O presidente da UNITA, Isaías Samakuva, considerou hoje que Angola vive uma crise económica, financeira, política e social, agravada com as frequentes violações aos Direitos Humanos, pelo que as críticas da comunidade internacional são “um direito”.
Por Maria Caluquembe
Não serão também um atestado de incompetência ao regime esclavagista de sua majestade o rei de Angola, José Eduardo dos Santos, e aos partidos da Oposição – sobretudo os que têm representação parlamentar – que se limitam a reagir em vez de agir?
Em declarações à agência Lusa, no final de uma reunião da Comissão dos Negócios Estrangeiros da Assembleia da República portuguesa, em Lisboa, Isaías Samakuva criticou também a postura de Luanda que acusou Portugal ingerência nos assuntos internos angolanos.
Por outro lado, defendeu que as violações dos Direitos Humanos não são só de hoje, mas desde sempre, pelo que a detenção, julgamento e condenação dos 17 activistas angolanos não é causada pela actual crise que assola o país.
“A UNITA tem denunciado constantemente a violação de direitos humanos pelo Governo angolano. Além do caso dos activistas, que é bastante badalado, há várias outras violações de que não se fala mas que acontecem praticamente desde sempre em Angola”, afirmou Isaías Samakuva.
Segundo o líder do maior partido da oposição, a UNITA “tem adequado a sua voz” para pedir a atenção da comunidade internacional para as violações “que persistem”.
“A crise que se vive em Angola é de tudo – do Estado de Direito, do sistema democrático, económico, de tudo. A prisão dos activistas não tem nada a ver com esta crise económica. A situação é de crise económica, financeira e social, com dimensões políticas, porque o descontentamento resultante das exiguidades que existem transformam-se em reivindicações que acabam por ser políticas”, sustentou Isaías Samakuva.
Questionado sobre as críticas frequentes feitas em editoriais do estatal Pravda, Jornal de Angola, à alegada ingerência de Portugal nos assuntos internos angolanos, Isaías Samakuva lembrou que o país é parte integrante da comunidade internacional.
“Angola faz parte da comunidade internacional e, no caso de Portugal, partilha a presença com os países de Língua Portuguesa. Os compromissos que Angola assume no quadro das organizações e da própria comunidade internacional exigem da parte da própria comunidade internacional também o pedido de algumas explicações para se saber o que se passa”, afirmou.
“Achamos que é o que acontece. As acusações de interferência vemo-las apenas como o direito da comunidade internacional exigir do seu parceiro o cumprimento dos compromissos internacionais que assumem”, frisou o líder da UNITA.
A Oposição em geral e a UNITA em particular está no meio de um complicado fogo cruzado. Mesmo nada fazendo é sempre culpada de tudo fazer. Já começou a reedição da velha história de que o Galo Negro tem armas escondidas em paióis dispersos pelo país, ou até mesmo à divulgação da prisão de militantes com armas na mão. O recente caso da Kalupeteka e da tentativa oficial de a ligar à UNITA é, só por si, prova de que o regime não olha a meios para atingir os seus fins.
Os angolanos estão assim, como era esperado, entre a espada e a parede. Se nada fizerem continuarão a ser enxovalhados, se reagirem vão ser acusada de estar a fomentar a rebelião, de acções terroristas, ou até mesmo de estarem a preparar uma nova guerra.
Também não deixa de ser verdade que a UNITA está mais virada para o seu umbigo do que para a barriga vazia dos angolanos, mais (ou totalmente) disposta a escorraçar os que pensam de forma diferente, mais preocupada em reagir do que em agir.
Almeida da Silva Pinheiro, politólogo brasileiro, diz que “salvo muito raras excepções, a UNITA está desde 2002 a interpretar na perfeição o papel teatral que lhe foi destinado pelo MPLA, ou seja o de fingir que actua mas estando, de facto, acomodada no seu luxuoso canto”.
“Ao contrário de Jonas Savimbi, Isaías Samakuva não faz questão em dizer e mostrar com o seu exemplo que é preferível ser livre de barriga vazia do que escravo com ela mais ou menos cheia”, considera Almeida da Silva Pinheiro.
O politólogo reconhece que, contudo, “a missão dos partidos da Oposição em Angola é muito complicada porque, por experiência própria, em alguns casos dramática, sabem que a luta é desigual e que o regime tem um poderia bélico capaz de em pouco tempo transformar em pó todos os que se lhe opõem”.
Almeida da Silva Pinheiro também é da opinião que a solução está nas mãos do Povo: “Só uma sublevação popular conseguirá alterar o curso da situação, não que seja condição sine qua non para o regime cair, mas porque poderá levar as Forças Armadas a reagir contra as injustiças que, acredito, também preocupam os militares”.
“Até mesmo no estrito âmbito político, diz Almeida da Silva Pinheiro, não se compreende a estratégia da UNITA. Neste âmbito tem ido de derrota em derrota, parecendo que espera ansiosamente pela derrota final. Digamos que, de forma caricatural, Isaías Samakuva quer ganhar a “guerra” com comandantes que ao primeiro tiro passam para o outro lado”.
Diz-nos a história recente, que a direcção da UNITA não gosta, um pouco à semelhança do próprio MPLA, de quem pensa de maneira diferente. O sacrificado povo angolano, mesmo sabendo que foi o MPLA que o pôs de barriga vazia, não viu, não vê e dificilmente verá na UNITA a alternativa válida que durante décadas lhe foi prometida.
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Samuel