OPINIÃO
Bárbara Reis
Um relatório interno de 1969 descreve a ONU como "lenta e pesadona", semelhante a um "monstro pré-histórico". Mas as críticas e as reservas existem, e bem duras, desde o dia em que a mais idealista organização do mundo nasceu.
Óbvio, dirão. O chefe da diplomacia internacional e o CEO da mais complexa máquina jamais inventada tem de acreditar que é possível melhorar o mundo. A sua proposta (uma nota de seis páginas chamada Restructuring of the Peace and Security Pillar e um organigrama que cabe numa folha A4) não é uma revolução (não faria sentido), mas vai gerar resistência — desde logo porque não acrescenta cargos de poder e faz o contrário, elimina.
É uma proposta ambiciosa e racional, que pretende cortar redundâncias e reduzir custos e faz uma coisa crucial: junta civis e militares na mesma sala (literalmente). Faz sentido que as operações de paz sejam planeadas (como são hoje) com o Departamento de Assuntos Políticos (os diplomatas) de costas voltadas para o Departamento de Operações de Manutenção de Paz (os militares), cada um chefiado pelo seu subsecretário-geral, no caso um americano e um francês? Guterres já começou a fazer algumas experiências de fusão ao nível regional, onde os problemas causados pela clássica divisão se tornam particularmente evidentes. Trabalhei mais de dois anos numa missão de paz da ONU e vi como o facto de o escritório dos direitos humanos estar num bairro, o dos diplomatas noutro e o dos militares num terceiro criou momentos de autismo absurdos, para além de erros técnicos e lentidão nas decisões. A ONU não ficou parada nos 15 anos que passaram, mas Guterres não está sozinho quando pede uma ONU "mais coerente" e "mais ágil".
fonte: publico.pt
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Samuel