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quinta-feira, 3 de março de 2016

Angolanos dizem adeus a Lúcio Lara.

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O Presidente da República, José Eduardo dos Santos, rendeu ontem homenagem a Lúcio Lara, no dia em que foi a enterrar no Cemitério do Alto das Cruzes.

No velório organizado na antiga sede da Assembleia Nacional, por sinal, o último endereço de trabalho de Lúcio Lara, o Chefe de Estado cumprimentou a família do grande combatente.
Nas antigas instalações do Parlamento angolano, onde Lúcio Lara serviu como deputado até Novembro de 2003, quando decidiu abandonar devido à sua saúde, estiveram os titulares dos órgãos de soberania, membros do Bureau Político e do Comité Central do MPLA. Mas também outras figuras, entre representantes dos órgãos de defesa, segurança e ordem pública, líderes religiosos, membros do Corpo Diplomático e de organizações sociais do partido e da sociedade civil.
Em Angola para o enterro de Lúcio Lara, o Presidente da República de São Tomé e Príncipe, Manuel Pinto da Costa, também foi à antiga sede do Parlamento angolano, render homenagem ao Comandante Tchiweka. “Estive com Lúcio Lara muitas vezes durante o período da nossa luta pela liberdade. Era um verdadeiro lutador, incansável pela causa da independência de Angola e não só”, assinalou o líder santomense.

Amigo do Povo

Manuel Pinto da Costa referiu-se a Lúcio Lara como ser único que entregou toda a sua vida pela libertação do povo angolano e também de África, em geral. “Foi uma entrega total por estas causas e no caso de São Tomé, foi um grande amigo do povo”, disse o Chefe de Estado santomense, que antes de ir à antiga sede do parlamento angolano, foi recebido pelo Presidente José Eduardo dos Santos, com quem privou durante cerca de 30 minutos.
Cabo Verde também rendeu a sua homenagem a Lúcio Lara, através de Cristina Fontes Lima. A presidente da Mesa do Conselho Nacional do PAICV disse que o arquipélago “tem também um bocadinho de Lúcio Lara, uma figura maior da história angolana, companheiro de Amílcar Cabral e de todos os combatentes pela liberdade da pátria, de Angola e de África”.
“Apresentamos as nossas condolências à família, mas sobretudo queremos destacar o exemplo para as novas gerações”, disse a dirigente do PAICV, que destacou em Lúcio Lara o homem que lutou por ideais, pela independência e que se manteve coerente, preso a valores e a princípios, que acima de tudo merece ser seguido. “O PAICV quer precisamente mostrar esse respeito e inclinar-se perante a memória de Lúcio Lara”, declarou.

Humildade imbatível

“Igual a ele só ele mesmo. Era um ser único, com visão estratégica incrível e imbatível em humildade e simplicidade.” Foi assim que o nacionalista e um dos mais conhecidos dirigentes do MPLA, Manuel Pedro Pacavira, descreveu o amigo e companheiro de causa, Lúcio Rodrigo Leite Barreto de Lara, o Comandante Tchiweka, que foi ontem a enterrar no Cemitério do Alto das Cruzes. O veterano do MPLA entende que do mesmo modo que se diz que o Presidente Neto devia ter vivido mais tempo, o camarada Lúcio Lara, com 86 anos de idade, morreu jovem. “Penso que ele podia ter ficado mais tempo connosco e com saúde”, argumentou o político, realçando a entrega de Lara à causa da libertação de Angola em particular, mas de todas as colónias europeias em África.
Apesar da diferença de idades – contava apenas 20 anos quando do seu primeiro encontro com Lara em Brazzaville - Manuel Pedro Pacavira recorda que ambos tiveram o mesmo percurso histórico e político. “Estivemos sempre juntos, à excepção do período em que nos separámos em Brazzaville quando eu fui para a cadeia e ele ficou no exterior”, assinala.
Um leve sorriso invade-lhe o rosto ao lembrar do “feliz acaso” de ser o primeiro escolhido por Agostinho Neto para ir estabelecer um “contacto preciso” com o camarada Lúcio Lara em 1960. “Tinha que contactá-lo aonde ele estivesse”, sublinha Pacavira, realçando que Neto tinha chegado a Luanda proveniente de Portugal e desconhecia o paradeiro dos outros, que também não sabiam aonde se encontrava Neto. “Neto tinha apenas uma ideia de que Lúcio se encontrava em Tanjir e mandatou-me para Brazzaville à procura dele. Felizmente, quando chego a Ponta Negra encontro já os contactos de Lúcio Lara, isto em Fevereiro de 1960”, assinala o nacionalista, que recorda ter sido nesse encontro, e já em Brazzaville, que, com Lara, foram lançadas as bases para uma organização clandestina e traçado um plano de luta.

Sacudir o colonialismo

Sobre o significado do encontro, Manuel Pedro Pacavira resume apenas que, no conjunto, foi apenas fruto da “determinação de dois homens colonizados que pretendiam sacudir o colonialismo, dois angolanos cansados da opressão colonial”. O nacionalista recorda de um outro encontro com Lúcio Lara, já depois do 25 de Abril de 1974. “Havia nessa altura necessidade de um contacto entre os camaradas que estavam no interior e que se encontravam no exterior. Mais uma vez em Brazzaville, o primeiro dirigente que encontrei foi justamente o camarada Lúcio Lara”.
Manuel Pedro Pacavira recorda um terceiro encontro com Lúcio Lara, que considerou, tal como os anteriores, outro momento histórico. “Eu e o camarada Hermínio Escórcio estávamos encarregues da organização interna da recepção da primeira delegação do MPLA, que regressa a Angola no dia 8 de Novembro de 1974, chefiada por Lúcio Lara. Andámos sempre juntos. Lúcio Lara, até à vinda do Camarada Presidente Neto, não dava um passo sem a minha companhia. Quando tivéssemos que sair para fora de Luanda, ou ir ter com as autoridades portuguesas era sempre comigo, até que chegou Neto e entregámos as coisas ao Camarada Presidente”, lembra.
O histórico do MPLA considerou a lealdade, a humildade e a extraordinária visão estratégica, como qualidades fortes de Lúcio Lara. Conta que enquanto outros hesitaram e distanciaram-se até, apontando defeitos no Presidente Neto, Lúcio Lara manteve-se sempre ao seu lado. “Tudo isso fruto da capacidade e visão estratégica, por ser capaz de perceber quem era o melhor entre nós. Por ver em Agostinho Neto as qualidades de um guia, um líder capaz de levar o processo até às últimas consequências a favor do povo angolano”.
Manuel Pedro Pacavira nota outras peculiaridades de Lúcio Lara, a quem qualificou de “marxista puro” e de uma simplicidade incomum. “Era uma pessoa simples, extremamente austera, além de incontroverso nas suas convicções políticas. Um marxista de verdade”, frisou. O veterano do MPLA diz desconhecer se Lúcio Lara frequentou alguma escola marxista, mas está convicto de que nas suas práticas do dia-a-dia era brilhante, um marxista puro, que sempre acreditou não só numa Angola unida, mas numa só África. “Era um marxista com uma visão africanista. Um africanista de verdade. África para os africanos. De modo algum numa perspectiva da negritude, mas um africanista na verdadeira essência. Ele morreu a pensar que África é uma só”, conclui.
O presidente da FNLA, Lucas Ngonda, também esteve no velório. Em declarações à reportagem do Jornal de Angola, o deputado destacou a dimensão de Estado de Lúcio Lara. Ngonda defendeu que ao falar-se dos movimentos de libertação é preciso consciência de que passados 40 anos, todas as figuras que lutaram para que Angola tenha a identidade que tem hoje, deixaram de ser figuras partidárias. “São figuras nacionais e fazem parte da memória colectiva e da identidade histórica do país”, frisou.
O político assinalou que como militante da FNLA, caminhou numa margem diferente da de Lúcio Lara, mas que o destino era o mesmo. “O nosso combate era o mesmo, e o resultado a que chegámos era o esperado: o fim do colonialismo português”.

Onofre dos Santos

Onofre dos Santos, juiz conselheiro do Tribunal Constitucional, destacou a preocupação de Lúcio Lara em relação à preservação da história, pensando sempre na vertente histórica dos acontecimentos registados em documentos que deram lugar ao projecto Fundação Tchiweka de Documentação. “Sem documentação não há História, e o Centro de Documentação Tchiweka equivale praticamente à Torre do Tombo em Portugal”, disse.
O magistrado considerou o acervo documental reunido por Lúcio Lara e a mulher, um tesouro de valor inestimável. “Temos realmente um manancial para a juventude estudar porque todos nós temos ideias feitas, preconceitos, mas temos a obrigação de procurar a História a partir dos detalhes e os factos que só os documentos nos podem dar”.
Onofre dos Santos considerou Lúcio Lara um homem extraordinário, que dedicou uma vida inteira à luta de libertação nacional. “Com humildade, com empenho, e sem nunca vacilar, tornou-se essa figura extraordinária não só para Angola, mas para toda a África, e a melhor homenagem que as pessoas podem fazer é estudar a documentação que deixou”, referiu.
O ex-Presidente de Cabo Verde Pedro Pires expressou a sua solidariedade para com a família de Lúcio Lara e com o povo angolano. Também foram enviadas mensagens de Aurélio Martins, presidente do MLSTP/PSD, de São Tomé e Príncipe, do Comité Central do Partido Comunista de Cuba e do Comité Central do Partido Comunista Português.

Indubitável verticalidade

Ao ler o elogio fúnebre, já no Cemitério do Alto das Cruzes, o vice-presidente do MPLA, Roberto de Almeida, destacou o papel de Lúcio Lara na luta clandestina, na criação do MPLA, na luta de libertação nacional, na conquista da Independência e na manutenção da integridade territorial do país.
Roberto de Almeida sublinhou a fundação do Clube Marítimo Africano, do Movimento Anti-Colonial em que Lúcio Lara participou ao lado de Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Noémia de Sousa e Mário Pinto de Andrade. O vice-presidente do MPLA realçou que Lúcio Lara foi co-fundador do partido.
A forma de ser e de estar, disse, demonstravam o exemplo de humildade e de modéstia de Lúcio Lara. “Não só pela sua forma de estar e de se apresentar, como também pela sua entrega à causa do povo, amor à pátria e ao próximo, valores que perseguiu na sua vida com indubitável verticalidade e determinação”, disse. Roberto de Almeida sublinhou que Lúcio Lara dedicou também o seu trabalho à educação das crianças de outros países, através da participação nos acampamentos de pioneiros, do movimento juvenil e estudantil internacional.
“Despedimo-nos hoje de um nacionalista da primeira hora, que ajudou a desbravar os tortuosos caminhos que os angolanos trilharam, com confiança e determinação, por isso merecedor do título de precursor da independência nacional”, disse Roberto de Almeida, realçando que Lúcio Lara foi um patriota convicto e de uma verticalidade ímpar.
O secretário de Estado dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria, Clemente Cunjuca, referiu na mensagem que Lúcio Lara foi um destacado activista e dirigente do nacionalismo angolano, grande precursor da organização dos pioneiros de Angola e do sistema de educação nas zonas libertadas e dinamizador dos centros de instrução revolucionária.

Exemplo de Humildade


Clemente Cunjuca sublinhou que Lúcio Lara foi um artífice da luta de libertação nacional ao lado do primeiro Presidente da República de Angola, Dr. António Agostinho Neto. “Apesar da sua reconhecida trajectória, como destacado comandante de tropas e dirigente político, Lúcio Lara recusou ser patenteado ao grau militar de general, por não se considerar um militar de profissão”, disse.
O secretário de Estado referiu que Lúcio Lara recusou de forma “expressa e oficial”, gesto revelador de “um profundo exemplo de humildade e de comprometimento desinteressado com a causa libertária do povo angolano”.
Paulo Lara, filho de Lúcio Lara, falou em nome da família. Destacou as qualidades do seu pai como nacionalista que soube conciliar as actividades políticas e familiares. “Desculpa-nos por falarmos um pouco mais de ti, rompendo a tua modéstia e simplicidade. Mais do que pai dos teus filhos, foste um dos pais do teu Movimento, o MPLA. Aprendemos contigo que o ser-se família de um dirigente não significava ter-se mais direitos ou regalias, mas sim, mais deveres. Que os direitos não devem medir-se em função das descendências, mas sim pelas capacidades e méritos de cada um”, disse.
Paulo Lara também agradeceu o apoio do  Estado angolano, através do Presidente da República, e da direcção do MPLA. Também participaram nas exéquias fúnebres, Deolinda Guisimane, membro do Conselho de Estado da República de Moçambique, e Victor Ramalho, membro da Comissão Política Nacional do Partido Socialista de Portugal. Também estiveram presentes os representantes da Federação Democrática das Mulheres, da Organização das Mulheres de Cabo Verde, da União das Mulheres da República do Congo Brazzaville, da Organização das Mulheres de São Tomé e Príncipe, da Liga das Mulheres da SWAPO, e da Organização das Mulheres do Partido Trabalhista do Brasil.
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Samuel

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