Praia - Primeiro-ministro durante os primeiros 16 anos da independência (1975/91) e chefe de Estado nos últimos dez (2001/2011), Pedro Pires sai hoje (sexta-feira) da cena política activa de Cabo Verde quando Jorge Carlos Fonseca lhe suceder como Presidente da República.
A 22 de Junho de 2011, numa entrevista à Agência Lusa, Pedro Pires, 77 anos, prometeu que, após deixar a Presidência de Cabo Verde, começaria de imediato a escrever as suas memórias. Mais tarde, indicou que vai "organizar" a "imensa papelada" que tem no seu arquivo pessoal, que começou a guardar ainda antes da independência.
As "estórias" devem ser muitas, tendo em conta que Pedro Pires se confunde com a própria História de Cabo Verde do antes e do pós independência, ao lado, primeiro, do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e, depois, em 1981, do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV).
Valorizando nos últimos anos a necessidade de se retirar o véu que tem escondido a memória dos mais variados acontecimentos registados entre 1961, data do início da luta armada (em Angola) contra o colonialismo português.
Em 1991, ano em que Cabo Verde abriu ao pluralismo político, Pedro Pires já assumiu implicitamente que gostava de ficar para a História justamente como o "presidente historiador".
A exemplo de Aristides Pereira (presidente entre 1975 e 1991) e de António Mascarenhas Monteiro (1991/2001), Pedro Pires tenciona também escrever as memórias, mas nada disse sobre se incluirá temas ainda "quentes", como a morte de Amílcar Cabral, assassinado em Conakry em 1973 em circunstâncias ainda por explicar.
Para explicar o seu apego à História, Pedro Pires, natural de São Filipe, ilha do Fogo, onde nasceu a 29 de Abril de 1934, cita frequentemente uma frase do político, advogado, investigador e historiador burkinabé Joseph Ki-Zerbo (1922/2006).
"Enquanto os leões não tiverem os seus próprios historiadores, as histórias de caça continuarão a glorificar o caçador". Trata-se de uma das suas frases favoritas para defender a necessidade de não se perder a memória do passado.
Política e militarmente envolvido na criação dos movimentos de libertação das antigas colónias portuguesas em África, Pedro Pires estudou, no início dos anos 50 do século XX, em Portugal, onde conheceu os futuros líderes de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.
Com o início da luta armada em Angola, em 1961, partiu de Portugal para a Guiné-Bissau, onde se destacou como um dos principais comandantes da guerrilha do PAICG, sendo o representante cabo-verdiano nas negociações com Portugal.
Hoje, com o peso que a História lhe dá, é uma voz respeitada em África, em especial na Ocidental, sobretudo nos conflitos na Guiné-Bissau e Côte d'Ivoire.
Como último acto político oficial da sua Presidência, cumprindo à letra a Constituição e argumentando com a legalidade jurídica, marcou a data das presidenciais para Agosto de 2011, com os constrangimentos que trouxe (férias, abstenção, chuvas e mondas), mas que, afinal, não impediu que as duas voltas da votação elegessem o seu sucessor.
Pedro Pires, porém, ficará associado às eleições presidenciais de 2011 em Cabo Verde como um dos responsáveis pelas divisões no seu partido de sempre, ao sustentar tacitamente um candidato, Aristides Lima, que se apresentou na corrida à revelia do PAICV, que apoiou oficialmente Manuel Inocêncio Sousa.
No entanto, nunca o assumiu, remetendo-se ao silêncio durante todo o processo eleitoral.
fonte: portalangop
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Samuel