Antes de mais deixe-me dizer que já tive uma má experiência com o jornal O PAÍS, o jornal já me tinha entrevistado, uma vez destas… eu não gosto de entrar no jogo que põe a FNLA, ela própria, frente a frente, eu não me presto a este tipo de jogo. O jornalista que me tinha entrevistado, já não me lembro de quem foi, disseme que seria uma entrevista para explicar determinadas situações e eu chamei-lhe a atenção: se neste jornal aparecer o Kabangu a contrapor o que digo eu vou denunciar isto, não é correcto; se querem entrevistar o Ngola Kabangu entrevistem-no quando e como quiserem, ele é livre de dizer o que quiser, eu também sou livre de dizer o que quero, mas não quero que ele reaja à minha entrevista. Não me presto a este tipo de jogo. Mas, finalmente, o nosso jornalista acabou por fazer o que lhe tinha pedido que não fizesse. Esta é a atenção que lhe chamo.
Neste momento estamos numa nova fase. Recorremos todos aos tribunais, obtivemos respostas… ou em Angola há instituições que devem ser respeitadas ou não há e estamos todos à toa dentro deste país. Mas um país sem justiça como vai? Cada um manda e ninguém faz nada. Portanto, temos que cumprir com as decisões saídas do Tribunal. O Tribunal analisou profundamente a questão, tanto que são dez anos que durou o processo nos tribunais e agora temos o resultado.
Vamos começar exactamente por aqui. Era inevitável que corresse tanto tempo nesta crise da FNLA, não haveria forma de se mostrar flexibilidade nos vários lados da FNLA?
Esta questão remete-nos há uns dez anos atrás, são aquelas questões que surgiram no princípio… se era inevitável… bom, penso que em todos os conflitos começam sempre por conselheiros (a busca de solução), passa-se à mediação e da mediação passa-se ao sistema de arbitragem. Nós passámos por tudo isto e vimos toda a gente também, todos, as entidades conceituadas, desde bispos… e a iniciativa foi sempre nossa, mesmo no tempo em que o velho estava em vida. Nós não temos aqui nenhuma carta, ou do falecido velho, ou do outro irmão que está aí a dizer “irmão, vamos ver se resolvemos este problema”. Todas as cartas que existem, mesmo em tribunal, são cartas que nós escrevemos, para tentar. E esperávamos que os outros tivessem o mesmo gesto. Mesmo quando o processo chega à Assembleia Nacional, essas propostas foram feitas por nós. Os mediadores foram nossas propostas; por exemplo, quem indicou o padre Kondjimbi fui eu, quem indicou o Dom Kahango sou eu. Indiquei-o porque sou amigo do Dom Kahango e o velho era amigo também do Dom Kahango, era nosso amigo comum, que nós estimamos e temos muito respeito. Ele aceitou…
Havia amizade, antes da crise entre si, Holden Roberto e Ngola Kabangu? Uma amizade que se deterioraria com as posições de cada um ou nem por isso?
É que onde há amizade as coisas resolvem-se mais facilmente…
Acabou de falar na amizade que os unia a Dom Kahango…
Mas o debate em torno da crise, qual é o vosso interesse?
Não quer esclarecer as pessoas que não sabem, que querem compreender melhor?
O senhor tem uma posição, Ngola Kabangu tem a sua, há que colocá-las para esclarecer…
Não se pode negar a crise…
Não vai impugnar, ou inviabilizar, por exemplo, o congresso que Ngola Kabangu está a preparar?
Isto é questão para o Tribunal que faz cumprir as suas leis, eu vou impugnar o quê?
O congresso será feito em nome da FNLA
Quem proíbe o Ngola Kabangu de realizar o congresso ou qualquer actividade em nome da FNLA, fora do grupo parlamentar, é o próprio Tribunal. Há o acórdão 135…
Não o inquieta que se esteja a realizar um congresso em nome do seu partido?
Tribunal perguntar porquê que os senhores decidiram assim? E o Tribunal deveria dar todas as explicações. Não é o Lucas Ngonda. O Lucas Ngonda está aqui para cumprir as determinações do Tribunal. Mas ainda pergunto, qual é o interesse que vocês têm? Este vosso jornal O PAÍS, eu sei que n’O PAÍS nós não temos amigos, não temos amigos n’O PAÍS. Não precisamos de ter amigos, mas jornalistas que tratem as questões cientificamente, jornalistas que estejam à altura do jornalismo que nós conhecemos no mundo. Agora o jornalismo de intrigas e não sei quantos mais, eu não sou muito amigo disso. É a minha posição pessoal, não é arrogância da minha parte, mas sempre fui assim. E eu não tenho nada a esconder, sou aquilo que sou. Em toda a vida fui assim, não dou falsas aparências, quando não gosto de uma coisa não gosto. E isto quer dizer que o vosso jornal quer aparecer outra vez Lucas Ngonda disse, Ngola Kabangu disse… isso não. Isto foi a razão porque chamei a atenção, se a intenção é esta, esta entrevista já não tem razão de ser.
Estamos aqui para o ouvir e fazer perguntas, é uma entrevista.
Exactamente. Sé há outro tipo de questões posso responder, mas se volta tudo ao … eu já não tenho mais que falar do Ngola Kabangu… Não falemos de Kabangu, falemos do grupo parlamentar que ele dirige, nas suas relações institucionais com o Parlamento. Como encara a questão do grupo parlamentar da FNLA?
FNLA não tem deputados
“… e no caso da FNLA, um partido político reconhecido pelas instituições do Estado, não tem deputados no parlamento e os deputados avançam posições que não são as do partido, esta questão o próprio parlamento é que deve reflectir, não somos nós”.
Isto complica a mensagem que a FNLA quer passar à Nação, tem de agir fora do parlamento, fica complicado para si…
Se os partidos políticos representados no parlamento são estes partidos que devem opinar sobre as grandes questões da Nação, e no caso da FNLA, um partido político reconhecido pelas instituições do Estado não tem deputados no parlamento e os deputados avançam posições que não são as do partido, esta questão o próprio parlamento é que deve reflectir, não somos nós.
Não se deveria dizer que a FNLA tem, de facto, deputados no parlamento, eleitos em nome da FNLA, mas…
Mas em dissonância com a direcção do partido, infelizmente...
Os senhores tiveram há dias a segunda reunião do comité central, reuniram o bureau político… não é pouco para uma organização?
Não transmite a ideia de haver pouco contacto com as bases?
• Olhando para os dados, o que se encontra reportado nestes anos são duas deslocações para fora de Luanda, uma ao Uige e outra a Benguela.
Eu já me desloquei várias vezes, eu já fiz deslocações, no quadro do exercício da minha profissão, contactar militantes e tudo em Cabinda, várias vezes. Nunca a imprensa referiu-se a isso. No quadro da sua profissão, mas não tem tido acções partidárias, de massas, mais abertas… Acções de massas mais abertas tivemos em Benguela. Estivemos em Ndalatandu, estivemos agora no Uige, mas também aqui a imprensa não disse nada. Fizemos isso, inclusivamente visitei as autoridades. Em qualquer um desses actos visitei as autoridades provinciais e isso não saiu nos jornais, na rádio não saiu. O vosso jornal até, em certas acções, não tinha nascido ainda, não havia O PAÍS. Então, quer dizer que esta questão que está a levantar deve ser posta ao comportamento da vossa profissão em relação aos partidos políticos da Oposição.
Sabe porquê?
E não pode ser do vosso comportamento em relação à imprensa?
Então o problema não é da FNLA, o problema é da vossa filosofia…
Acha que há um complot contra a sua direcção?
Mas a impressão que tenho da nossa imprensa, no geral, porque há órgãos de informação que já estão a tentar especializar-se, quando emitem uma opinião, a gente lê, aqui há jornalismo. E há outros que quando emitem uma opinião a gente vê que não é o jornalista que está a falar, é alguém que quer avançar um boato qualquer, e grande parte do jornalismo angolano é assim. Quer o jornalismo falado como o jornalismo… a única informação que é importante é aquilo que o Bento Bento fez, é aquilo que o comité do MPLA fez não sei aonde… aquilo pode passar uma semana.
Isso não é culpa da própria FNLA, partida… o que se soube da FNLA é aquilo que o senhor não quer falar, a tal crise.
Dão outro motivo?
Mas o normal nos partidos é ter uma única direcção, uma voz…
Hoje…
Se os tribunais de Angola não têm valor, isso não é problema do Lucas Ngonda… Porquê que a reunião do comité central foi no CICA, Hoji Ya Henda, em vez do Futungo, como noutras vezes? Qual é esta insinuação? Porquê que temos de nos reunir sempre no Futungo, o Futungo nos pertence?
É hábito
O secretário-geral, sabe o que tinha sugerido? Foi ideia dele, nós não tínhamos lugar para nos reunirmos em 2006, é aquele senhor que está aí… ele tinha um amigo e disse que no Centro do Futungo recebem religiosos, recebem todos e que, também, é barato.
Então nós fomos lá parar, não tínhamos meios e, como era mais barato albergarmos lá toda a gente que vinha das províncias e os nossos militantes, então conseguimos, efectivamente, resolver o problema. Mas não houve porque é o MPLA que nos deu isso.
Isso só passa na cabeça da imprensa intriguista. E porquê que não fizeram uma investigação aturada, científica, para apurar a verdade? Interessa-vos só o boato disso e daquilo, aí é que está o problema. Já nos reunimos na FILDA, a FILDA pertence a quem? Não pertence ao MPLA? O Arquivo Histórico não pertence ao MPLA? Estes talatonas, tudo, não são do MPLA? Então onde é que está o mal? Isso é intriga, pura e simplesmente, não é outra coisa. E isso não é fazer jornalismo. Andar atrás deste tipo de problema é complicar o problema de Angola.
E, sobretudo, levantam-se acusações gratuitas, o que não é correcto, não tem qualquer fundamento, mas como o que a imprensa diz é o que é acreditado… como se diz em França, le jornal a escrit e não sei quantos mais… não é um bom jornalismo assim, porquê que nós tínhamos de ir outra vez ao Futungo? Não temos de ir outra vez ao Futungo, encontramos, consoante as possibilidades… até porque nos teríamos reunido no Kimbango, mas eles, à última da hora, precisaram da sala.
Era para irmos ao Museu de História Natural, mas tudo estava fechado, a Liga Africana também estava ocupada, fomos parar ao Hoji Ya Henda, estava livre. A nossa reunião não poderia ser adiada outra vez por falta de sala. Não é questão de simpatia desta ou daquele, é uma questão de oportunidade e dos meios de que dispomos.
‘Queremos homens honestos, patriotas’
“Nós fizemos um despacho a suspendê-los de todas as actividades por indisciplina qualificada e levamos o problema ao comité central que analisou tudo e disse que o Pedro Gomes não pode ser suspenso, nem expulso…”
Entretanto, esta reunião, entre outros, criou um facto de interesse jornalístico que foi a suspensão de dois militantes… Dois não, mais.
Mas dois são militantes importantes mesmo, o Carlinhos Zassala e a senhora Fernandes.
E isso não vai abalar ainda mais o partido quando deveria juntar as forças?
Não. Juntar as forças mas separando o trigo do joio. Isto é importante, para qualquer força política. Vamos ver as histórias de todas as forças políticas… o senhor Carlinhos Zassala, por exemplo, nós o recebemos de braços abertos, trabalhámos com ele durante um certo tempo, como irmão, e quando eu me deslocasse para a Europa, das duas vezes em que me desloquei, eu designei-o para ficar no meu gabinete e no site estava mesmo como conselheiro do presidente do partido.
E a este título nós trabalhámos juntos.
Porquê? É que nós estávamos a pensar no sentimento da irmandade, da unidade do partido. Isto satisfazia-nos, porque, de facto, nós queremos, até hoje, é trabalhar com pessoas sinceras, com pessoas honestas e responsáveis. Zassala não foi honesto nem responsável?
Primeiro começou a criar dificuldades para o congresso, acabámos por ir a congresso, com todas as precauções que a mediação tinha tomado…
E o senhor ganhou o congresso, foi eleito…
Fomos ao congresso, cuja preparação obedeceu a todos os critérios das exigências de todos os candidatos, todos. E um dos grandes exigentes é o Dr. Zassala. Obedecemos todos os mesmo critérios. Realizaram-se as eleições, ele reconheceu o congresso, reconheceu quem ganhou as eleições, as declarações os senhores escreveram, como jornalistas, estão lá nos vossos jornais, é uma questão de irem ver… ou se omitiram não sei, mas pelo menos na altura eu li as declarações de cada um dos candidatos. E pela primeira vez um partido político teve quatro candidatos, qual é o partido em Angola que já fez isso? A UPA, a FNLA, é sempre o partido da primeira hora.
Fica registado na história dos partidos políticos que nós fomos os primeiros, em Angola, com quatro candidatos.
Porque queríamos terminar com toda a confusão, dois dos candidatos eram mandatados pelo nosso irmão. Um deles é o Fernando Pedro Gomes, o outro é o Miguel Damião que fazem parte do comité central e da direcção dele. Vão lá se candidatar… e vieram.
Nós aceitámos. O Zassala também fazia parte do comité central e do bureau político de lá. Os três candidatos vieram de lá. E nós aceitámos isso.
Porque pensávamos que estávamos a fazer a unidade do partido.
Findo o congresso, fomos ao comité central, organizámos a nova direcção do partido, onde o irmão Carlinhos Zassala ficou como secretário para a educação e cultura, tomou posse, temos o acto de posse assinado por ele. Todos esses que foram nomeados tomaram posse. Se tomaram posse deveriam trabalhar. Nunca puseram os pés no partido. Qual foi a minha constatação… eles fizeram uma reunião e decidiram que passariam a ser a direcção do partido, que esta direcção já não tinha valor nenhum. Ressuscitaram uma comissão catalisadora que não existe em nenhum lado dos estatutos. Catalisar mais o quê? Então esta pessoa está à procura de quê? Vai continuar nas instâncias do partido? Não. Nós fizemos um despacho a suspendê-los de todas as actividades por indisciplina qualificada e levamos o problema ao comité central que analisou tudo e disse que o Pedro Gomes não pode ser suspenso, nem expulso… Porquê?
Não acha mesmo que estas medidas, tão perto do processo eleitoral, vão, de alguma forma, fragilizar o partido?
Não?
Não.
São homens que fazem opinião…
O que fragiliza é termos dirigentes que não trabalham e que passam a vida a fazer intrigas no seio do partido. E é isso que nós, doravante, não queremos. Queremos homens honestos, patriotas, que conheçam, de facto, a situação do partido e que estão de acordo com o trabalho do partido que queremos fazer. Se for a eleições em 2012, sem Carlinhos Zassala, sem Laíz Eduardo, sem Ana Maria Fernandes, não sente que perde alguns capitães?
Penso que não. Os que foram suspensos por razões disciplinares, talvez, mas os que saíram voluntariamente, a FNLA não pode obrigar alguém a ser seu militante, não podemos dizer ao senhor jornalista que … Mas eles podem arrastar votos para fora …
O acórdão do Tribunal é deste ano, tem agora de renovar esforços para atingir os seus objectivos, havendo sempre obstáculos, certamente… na política temos, digamos, sempre adversários…
Nós somos o primeiro obstáculo?
Sim senhor!!!
O primeiro obstáculo é a imprensa…
E o que pensa fazer para vencer este obstáculo?
E o seu grande adversário neste momento?
Não tem adversários políticos?
Quem é o seu grande adversário?
Daqui só vai sair o que diz…
‘Podemos fazer é uma apreciação daquilo que o mPLA está a fazer como governante do país”
“Não haverá um partido político que assuma o poder em Angola e vá recusar a reconstrução nacional começada pelo mPLA”.
O MPLA é seu adversário?
Nós somos partido de Oposição. A FNLA é um partido de Oposição.
E desde sempre foi um partido de Oposição.
Quais são os principais pontos em que não se encontra com o MPLA, em que é que acha que o MPLA está bem e o que é que acha que está mal?
Ontem, do ponto de vistas ideológico, eles eram comunistas, nós nunca fomos, somos liberais e democratas.
Hoje nos encontramos todos na democracia… para dizer que, finalmente, a FNLA, do ponto de vista histórico, ideologicamente, nós vencemos.
Porque pregamos que a democracia era o melhor sistema de governação dos países. Hoje, o MPLA alinhou-se também no domínio da democracia, nós não mudamos ainda de ideais… agora, se o MPLA mudou nós não sabemos…
Isso quer dizer que agora pensam da mesma forma?
E quais são, para si, os principais erros da governação do MPLA?
Pergunto-lhe porque não tendo consonância com o grupo parlamentar terá de fazer mais oposição visível cá fora, o que vai ser difícil, não?
O senhor lidera um partido que deve ter, obviamente, um plano, uma mensagem para o país. Para um cidadão normal o que lhe diz, quais são os ideais da FNLA para Angola neste momento?
Como vê Angola, como a pensa, no programa da FNLA... se quiser o meu voto, como me convence?
E o MPLA está a conduzir bem a reconstrução?
Não penso que alguma força política se recuse a isso. Agora as formas de o fazer, os compromissos assumidos para fazer isto, no nosso entender, é aí que os problemas podem existir, mas isso é da responsabilidade de cada partido que estiver a fazer as coisas.
Vê-se a alinhar numa frente mais ampla de Oposição em 2012?
É capaz de integrar uma coligação?
Tem de haver elementos de apreciação…
Temos partidos de Oposição…
Nós sabemos que os partidos de Oposição existem. Cada partido tem os seus ideais. Sabe porque digo isso? Porque eu fui um dos construtores do antigo Conselho Nacional da Oposição. Fui um dos construtores. Fui uma das pessoas que conduziu aquilo ainda no tempo em que tínhamos na retaguarda o velho Holden … e me designou para eu conduzir aquele processo…
Desiludiu-se?
É a partir daí que o Conselho da Oposição também deixou de funcionar, para depois se criar os POC.
Uns foram buscar alguém, não quero citar nomes, outros foram na UNITA, outros entraram na coligação com o MPLA e a FNLA ficou sozinha. Fomos a eleições sozinhos, não tivemos amigos, não tivemos aliados, nas eleições de 1992. Então, eu tenho experiência, é o que estou a dizer…
Então não se vê a coligar-se com outras forças em 2012?
Vai realizar mais um congresso antes das eleições?
É aí que se vai delinear a estratégia eleitoral?
Não trata dos problemas do partido, trata de problemas que têm a ver com situações do momento, com as circunstâncias. Neste caso, as eleições, devem passar pela conferência nacional.
Como é que vai lidar com o problema, que não é apenas da FNLA, que é a dificuldade em recrutar jovens? Mas quem disse a si que nós temos dificuldades em recrutar jovens?
Quem lhe disse que nós temos dificuldades? Sabe porquê que lhe faço esta pergunta? Porque a gente lê os vossos jornais, as insinuações todas…nas províncias domina não sei quem… tudo isso. Mas quem lhe disse que temos dificuldades em recrutar jovens? No dia da nossa Juventude será convidado a aparecer, e o vosso defeito é que não vai aparecer, para ver a verdade à luz do dia. Não vai aparecer, como muitos que nos criticam mas quando os convidamos para um evento não vão, preferem escrever à porta fechada. Nós não temos dificuldades em recrutar jovens, apesar das campanhas que existem aí, daqueles que têm muitos meios, mas nós não temos dificuldades em recrutar jovens, e muito menos ir ao ser encontro, pelo contrário.
Agora, com esta clarificação da situação do partido … é pena não ter vindo de manhã, tivemos cá um grupo de jovens, da direcção. Há dois ou três dias estavam reunidos aqui, a formar as suas estratégias. Estão a preparar uma conferência provincial.
Vão cobrir a conferência provincial e verão se temos ou não jovens. O que vos faz dizer estas coisas? Aí é que está, está um jornalismo científico é importante no país, porque os senhores são os primeiros historiadores.
‘A FNLA vai para ganhar as eleições’ “mas se ainda nós não trabalhamos para isso, isso não é ser muito apressado, começar a dizer o número de deputados?”
Quantos deputados é que o senhor acha que a FNLA elegerá nas próximas eleições?
O homem político tem ambições…
A única coisa que podemos dizer aqui é que a FNLA vai para ganhar as eleições. E ninguém irá lá para perder, vamos aplicar todos os nossos esforços, na dimensão do nosso partido…
Olhando para a história recente da FNLA, para a situação actual do país, qualquer pessoa que o ouça dizer que vai para ganhar é capaz de perguntar se está mesmo a falar a sério.
Eu estou a falar a sério, estou a falar a sério. Porque não? Porque não? Eu tenho confiança no povo de Angola, está a ver? Que nem todos seguem a politização dos jornalistas, não. A politização do dia-a-dia, nem todos seguem. Há povos que têm consciência daquilo que podemos … enfim, não quero tirar outros exemplos. Mas uma coisa é a consciência daquilo que as populações pensam e a outra coisa é aquilo que nós possamos… o julgamento que nós podemos dizer…
Não acha que dá mais votos atacar, claramente, as políticas do governo e divulgar as suas estratégias, os seus pensamentos, que, e nesta entrevista já o fez três ou quatro vezes, atacar os jornalistas?
Eu não estou a atacar o jornalista, estou a dizer aquilo que a gente sente com o jornalismo em Angola. Estou a dizer aquilo que a gente sente. Quer dizer, se nós fizermos estatísticas…
Está sempre aberto a dar entrevistas?
Voltou ao ataque…
O jornal publica tudo o que tem interesse…
E quais são as golpadas?
Isso quer dizer que sente que vai ter dificuldades em passar a sua mensagem durante as eleições, por exemplo, durante os próximos tempos?
Se diz que os jornalistas são o seu adversário…
Não faz parte dos deveres dos partidos e dos políticos terem, as melhores estratégias de relacionamento com a média?
Como está a sua relação com os membros do antigo ELNA?
Os antigos combatentes, nós nunca tivemos relações contrárias com o ELNA…
Tem de se bater por eles
Hoje milhares de pessoas vivem a vida sem conhecerem a história de onde é que este país veio, esses homens que dormiram nos pântanos, nas savanas, a fugir dos bombardeamentos, a fazer emboscadas, a fugir das tropas portuguesas, que situação é que eles têm hoje? Nada! O que é uma pensão de dez mil kwanzas? Não é nada! E que privilégios é que eles têm? Nós gostaríamos que os antigos combatentes, com o seu cartão não pagassem nos meios de transporte, como se passa em qualquer parte do mundo. Nas instituições públicas os antigos combatentes devem ter prioridade, quando vão tratar de papéis. Mas eles metem papéis em todo o lado e não há nada. E ficam aí metidos com garotos e tudo e ninguém os respeita. Nós gostaríamos que o Estado angolano decretasse, que a Assembleia Nacional legislasse, sobre a questão dos antigos combatentes, porque eles ainda não têm os privilégios que deveriam ter. Veja bem, eu falo de antigos combatentes de todos, não falo só dos ex-ELNA, de todos aqueles que tiveram a oportunidade de estar lá, na primeira hora, para lutar pela Independência de Angola.
Devemos-lhes reconhecimento. É a eles que nós devemos homenagear.
E eles estão satisfeitos com a actual situação do país? Se não tem uma casa para dormir onde começa a satisfação? Se não tem um filho a estudar em condições, porque não tem bolsa, a satisfação vai começar aonde? Se não tem um salário condigno, porque ele passou a sua vida a defender o país, hoje tem sessenta, setenta ou oitenta anos; no tempo em que deveria lutar para educar os filhos os filhos não foram educados, de onde é que vai sair a satisfação?
E com a FNLA, eles estão satisfeitos os ex-ELNA?
Eles, como militantes, são parte integrante do partido. Hoje, eu penso que fizeram a leitura que a situação está resolvida e vão continuar num partido que é deles, a lutar para o engrandecimento da FNLA.
Há quem vaticine que a FNLA está num caminho descendente e sem retorno, já desceu muito desde a Independência, em que não assumiu o governo, como gostaria, teve um determinado número de assentos parlamentares em 1992 que baixou em 2008 e isto pode indicar um sinal de não retorno…
Ao ouvir da opinião das pessoas com quem eu convivo, das pessoas que vêm ter comigo, o senhor é o professor Lucas Ngonda? Digo que sou. Avança com o nosso partido, dizem. Esta é uma mensagem que não indica que há uma ordem descendente. Digo-lhe isto não é para enfeites, digo porque isto acontece comigo várias vezes, as pessoas reconhecem-me, param, cumprimentam-me, perguntam o meu nome e, sim senhor, avança com o nosso partido, o nosso partido tem que avançar. Esta é uma mensagem encorajante para mim, pessoas que não conheço. A fase descendente seria se não tivéssemos já militantes, se não tivéssemos a vontade política, se não tivéssemos projecto. A FNLA é um projecto de sociedade.
Quando em 2008 a sua lista não foi autorizada a concorrer às eleições e viu Ngola Kabangu avançar, pensou em desistir?
Não sentiu que estava derrotado?
Está disposto a continuar numa proposta de reconciliação?
Nós não levantamos mais problemas porque … então para que é que serve? O senhor ainda não me disse para que é que servem os tribunais, gostaria de ouvir isso de si, como jornalista conceituado, um homem que escreve, gostaria de ouvir isso de si. Para quê que os tribunais servem?
Não é a mim que cabe responder aqui.
Aí está, mas como cidadão?
Tem um grupo parlamentar que não está em consonância com a direcção do partido.
Mas está em conflito com a lei. A lei é que deve resolver isso.
Não vai para mais uma tentativa de reconciliação?
Os conciliábulos acabaram, porque todos fomos aos tribunais, o Tribunal provocou duas conciliações, primeiro no Tribunal Supremo, nas vestes de Tribunal Constitucional, e depois no Tribunal Constitucional mesmo. Nós avançamos e o próprio Tribunal, antes de começar com os mecanismos de conciliação, disse que tinha todos os mecanismos para decidir sobre o problema, mas se vocês puderem encontrar uma fórmula… esta fórmula não foi encontrada. E o Tribunal acabou por encontrar a sua decisão. Tinhanos avisado. Então vamos nos colocar no lugar do Tribunal? Vamos dizer que aquilo que o Tribunal decidiu não vale? Se ainda não tivéssemos passado por lá poderíamos dizer que não vale a pena procurar o Estado, internamente podemos resolver o problema. Mas estas perguntas devem ser feitas às pessoas que negam a conciliação.
Não teme que os partidários de Ngola Kabangu signifiquem votos fugidos da FNLA, quando for a eleições? Mas isso é absolutamente normal, já será o problema da consciência de cada um deles. É um problema de consciência. Há pessoas que pensam que a FNLA deve ganhar e estes vão votar na FNLA, de certeza. Não têm outro partido para votar, vão votar na FNLA.
‘AFNLA, na sua memória, é um partido de vivos e de mortos’
No próximo ano, no aniversário da morte de Holden Roberto, vai homenageá-lo?
Sim. Eu penso que nós, o partido, fará tudo para homenageá-lo. Nós não tivemos problemas pessoais com o falecido, todos os nossos problemas foram de ordem organizacional. Se está lembrado, quando fizemos o primeiro congresso, de 1999, os congressistas, e nós estávamos todos de acordo, decidiu-se que ele deveria ser o presidente honorário do partido, com todas honras. Ninguém decidiu que como as coisas correram mal, fomos derrotados, Holdem Roberto deveria ser expulso, ninguém pensou nisso. Nós pensamos que e ele continua a ser o patrono deste partido -, a FNLA, na sua memória, é um partido de vivos e de mortos. Nós que estamos em vida estamos a continuar a missão daqueles que não puderam estar connosco aqui.
Ele é o patrono.
Esta homenagem vai fazê-la em Luanda ou vai ao túmulo dele?
Então, provavelmente, no próximo ano vê-lo-emos no cemitério em que está Holden Roberto?
5 de Dezembro de 2011
fonte: opais.net
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