comunidade internacional, até à eleição de um novo Presidente foi um sucesso para a paz e a democracia”, lê-se num comunicado do Eliseu, divulgado na mesma altura em que fontes próximas de Hollande garantiam à AFP que ele irá a Bamako para tomada de posse de Keita. Na longa lista de afazeres do novo Presidente está a reactivação da economia, a reorganização de um Exército que em Março de 2012 derrubou o anterior Presidente – acusando Amadou Touré de incapacidade na luta contra os rebeldes tuaregues, para logo a seguir ser derrotado por esses mesmos rebeldes – ou o combate à corrupção endémica. Mas nenhuma prioridade é tão grande como a reconciliação nacional. A revolta dos tuaregues fez mais do que dividir o país entre Norte (na mão dos rebeldes, mais tarde suplantados pelos jihadistas) e o Sul (controlado pelo Exército). Agravou as tensões entre as comunidades tuaregues, árabes e negras e provocou o êxodo de milhares de pessoas das suas zonas de origem. Durante a campanha, Keita prometeu formar um Governo o mais abrangente possível e anunciou que dará prioridade a um acordo de paz com os rebeldes, embora rejeite conceder autonomia ao Azawad, como os tuaregues se referem à região que consideram a sua pátria. Um acordo preliminar, assinado em Junho, previa o início de negociações 60 dias após a tomada de posse de um governo, mas o seu desfecho é incerto. Do seu lado, o novo Presidente terá os 12 mil soldados africanos da missão de paz das Nações Unidas e os 3200 milhões de euros prometidos pela comunidade internacional.
fontr: publico.pt
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Samuel