De Henrique Granadeiro a Zeinal Bava, passando por Paulo Azevedo e Fernando Ulrich, sem esquecer José Sócrates, Passos Coelho, Paulo Portas e Cavaco Silva, todos foram ao tapete. Utilizando o seu poderoso manancial de golpes, Isabel dos Santos coloca-os todos em KO.
Por Orlando Castro
Os jabs, ganchos, directos e uppercutes
que usa são apenas uma ínfima parte do arsenal que a Isabelinha tem ao seu
dispor. É obra. O que ela quer tem, tanto em Angola como no estrangeiro (então
no protectorado do MPLA na Europa – Portugal – nem se fala), tem força de lei.
O que está à venda ela compra, o que não
está à venda ela faz com que esteja. É um autêntico tsunami. E não adianta
alertas, protestos, moções de censura ou vigílias. Ela manda e o resto são
cantigas.
É por tudo isto que, mesmo de barriga
vazia, mesmo sabendo que o dinheiro lhes é roubado, os angolanos adoram a sua
Santa Isabel (cada país tem a santa que merece).
Honra lhe seja feita, a filha do
presidente vitalício José Eduardo dos Santos resiste estoicamente à crise
económica. Trata a riqueza por tu, só sabe multiplicar e faz milagres que coram
de espanto qualquer outra santa conhecida.
Embora dizer o que pensamos seja, quando
não é o mesmo que o regime pensa (raramente isso acontece, assumimos), um crime
contra a segurança do Estado e prova de tentativa de golpe de Estado, não é mau
manter a memória alimentada pela verdade.
Importa por isso recordar que Isabel dos
Santos, a filha do Presidente (no poder há 36 anos sem nunca ter sido
nominalmente eleito) José Eduardo dos Santos, mas também filha do Presidente do
MPLA e do Titular do Poder Executivo, é a mulher mais rica de África e também a
mais rica de… Portugal.
Nada a ver (é claro) com o pai
E então como é que Isabel dos Santos se
tornou – não sabemos quantas vezes – milionária? Desde logo porque – graças ao
pai ser o dono do reino – ficava, fica e ficará com uma parte das empresas que
se estabelecem em Angola. É assim. Quando assim não é, o seu pai trata de
mandar fazer leis, decretos e regulamentos que permitam a Isabel facturar sobre
tudo o que entenda. Simples, não é?
Isabel dos Santos assume-se, afinal,
como uma santa e acusa todos os que divulgam mentiras sobre a sua divina
capacidade empreendedora. Tem razão. Aos escravos não assiste a veleidade,
muito menos o direito, de – seja qual for a razão – denegrir a impoluta e
divina imagem e labuta de figuras honoráveis como ela e, é claro, como o seu
pai.
Certo é que Isabel dos Santos é milionária
e que no seu país cerca de 70% dos habitantes vivem com menos de 2 dólares por
dia. A Forbes escreveu em tempos que “é uma rara janela para a mesma trágica
narrativa cleptocrática em que ficam presos muitos outros países ricos em
recursos naturais”. O resultado viu-se. Isabel comprou a Forbes.
José Eduardo dos Santos, Presidente de
Angola desde 1979, é o chefe de Estado que governa há mais anos sem ser um
monarca propriamente dito. Assim sendo, e com o apoio da comunidade
internacional que prefere negociar com ditadores (dos bons, é claro!) do que
com democratas, inclui a família em todos os grandes negócios feitos em Angola
ou com Angola. Nada mais transparente.
É uma forma de extrair dinheiro do seu
país, enquanto se mantém à distância, de maneira formal. Se for derrubado, pode
reclamar os seus bens, através da sua filha. Se morrer enquanto está no poder,
ela mantém o saque na família.
Não se sabe com rigor em que negócios
Isabel dos Santos está, de facto, metida. Mesmo assim, tem posição
preponderante e decisiva na Endiama, a empresa concessionária da exploração
mineira (criada por decreto… presidencial, que exigia a formação de um
consórcio com parceiros privados).
Os parceiros privados da filha do
Presidente, que incluíam negociantes israelitas de diamantes, criaram a Ascorp,
registada em Gibraltar. Na sombra tinha o negociante de armas russo Arkadi
Gaidamak, um antigo conselheiro do Presidente seu pai durante a guerra civil de
1992 a 2002. Tudo bons rapazes, igualmente impolutos e honoráveis cidadãos.
O escrutínio internacional dedicado aos
‘diamantes de sangue’ aconteceu no mesmo período em que Isabel dos Santos
transferiu a sua parte do negócio para a mãe, uma cidadã britânica. Tudo
continua em família. Antes do Povo está o clã Eduardo dos Santos. Obviamente.
Além dos diamantes, também continua a
ter posição basilar na Unitel, a primeira operadora de telecomunicações privada
em Angola que – novamente por decreto… presidencial – foi presenteada a Isabel
dos Santos.
A parceria com o homem mais rico de Portugal,
Américo Amorim, levou-a para áreas financeiras, através do banco BIC, e
petrolífera, através da Amorim Energia e dos seus negócios na Galp e com a
Sonangol. Sucesso garantido. Como garantido foi o investimento de 500 milhões
na portuguesa ZON e explica também como Isabel dos Santos acabou por ficar à
frente da cimenteira angolana Nova Cimangola, Mais uma vez por via dos negócios
com Américo Amorim.
Do ponto de vista mediático, mesmo no
âmbito da Educação Patriótica que o regime pretende dar a todos os angolanos
desde a barriga da mãe até à morte, Isabel dos Santos é a heroína do reino.
Prova disso é dada pelo Pravda do regime (também conhecido por Jornal de
Angola) que escreveu: “Estamos maravilhados por a empresária Isabel dos Santos
se ter tornado uma referência do mundo das finanças. Isto é bom para Angola e
enche os angolanos de orgulho.”
A compra de Portugal
Desde 2008 que a rainha santa Isabel dos
Santos tem vindo a acumular um autêntico império em Portugal. Nada de anormal.
Segundo o português Diário Económico, a esposa de Sindika Dokolo, recentemente
medalha de ouro das “olimpíadas” demagógicas da Câmara Municipal do Porto, tem
investimentos directos na banca, nas telecomunicações, na energia e no
imobiliário, e indirectos em quase tudo o resto. Diz o jornal que já investiu
um total de três mil milhões de euros em Portugal.
A mais recente chocadeira foi a compra
da Efacec Power Solutions pela módica quantia de 200 milhões de euros. Isabel
dos Santos, indiferente à crise petrolífera do país onde o seu pai é rei,
continua a não ter dificuldades em descobrir onde chocar os ovos de ouro.
Admitem os observadores que, ao comprar
a Efacec, a rainha santa pretende transportar o centro de gravidade da
multinacional para Angola, beneficiando das competências de engenharia do grupo
que também actua nos sectores da energia, ambiente, serviços e transportes em
vários países africanos, americanos e asiáticos.
Feitas as contas, as participações de
Isabel dos Santos em empresas cotadas em Portugal valem mesmo um montão de
pipas de massa (bem mais de três mil milhões de euros), somando-se ainda os
investimentos pessoais no sector imobiliário.
Nascida em 1973 em Baku (Azerbaijão,
ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a URSS), Isabel é a primeira
filha de José Eduardo dos Santos, um presidente que é um sério candidato a um
qualquer Prémio Nobel e, igualmente, uma figura cuja visão é muito superior –
segundo os seus súbditos – a Amílcar Cabral e Nelson Mandela.
Perante a separação dos pais (a mãe é a
jogadora de xadrez russa Tatiana Kukanova), Isabel foi viver com a mãe em
Londres, onde estudou engenharia no King’s College, e conheceu o seu futuro
marido, Sindika Dokolo, com quem se casou em 2002.
Nessa época, contam os cronistas do
reino, Isabel abriu o seu primeiro negócio, um bar na baía de Luanda. Terá sido
nos recantos desse negócio que descobriu a mina ou chocadeira que a
transformaria na mulher mais rica do continente africano… e arredores.
Os cronistas anti-regime (pobres e mal
agradecidos) falam que o autor do milagre é, isso sim, o seu pai que, no uso
dos seus poderes (que gosta de dizer que são democráticos), tem uma comissão em
tudo quanto envolva dinheiro. Em Abril de 2015 foii notícia que todos os
investimentos superiores a 10 milhões de dólares serão exclusivamente
tramitados pelo Presidente da República
Socialismo? O que é isso?
A ideologia socialista/comunista de
Eduardo dos Santos só durou até o final dos anos 1990, altura em que já tinha
quase 20 anos de comando do regime. Foi então que, por obra divina, abraçou o
capitalismo e começou a assinar contratos de concessão com o capital privado
estrangeiro para a exploração dos inesgotáveis recursos naturais que deveriam
ser de todos mas que, obviamente, passaram a ser seus e dos seus comparsas.
Por alguma razão, segundo a organização
Transparency International, no mundo há apenas 10 países mais corruptos do que
Angola. Luanda desmente. E tem razão. O que o mundo chama de corrupção é, de
acordo com o regime, uma forma normal de negociação entre quem pode e quem
precisa.
Isabel dos Santos, como bem defendem os
cronistas e arautos do regime, rejeita as insinuações de que seus negócios
estão muito relacionados com a presidência vitalícia do seu pai. Faz sentido.
Importa não esquecer que, como ela disse ao “Financial Times”, aos seis anos de
idade vendia ovos como uma qualquer zungueira dos nossos dias.
O seu marido, o tal a quem o presidente
da Câmara do Porto, Rui Moreira, atribuiu a medalha de ouro da cidade, é mais
assertivo quando fala da Isabel: “É muito tranquila e muito estável, gosta de
ter uma perspectiva a longo prazo. Possui três qualidades que a transformam na
grande força de Angola: autoconfiança, estabilidade e ambição.”
Registe-se como epílogo parcelar, que
Isabel dos Santos é uma digna sucessora da mulher do rei português D. Dinis, a
rainha Santa Isabel, que se tornou célebre – ao contrário da mulher mais rica
de África e uma das mais ricas de todo o mundo – pela sua imensa bondade em
relação aos necessitados.
A diferença está em que, para a “nossa”
santa, os necessitados são apenas os que, como ela, roubaram e continuam a
roubar o dinheiro que pertencia ao Povo.
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Samuel