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segunda-feira, 10 de maio de 2021

ANGOLA: Em memória de Raúl Danda.

NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!...

Numa altura em que alguns dos altos dignitários do MPLA fingem elogiar Raúl Danda (o que é fácil porque ele morreu), recorde-se que, em Setembro de 2017, o então vice-presidente da UNITA afirmou que existia uma relação de verdadeira dependência de Portugal em relação ao MPLA e que isso “não era bom”.

Por Orlando Castro

“O facto de lá para trás Portugal ter colonizado Angola não devia fazer com que se jogasse um papel mais ou menos inverso, que é o que eu observo. Se surge um órgão de comunicação social a falar de um membro do Governo [angolano], uma alta figura na hierarquia do MPLA, zangam-se, fazem uma birra que nem crianças, agora não queremos mais Portugal e Portugal verga. Quando Angola diz que a ministra não vem, agora não queremos, Portugal verga. Quando gritam agora podem vir para vir à tomada de posse (do novo Presidente, João Lourenço), Portugal verga”, disse Raúl Danda em entrevista à agência Lusa.

Para o então dirigente do maior partido da oposição (que o MPLA ainda permite que exista em Angola), “por uma questão de dignidade, a determinada altura é preciso que olhemos para os outros de igual para igual”.

Actualmente, existe “uma relação de verdadeira dependência de Portugal em relação a Angola” e isso “não é bom”, repetiu com toda a oportunidade e sentido de verdade Raúl Danda, rejeitando que estivesse apenas em causa a defesa dos interesses dos portugueses que investem e trabalham em Angola.

“Neste momento, Angola precisa de Portugal e Portugal precisa de Angola. Não pode ser uma situação em que uns impõem as coisas como se os outros fossem os eternos necessitados. (…) Há angolanos que trabalham em Portugal e há portugueses que trabalham em Angola. Isto ficou uma aldeia global,” disse Raúl Danda.

O vice-presidente da UNITA apontou, por exemplo, o facto de Angola ter condenado a notícia na imprensa portuguesa da constituição como arguido do então vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, por corrupção activa.

Numa reacção sobre o assunto, em Fevereiro de 2017, o Governo do MPLA (no poder há 45 anos com a conivência dos diferentes governos portugueses) considerou “inamistosa e despropositada” a forma como as autoridades portuguesas divulgaram a acusação ao ex-vice-presidente de Angola, alertando que essa acusação ameaçava as relações bilaterais.

No mês seguinte, o então ministro da Defesa angolano e candidato do MPLA às eleições (não nominais) de Agosto de 2017, em que foi “eleito” presidente por ser o cabeça-de-lista do partido que já vencera as eleições mesmo antes da votação, João Lourenço exigiu “respeito” das autoridades portuguesas às “principais entidades do Estado angolano”, admitindo que as relações bilaterais estavam “frias”.

Na sequência deste facto, ficou adiada “sine die”, a pedido do MPLA, a visita da ministra da Justiça portuguesa, Francisca van Dunem, a Angola, anunciada, em Luanda, pelo ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Augusto Santos Silva, durante a sua deslocação a Angola, em Fevereiro desse ano, e que estava prevista entre 22 e 24 do mesmo mês. Na altura também não se concretizou a anunciada visita a Angola do primeiro-ministro português, António Costa.

Assumindo-se como Presidente do “protectorado” do MPLA a norte de Marrocos, Marcelo Rebelo de Sousa esteve presente na posse de João Lourenço, a quem – aliás – felicitara pela vitória mesmo antes de serem oficialmente conhecidos os resultados. O que, compreende-se, não era estranho porque o vencedor já era conhecido pelos principais areópagos partidários de Lisboa muito antes da votação.

O chefe de Estado português (tal como António Costa um velho e querido amigo do MPLA) não só confirmou a sua presença na tomada de posse do recém-eleito presidente angolano como garantiu nunca se sentir desconfortável quando defende os interesses de Portugal.

“Nunca me sinto desconfortável quando defendo os interesses de Portugal”, frisou o Presidente português, depois de confrontado com as acusações do vice-presidente da UNITA, Raúl Danda. É de crer, aliás, que se o MPLA autorizar, Marcelo Rebelo de Sousa terá a lata suficiente para mandar uma mensagem de pesar ao Presidente da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, pela morte de Raúl Danda.

Marcelo Rebelo de Sousa recordou, a propósito, que as diversas forças políticas concorrentes às eleições em Angola reconheceram a vitória do MPLA, justificando por isso as felicitações que dirigiu a João Lourenço, o presidente angolano eleito… mesmo antes de conhecidos oficialmente os resultados.

“Felicitei o Presidente, tendo presente que as mais diversas forças políticas reconheceram que houve a vitória de uma força e, de acordo com a lei angolana, bastava uma força política ter mais um voto do que as demais para o cabeça de lista dessa força ser Presidente da República,” justificou Marcelo Rebelo de Sousa, passando um atestado de matumbez aos angolanos que, contudo e como fez Raúl Danda, o devolveram ao remetente.

Recorde-se ainda que Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que – certamente pensando que estaria a escrever um parecer técnico-jurídico para o MPLA – foi “respeitada a lei eleitoral e a Constituição”. Certamente até diria, se fosse necessário, que os jacarés do MPLA são vegetarianos ou até mesmo veganos.

E, já gora, recorde-se que João Gomes Cravinho, ministro português da Defesa e “militante” honorário do MPLA, é um perito de longa tradição socialista e certamente merecedor de um doutoramento “honoris causa” pelo MPLA. Por alguma razão comparou, em Novembro de 2005, em entrevista ao Expresso, Jonas Savimbi (que tinha morrido três anos antes) a Hitler.

“Há um presidente eleito, e o Presidente da República de Portugal, uma vez convidado, vai à posse do novo presidente da república de Angola, pensando nas relações fundamentais que existem entre milhares e milhares de portugueses que estão em Angola e também alguns milhares de angolanos que estão em Portugal,” justificou na altura Marcelo Rebelo de Sousa.

Sabujice perante quem está no Poder

Recorde-se que o Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas Angolanas (FAA), Egídio de Sousa Santos “Disciplina”, foi condecorado no dia 3 de Setembro de 2019, em Lisboa, por Marcelo Rebelo de Sousa, com a medalha da Grande Cruz de Mérito Militar.

(Se a bajulação fosse condição “sine qua non” para ganhar um Prémio Nobel, Portugal ganhava-os todos)

Entregue numa cerimónia em que também foram distinguidos oficiais portugueses, a medalha da Grande Cruz de Mérito Militar é a mais importante condecoração militar atribuída pelo Estado português.

A condecoração do oficial superior angolano simboliza, segundo a organização do evento, o empenho de Angola no reforço da cooperação militar entre os dois países. Quem diria? Só mesmo Marcelo. O acto, que decorreu na zona do Restelo, estava inserido nas comemorações do Dia do Estado Maior General das Forças Armadas Portuguesas.

Como se sabe e como, aliás, já aqui foi escrito, Marcelo Rebelo de Sousa é o político português mais habilitado (a par do primeiro-ministro António Costa) para não só cimentar como também alargar as relações de bajulação e servilismo com o regime do MPLA. Marcelo sabe que – do ponto de vista oficial – Angola (ainda) é do MPLA, e que o MPLA (ainda) é Angola. Portanto… Siga a fanfarra, tantas vezes mais parecendo uma orgia.

Pensando em Raúl Danda, é caso para dizer que Angola é um dos países lusófonos com a maior taxa de mortalidade infantil e materna e de gravidez na adolescência, segundo as Nações Unidas. Mas o que é que isso importa a Marcelo Rebelo de Sousa?

Pensando em Raúl Danda, é caso para dizer que muitos dos angolanos (70% da população vive na miséria) que raramente sabem o que é uma refeição, poderão certamente continuarem a alimentar-se com o facto de terem assistido, ao vivo e a cores, ao beija-mão de Marcelo Rebelo de Sousa ao novo “querido líder”, João Lourenço.

Pensando em Raúl Danda, é caso para dizer que Marcelo Rebelo de Sousa sabe que o anterior presidente angolano esteve no poder durante 38 anos sem ter sido nominalmente eleito, tal como sabe que o actual lá quer ficar também muitos e muitos anos, continuando sem ser nominalmente eleito. Mas isso pouco ou nada importa… pelo menos por enquanto.

folha8

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Samuel

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