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quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Angola: Uma lição de diplomacia.

NO BALUR I STA NA NO KUNCIMENTI, PA KILA, NO BALURIZA KUNCIMENTI!...



A 11 de Setembro de 1981, Lagos, a capital da Nigéria, foi palco de um combate diplomático, em que, de uma vez por todas, ficou claro, para África, que as posições do Governo angolano eram justas e as tropas cubanas estacionadas em Angola necessárias para a conquista da independência da Namíbia e o derrube do apartheid.

Alguns dias antes, a 23 de Agosto, as Forças de Defesa da África do Sul (SADF) recuperavam de uma vergonha. Em  1975, as FAPLA, com ajuda cubana, haviam infligido a primeira derrota ao mais poderoso Exército de África. Os sul-africanos eram expulsos de Angola a 27 de Março de 1976.  Começou  o “fim do mito da invencibilidade” da África do Sul.

Mas cinco anos depois, unidades do exército sul-africano voltavam à carga. E ocupavam uma grande parcela do território angolano, até à Cahama. Essa invasão teve um significado na minha vida como repórter. Nesse ano, antes do ataque, tinha percorrido, com o comissário provincial do Cunene, Ary da Costa,  os lugares que estavam agora ocupados pelas forças sul-africanas. Ary da Costa mostrou-me áreas de Ondjiva já demarcadas e as casas que estavam em construção para as populações. O comissário deu-me a conhecer os planos que o Governo tinha para a província. 

Mas os projectos tiveram de ser adiados. Os “carcamanos” entraram com força e arrasaram tudo. Ainda hoje se vêem na cidade as ruínas deixadas pela máquina de guerra do apartheid. 
A invasão sul-africana sucedeu-se, ano após ano,  e as minhas idas à Cahama, Matala, Castanheira de Pêra e Cuito Cuanavale foram mais frequentes. Passei a frequentar a sede da SWAPO, em Luanda, e conheci Hidipo Hamutenya, ministro da Comunicação Social, e o actual Primeiro-Ministro da Namíbia, Hage Geingob.

Enquanto fustigavam a economia angolana, destruindo fábricas, pontes e vias férreas, no sudeste de Angola, na Jamba, zona de difícil acesso para as FAPLA, os generais sul-africanos criavam uma base militar para oferecer à UNITA. Além de garantir à África do Sul o estatuto de maior economia de África, esse era, afinal, o outro grande “trunfo” que as invasões sul-africanas de 1981 e de 1983 escondiam e no qual Pretória apostava seriamente.

A "Cimeira de Emergência"

A “Linha da Frente” na África Austral estava traçada. A actuação diplomática africana na ONU era forte e ruidosa, mas não o suficiente para ignorar a pressão do “Grupo dos Cinco”, as poderosas potências ocidentais, com grandes interesses na África do Sul, que exigiam ferozmente a retirada das tropas cubanas de Angola. As Nações Unidas nada mais podiam fazer e arrastava-se o impasse na Resolução 435/78 do Conselho de Segurança. Os Estados Unidos, com Reagan na Casa Branca, queriam alterar o documento e aliciavam aliados .  

Foi preciso muita capacidade de resistência e habilidade para encontrar soluções e desfazer o nó.  Na capital da Nigéria, a 11 de Setembro de 1981, os líderes dos países da “Linha da Frente”, foram convocados para uma  “Cimeira de Emergência”. A reunião decorre pela primeira vez fora da suaárea geográfica - a que se junta o grande gigante africano. Os Presidentes sabem que o momento é grave. Pretória está novamente ao ataque.  

Julgando a liderança angolana enfraquecida pela morte de Agostinho Neto, fundador e opositor determinado do racismo e do apartheid, e esfregando as mãos pela saída neocolonial de sucesso encontrada em Lancaster House, com os zimbabweanos, o Presidente da Nigéria, Shehu Shagari, coloca em cima da mesa a questão fundamental: trocar as tropas cubanas por um força africana capaz de enfrentar a guerra de agressão permanente da África do Sul, primeiro contra Angola e Moçambique, mais tarde também contra a Zâmbia. 

As pressões são feitas sem disfarces. Todos sabem que o problema não se resume a manter o  status quo , e sim libertar o continente do último foco de colonialismo e dos regimes de discriminação racial. Mas isso pode continuar adiado. 

E é aqui que a capacidade notável de habilidade diplomática do Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, é demonstrada.  O sucessor de Neto prova que o Governo angolano, pelo contrário, continua firme e determinado no seu compromisso com a libertação de África. A resposta do Presidente é apresentada. José Eduardo dos Santos declara que  está de acordo coma “solução africana” exposta pelos restantes membros da “Linha da Frente”, mas defende que as unidades cubanas só se retirem de Angola “quando chegarem a Angola aviões de caça modernos com as suas tripulações e sistemas de manutenção”, “artilharia de campanha de todo o tipo e particularmente mísseis e artilharia anti aérea”, bem como “tropas blindadas e tropas de infantaria equipadas e treinadas ao nível do inimigo” e “o número de homens não pode ser igual ou inferior aos 11.000 sul-africanos que ocuparam o Sul de Angola”. 

Como noticiou em primeira mão neste jornal o jornalista Artur Queiroz, o Presidente angolano exigiu que, para obrigar o inimigo a recuar para a Namíbia e daí para a África do Sul, era necessária “supremacia em meios e combatentes”, “a SWAPO não podia ser abandonada à sua sorte” e  tinham que ser enviados para o teatro de operações, meios de transporte aéreos, marítimos e terrestres, alimentação e fardamento para as tropas e assegurados “todos os movimentos logísticos” durante uma guerra, que ia ser longa. 

O Presidente José Eduardo dos Santos provou que nenhum país africanotinha todos esses meios. Angola e Cuba eram os únicos que, por  já terem enfrentado e derrotado o poder bélico  do regime de apartheid, sabiam que nenhuma solução seria duradoura se não passasse pela concessão imediata da independência à Namíbia. O comunicado final da “Cimeira de Emergência” em Lagos não deixa lugar a dúvidas. Os Chefes de Estado (Angola, Botswana, Moçambique, Tanzânia, Zimbabwe, Zâmbia e Nigéria) “exigem a retirada imediata, incondicional, total e completa das forças racistas do território da República Popular de Angola” e “reafirmam que a Resolução 435 do Conselho de Segurança da ONU constitui uma base inteiramente satisfatória” para a solução do problema da inpdendência da Namíbia e “rejeitam todas as tentativas tendentes a rever, eliminar ou acrescentar os termos” da Resolução.

África ficou assim definitivamente convencida da necessidade de manter as tropas cubanas em Angola e esta posição passou ser defendida de maneira mais ampla em todo o mundo.
No Triângulo do Tumpo, em 1988, a África do Sul voltou a sentir a sabor da derrota, desta vez para sempre, foram assinados os Acordos de Nova Iorque e a Namíbia conseguiu a independência. Depois disso, o moribundo regime de apartheid começou a jogar o seu último “trunfo” em Angola: Savimbi.

# jornaldeangola

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Samuel

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