Das 700 pessoas a bordo de um barco que fazia a travessia do Mediterrâneo, só 28 foram resgatadas
Na noite do último sábado, um barco com cerca de 700 pessoas virou ao sul da ilha italiana de Lampedusa. Só 28 foram resgatadas.
A tragédia ocorreu poucos dias depois de 400 imigrantes se afogarem num incidente semelhante, desta vez perto da costa da Líbia, no norte da África.
Agora, as equipes de patrula da operação Tritão, criada para socorrer barcos que cruzam do continente africano para a Europa, serão reforçadas e terão autorização para destruir as embarcações usadas no tráfico de pessoas.
Tragédia no Mediterrâneo pressiona UE a tomar atitude sobre tráfico de pessoas
Primeiro ministro da Itália, Matteo Renzi, pede 'solidariedade' da comunidade europeia para combater tráfico de pessoas
Após a segunda tragédia no
Mediterrâneo em menos de uma semana, o primeiro ministro da Itália, Matteo
Renzi, fez um apelo à União Europeia por novas ações para lidar com a questão
do tráfico de pessoas na região.
Na noite do último sábado, um barco
com cerca de 700 imigrantes, virou ao sul da ilha italiana de Lampedusa, no Mar
Mediterrâneo. Ainda na última semana, na quarta-feira, 400 imigrantes se
afogaram num incidente semelhante, desta vez perto da costa da Líbia.
Essas travessias, em sua maioria,
acontecem em condições precárias, comandadas por traficantes de pessoas, que
colocam os imigrantes em embarcações pequenas e apertadas.
Diante da situação, o premiê italiano
pediu uma reunião de emergência dos líderes europeus para debater novas ações
para resolver a questão e pediu solidariedade das outras nações para combater o
tráfico de pessoas, "uma praga em nosso continente".
"É inimaginável que diante de
uma tragédia como essa, não haja o sentimento de solidariedade que a Europa já
demonstrou em outras situações", disse.
"Nós pedimos para não sermos
abandonados sozinhos nessa questão. Não tanto com relação à emergência no mar,
mas principalmente com relação a combater o tráfico de seres humanos."
Alguns políticos italianos chegaram a
pedir um bloqueio naval na região, mas o primeiro ministro disse que isso só
ajudaria os contrabandistas, pois não haveria mais navios para resgatar os
imigrantes.
'Escravidão do
século 21'
Matteo Renzi destacou a Líbia como o
principal problema, porque é lá o ponto de partida de cerca de 90% dos
imigrantes que chegam à Itália pelo mar.
O premiê pediu que a União Europeia
tomasse novas atitudes para combater o problema que é a "escravidão do
século 21", segundo ele.
Ainda de acordo com Renzi, a questão
não é ter mais barcos de resgate na região, mas sim impedir novos barcos com
imigrantes de saírem da costa.
Só no ano passado, pelo menos 3.500
imigrantes teriam morrido em acidentes na travessia
Só neste ano, as estimativas apontam
que mais de 1.500 imigrantes teriam morrido na travessia.
Em meio à crise política na Líbia,
contrabandistas de pessoas se aproveitam para usar o país como um ponto de
partida para os barcos que transportam imigrantes que fogem da violência ou das
dificuldades econômicas na África e no Oriente Médio.
Reação
"O que está acontecendo agora
tem proporções épicas. Se a Europa e a comunidade internacional continuar a
fazer vista grossa…seremos todos julgados da mesma maneira que a história
julgou a Europa quando ela fez vista grossa ao genocídio deste e do século
passado", disse o primeiro ministro de Malta, Joseph Muscat, disse à BBC.
Outros líderes europeus também se
manifestaram sobre a tragédia no Mediterrâneo. O primeiro ministro da Espanha,
Mariano Rajoy, reforçou o apelo do premiê italiano para que atitudes sejam
tomadas.
"É a enésima vez que vemos outra
tragédia acontecer no Mediterrâneo…palavras não vão mais adiantar nada."
O presidente do Parlamento Europeu,
Martin Schulz, disse que "a Europa pode fazer mais e precisa fazer
mais."
"É uma vergonha e uma confissão
de fracasso a forma como muitos países fogem da responsabilidade", completou.
Líderes europeus pedem atitude da
União Europeia para resolver a questão dos imigrantes no Mediterrâneo
O Secretário de Relações Exteriores
do Reino Unido, Philip Hammond, afimou que "o mundo está horrorizado com a
terrível perda de vidas" e que a grande prioridade agora seria combater as
"gangues criminosas que estão lucrando com o tráfico dessas pessoas."
A União Europeia tem sido criticada
por sua falta de ação desde que encerrou a operação de resgate Mare
Nostrum - sistema de patrulhamento designado especificamente para o
socorro a embarcações ilegais cruzando o Mediterrâneo - no ano passado. Alguns
membros da União Europeia disseram que eles não poderiam pagar por ela e se
mostraram preocupados de que a própria operação poderia estar incentivando mais
imigrantes a fazerem a travessia.
Agora, a União Europeia organiza um
controle de fronteiras mais limitado, na operação chamada Triton, com o
patrulhamento e o socorro da região sendo feitos em menor escala.
Comandante do Alto Comissariado das
Nações Unidas para os Refugiados (UNHCR, na sigla em inglês), Antonio Guterres,
disse: "O desastre confirma o quão urgente é restaurar uma operação forte
de resgate no Mar Mediterrâneo."
O presidente da União Europeia,
Donald Tusk, já cogita a possibilidade de chamar uma reunião de emergência com
membros do grupo para discutir a questão. Ele se manifestou sobre o assunto
pelo Twitter dizendo que falou com o primeiro ministro de malta, Joseph Muscat,
e "irá continuar as conversas com líderes da União Europeia sobre como
aliviar a situação".
Resgate
Até o fim deste domingo, 24 corpos
haviam sido encontrados e 28 pessoas haviam sido resgatadas.
Segundo a UNHCR, a tragédia pode
ficar marcada na história como a maior perda de vidas já registrada em uma
travessia para a Europa.
As operações de resgate e
patrulhamento na região foram reduzidas no ano passado
De acordo com relatos, os imigrantes
caíram no mar quando correram para um dos lados da embarcação ao avistarem um
navio na região – todos foram para o mesmo lado para chamar a atenção do navio,
mas o peso concentrado acabou virando o barco.
Um dos sobreviventes, que está no hospital
Cannizzaro na Catânia, disse que havia cerca de 950 pessoas na embarcação, mas
essa informação ainda não foi confirmada. Segundo ele, muitos estavam trancados
no convés e não tinham permissão para sair.
De acordo com a UNHCR, barcos de
imigrantes teriam levado 13.500 pessoas em águas italianas somente na última
semana. No ano passado, um número recorde de 170 mil imigrantes fez a travessia
para chegar à Itália. Milhares morreram na viagem.
Análise:
Correspondente de assuntos internacionais, Richard Galpin
Presidentes, primeiros ministros e
até o Papa já se manifestaram sobre a tragédia no Mediterrâneo e descreveram o
quão horrorizados ficaram com as incontáveis mortes. Eles reforçaram o discurso
de que algo precisaria ser feito imediatamente para acabar com isso.
Mas será que os discursos
emocionantes e poderosos irão levar a uma nova abordagem da União Europeia para
combater a crise dos imigrantes, incluindo o envio de mais navios para as
buscas e resgates?
As divergências entre os 28 membros
da União Europeia ficaram claras no ano passado, quando a Itália encerrou suas
operações de busca e resgate depois de terem conseguido retirar mais de 100 mil
pessoas do mar.
A União Europeia substituiu essa
operação por outra bem menos controlada por sua agência de gestão de
fronteiras, Frontex, que tem um terço do orçamento e uma fracção da mão-de-obra
utilizada pela marinha italiana.
Desastres recentes
com imigrantes no Mediterrâneo
·
Outubro de 2013: Mais de 360 pessoas, a maioria de eritreus e somálios,
morreram quando o barco afundou próximo à Lampedusa.
·
Setembro de 2014: Pelo menos 300 imigrantes naufragaram em Malta, quando
traficantes de pessoas empurraram o barco depois que as pessoas à bordo se
recusaram a mudar para uma embarcação menor. Sobreviventes disseram que era um
"assassinato em massa".
·
Fevereiro de 2015: Pelo menos 300 imigrantes teriam se afogado quando
quatro botes entraram em apuros depois de deixarem a Costa da Líbia com
condições climáticas muito ruins.
·
Abril de 2015: Cerca de 400 imigrantes se afogaram quando o barco deles
virou na costa da Líbia
·
Abril de 2015: Cerca de 700 imigrantes teriam se afogado após o barco
ter virado próximo à Lampedusa.
·
BBC News
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Samuel