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Defende o futebol há dez anos, nos bastidores de um meio que era exclusivamente reservado a eles. Aos 38 anos, ela assume-se como uma mulher profissionalmente determinada que todos os dias regressa a casa para os braços dos filhos Vicente e Benedita. Conheça Andreia Couto, directora-executiva da Liga de Clubes.
Para início de conversa, nada pior do que endereçar-se à directora-executiva da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) com a formalidade de um "senhora doutora". Avessa ao título, apesar de ser formada em Direito e de possuir três pós-graduações na área, prefere um outro tipo de abordagem.
"Só Andreia, por favor". Pois bem, é Andreia Couto quem assume o cargo mais alto que uma mulher já alcançou no mundo do futebol português. Com capacidade de decisão a partir das cúpulas, a dirigente completa dez anos como parte integrante do organismo que dirige as competições profissionais do futebol nacional.
Primeiro como assessora jurídica, passou pelo cargo de secretária-geral para chegar ao estatuto de "número dois" da Liga. A evolução na carreira espelha a aposta crescente de mulheres num meio que chegou a estar reservado quase em exclusivo a homens.
"No início, houve uma reserva", confessa, em entrevista a Bola Branca. "Fui conquistando, através de trabalho e dedicação, o meu espaço. Hoje, não sinto nenhum estigma de que a mulher não percebe de futebol", frisa, recordando exemplos recentes de mais mulheres nomeadas para cargos de peso no desporto mais apreciado do país.
"Há um mês, foi eleita por unanimidade, pelos clubes, uma mulher para a Comissão de Instrução e Inquéritos [Cláudia Santos]. Outra realidade: a ex-seleccionadora Mónica Jorge é hoje vice-presidente da Federação. As mulheres já conquistaram o seu espaço profissional. Com bastantes dificuldades, deparámo-nos com uma evolução muito grande nas carreiras das mulheres", constata.
E "ela" assume-se perante "eles". Basta perceber o trato com que os dirigentes tratam Andreia numa mera Assembleia Geral de clubes sempre que desejam passar o limite da boa educação em discussões mais acesas.
"O que sinto da parte dos dirigentes é um especial cuidado com as senhoras. É fruto da edução dos homens latinos. Existem algumas palavras mais impetuosas, mas depois segue-se um pedido de desculpas [risos]. Deve-se à emoção que o futebol nos traz. A mim não me choca nada e nunca me senti incomodada com palavras impetuosas", realça a dirigente.
No trabalho, a determinação. Em casa, o carinhoNasceu em Espinho há 38 anos, é irmã de Fernando Couto, um dos mais importantes internacionais da história do futebol português e, no seio da Liga, é olhada com respeito pelos colaboradores. A educação no dia-a-dia alia-se à exigência máxima. Andreia Couto chama-lhe "determinação". É um traço de carácter.
"Sou muito determinada naquilo que faço. Para atingirmos determinados objectivos, não precisamos de estar sempre em guerra mas é preciso saber lidar com tudo para atingirmos os nossos objectivos, sempre em prol do futebol e da sua competitividade", sustenta, rejeitando o rótulo de "mulher de armas", até porque aposta, frequentemente, na defesa de um futebol imune a "guerras".
"O futebol deve viver do espectáculo e os dirigentes devem intervir para explicar e não para criar climas de guerra. A conflitualidade e competitividade fazem parte do futebol e da personalidade latina dos portugueses, mas não podemos levar isso até pontos extremos em que não haja retorno e isso possa levar ao desinteresse dos adeptos", atira.
Em casa, todos os dias, Andreia tem à sua espera, para além do marido, os filhos Vicente e Benedita. O rapaz, de quatro anos, já percebe a importância que a mãe tem. A bebé, de apenas um ano de idade, lá chegará. Certo é que ambos lidam com o mesmo factor que a mãe: a exigência de dedicação constante ao trabalho.
Daí que a conversa passe, indelevelmente, pelo sentimento de exaustão que uma progenitora sente quando tem que se desdobrar em vários papéis. Por outro prisma, o apoio familiar ajuda a compensar pelo lado positivo.
"Pelo facto de ter filhos pequenos, é muito difícil. Pela minha carreira, optei por ter os filhos mais tarde e isso provoca dificuldades. O cargo obriga a horários pós-laborais. Mas tenho um apoio fantástico da família", conclui.
fonte: sapo.pt
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