Beatrice Yardolo, de amarelo, é tida como a última pessoa infectada pelo vírus da Ébola na Libéria
No início deste ano, a Libéria reabriu as suas fronteiras, numa decisão que muitas pessoas pensaram ser prematura, pois o ébola ainda continua a fazer vítimas em Serra Leoa e na Guiné-Conacri. A fronteira entre esses países é uma área tumultuada e difícil de ser controlada, mesmo em momentos de tranquilidade. Agora, os cidadãos lutam para que a doença não regresse ao país.
Existem muitos caminhos e acessos para se atravessar de forma ilegal a fronteira entre a Libéria e a Guiné-Conacri. Apenas numa floresta no norte da Libéria, chegam a existir cerca de 50 caminhos ilegais, dizem os moradores locais.
Antes do início da epidemia do ébola no ano passado, esses caminhos não eram um problema. A maioria das pessoas tem familiares nos dois lados da fronteira e frequentemente cruzavam de um país para o outro muito facilmente.
Agora, a Libéria está próxima de erradicar completamente o vírus, o que faz essas viagens informais se tornarem arriscadas, pois a Guiné-Conacri continua a combater a doença.
Entretanto, o Governo liberiano não tem capacidade para monitorar toda a sua fronteira, diz o inspector do Estado do Nimba Reginald Mehn.
“Você pode até mesmo trazer todo o exército da Libéria aqui para a fronteira, que mesmo assim não pode impedir que um cidadão vá a Guiné-Conacri, porque as pessoas têm familiares lá, se alimentam juntos, fazem as actividades diários juntos. Eles até mesmo falam com o mesmo sotaque”.
Apesar disso, algumas áreas não foram afectadas pelo vírus do ébola. Em Wipah, um vilarejo na fronteira com 7 mil e 500 habitantes, o chefe local Francis Paye disse que não houve nem um único caso da doença.
“Nós não vamos permitir isso. Isso não poderia acontecer. Nós não vamos deixar que pessoas saiam da cidade, nem que pessoas estranhas entrem”.
Paye diz que a comunidade está em alerta máximo desde a notícia de que o ébola atingiu o Estado do Nimba em Julho do ano passado.
“Quando nós ouvimos a notícia na rádio, todos ficamos assustados. Quando se ouve notícias assim, as pessoas fogem. Eles disseram que a doença está na Guiné-Conacri, ou Serra Leoa. Para onde nós vamos? Nós só podemos ficar sentados aqui, preocupados sobre para onde ir ou o que fazer”.
Com muitos problemas financeiros, o Governo liberiano não consegue prestar ajuda a todo país e depende de auxílio internacional em áreas como a educação.
Fundada pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, a ONG Mercy Corps criou uma rede de 70 grupos locais que informam os cidadãos da Libéria sobre a doença. Eles contratam cidadãos locais, o que faz com que as comunidades confiem mais na sua mensagem.
Jzohn Alexander Nyahn, director executivo da Chess, ONG local que opera na cidade de Wipah, diz que trabalhar com a comunidade é a melhor maneira de lutar contra o ébola.
“Eu pessoalmente não acredito que, se nós fecharmos a fronteira, isso irá parar o alastramento do ébola. As pessoas estão muito próximas, vão aos mercados e clínicas de saúde que estão mais próximos. E quando eles viajam, você não sabe se a pessoa é da Guiné-Conacri. Eles falam o mesmo dialecto que nós falamos em Nimba”.
Jovens liberianos de dentro e fora de Wipah informam os residentes sobre o ébola todos os dias. Eles vão de porta em porta, respondem questões, acalmam os cidadãos e também organizam grupos de discussão todos os meses.
Ao que tudo indica está a funcionar. Algumas semanas atrás, uma mulher que sofria de cancro procurou ajuda de um curandeiro tradicional na Guiné-Conacri. Ela morreu poucos dias depois de regressar da fronteira. Os cidadãos de Wipah ficaram alarmados e chamaram as autoridades, com medo de que ela tivesse contraído o ébola.
É com esta atenta vigilância que os liberianos contam para manter o vírus mortal fora da sua cidade até o ébola deixar de ser uma ameaça.
# VOA
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Samuel